segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Fim de um Grupo

A disputa eleitoral em torno da prefeitura de São Luís vem demonstrando aquilo que ficou evidenciado nas eleições para governador do estado em 2006: a perda de prestígio do grupo político comandado pelo senador José Sarney. A população do Maranhão está cansada das manipulações, dos insultos e da baixa política que caracterizaram as ações desse grupo durante muitos e muitos anos. Além, obviamente, da falta de interesse público, do patrimonialismo eda falta de compromisso com os interesses maiores do Maranhão.

O povo maranhense cansou ainda da pobreza, da exclusão social, do analfabetismo, da mortalidade infantil, do pior IDH do Brasil, da menor renda per capita entre todos os estados. Cansou da falta de colégios, do desleixo com a educação e a saúde, da ausência de água nas casas, das casas de taipa cobertas de palha, da falta de oportunidades para os jovens. Cansou de ver que os donos do grupo boicotavam a vinda da refinaria, da siderúrgica que estava certa de vir com a assinatura dos documentos em Shangai, e passou a ser postergada para quando Roseana Sarney assumisse o governo, como era o desejo de seu pai, José Sarney. Cansou de ver que eles tentavam tirar o corpo fora do boicote à vinda da siderúrgica, tentando jogar a culpa do atraso nos governos contrários a eles e que lutaram muito para que esses empreendimentos viessem para cá.


Da mesma maneira, o grupo comandado por Sarney lutou nos subterrâneos do Congresso para que não fosse aprovado o empréstimo do Banco Mundial para combate a pobreza. Até que tiveram que botar a cara de fora na histórica sessão do Senado que aprovou o projeto. Esse processo foi a gota que faltava para transbordar finalmente a indignação com a atitude contrária ao Maranhão que o grupo sempre usou nos assuntos fundamentais do estado.

Esses fatos, denunciados à época, foram fundamentais para a formação do ambiente contrário aos Sarney que veio a tona em 2006 na derrota de Roseana Sarney nas últimas eleições para governador, fato histórico e fundamental para o futuro do Maranhão.

A derrota gigante foi mascarada pela atribulada vinda do presidente Lula a Timon , atendendo súplicas do senador José Sarney, que tentava salvar a sua filha da derrota humilhante, jogando todas as suas fichas no Lula. Burlaram a lei eleitoral e partiram para um frenesi de telefonemas com gravações do Lula pedindo votos para Roseana. A grande maioria dessas ligações foi dirigida a pessoas cadastradas no programa Bolsa Família, pessoas simples dos povoados. Um locutor treinado ligava para os orelhões e o primeiro que atendesse era instado a dizer o seu nome e em seguida o locutor dizia que era com ele mesmo que Lula queria falar. Entrava, então, a gravação do presidente, pedindo votos em Roseana e o estupefato incauto, paralisado pela gravidade do momento ouvia o locutor, em seguida, dizer -lhe que a candidata do Lula queria falar com ele. E entrava outra gravação, desta feita, com Roseana, que dizia que o presidente queria que ela fosse a governadora etc. Esse gesto político desesperado, aproveitando-se de pessoas de bem, simples, e esmagadas pelo inusitado, falando com o presidente da República, nos tirou, segundo pesquisas da época, mais de 200 mil votos. Não deu para Roseana ganhar a eleição, mas diminuiu o tamanho da surra.

Hoje está explícita a grande rejeição do grupo Sarney, principalmente nas grandes cidades, onde a população goza de melhor nível de instrução. Em São Luís, por exemplo, nunca o grupo Sarney foi tão desimportante. Nenhum candidato ligado ao grupo e concorrendo por partidos que ainda os apóiam ultrapassa 5% de intenção de votos, conforme pesquisas recentes já publicadas pelos jornais. Vejo pessoas como Cutrim, por quem tenho respeito, abandonado à sua própria sorte, porque acreditou na lábia dos mandões. Os outros todos foram para o sacrifício e, com grandes prejuízos políticos futuros, vêem seus prestígios minguarem rapidamente. Dizem até que Gastão, importante deputado, que não passa de 1% nas pesquisas , está na disputa para atender Sarney, que o colocou lá apenas para tentar evitar que Lula venha ao Maranhão participar de comícios com Flavio Dino. Que coisa!

O grupo Sarney está distribuindo um dossiê contra Jackson Lago aos jornalistas dos grandes jornais do sudeste, tentando criar uma imagem negativa sobre o processo de cassação que os mesmos patrocinam contra o governador. Como os jornalistas não conhecem a nossa realidade acabam por embarcar nessa canoa furada. A Folha de São Paulo deu espaço em suas páginas para o que acreditou ser verdade. Juntaram ao dossiê relatórios preliminares de auditorias, ainda sem contestação, de auditores do TCE, feitas em 2007. Lá é dito que muita coisa não tinha sido feita como uma Maternidade em Caxias, que já está inaugurada há algum tempo e é uma das melhores do Maranhão, por exemplo. O dossiê, como todos os que eles elaboram, são criados para iludir e formar impressão desfavorável de seus inimigos políticos. É fajuto como todos os outros.

Reaja, governador, faça o contra-dossiê e desmascare esse grupo.

Eles só querem criar um clima contra o governador nesse processo. É desespero!

Senador Chega Vestido de Maracatu em Posse de Ministro no Ceará

Agência SobralNews: Fortaleza - Uma cerimônia que tinha tudo para transcorrer num clima de sobriedade, desde a escolha do local – um vetusto auditório do Palácio da Luz, antiga sede do Governo, à presença de ilustres convidados, incluindo mais de uma dezena de Ministros do STJ, a posse do Ministro César Rocha na cadeira 22 da Academia Cearense de Letras por pouco não se transmudou num acontecimento bizarro quando, chamado para compor a mesa, o Senador José Sarney, do PMDB do Amapá, saindo de uma porta lateral ao palco apareceu vestido numa farda verde-oliva e com uns bordados reluzentes no peito.

Os risos sufocados como num rastilho se alastraram no auditório ao mesmo tempo em que uma mesma pergunta se resumia numa unanimidade – que roupa era aquela? “De um general russo”, apostou Nonato Girão, um historiador do Pirambú.

“Deve ser de bumba-meu-boi”, arriscou Cícero de Menezes, revendedor de automóveis usados, retirando em seguida a suposição com um argumento definitivo de que “no Amapá não deve ter boi daquele jeito”.

O Deputado Ciro Gomes, pré candidato do PSB à Presidência da República, sentado na penúltima fila de cadeiras, ainda tentou disfarçar o riso com uma pigarreada, não agüentou e saiu fingindo que ia fumar um cigarro lá fora. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça, todos juntos num mesmo reservado de poltronas à esquerda do palco, comunicavam-se entre si com piscadelas nos olhares.

Como se não percebesse que aquela alegria repentina e simultânea, para não dizer gozação, era por sua causa, o Senador amapaense manteve-se ora carrancudo, ora querendo mostrar descontração, até que terminados os discursos, e só foram dois pela tradição, o do acadêmico que chega e o do que fala em nome da Casa, logo mais que depressa foi encerrada a sessão.

A cena mais engraçada aconteceria, minutos depois, na rampa do hotel Cesar Park, na Praia de Iracema, entre turistas em roupas descontraídas, motoristas em roupa esporte e os funcionários do hotel uniformizados, eis que pára na porta um carro preto blindado e do banco traseiro sai a figura de verde-oliva cheia de bordados dourados.

No lobby do hotel as pessoas achavam graça querendo adivinhar e achando o rosto da pessoa algo parecido com o de um ex Presidente da República. “É ele, sim”, garantiu um recepcionista. “Duvido, deve ser um desses portugueses exóticos que aparecem por aqui”.

Coube a Diógenes Benevides, conhecido como Gilberto Freire da Aldeota, decifrar o enigma em definitivo, dando o mote para a gaiatice que iria dominar as conversas no jantar que se seguiu, em Messejana, em homenagem ao Ministro Cesar Rocha. “O general russo é ele mesmo, o Sarney. E aquela roupa não tem nada a ver com exército russo coisa nenhuma. A roupa é de maracatu, é da alta hierarquia do maracatu”.

Restou ainda a pergunta se o Senador do Amapá continuar aparecendo em solenidades com roupas excêntricas não vai sofrer representação na Comissão de Ética por falta de decoro.

Semi-Árido Maranhense: Um Grande Bolsão de Pobreza do Nordeste e do Brasil

Reproduzo abaixo artigo do Professor José Lemos:




Semi-Árido Maranhense: Um Grande Bolsão de Pobreza do Nordeste e do Brasil


A população do Nordeste tem, proporcionalmente, o maior contingente de excluídos do Brasil. Além de outras características, as populações pobres apresentam uma grande participação das despesas com alimentação no seu dispêndio. Desta forma, a agricultura desempenha um papel bastante relevante para a região, quer como absorvedora de mão de obra, quer como provedora de segurança alimentar e de renda monetária.

Dessa forma, as atividades agrícolas continuam desempenhando uma grande função econômica e social para a região como locadora da força de trabalho regional, haja vista que os setores de transformação e de serviços exigem um melhor nível de qualificação da mão de obra e, por isso, os trabalhadores rurais que emigram tem dificuldade de encontrar colocação nos empregos que são normalmente oferecidos nas zonas urbanas. Por esta razão, se for promovido o desenvolvimento rural estarão sendo encontradas algumas das possibilidades que viabilizam a opção das famílias rurais de permanecerem nessas áreas.

Mas no Nordeste, em geral, prevalecem condições naturais desfavoráveis para o cultivo de lavouras e para a criação de animais. Essas dificuldades se sobressaem nas suas Zonas Semi-Áridas. Nessas áreas, as dificuldades associadas à produção agro-pastoril e à promoção do desenvolvimento rural se elevam em relação às demais áreas da própria região e do Brasil. Isto é causado pelas elevadas temperaturas, pelos solos, que tem fertilidade natural comprometida, por regime pluviométrico irregular espacial e temporalmente, além de um elevado processo de depredação dos seus recursos naturais. Por tudo isso há dificuldades de acesso à água para seres humanos, animais e plantas, e a conseqüência é a queda, e até o desaparecimento da produção agrícola em vários locais. Não tendo como sobreviver as famílias tendem a aventurar-se em outros lugares.

Este cenário que se repete por longos anos no Semi-Árido do Nordeste e que é apenas reconhecido, em nível de Governo Federal, a partir do Piauí até a Bahia, também afeta pelo menos 46 municípios maranhenses. Esses municípios que se concentram nas microrregiões do Baixo Parnaíba, Munim-Lençóis e Sertão Maranhense atingem 1,29 milhões de habitantes (21,1% da população do Estado). A partir dos dados do IBGE para 2005 (últimos disponíveis) calculou-se que o PIB médio desses 46 municípios era de R$ 2.454,41. Em torno dessa média gravitavam valores que oscilavam entre R$ 1.325,45 em Santa Quitéria e R$ 4.079,56 em Loreto. Como o salário mínimo em 2005 era de R$ 300,00 por mês ou R$ 3.600,00 por ano, em apenas mais um município, além de Loreto, a renda média superava um salário mínimo: Caxias cuja renda per capita anual era de R$ 3.662,14.

A taxa atual de analfabetismo da população maior de 10 anos desses 46 municípios é de 26,02%, oscilando entre 17,12% em Timon e 36,6% em Belágua. Como conseqüência a escolaridade média é baixa, de apenas 4,6 anos. Belágua tem a menor escolaridade média (4,1 anos), e Timon tem a maior escolaridade média que não passa de 5,1 anos.

Nesta que é a “Semana Mundial da Água” a Organização das Nações Unidas (ONU) reuniu autoridades mundiais em Estocolmo para discutir o acesso à água e ao saneamento. Naquele encontro foi denunciado, com todo o alarde que o fato requer, que 20% da população do mundo está privada de água de qualidade e que, em 2025, este percentual deverá ascender para 30%. Segundo este mesmo documento “33% da população do mundo carece de instalações sanitárias”. No Semi-Árido maranhense 45,6% da população não tem acesso à água de qualidade e 51,6% não tem instalações sanitárias adequadas. O IDH é de 0,673e a população socialmente excluída é de 46,0%. Portanto, o Semi-Árido maranhense em 2008 está em situação pior do que os valores projetados pela ONU para 2025.

Concluindo, depreende-se que se tratam de 46 municípios muito carentes que por isso precisam receber tratamento diferenciado. Imagina-se que projetos de reflorestamento para as suas áreas degradadas, cultivo de cajueiro anão precoce com implementação de miniusinas de beneficiamento de castanhas, recuperação das matas ciliares dos seus corpos d’água de superfície, criação de caprinos, de ovinos e de abelhas, juntamente com atividades não agrícolas, poderiam ser algumas das possíveis âncoras para deslanchar um circulo virtuoso de mitigação da pobreza prevalecente. Mas como nos ensina o Professor Alain De Janvry da Universidade da Califórnia, nada disso é possível de ser feito sem a intervenção indutora dos Governos nas suas instâncias Federal, Estadual e Municipal. Esta ação deve começar pela intensificação da demanda política por parte da Representação em Brasília para que haja o reconhecimento urgente do Semi-Árido no Estado por parte do Governo Federal, haja vista que tecnicamente não há mais o que discutir.

=================
José Lemos é Engenheiro Agrônomo e Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. lemos@ufc.br. Autor do Livro “Mapa da Exclusão Social no Brasil: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre”.