A aversão demonstrada pela governadora Roseana Sarney ao tema da
educação é demonstrada no dia a dia dos seus governos. Quando ela saiu do
governo para se desincompatibilizar e concorrer ao Senado em abril de 2002, após
quase oito anos como chefe do executivo estadual, só havia ensino médio em 59
municípios do estado em um total de 217.
Prova mais clara de descaso não pode haver. Só a falta de interesse
pela função mais importante para qualquer governo explica o descalabro. Todo governador
que pensa com responsabilidade no desenvolvimento do seu estado sabe que o
desenvolvimento só virá, se conseguir oferecer educação de qualidade nas
escolas públicas do estado.
Esse é um valor reconhecido mundialmente. E os exemplos disponíveis no
mundo são consagradores e irrefutáveis. Não dá para discutir.
Quando um governador assiste impassível às escolas públicas que ele
administra tirarem as últimas notas em exames nacionais e o conjunto delas
coloca o estado em último lugar, não há dúvidas de que aquele governador não
está se importando minimamente com a população do seu estado.
É isso o que acontece aqui.
Educação de qualidade significa jovens preparados para o trabalho e
para a vida, que é, por si só, o maior atrativo para a localização de empresas
e permite a inovação e o uso de modernas tecnologias. É um horizonte que atrai o
progresso, o desenvolvimento e a renda.
O Bird, em recente publicação sobre o Brasil e América Latina, afirma
que: “A melhoria de qualidade de vida dos filhos em relação aos dos pais é
muito limitada no Brasil e no restante da América Latina. (Imaginem no Maranhão
que é o último do Brasil, eu pondero). Não há perspectiva de que os jovens
consigam obter resultados pessoais desvinculados dos problemas inerentes à sua
origem familiar e econômica. O problema central, destaca o Bird, é a péssima
qualidade do ensino publico, que freia o movimento ascendente dessa parcela da
população, limitando as suas oportunidades de trabalho e renda.”
Pode ter coisa mais importante para desenvolver o estado e aumentar a
renda das pessoas? O Bird na verdade diz o seguinte: se não conseguirmos ter
aqui uma educação de qualidade, não sairemos da pobreza, pois hoje a grande
maioria das famílias é muito pobre e seus filhos continuarão pobres, sem uma
escola pública decente.
O atual período de governo tem como marca o desinteresse com a
educação pública. Afinal cinco secretários, alguns sem o menor perfil para o
cargo, tiram quaisquer dúvidas. O fechamento de escolas é decorrência.
Esse fato traz consequências como os últimos lugares do ENEM, a menor
renda per capita do país, a pobreza e a criminalidade. Afinal, escolaridade
média de 5,7 anos não leva ninguém ao paraíso.
Esse será o grande desafio do futuro governador. Cabe a nós da
oposição preparar um estudo completo, competente e racional para ser posto em
prática desde o primeiro dia de 2015. Temos tempo.
O estado de Minas Gerais tomou há poucos dias uma medida, que ao meu
juízo, é fundamental. Uma medida simples e corajosa, capaz de mexer com as
causas que levam a apatia com a situação da educação pública. A partir daí, as
famílias saberão em que tipo de escola matriculam seus filhos. Só isso é o
inicio de uma grande revolução no ensino, pois terá como resultado a
conscientização das famílias que pressionará governos, diretores e professores
para oferecerem um ensino de melhor qualidade para a população. Todos terão que
se mexer. Uma verdadeira revolução do bem.
Os governos finalmente serão cobrados e isso irresistivelmente levará
a uma melhoria do ensino público. Virá então o aprimoramento na formação dos
professores e a educação será finalmente tratada como prioridade mesmo.
Nova publicação dos resultados do ENEM feita pelo MEC mostra que 57,6%
das escolas de ensino médio do Maranhão não teriam nenhum aluno diplomado,
levando-se em conta os resultados dessa prova. E o que causa enorme preocupação
é que alcançar o limite mínimo de 450 pontos na prova é muito fácil. Eis o que
analisam os técnicos:
“Os resultados preocupam também porque, na prática, obter os 450
pontos nas provas objetivas, exigidos para a diplomação, não é uma tarefa de
outro mundo no Enem. Um participante que entregasse a prova em branco em 2011
já tinha garantidos 321,8 pontos na avaliação de matemática, mesmo sem ter
resolvido uma única questão. Isso ocorre porque o Enem obedece à Teoria da
Resposta ao Item (TRI), método respeitado e usado em importantes avaliações
internacionais. Segundo a TRI, a nota final do candidato não é obtida a partir
da soma das alternativas corretas que ele assinalou no exame. Ao invés disso, cada
questão tem um peso relativo, definido por uma "régua do
conhecimento", cujo início não coincide com a nota zero: pode ser um valor
por volta de 300. Segundo projeções de estudiosos, um estudante que assinale a
mesma alternativa ("b", por exemplo) em todas as questões obtém 400
pontos na prova. Por isso, não atingir os 450 pontos é um resultado realmente
ruim.”
É a maior prova do abandono e da irresponsabilidade.