quarta-feira, 17 de junho de 2009

Para Sarney não há Limites

As manchetes que dominaram a semana mostram aquilo que até ha pouco tempo era impensável. Agora, os fatos escabrosos que apenas começam a serem descortinados envolvem diretamente e pessoalmente o senador Sarney. Antes, as manchetes ruins rondavam-no, mas nunca lhe atingiam pessoalmente. Entretanto, na semana passada, descobriu-se que presidente do Senado recebia mensalmente R$ 3.800,00 como auxílio moradia. Como se ele precisasse de auxílios para morar em Brasília, ele que é dono de uma mansão no endereço mais caro da capital, a badalada Península dos Ministros.

Quem mora ali não precisa de auxílio nenhum, são em grande maioria pessoas de posse, empresários, diretores de grandes corporações de negócios. Não bastasse isso, Sarney, como presidente do Senado, tem a sua disposição uma outra mansão, esta pertencente à instituição e destinada exclusivamente para a moradia do presidente, com todas as despesas pagas. Como puderam desconsiderar esses detalhes? Como puderam pensar que Sarney precisava de ajuda para morar na cidade? Ou foi pedido secreto dele mesmo? Como saber a verdade, se a versão apresentada por ele (de que desconhecia o depósito mensal e nunca notara o acréscimo) carece de lógica? Era melhor não tentar explicar o inexplicavel...

Nesta semana, porém, o estarrecedor noticiário da semana passada foi minimizado por uma outra notícia muito pior, se é que ainda é possível sê-lo. Descobriu-se que havia em vigor no Senado mais de quinhentas decisões totalmente ilegais, porque não publicadas, beneficiando senadores, funcionários e, inclusive, José Sarney.

Este, em sede de socorro ao filho Fernando, abrigou o neto no quadro de servidores do Senado, certamente um artifício para economizar pensão a ser paga para sustentar este último. E pensão de respeito, diga-se de passagem. Cerca de R$ 7,8 mil mensais pagos religiosamente durante dois anos, até que o STF regulamentou a legislação sobre nepotismo e Sarney determinou a exoneração do rapaz. Naturalmente já havia uma solução para o impasse. A mãe do rapaz foi nomeada para o cargo anteriormente ocupado pelo filho, recebendo os mesmos gordos proventos. Mera questão administrativa, mostrando que Sarney não vacila e passa a conta rapidamente para nós.

Quando foi descoberto, disse que não sabia de nada. E fez mais: atribuiu a culpa ao Senador Epitácio Cafeteira, seu aliado, já que mãe e filho foram lotados em seu gabinete, embora nenhum funcionário de lá os conhecessem e os tenham visto por lá trabalhando. Cafeteira, pego de surpresa, diante da declaração de Sarney, disse que se tratava de troca de favores entre si próprio e Fernando, por este último ter trabalhado fortemente para a reconciliação entre os dois senadores. Sendo assim, como retribuição, Cafeteira resolveu o problema.

Chega a ser hilariante a postura de Sarney, materializada pelo caráter esdrúxulo de suas respostas. Ricardo Noblat, blogueiro do jornal O Globo, disse ser difícil acreditar que Sarney, um dos homens mais bem informados desse país, não soubesse que um neto seu, com o nome Sarney, estava trabalhando na Casa. E que nenhuma vez esse neto tenha lhe falado ou que tenham se encontrado nos corredores. E que tampouco o Senador Epitácio Cafeteira, seu hoje amigo de infância, tenha comentado sobre o assunto. 'Eita', Sarney! Acontece que Cafeteira é peixe pequeno no Senado e não tem condicão de mandar criar um cargo secreto, coisa fechada entre os amigos Renan e Sarney.

Vejam como a festejada colunista do Estado de São Paulo, Dora Kramer, viu o fato:

“mais de trezentos atos secretos por meio dos quais foram distribuidos empregos em troca de favores, criados cargos em comissão para apaniguados, aumentos de salário, permitidas operações bancárias acima dos limites da lei, estendida a assistência médica vitalícia destinada aos senadores para funcionários, autorizados pagamentos de horas extras não trabalhadas e toda a sorte de decisões a serem mantidas longe de qualquer controle…Com isso, fica patente que as transgressões do Senado ocorreram por premeditação criminosa - única qualificação possível para aplicação de dinheiro público em vantagens pessoais - cujo plano inclui a ocultação dos esqueletos na gaveta do então Diretor Geral, Agaciel Maia.

Não há desleixo administrativo. Ao contrário, pelo que se vê, tudo é feito com muito esmero. E doses oceânicas de cinismo… Agaciel Maia recebeu tratamento de compadre no casamento da filha, ocorrido recentemente. Estavam lá José Sarney, como padrinho, Renan Calheiros, Garibaldi Alves e Edison Lobão. Todos com passagem pela presidência do Senado. E o tema da festa era O Poderoso Chefão…

“Vejamos o que dizem os juristas consultados pelo jornal O Globo:

Para juristas, atos sigilosos para nomear parentes, criar cargos e aumentar salários, sem publicação oficial, ferem a Constituição, resultam em crime de improbidade administrativa e estão passíveis de devolução do dinheiro. É o que mostra reportagem de Ricardo Galhardo publicada nesta sexta-feira em O GLOBO.

— Isso tudo é absolutamente ilegal, e por isso não pode ter efeito legal. Os responsáveis podem ser obrigados a devolver o dinheiro, e cabe punição - afirma o jurista Dalmo de Abreu Dallari, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP).

Professor da Faculdade de Direito da Uerj, Gustavo Binenbojm corroborou:


— A não publicação é o caminho mais usado para a prática de improbidade administrativa. Evita o conhecimento da sociedade e dos órgãos de controle. Provavelmente foi este o objetivo - disse.
Como confiar em um homem como esse? Como confiar nessa família? Como entregar os destinos do estado do Maranhão a uma Sarney? Estamos em perigo, é o que podemos pensar!

Roseana endividou o estado antes e todos pagam a gigantesca e desnecessária dívida deixada por ela. Vai até 2025 a obrigação de pagamento. Pagávamos no meu período de governo cerca de R$ 60 milhões por isso. Passei todo a minha gestão sem precisar recorrer a empréstimos ou ajudas do governo federal. Assim foi também com Jackson. Porém, Roseana tenta usar o prestígio de Sarney com Lula para conseguir mais um empréstimo, agora de R$ 300 milhões.

O pedido de emprestimo chegou a Assembleia Legislativa sem dizer a que se destinava, sem especificar onde o dinheiro seria aplicado, ou quanto aumentaria o dispêndio mensal do governo do estado com mais essa dívida. Tudo secreto, plagiando o pai.

Na verdade o empréstimo não é necessário. O estado, bem administrado, pode viver sozinho e investir, como foi no meu governo e no de Jackson.

É para isso que queriam o governo. Vão deixar o estado arrasado como estava em 2002.

Assim, só nos resta um caminho para salvar o Maranhão das garras da família. É cassá-los, pelo voto, no ano que vem. Não perdem por esperar!

A Defesa de Sarney - Sua Excelência não Convenceu

Muito nervoso, maltratando a língua portuguesa, o presidente do Senado, senador José Sarney, foi à tribuna para se defender das críticas, segundo ele, muito injustas, que não respeitam sua biografia.

Não convenceu. Listou vários fatos de sua biografia. Falou dos 50 anos de vida pública, misturou fatos ocorridos durante a ditadura com ações suas na presidência da República.

Eximiu-se de toda e qualquer responsabilidade pela desmoralização completa por que passa o Senado da República. Repetiu inúmeras vezes que a crise não é dele, é do Senado.

Lamento, mas o senador José Sarney é o maior responsável pela crise.

 Não se trata de desmentir ou de apagar a biografia do nobre parlamentar. Longe disso. Quem reescrevia o passado eram os historiadores soviéticos. A história de José Sarney é bem conhecida.

O que há de mais curioso a ressaltar no discurso de quase meia hora é a total falta de compromisso de José Sarney com os últimos dez ou 15 anos da história do Senado. Sarney discursou como se tivesse chegado ontem à presidência da Casa.

Como se não estivesse presidindo o Senado pela terceira vez. Como se não fosse pessoalmente responsável pela criação de cerca de 50 das 181 diretorias recém-descobertas na Casa.

Como se não fosse pessoalmente responsável pela nomeação de Agaciel Maia como diretor-geral do Senado. Como se não tivesse legitimado uma série de atos de Agaciel Maia e do diretor de Recursos Humanos, João Carlos Zoghbi.



Não é trivial privatizar o Senado da forma como o Senador José Sarney o fez. Tinha até outro dia um neto e duas sobrinhas empregados. Recebia auxílio-moradia tendo residência particular em Brasília e tendo à sua disposição, desde fevereiro, a residência oficial do Senado.

Sua estrategista de campanha era também diretora do Senado. Exonerada para fazer campanha, teve a exoneação cancelada (tudo através de documentos sigilosos).

Sua casa em São Luís era protegida por seguranças do Senado... embora ele seja senador pelo Amapá.



Semana passada, sua Excelência foi padrinho de casamento da filha de Agaciel Maia, ex-diretor-geral do Senado. Que agora, depois de prestar relevantes serviços ao senador Sarney, está sendo jogado às feras. Pelo senador Sarney.

O senador José Sarney não tem direito de afirmar que a crise não é dele.

Quando tenta diluir a crise do Senado brasileiro na crise de representação mais geral, que acontece em muitos parlamentos do mundo, o senador tenta uma manobra esperta.

É verdade que há crise em outros países, mas lá os parlamentares renunciam, pedem desculpas públicas, devolvem o dinheiro desviado. Alguns até se matam.

Não se espera nenhuma atitude radical por parte do senador Sarney. Nem mesmo a renúncia à presidência do Senado virá por livre e espontânea vontade.

Mas o clima de rebelião entre os funcionários do Senado é evidente. A forte reação da opinião pública também.

Uma vez o senador José Sarney contratou a Fundação Getúlio Vargas para fazer um diagnóstico da situação do Senado e propor medidas. Deu certo. Nada aconteceu.

Desta vez, repetiu a manobra. Mas suspeito muito de que não vai funcionar.
Os tempos são outros, Excelência.

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O Outono do Oligarca

Sarney é, de muitos modos distintos, mas formidavelmente combinados, um espetáculo triste de se ver, patético mesmo, no sentido original da palavra, que foi se perdendo com tempo. Transcrevo para vocês a boa definição do Houaiss: “que ou o que tem capacidade de provocar comoção emocional, produzindo um sentimento de piedade, compassiva ou sobranceira, tristeza, terror ou tragédia”. Sim, essas coisas todas se misturam em mim vendo, hoje, sua figura.

Aos 79 anos, tendo participado da transição do regime militar para a democracia, tendo já presidido o Senado, poderia ser um desses senhores que se candidatam a oráculo e reserva moral. Ah, claro: seu governo teve lá as suas trapalhadas. Mas, se ninguém lhe dá uma colher de chá, este implacável Reinaldo Azevedo — tachado de malcriado às vezes; de destemperado, quem sabe?; de coisa ainda pior certamente — reconhece-lhe o mérito: ajudou, à sua maneira, um tanto torta, a consolidar a democracia no Brasil. Não foi um príncipe, mas também não foi um ogro. Não deveu nada à pastosa mediocridade de algumas reputações que estão por aí. Já que decidiu criar um estado pelo qual pudesse se candidatar, poderia, ao menos, ter escolhido a posição de conselheiro.

Mas não. Sim, sei bem, ele é quem é: pertence ao neocoronelato brasileiro — a esta altura, já tornado velho também. A idade e a posição alcançada no establishment lhe facultavam a possibilidade de ser, vejam que coisa, uma espécie de modernizador do conservadorismo, da tradição, escoimando dela as velharias e buscando um diálogo com o novo. Em vez disso, viu-se o quê? A emergência do poder petista, com sua propensão para dar liderança nova aos velhos vícios e acrescentar vícios inéditos ao estoque antigo, viu em Sarney um bom esteio.

Os magos do petismo apostaram, não sem razão, que ele poderia ser a voz daquele Brasil profundo, velho mesmo, arcaico, aferrado ao mandonismo, desta feita, mandonismo da periferia do poder, dos arrabaldes —, mas ainda com ampla representação no Congresso. E resolveram usá-lo como pilar da nova ordem. E ele aceitou ser esse pilar. Em torno dele, agregou-se o que há de mais arcaico na política brasileira, mas agora abrigado no guarda-chuva do “progresso” petista. Sarney e seus aprendizes, como Renan Calheiros, foram se transformando na cara do Congresso: defesa de privilégios inaceitáveis, desmandos, descuido com o dinheiro público. Enquanto isso, Lula, o demiurgo, o Tirano de Siracusa dos delírios de Marilena Chaui, triunfa sobre toda coisa viva, diante de um Congresso desmoralizado.

O gigantesco poder conferido a Sarney na era Lula não é apenas o preço a pagar pela governabilidade, que requer a aliança com o PMDB etc e tal. Esse argumento é velho. Sarney é a face não edulcorada do statu quo com o qual o petismo se acertou, no qual se deu bem. Não estivesse a academia brasileira (com exceções, sei disso) contaminada pela vigarice submarxista, que produz mais ideologia do que saber, essa era Lula estaria sendo examinada a partir de seus atores. E talvez se chegasse com facilidade à constatação de que vários atrasos se misturam: corporativismo, estatismo assistencialista, patrimonialismo renitente e, curiosamente, mercadismo (que não é economia de mercado; ao contrário: não gosta muito disso, não…).

Vi há dias Sarney na televisão. Não faz tempo, sua aparência, que não dispensava, como de hábito nos políticos, os recursos da cosmética, remetiam a alguém mais jovem, a uma liderança mais hígida. Exposto a si mesmo, a figura estava alquebrada, cansada, acuada pela incongruência entre palavra e realidade. Em suma, Sarney parecia mais velho do que Sarney, a despeito da cosmética: o que antes disfarçava começou a ressaltar, como, e não vai aqui nenhuma intenção agressiva, um clown surpreendido num momento de tristeza, com a lágrima a lhe deixar um rastro no rosto — símbolo, para mim, das coisas patéticas, conforme o definido no primeiro parágrafo. No discurso de hoje, vimos, finalmente, o Sarney de cabelos brancos, como a cobrar respeito.

Não é, definitivamente, algo bonito de se ver. Seria menos pior se, mero procurador daquele Brasil arcaico, pudesse se colocar agora como reformador dos maus hábitos, puxando a orelha dos seus liderados. Mas não! Infelizmente para ele — e para o país —, também é beneficiário desse Brasil que se faz nas sombras e que serve, reitero, como pilar disso que o PT pretende que seja uma nova ordem. E que é das mais antigas.

Há dias, recomendei aqui que renunciasse à presidência do Senado para que o processo político tivesse tempo de preservar o que ele pode ter representado de virtuoso, o que serviria, então, às exéquias decorosas de um tempo. Mas ele insiste em não sair de cena, em dar seqüência a seu número patético, em ser a expressão, com a maquiagem já derretendo, de um país que não passa e que precisa passar.

Talvez ele, escritor ruim, mas ao menos leitor — coisa cada vez mais rara na política, né, Lula? —, entenda que este é um texto, nas sua sinuosidades e reentrâncias, que serve à sua defesa. E a melhor maneira que tem o senador de se preservar em seu outono é não defender o indefensável. E sair de cena. Para que se tente fazer a higiene necessária na Casa.

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terça-feira, 16 de junho de 2009

Sarney empresta imóvel funcional a ex-senador aliado

Folha: O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), emprestou apartamento funcional que estava em seu nome para o ex-senador Bello Parga (ex-PFL-MA, atual DEM-MA). Sarney tem casa em Brasília e a Mesa Diretora só permite que senadores em exercício do mandato usem imóveis funcionais.

O mandato de Bello Parga, que foi senador pelo Maranhão, acabou em fevereiro de 2003. Mesmo assim, ele continuou morando num imóvel da Casa graças a um favor de Sarney. O presidente do Senado manteve o empréstimo do imóvel até maio de 2007 para ajudar o colega que estava doente. Parga morreu em maio de 2008.

Quando um senador se torna presidente, ele pode acumular o uso de apartamento com a residência oficial. Em 2003, Sarney foi eleito presidente da Casa pela segunda vez e o mandato foi até fevereiro de 2005.

Em entrevista à Folha, Sarney contou que usou por algum tempo o imóvel para guardar livros. "Depois, o senador Bello Parga tinha perdido o mandato e estava muito doente, e eu permiti que ele ficasse durante algum tempo no apartamento."

A operação não tem respaldo legal. O ato da Mesa Diretora número 24/1992 estabelece que o uso de imóvel só é permitido para senadores que estão em exercício. Por isso Sarney manteve o empréstimo do apartamento em seu nome para que pudesse cedê-lo a Parga. Não está claro se há alguma punição prevista para esses casos.

O ex-diretor de Recursos Humanos do Senado João Carlos Zoghbi foi exonerado pelo próprio Sarney após denúncia de que ele emprestou um apartamento funcional para os filhos morarem. O imóvel, no entanto, estava em nome do diretor que mora numa casa de alto padrão em Brasília.

A Subsecretaria de Patrimônio do Senado informou ontem que determinou a abertura de um processo administrativo contra Zoghbi.

Pelos menos desde 2002, o presidente do Senado mora em uma casa de alto padrão localizada em uma região chamada de península dos ministros.

No dia 25 de maio deste ano, a Folha revelou que Sarney recebia auxílio-moradia de R$ 3.800 para custear suas despesas mensais, mesmo tendo à sua disposição a residência oficial do Senado desde fevereiro, quando foi eleito pela terceira vez ao comando da Casa.

Em um primeiro momento, ele negou que recebia o benefício. Depois, acabou pedindo desculpas publicamente e por meio de carta enviada à Folha.

"Eu nunca pedi auxílio-moradia e, por um equívoco, a partir de 2008, segundo me informaram, realmente estavam depositando na minha conta", disse o senador. A Folha teve acesso ao processo que autorizou o pagamento. De fato, não há ofício assinado pelo presidente solicitando o benefício.

Há, no entanto, uma ordem por escrito do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia para que Sarney passasse a receber o benefício.

O ex-diretor foi indicado ao cargo por Sarney, em 1995. Na última quarta, o presidente do Senado foi padrinho de casamento da filha de Agaciel.

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O Senado é Deles!

O Globo (Lúcia Hippolito): O mais recente escândalo a abalar o Legislativo e a minar a confiança dos cidadãos nas instituições chega na forma de cerca de 500 documentos sigilosos, encontrados por uma auditoria interna do Senado.

Tais documentos sigilosos dizem respeito a nomeações, exonerações, pagamentos de horas extras, pagamentos de planos de saúde odontológicos e clínicos para familiares de ex-parlamentares, entre outras aberrações inadmissíveis num estado democrático de direito.
Esta patologia aponta para duas doenças distintas, mas que se intercomunicam.

Primeiro, para a privatização dos espaços públicos. Tomemos o caso do senador José Sarney, presidente do Senado, por exemplo. O nobre parlamentar não reparou que mensalmente eram depositados em sua conta bancária R$ 3.800,00 de auxílio-moradia – embora o senador resida em uma bela casa em Brasília e tenha à sua disposição a residência oficial da Presidência do Senado.

O nobre senador também não sabia que sua especialista em campanhas, Elga Mara Teixeira Lopes, era, nas horas vagas, diretora do Senado Federal. Confrontado com os fatos, exonerou a especialista e a contratou como assessora pessoal.

Ainda, requisitou seguranças do Senado para fazer segurança privada em suas propriedades em São Luís. Embora o nobre parlamentar tenha sido eleito... pelo Amapá.

É como eu digo. Sarney não é um fofo?

Tem mais. A filha do senador Sarney, então senadora Roseana Sarney, considerou que era perfeitamente ético proporcionar um fim de semana em Brasília, na residência oficial do Senado, para um grupo de amigos maranhenses, companheiros de pano verde, já que a senadora não podia encontrá-los em São Luís, como fazia todos os fins de semana. Problema: os amigos tiveram as passagens pagas pelo Congresso Nacional.

A assessora de imprensa da senadora Roseana Sarney, a jornalista Tania Fusco, era também contratada como diretora do Senado. E não há notícia de que tenha sido exonerada.

Em seguida, ficamos sabendo que Fernando Sarney, também filho do senador Sarney, não é parlamentar, mas tem viagens de seus assessores pagas com cotas de passagens da Câmara dos Deputados.

E quando pensávamos que a privatização do Senado tinha chegado ao máximo, chega a notícia de que um neto do senador Sarney, filho de Fernando Sarney, foi contratado para trabalhar no gabinete do senador Epitácio Cafeteira, por R$ 7.600,00. O jovem tem 22 anos e ainda não se formou em Administração.

Cafeteira queria “pagar um favor” prestado por Fernando Sarney. Outro fofo! Casa-Grande e senzala perde!

Quando a lei do nepotismo começou a ser aplicada no Senado, Sarney Neto foi exonerado num desses documentos sigilosos, que não foi publicado em lugar nenhum. Mas a família não ficou ao relento. A mãe do jovem foi contratada para o mesmo cargo do filho, com o mesmo salário. Era pensão?!

Pensam que acabou? Pois o nobre senador José Sarney também não sabia que sua sobrinha Vera Portela Macieira Borges, filha de um irmãos de dona Marly Sarney, fora contratada em 2003 para um cargo de confiaça de assistente parlamentar, com um salário de R$4.600,00. Detalhe: ela mora em Campo Grande (MS), a mais de mil quilômetros de Brasília!

Como é espaçosa essa família Sarney! E sempre ocupando espaços com dinheiro público.
Novamente, Casa-Grande e sensala perde!!!

A segunda doença apontada por esta patologia dos documentos secretos é a auto-suficiência da burocracia.

Um dos poderes da República é dirigido por burocratas arrogantes, que se julgam no direito de emitir documentos sigilosos, promovendo uns, exonerando outros, pagando horas extras inexistentes.

Tudo isto sem a necessária transparência nem a necessária publicidade que devem obrigatoriamente presidir os atos da administração pública.

E que não se diga que são pequenas transgressões. Estamos falando de um orçamento anual de DOIS BILHÕES DE REAIS!!

Ocorre que, na administração pública, atos que não foram publicados não têm validade. Para isso existem os boletins administrativos, e, no caso do Legislativo, o Diário do Congresso Nacional.

Imaginem se uma lei, aprovada no Congresso, não for publicada! Não é por outra razão que as leis sempre terminam da mesma forma: "Esta lei entra em vigor na data de sua publicação".

E agora? Os nomeados por esses documentos sigilosos vão devolver aos cofres do país os salários que receberam indevidamente? Mas e aqueles que são inocentes e que realmente trabalharam? Como ficam?

Finalmente, é conveniente responsabilizar por todas as malfeitorias o antigo diretor do Senado, Agaciel Maia. Por mais poderoso que fosse, seus poderes emanavam da Mesa Diretora, ou seja, do presidente do Senado Federal.

Se existem documentos sigilosos datados de dez anos atrás, isto é, 1999, vamos lá. Os responsáveis por mais este capitulo de privatização de um espaço público e de desprezo pelo estado democrático de direito são os presidentes do Senado nesse período: Antonio Carlos Magalhães (2000-2001); Jader Barbalho (2001); Edson Lobão (2001); Ramez Tebet (2001-2003); José Sarney (2003-2005); Renan Calheiros (2005-2007); Tião Vianna (2007); Garibaldi Alves (2007-2009) e José Sarney (2009-...)

(Como se vê, é um desprezo suprapartidário.)

Até quando a sociedade brasileira vai continuar de cabeça baixa?

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Lula nem faz ideia de quem foi JK

Veja Online: O presidente Juscelino Kubitschek foi o que o brasileiro gostaria de ser. O presidente Lula é o que a maioria dos brasileiros é. Incapaz de folhear biografias, sem paciência nem disposição para estudar a História do Brasil, Lula não faz idéia de quem foi o antecessor. Mas gosta de comparar-se a JK. Primeiro, apresentou-o como exemplo a seguir. Não demorou a descobrir-se, como reiterou no fim de semana, bem superior ao modelo (e infinitamente melhor que todos os outros).

Sedutor, inventivo, culto, cosmopolita, generoso, amante do convívio dos contrários, Juscelino não gostaria de ser comparado a um chefe de governo falastrão, gabola, provinciano, que odeia leituras, inclemente com adversários, a quem culpa por tudo, e misecordioso com bandidos de estimação, a quem tudo perdoa. Ambos nasceram em famílias pobres, ultrapassaram as fronteiras impostas ao gueto dos humildes e alcançaram o coração do poder. Esse traço comum abre a diminuta lista de semelhanças, completada pela simpatia pessoal, pelo riso fácil e pela paixão por viagens aéreas. Bem mais extensa é a relação das diferenças, todas profundas, algumas abissais.

O pernambucano de Garanhuns é essencialmente um político: só pensa nas próximas eleições. O mineiro de Diamantina foi um genuíno estadista: pensava nas próximas gerações. Lula ama ser presidente, mas viveria em êxtase se pudesse ser dispensado de administrar o país. Bom de conversa e ruim de serviço, detesta reuniões de trabalho ou audiências com ministros das áreas técnicas e escapa sempre que pode do tedioso expediente no Palácio do Planalto. JK amava exercer a Presidência, administrava o país com volúpia e paixão ─ e a chama dos visionários lhe incendiava o olhar ao contemplar canteiros de obras que Lula visita para palavrórios eleitoreiros. Lula só trata com prazer de política. JK tratava também de política com prazer.

O país primitivo dos anos 50 pareceu moderno já no dia da posse de JK. Cinco anos depois, ficara mesmo. O otimista incontrolável inventou Brasília, rasgou estradas onde nem trilhas havia, implantou a indústria automobilística, antecipou o futuro. Cometeu erros evidentes. Compôs parcerias condenáveis, fechou os olhos à cupidez das empreiteiras, não enxergou o dragão inflacionário. Mas o conjunto da obra é amplamente favorável. Com JK, o Brasil viveu a Era da Esperança.

O país moderno deste começo de milênio pareceu primitivo no momento em que Lula ganhou a eleição. Seis anos e meio depois, ficou mesmo. As grandezas prometidas em 2002 seguem estacionadas no PAC. As estradas federais estão em frangalhos. A educação se encontra em estado pré-falimentar. O sistema de saúde é lastimável. A roubalheira federal atingiu dimensões amazônicas. Mas Lula está bem no retrato, reiteram os institutos de pesquisa.

Talvez esteja. Primeiro, porque milhões de brasileiros inscritos no Bolsa-Família são gratos ao gerente do programa que os reduziu a dependentes da esmola federal. Depois, e sobretudo, porque o advento da Era da Mediocridade tornou o país mais jeca, mais brega, muito menos exigente, muito menos altivo.

Nos anos 50, o governo e a oposição eram conduzidos pelos melhores e mais brilhantes. O povo que sabia sonhar sabia também escolher melhor. Mereceu um presidente como JK. No Brasil de Lula, mandam os medíocres. O grande rebanho dos conformados tem o pastor que merece.

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segunda-feira, 15 de junho de 2009

Mais uma sobrinha de Sarney tem vaga criada por ato

Folha: Boletim, assinado pelo ex-diretor-geral, Agaciel Maia, nomeia Maria do Carmo Macieira para cargo em gabinete de Roseana.

Ato de nomeação é de 2005, mas só foi publicado na intranet do Senado neste ano; a governadora do Maranhão não foi localizada.

De Adriano Ceolin:

Prima da governadora Roseana Sarney (MA), Maria do Carmo de Castro Macieira foi nomeada no Senado por meio de ato secreto. O documento determina o ingresso dela num cargo no gabinete ocupado pela própria Roseana, então senadora pelo PMDB do Maranhão.

O gabinete era chefiado pela servidora Doris Marize Romariz Peixoto, a atual presidente da comissão de sindicância que investiga o uso de atos secretos no Senado desde 1995. Os outros integrantes são o diretor de Recursos Humanos, Ralph Campos, e o consultor-geral de Orçamento, Fábio Gondim.

O ato de nomeação da prima de Roseana foi assinado pelo então diretor-geral da Casa, Agaciel da Silva Maia, que deixou o cargo em março por ter ocultado da Justiça casa avaliada em R$ 5 milhões.

Maria do Carmo Macieira é prima de Roseana por parte da mãe, Marly, mulher do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O ato de sua nomeação consta do Boletim Administrativo do Pessoal Suplementar número 3264-S.

O boletim foi editado em 29 de junho de 2005. Porém, só foi publicado na intranet da Casa por um arquivo de 14 de maio deste ano. Do boletim consta a nomeação de José Raimundo Ferreira Verde Filho também para o gabinete de Roseana.

O ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi era o responsável pela edição dos boletins administrativos de pessoal. Ele também deixou o cargo em março deste ano, após a denúncia de que emprestou um apartamento funcional do Senado para os filhos.

Doris afirmou que a responsabilidade da indicação é dos congressistas. "O gabinete apenas encaminha os ofícios para o protocolo", disse. Ela afirmou não lembrar se o ato de nomeação de Maria do Carmo foi publicado na data correta. Sobre seu trabalho na comissão, apenas disse não se ver impedida.

A prima de Roseana recebeu aumento neste ano. Seu salário subiu para R$ 2.794,18. Com data de 17 de março, o ato que determinou o aumento foi público, assinado pelo atual diretor-geral, Alexandre Gazineo.

Em 2008, o Supremo editou uma súmula que estabeleceu as normas para casos de nepotismo. Pela decisão, primos podem ser nomeados por primos. Como Maria do Carmo é sobrinha de Marly Sarney, mulher do presidente do Senado, pode ser configurado nepotismo.

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O Teflon do Maranhão

Revista Exame: Todo mundo conhece alguém que se encaixa no perfil. Às vezes, é um síndico do prédio que lida com um vazamento de água como se fosse apenas mais uma vítima. Em outras, é um diretor de marketing que bota a culpa no feriado para explicar a queda nas vendas. Exemplos de pessoas que fogem de suas responsabilidades são inúmeros, em família, no trabalho ou na política.

Dentre os que circulam por Brasília, ninguém, niguém mesmo (nem Lula), consegue tal façanha como o presidente do Senado, coronel José Sarney. Quando era presidente da república, comportava-se como mero expectador em meio ao caos. A inflação corria solta. Não era com ele. A corrupção, um absurdo. Nenhuma resposta. Há anos, Sarney vem fugindo de toda e qualquer responsabilidade em relação a tudo que está sob o seu controle (do Maranhão ao Brasil). Infelizmente, o eleitorado brasileiro ainda não o puniu da maneira como deveria.


Empossado presidente do Senado pela terceira vez, Sarney recorre ao velho expediente. Finge que não tem nada a ver com a saraivada de denúncias e reage, com certa indignação controlada, ao aparecimento dos tais atos secretos, das diretorias para vigiar garagem, dos abusos com a verba de indenização. Como o Brasil não é o Maranhão, suas mentiras são desmascaradas, uma a uma. Foi Sarney quem criou a maioria das diretorias "para-nada". Parentes de Sarney foram os primeiros a se beneficiar dos tais atos secretos. E Sarney, apesar de morar na residência oficial do Senado, recebia também o auxílio-moradia da casa. Em várias destas oportunidades, confrontado com as informações, ele respondeu: "Não, não fiz isso" ou "Eu não sabia". Mentiras deslavadas.

Se não é o Maranhão, infelizmente, o Brasil também não é o Japão. Por lá, como lembrou o jornalista Ricardo Noblat em sua coluna em O Globo, políticos flagrados em situação vexaminosa renunciam, se entregam à Justiça e, às vezes, até se matam de tanta vergonha. Nos Estados Unidos, na Inglaterra, a mesma coisa. Por aqui, nossa elite política não sente nenhum remorso por mentir à opinião pública. Suspeito que exista até um certo orgulho, uma competição entre os Sarneys, Calheiros e outros, para ver quem consegue realizar mais pilantragens e ainda posar de bonzinho. Nisso, Sarney você é campeão. Você é o Teflon do Maranhão

(Maurício Lima – Revista Exame – 15.06.09)


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Sai, Sarney

O Globo: Vez por outra lemos a respeito de político japonês que se matou depois de ter sido acusado de corrupção. O mais recente foi Toshikatsu Matsuoka, ministro da Agricultura, em maio de 2007. Ele aceitou suborno de um empresário e pediu reembolso de despesas que sempre foram cobertas por seu gabinete. A ser processado e talvez preso, preferiu se enforcar.


O próximo domingo será um dia tristemente histórico para a Inglaterra. Pela segunda vez, um presidente da Câmara dos Comuns, o equivalente à nossa Câmara dos Deputados, renunciará ao cargo, acusado de má conduta. O primeiro a renunciar foi Sir John Trevor em 1695. Seu crime? Ter embolsado grana de um comerciante em troca do apoio à aprovação de uma lei.

Michael Martin, 63 anos, presidente da Câmara dos Comuns há quase dez, não se vendeu a ninguém nem tirou vantagens ilícitas do cargo. Mas foi conivente com os colegas que tiraram. Deputados com direito a verba para bancar moradia em Londres conseguiram reembolso por gastos para consertar quadras de tênis, limpar fossas, comprar cadeiras de massagem e aparelhos de televisão de tela plana. Os mais ousados cobraram até pelo aluguel de filmes pornográficos.

O cordato Martin avalizou os desmandos. Uma vez que eles foram descobertos pela imprensa, tentou encobri-los. Como a tarefa se revelou impossível, pediu ajuda à polícia para identificar as fontes de informações dos jornalistas. A polícia nem se mexeu.

Por fim, Martin se rendeu. Seguirá o exemplo dado por Trevor há 314 anos.

Aqui já assistimos a renúncia de presidentes da Câmara e do Senado enrolados em denúncias de quebra de decoro. Foi o caso de Severino Cavalcanti, presidente da Câmara. E de Jader Barbalho, Antonio Carlos Magalhães e Renan Calheiros, presidentes do Senado.

Diferentemente de Trevor no passado, e agora de Martin, eles não abandonaram os cargos premidos pelo sentimento de vergonha. Renunciaram para não ser cassados. Foi um ato sem vergonha. Assim puderam preservar os direitos políticos e voltar ao Congresso reeleitos.

José Sarney está no olho do furacão que varre o Senado desde que ele foi eleito em fevereiro último para presidi-lo pela terceira vez. A primeira foi em 1995.

O que existe de podre no Senado não é obra exclusiva dele. Um presidente do Senado não pode tudo, muito menos sozinho.

Mas é um escárnio Sarney continuar fingindo que nada tem a ver com a crise mais grave da história do Senado. Não apenas tem a ver: Sarney é o principal responsável por ela. A semente da crise foi plantada no primeiro mandato dele como presidente do Senado.

“Eu só tenho a agradecer ao Dr. Agaciel Maia pelos relevantes serviços que ele prestou”, disse Sarney ao se despedir do ex-diretor-geral do Senado, defenestrado da função devido à crise.

Agaciel foi nomeado por Sarney. Ao longo de 14 anos, acumulou poderes e cometeu toda a sorte de abusos com a concordância explícita ou velada de Sarney e dos que o sucederam no comando do Senado.

Na semana passada, ao som da música do filme “O Poderoso Chefão”, Agaciel casou a filha Mayanna sob as bênçãos de Sarney, Renan Calheiros e de dois outros ex-presidentes do Senado – Garibaldi Alves e Edison Lobão.

Para lá do inchaço do quadro de funcionários do Senado, do pagamento de horas extras não trabalhadas, da criação de diretorias fantasmas, da homologação de licitações suspeitas e da assinatura de decretos secretos, há fatos que dizem respeito diretamente a Sarney e que o deixam mal na foto.

Dono de imóvel em Brasília e inquilino da mansão destinada ao presidente do Senado, Sarney recebeu durante mais de um ano auxílio-moradia de R$ 3.800,00 mensais reservada a senadores sem teto.

Flagrado, primeiro negou que recebesse. Depois se apropriou do mote de Lula e disse que não sabia.

Um neto de 22 anos de Sarney assessorou durante mais de um ano o senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA). Foi a maneira que Cafeteira encontrou, segundo admitiu, de agradecer ao pai do rapaz por tê-lo reaproximado de Sarney.

Há uma sobrinha de Sarney lotada no ex-gabinete da filha dele no Senado, Roseana Sarney, atual governadora do Maranhão. E há outra empregada no gabinete do senador Delcídio Amaral (PT-MTS) em Campo Grande. Essa ganha sem trabalhar.

É possível acreditar que o pai da crise esteja de fato empenhado em resolvê-la? Ou que reúna condições para tal? E quem disse que seus pares estão interessados em refundar o Senado?

A essa altura, uma só coisa depende de fato de Sarney: a renúncia à presidência do Senado para atenuar as nódoas recentes de sua biografia.


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Ato secreto para filha de aliado de Sarney

Aspirante a modelo, a jovem Nathalie Rondeau foi nomeada em 26 de agosto de 2005, por meio de um ato secreto, para trabalhar no Conselho Editorial do Senado. Nathalie, de 23 anos, é filha de Silas Rondeau, ex-ministro de Minas e Energia, afilhado político do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Com 13 livros publicados, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), Sarney preside o Conselho Editorial desde 2002. Nesse período, como revelam cópias de atos secretos obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, Sarney conseguiu empregar pessoas de sua ligação, aumentar salários e multiplicar o número de cargos existentes no órgão.

Quando Nathalie ganhou o emprego - com salário de R$ 2,5 mil -, o senador já comandava o órgão. A jovem entrou no Senado um mês e meio depois de Silas Rondeau ser indicado pelo próprio Sarney para assumir o Ministério de Minas e Energia. A assessoria de Sarney afirmou que a publicação referente à nomeação da jovem não foi publicada de forma transparente em 2005 “por erro técnico”. Rondeau, no entanto, deixou o cargo em maio de 2007 após a acusação, sempre negada, de que recebera 100.000 reais de propina da construtora Gautama, alvo da Operação Navalha da Polícia Federal.

Nathalie, porém, permanece na folha de pagamento do Senado, segundo a assessoria de Sarney. A assessoria informou que ela cumpre expediente. Nos últimos anos, a jovem, cujo perfil no Orkut registra a participação em 352 comunidades de interesse, das quais nenhuma é dedicada à literatura, tem se destacado em desfiles de moda em Brasília, como o Capital Fashion Week. A nomeação sigilosa da filha de Rondeau no Conselho Editorial soma-se a outras designações, também secretas, que beneficiaram parentes, aliados ou conhecidos do presidente do Senado, como de uma sobrinha dele e da ex-miss Brasília Rosângela Michels Gonçalves, mãe do neto do presidente do Senado.

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Na solidão do poder, Sarney vive seu outono do patriarca

Presidente do Senado mostra desgaste, em meio a sucessão de escândalos

Com passos curtos e seguros, vestindo um sobretudo de lã preta, José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, 79 anos, entrou na noite de segunda-feira na residência oficial do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Na área externa da casa, em volta do presidente Lula, grupos de políticos e jornalistas conversavam animadamente e esperavam o jantar em homenagem aos participantes da 4ª Conferência Legislativa de Liberdade de Imprensa. Feitos os cumprimentos protocolares, um José silencioso, que não denunciava a biografia com mais de meio século de poder político, fugiu do burburinho e ficou parado no primeiro dos três degraus que separam o salão da casa do jardim virado para o Lago Paranoá.

Apartado da descontração em torno de Lula e recolhido do frio das noites candangas de junho, o ex-presidente da República, ex-governador de Estado, presidente do Congresso, ex-deputado federal e senador José Sarney ouviu de um jornalista a pergunta: "Presidente, o Senado já está mais ameno?" E Sarney, expondo os indícios do fardo em que se transformou o cargo, respondeu: "Meu filho, aquilo não ameniza nunca."

Era o início da semana em que, depois de todos os escândalos - da hora extra sem limites à profusão de diretores -, a reportagem do Estado revelaria o caso dos atos secretos que fizeram da direção-geral do Senado um guichê de distribuição de empregos e salários entre amigos, na última década e meia.

A noite na casa de Temer expôs um Sarney que fez história, mergulhou no vício solitário do poder e vive o autêntico outono do patriarca. A ideia de disputar pela segunda vez a presidência do Poder Legislativo já foi um arroubo extemporâneo. Como revelam alguns dos amigos mais íntimos, a real motivação para essa disputa foi a conquista de um cargo político poderoso para enfrentar a investigação que a Polícia Federal fazia nas empresas da família, a Operação Boi Barrica.

A PF chegou a pedir ao juiz da 1ª Vara Criminal de São Luís a prisão preventiva de um filho de Sarney, Fernando, e da nora, Teresa Murad Sarney. O presidente do Congresso temia que a espetacularização que caracterizava as operações da PF naqueles dias acabasse por levar até a prisão da neta, filha de Fernando e Teresa. Em conversa com amigos, chegou a desabafar: "Para protegê-la mandei que só dormisse com a avó" - a família temia uma operação de busca, apreensão e prisão na residência de São Luís.

OCASO

Quem acompanha há mais tempo - e de perto - a trajetória do senador identifica dois atores políticos distintos: o "Sarney do Maranhão", que virou senador pelo Amapá, e o "Sarney nacional". O do Amapá, que garantiu a manutenção da sua vaga no Congresso, passa despercebido. O do Maranhão ganhou oxigênio político com a volta da filha Roseana ao governo estadual. Mas o Sarney "nacional" hoje é politicamente mais frágil que o de novembro do ano passado, antes da disputa renhida com o PT pelo comando do Congresso. A briga com o senador Tião Viana (PT-AC) estendeu-se após a eleição e deixou sequelas que não amenizam.

Na avaliação de um dirigente do PT, Sarney continua "muito forte" com o lulismo, mas desgastou-se com o petismo. O PT absorve no limite estritamente necessário sua aliança com o Planalto, mas sempre que pode deixa clara a incompatibilidade dos DNAs políticos. A soma desses fatores expõe um Sarney frágil e compõe a fotografia de uma liderança histórica em declínio, em que pese a reconquista do poder regional, por meio da filha, Roseana, que o TSE devolveu ao governo do Maranhão.

A volta da senadora ao Palácio dos Leões dá gás ao chamado grupo sarneysista, que vinha perdendo espaço no Estado. Com a retomada da máquina do governo, a tendência é recuperar a base perdida para Jackson Lago (PDT), cassado por abuso de poder econômico. Prova disso é que, quando assumiu o governo em 17 de abril, Roseana e seu grupo eram minoria na Assembleia. O placar em favor de Lago e seus aliados era de 42 a 16. Menos de dois meses depois, Roseana já contabiliza o apoio de 30 deputados estaduais, mas a repercussão disso na liderança nacional de Sarney é praticamente nula.

O ocaso da liderança do patriarca Sarney se dá por fatores múltiplos, em que o cronológico é o de menor relevância. Aos 79 anos de idade, com boa saúde e aparência, Sarney se vê distante da geração dos políticos locais. Lá se vão 30 anos desde a última vez em que disputou uma eleição no Maranhão, onde a maioria dos atuais prefeitos não o conhece pessoalmente. Só um projeto nacional em torno de Roseana teria poder de reverter a curva descendente em que ele se encontra, como ocorreu nas eleições de 1994 e 1998, mas principalmente depois da morte do deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), quando ela passou a ser alternativa das correntes mais conservadoras à sucessão de Fernando Henrique Cardoso.

Veio o caso Lunus - operação da PF que apreendeu mais de R$ 1 milhão em espécie em empresa da família durante a campanha eleitoral -, que alijou Roseana da disputa e jogou Sarney nos braços do PT (ele atribuiu a operação a uma conspiração do hoje governador José Serra, então candidato do PSDB ao Planalto).

ACM

Tal cenário gera efeitos semelhantes ao experimentado pelo ex-senador Antônio Carlos Magalhães - assim como Sarney, uma liderança nacional consolidada a partir de um império político regional. A longevidade da cultura política fisiológica de ambos transformou-os em líderes com doutrinas próprias que passaram a integrar o vocabulário político brasileiro: o "carlismo" e o "sarneysismo". Ainda em vida, ACM assistiu à lenta deterioração do carlismo, como Sarney experimenta agora em relação ao sarneysismo. O grupo carlista sobrevive à morte de ACM na Bahia, mas não dá mais as cartas do jogo político nem está na linha de frente da disputa pelo poder. Assim como os "sarneysistas" se escoram apenas na figura do patriarca e na posição institucional que Sarney ocupa no Congresso. Olhando o panorama nacional, a tendência é de declínio.

Depois de enfrentar a campanha do "Xô Sarney" em uma eleição difícil contra Cristina Almeida no Amapá, o senador acabou mostrando que a visão apurada da velha águia política, que lhe rendeu cálculos políticos precisos e o levou à Presidência da República -, começa a dar sinais de alguma miopia. Forçado a disputar a sucessão do Senado, calculou que poderia ser guindado à presidência sem disputa. Errou.

Contou com o apoio de Lula para influir a seu favor, mas não aconteceu bem assim. Cometeu novo equívoco quando supôs que seria fácil derrotar Viana. Quis vestir o figurino confortável de candidato da instituição, com o apoio da oposição, mas não teve os votos do PSDB que contava como certos. Mal assumiu a cadeira de presidente, teve de afastar seu amigo e compadre Agaciel Maia da diretoria-geral, algo que julgou ser possível evitar se derrotasse Tião Viana. Por fim, não teve a dimensão do escândalo que abalaria o Senado e achou possível evitá-lo com a mesma fórmula de 14 anos atrás, de contratar uma consultoria da Fundação Getúlio Vargas.

As feridas da disputa com o PT já tinham evoluído da fase da sangria para uma hemorragia política que transformou a FGV em ator figurante. Alimentada por setores do funcionalismo do Senado que sonhavam em tomar o poder com Tião Viana, a oposição a Sarney trouxe denúncias que lhe atingiram diretamente: um auxílio-moradia pessoal indevido e um neto exonerado por ato secreto, depois de flagrado em nepotismo explícito. A estratégia de transferir ao primeiro-secretário, Heráclito Fortes, o ônus das explicações sobre as denúncias contra o Senado não funcionou mais. Sarney se viu obrigado, ele mesmo, a dar declarações em defesa própria.

Nesse ponto, o fator cronológico passa a ter importância. Sarney já fez as contas e sabe que não terá mais tempo para recuperar o desgaste de imagem e renascer forte aos 81 anos, quando termina o mandato à frente do Senado. O clima já não lhe será tão favorável como parecia profetizar ao recusar-se a ir para o jardim da residência oficial da Câmara na noite da última segunda-feira: "Está muito frio lá fora."

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Renuncia, Sarney! Ato secreto deu cargo no Senado a sobrinha de Sarney que mora em MS

Reinaldo Azevedo (Veja on line) escreveu:

Por Rosa Costa, Rodrigo Rangel e Leandro Colon, no Estadão. Comento depois:
 Os boletins secretos que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirma desconhecer foram utilizados em maio de 2003 para nomear sua sobrinha Vera Portela Macieira Borges para um cargo na Casa. Apesar de morar em Campo Grande (MS), a 1.079 quilômetros de Brasília, ela foi contratada para exercer o cargo de confiança de assistente parlamentar, com salário de R$ 4,6 mil, originalmente na presidência do Senado. Sarney exercia, na ocasião, seu segundo mandato como presidente da Casa. Vera está na folha de pagamento do Senado até hoje.

Assinada pelo então diretor-geral Agaciel Maia, a primeira nomeação de Vera foi publicada, às claras, no dia 24 de março de 2003, mas ela não tomou posse. Um mês e meio depois, porém, Agaciel assinou duas outras medidas, mas com caráter de sigilo. Uma delas, só agora divulgada, tratava da nomeação da sobrinha do presidente do Senado.

Procurada ontem, a assessoria de Sarney confirmou o parentesco, a nomeação e informou que, na verdade, Vera dá expediente no escritório político do senador Delcídio Amaral (PT-MS), em Campo Grande. De acordo com os assessores de Sarney, ela é funcionária de carreira do Ministério da Agricultura e está “cedida” ao Senado, lotada na assessoria do parlamentar petista. No entanto, o Estado telefonou ontem para o escritório de Delcídio em Campo Grande e, lá, funcionários disseram - em entrevista gravada - não conhecer nenhuma Vera Macieira.

Comento: 
Sarney deveria ter piedade do que vai sobrando de sua biografia e renunciar à Presidência do Senado. É constrangedor ver alguém na sua idade tão exposto assim a si mesmo. Não sei se fui claro.

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Fernando Sarney desafia Charles Darwin

Os Jornais Folha de São Paulo e O Globo publicaram no último domingo artigo de autoria do renomado Elio Gaspari. No Maranhão, o mesmo autor é costumeiramente comtemplado nas páginas de O Estado do Maranhão. Este último, naturalmente, foi censurado pelo jornal. Veja o texto na íntegra abaixo:

O senador maranhense Epitácio Cafeteira foi categórico numa conversa com o repórter Rodrigo Rangel: "Eu contrato quem eu quero e não sabia que tinha que pedir autorização a vocês da imprensa".


O problema não é de autorização, mas de compostura. Há 22 anos, o empresário Fernando Sarney, filho do ex-presidente e dono de eletrizante fortuna, procriou fora do casamento com uma ex-candidata a Miss Brasília. Cafeteira colocou o moço na bolsa da Viúva dando-lhe um emprego de R$ 7,6 mil mensais em seu gabinete. Pressionado pelas restrições ao nepotismo, demitiu-o e, para equilibrar o orçamento desse ramo da família de Fernando Sarney, contratou a mãe. Tudo com a discrição dissimulada das casas-grandes.


O filho do ex-presidente tem patrimônio e renda suficientes para pagar R$ 7,6 mil mensais com dinheiro do seu bolso. Para o padrão de consumo do andar onde circula, essa quantia equivale a duas caixas de bom vinho, ao custo de um jantar para 15 pessoas ou ao hotel na Europa num feriadão. Fernando Sarney não precisava passar a conta de seu filho para a Viúva. O episódio não assombra pelo aspecto corrupto nem mesmo pela avareza. O que ele traz de pior é a exposição da decadência.


Nas palavras de Cafeteira: "Eu devia favores ao Fernando. Ele me ajudou na campanha". Fica faltando o senador dizer que favores e quanto valeram. No ano do bicentenário de Charles Darwin, Fernando Sarney tornou-se uma peça para o estudo da regressão das espécies.


(Publicado Originalmente na Folha de São Paulo, edição de 14/06/2009)

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Templos da Corrupção

Em julho de 2007, um relatório do Bird (Banco Mundial) mostrou que o nível de corrupção no Brasil era o maior em 10 anos. Mas os relatores não podiam prever que José Sarney seria o presidente do Senado em 2009 e muito menos o “sequestro” do Congresso Nacional, considerado o templo da democracia, por homens como Renan Calheiros, o próprio Sarney, Valdemar Costa Neto, Roberto Jefferson, entre outros. Não tinham idéia do que poderia acontecer no Brasil nos anos de 2008 e 2009. E certamente suas aferições não incluíram o triste Brasil dos atos secretos e dos parentes ocultos.

Segundo Daniel Kaufmann, do Bird, dizendo o que todo mundo já sabe, o ônus da corrupção recai, de maneira desproporcional, sobre o 1 bilhão de pessoas que vivem em extrema pobreza. A mesma extrema pobreza dos maranhenses que ora são obrigados a engolir a volta do regime sarneysista ao poder. Um regime que privilegia todos os pecados públicos para que a máfia em torno da famiglia se aproprie dos patrimônios físico e financeiro do estado.

Alguns homens, como Mahatma Gandhi e Martin Luther King, são considerados templos de virtudes. Outros, como os supracitados, são exemplos crassos de templos da corrupção encarnados, o que explica a degenerescência da atividade política no país.

Santo Agostinho, há 1.500 anos, descrevia os corruptos como homens capazes de se apropriar de lugares, apossarem-se de cidades e subjugar populações. Ele também não podia prever a existência do Maranhão, onde uma única família se apropriou do Convento das Mercês, um patrimônio público, tomou de assalto o Palácio dos Leões, ocupou a Ilha de Curupu, comprou um castelo em Portugal e subjugou uma população a ponto de subtrair-lhe o direito ao voto.
Os templos da corrupção, em sentido estrito ou figurado, estão descritos em diversas passagens da Bíblia, provocando a revolta dos justos inconformados com a impunidade dos que tomam posse do que pertence ao povo e, por conseguinte, a Deus.

O esperneamento quase hidrófobo dos escribas de Sarney contra os verdadeiros democratas e a reação psicótica dos doutores da lei, também em Brasília, contra a ausência de Sarney no poder, no Maranhão, só reforçam a idéia de que há gente demais se alimentando das migalhas que sobram das atividades ilegais nos templos da corrupção.

Não há, entretanto, como evitar a revolta dos justos e cedo ou tarde os vendilhões dos templos (os sagrados templos da democracia, da integridade e da liberdade) haverão de ser expulsos deste estado e deste país.

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