terça-feira, 28 de outubro de 2014

NORDESTE ELEGE DILMA

Nada a contestar sobre a legítima vitória de Dilma Rousseff, reeleita Presidente da República no último dia 26 de outubro. Foi um pleito muito disputado, com resultado apertado e trouxe uma novidade: a presença de uma oposição muito forte ao governo federal, fenômeno que durante mais de dez anos praticamente não existiu.
Se isolarmos a região nordeste do restante do Brasil, veremos uma novidade preocupante. Dilma teve um desempenho tão expressivo nessa região que lhe permitiu a vitória, mesmo perdendo quase que no restante do Brasil. Sim, pois, se excluirmos os votos do Nordeste, a apuração dos votos das demais regiões (Norte, Centro Oeste, Sul e Sudeste) daria a vitória ao candidato Aécio Neves. Na eleição de 2010, ela havia vencido no Nordeste e também na soma das outras regiões. Portanto, o Nordeste deu a eleição a Dilma, já que a diferença aqui foi tamanha que anulou o apurado em todas as outras.
E aqui preponderou a Bolsa Família que, conforme falou Dilma nos debates, atenderia 50 milhões de pessoas, sendo mais de setenta por cento delas nos diversos estados da região mais pobre do país. No caso do Maranhão, como unidade mais pobre do Brasil, o BF atende mais de cinquenta por cento da população. Em termos proporcionais lhe demos a mais expressiva vitória entre todos os estados brasileiros.
A campanha pensada pelos marqueteiros do PT, atribuindo primeiramente a Marina e depois a Aécio Neves a ameaça de que estes, se eleitos, acabariam com a programa e deixariam no desamparo milhões de pessoas, serviu para manter esses votos em Dilma e foi uma estratégia fundamental para sua vitória. Ou seja, daí decorre a votação colossal que ela teve em todos os estados do Nordeste, como se todos aqui pensassem do mesmo jeito. Fizeram política, enquanto seus adversários se esqueceram de que é preciso fazer política para ganhar uma eleição dessas em um país tão desigual. O Nordeste votou pelo conservadorismo.
Contudo, nas outras regiões, o que ficou evidente nas eleições foi o desejo de mudança. Eis o porquê do enorme crescimento da oposição. Claro, não se pode negar que parte desses votos  de mudança tenham sido para Dilma, em função da crença de que ela poderia fazê-la de uma maneira mais confiável para eles. Talvez isso tenha ocorrido para a maioria dos eleitores de Minas Gerais e Rio de Janeiro, únicos estados do Sul e Sudeste em que Dilma teve maioria de votos.
Portanto, a presidente vai enfrentar enorme pressão. As pessoas não mais se contentam com a vida que levam, com os grandes problemas que enfrentam para obter serviços de qualidade na área da educação, da saúde, da segurança do transporte, do emprego.
Muita coisa terá que ser feita pela presidente a fim de atuar no controle efetivo da inflação, na reconquista da credibilidade junto aos investidores e no consequente aumento dos investimentos. Tudo isso em um país com sérios problemas de crescimento, de infraestrutura, que já gasta mais do que arrecada e onde não se consegue concluir obras iniciadas há tempos. Isso sem falar na violência, na baixa qualidade da educação e na oferta precária de serviços de saúde.
Não bastasse isso, a presidente ainda poderá contar com uma grave crise que se desenha no horizonte próximo, a definir-se com o aprofundamento das investigações na Petrobras, subsidiadas pela delação premiada de um dos seus ex-diretores e pelo doleiro Youssef. Esse, pela importância que tinha no esquema de corrupção daquela empresa, é uma verdadeira ameaça a parlamentares, políticos e homens do governo atual. Ninguém sabe até onde irá esse processo. E tampouco o seu desfecho. Mas não será bom para o governo...
Pois bem, esse é o alerta que fica das urnas. Embora reeleita, Dilma sabe que terá que fazer mudanças na condução de sua gestão. O país está dividido e ela faz bem em procurar a conciliação da nação nesse momento.
Claro, pois nosso Brasil, país gigantesco e complexo, está perdendo competitividade e crescendo menos do que todos da América Latina. Isso além de estarmos nos isolando do comércio internacional e ficando importantes apenas como exportadores de commodities agrícolas e minerais, muito instáveis no mercado internacional.
É enorme o desafio que a presidente Dilma vai enfrentar.