terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O PRIMEIRO EMPURRÃO



Esse foi o título de uma entrevista publicada nas páginas amarelas da revista Veja há algumas semanas.  O entrevistado, James Heckman, economista e especialista em educação laureado com o prêmio Nobel, é professor da Universidade de Chicago, uma das melhores do mundo. Ele criou métodos científicos para avaliar a eficácia de programas sociais e vem se dedicando aos estudos sobre a primeira infância - para ele uma etapa divisora de águas. 

Heckman veio ao Brasil proferir uma palestra com o título “Os desafios da primeira infância - Por que investir em crianças de zero a 6 anos vai mudar o Brasil?” e explicou essa é a fase em que o cérebro se desenvolve em atividade frenética e tem um enorme poder de absorção, como uma esponja maleável. 

As primeiras impressões e experiências na vida preparam o terreno sobre o qual o conhecimento e as emoções vão se desenvolver mais tarde. Se essa base for frágil, as chances de sucesso cairão; se ela for sólida, vão disparar na mesma proporção. Por isso defende estímulos desde muito cedo. 

Ele afirma também que a ciência já reuniu evidências de que a probabilidade da criança ter uma vida saudável se multiplica quando a mãe é disciplinada no período pré-natal. Até 5 a 6 anos a criança aprende em ritmo espantoso, e isso será valioso para toda a vida. 

Infelizmente é uma fase que costuma ser negligenciada e normalmente as famílias pobres não recebem orientação básica sobre como enfrentar os desafios de criar um bebê, além de faltarem boas creches e pré-escolas e, sobretudo, não há o “empurrão” certo nas horas certas, diz o professor. 

Heckman informa que países que não investem na primeira infância apresentam índices de criminalidade mais elevados, maiores taxas de gravidez na adolescência e evasão no ensino médio e níveis menores na produtividade no mercado de trabalho, o que é fatal. A ênfase das políticas públicas em que o estado só entra depois, na fase do ensino fundamental, acarreta a perda da chance de preparar a criança para essa nova etapa, justamente quando seu cérebro é mais moldável à novidade. E isso é danoso para o país.

O professor chama ainda a atenção para o aspecto da segurança pública: se se investe bem cedo nas crianças, para que adquiram habilidades, com um bom poder de julgamento e autocontrole, isso as ajudará a integrarem-se à sociedade longe da violência. O custo dessa estratégia corresponde a um décimo do que custa a alternativa de contratar milhares de policiais para cuidar da segurança pública. É prevenir ou remediar? Como se vê, é muito melhor prevenir.

O entrevistado completa dizendo que o grande impacto positivo vem de programas que conseguem envolver famílias pobres, creches e pré-escolas, centros de saúde e outros órgãos que, integrados, canalizam incentivos à criança - não só materiais evidentemente. 

O programa envolve ativamente os alunos em projetos de sala de aula, lapidando habilidades sociais e cognitivas, sob a liderança de professores altamente qualificados. A família mantém um estreito elo com a escola, já que há que se ter sempre a certeza de que a família está a bordo, qualquer que seja a iniciativa. Um bom programa de primeira infância consegue ajudar a família inteira, fazendo chegar até ela informações, boas práticas e valores essenciais, como a importância do estudo para a superação da pobreza.

Parece que o professor Heckman pensava no Maranhão quando elaborava o seu trabalho. A partir do Escola Digna, um excelente projeto do governador Flávio Dino, com a ajuda da UFMA, poderíamos criar Centros da Primeira Infância que reuniriam a família, assistência à saúde, pré-escola, e outras atividades que preparariam as novas gerações e teriam como consequência a superação da pobreza que ainda existe no Maranhão. Essa foi a receita que transformou países asiáticos, tirando-os da pobreza para um patamar altamente desenvolvido.

Um projeto com esse alcance atrairá ajuda financeira de fundações do mundo inteiro com esse propósito e capital não faltaria para tal empreendimento contra a pobreza e a violência.

Esse é o projeto maior do Maranhão, acredito fortemente. Parece feito para nós.

E uma notícia boa: por fim tenho condições de garantir que o projeto da refinaria de Bacabeira começará a se transformar em realidade em meados do próximo ano, com o início das obras. O novo projeto está quase pronto, assim como o seu financiamento. 

Mas, é só o início. Valeu tanta luta e dedicação.

Depois contarei o restante da notícia...