Nosso estado perdeu muito tempo aplicando um modelo de
desenvolvimento que, no final das contas, não criou um ambiente de crescimento
autossustentável de nossa economia. E tampouco permitiu que tivéssemos
indicadores sociais decentes, pelo contrário, o resultado de fato foi o estabelecimento
dos piores indicadores sociais do país. Termos a pior renda individual, o pior
IDH e o maior contingente populacional classificado na faixa que define a
pobreza absoluta são marcas atuais mais que humilhantes para nós.
É lamentável dizer isso, mas não chegamos a esse patamar por
falta de apoio e força política, pois chegamos, inclusive, a ter na presidência
da República um político maranhense que até hoje mantém grande poder no país...
Portanto, cabe a nós agora a tarefa de encontrar uma solução
para nos tirar desse atoleiro econômico, social e moral. Mas como fazer?
Examinando o que aconteceu no Brasil e os casos de sucesso
que permitiram ao país chegar a ser uma das maiores economias do mundo, salta
aos olhos uma instituição modelar que permitiu o surgimento de pessoal
altamente qualificado e que resultou em enorme desenvolvimento. Além disso,
possibilitou ainda a criação de uma indústria de ponta que, certamente, sem a
sua retaguarda, não teria o êxito que tem. Estamos falando do Instituto
Tecnológico da Aeronáutica – o ITA – instituição de ensino e pesquisa sediada
em São José dos Campos, SP.
Esse instituto, só para dar uma ideia da sua importância,
permitiu que surgisse no país a indústria aeronáutica brasileira, muito
expressiva, que produz e exporta aviões de todos os tipos, inclusive militares,
para todo o mundo. Essa indústria só foi viável aqui devido à presença de
técnicos e engenheiros muito capazes formados por aquela escola. Mas não foi só
a indústria aeronáutica que surgiu em decorrência do ITA. Empresas de alta
tecnologia só foram possíveis no país devido à presença de pessoal
especializado formado pelo Instituto, pois, sem isso, seria impossível
funcionarem e competirem em pé de igualdade no mercado global. O Instituto foi
fundado em 1950 e é vinculado ao Comando da Aeronáutica.
O ITA repete o que aconteceu no mundo desenvolvido, de onde
veio o exemplo. Nos Estados Unidos existem várias instituições de altíssimo
nível que ajudaram a disseminar o conhecimento e o progresso, como o
Massachusetts Institute of Technology, o MIT.
A presença de uma instituição de ponta como essa é, por si só,
um grande indutor de desenvolvimento, atraindo empresas do mundo inteiro que se
localizam onde existe mão de obra altamente qualificada, como a produzida ali.
Não temos em nenhum dos estados da região nordeste do Brasil nenhuma escola
desse nível.
Pois bem, o Maranhão – acreditem – poderia já ter uma escola semelhante
desde a década de 80. Eu era ministro do governo do Presidente Sarney à época e
o saudoso Renato Archer era ministro de Ciência e Tecnologia. Um dia nos
encontramos e eu puxei o assunto: trazer para o Maranhão uma escola igual ao
ITA, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica do Nordeste, que seria uma escola
em tudo semelhante à de São José dos Campos, com o mesmo padrão de qualidade.
Mas por que o Maranhão? Pela presença aqui de importantes instalações do
Ministério da Aeronáutica, entre as quais uma Base Aérea muito bem equipada, além
do Centro de lançamento de Alcântara, com instalações excelentes que poderiam muito
bem abrigar uma escola daquele nível.
Empolgados com a ideia, procuramos o ministro da Aeronáutica
para convencê-lo da viabilidade do empreendimento e conseguir sua adesão à
ideia. Em suma, propusemos que no começo, enquanto o Instituto se instalava, a
direção da escola e os professores seriam comuns a São José dos Campos e a São
Luís. Sim, porque seria aproveitada a estrutura existente nas bases aéreas nas
duas cidades, permitindo que em pouco mais de três horas professores do ITA
estivessem aqui para ministrar aulas e que poderiam retornar a São Paulo e ministrar
aulas em São José dos Campos, já no dia seguinte. Mais tarde, no entanto, o
Instituto do Nordeste teria os seus próprios professores.
Esse argumento convenceu o Ministro da Aeronáutica e então
preparamos uma exposição de motivos bem completa descrevendo a viabilidade do
projeto e, assinada pelos três ministros, a entregamos em audiência conjunta
com o Presidente da República, José Sarney. Esperávamos com isso que Sua
Excelência determinasse imediatamente a tomada de providências. Mas, para nosso
espanto, essa ordem nunca foi dada e o projeto não seguiu em frente.
Talvez essa tenha sido uma das decisões mais equivocadas e
incompreensíveis daquele governo. Sou capaz de afirmar que o apoio àquela ideia
teria mudado o Maranhão. O que motivou então o desinteresse? Podemos cogitar...
Mas, vejam, esse projeto continua tão importante e atual,
como na década de 80 e, compreendendo isso, a bancada do Maranhão no Congresso
Nacional em peso iniciará uma luta para concretizarmos essa ideia tão
fundamental para o desenvolvimento futuro do nosso estado. Uma equipe técnica
da Câmara Federal prepara um estudo para embasar o nosso projeto e então
passaremos a combater em todas as frentes que se abrirem pela implantação do
nosso “ITA-NE”.
Trinta anos depois retornaremos a luta. Se conseguirmos
viabilizar projeto tão importante, estará justificada a presença de cada um de
nós na política nacional.