quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Luz para Poucos

Um dos programas mais importantes do governo Lula foi o Luz para Todos. Quando exercia o cargo de governador estive várias vezes com a ministra Dilma Rousseff e acompanhei de perto um programa que estava sendo estudado com muito entusiasmo e que depois veio a se chamar de Luz Para Todos. Apoiei o programa, pois um dos fatores da pobreza do Maranhão é a falta de energia elétrica na área rural. Eu mesmo tinha iniciado o meu governo com um programa parecido.

O programa pretendia usar recursos de um fundo já existente, alimentado por uma taxa cobrada nas contas de energia elétrica pagas por todos os consumidores e destinado a equilibrar financeiramente o sistema elétrico. A ministra, que entendia do setor, viu ali a solução para financiar esse programa, que tinha como objetivo diminuir disparidades de renda entre pessoas e regiões. Portanto, o programa não é custeado pelo governo federal, mas por todos os consumidores de energia elétrica do país. E foi exigida uma participação dos governos estaduais.

Para assegurar a lisura das ações, foram criados vários conselhos com a participação de representantes da sociedade civil que aprovariam os programas das obras. Tudo muito bonito na teoria, mas não suficiente para segurar as velhas práticas políticas do Maranhão. O primeiro indício de que os velhos caciques estavam atentos ao programa foi dado pela própria ministra Dilma que, na véspera de vir ao Maranhão para lançá-lo, telefonou-me, dizendo que não poderia mais vir, pois o Planalto havia desaconselhado a sua vinda. Na verdade, ela me disse os verdadeiros motivos. Esses mesmos que nós sabemos.

Daí em diante, o programa seguiu o modelo antigo, patrimonialista, que tanto prejudicou os maranhenses e tanta pobreza trouxe à nossa população. Esse grupo político, acostumado a se apropriar de tudo, logo passou por cima dos critérios colocados pela ministra e impôs suas próprias regras. Como seu feudo passou a ser exatamente o Ministério de Minas e Energia, desde que a ministra foi para a Casa Civil, colocaram pessoas dispostas a cumprir suas ordens em todos os níveis do programa e faziam o que queriam. Fui à ministra reclamar, levei denúncias por escrito, reclamei politicamente, mas nada disso adiantou. O governo não queria briga com o grupo oligárquico.

O resultado está aí. Um desastre, se confirmadas as suspeitas do Sindicato dos Urbanitários e do Conselho de Segurança Alimentar do Maranhão (Consea-MA). Recebi um e-mail do Consea-MA com graves preocupações sobre o programa. Segundo o que é relatado no e-mail, a Cemar recebeu entre 2005 e 2007 R$ 512,8 milhões - 86% a fundo perdido do Programa Luz Para Todos (PLPT). Em 2005, o Consea recebeu as primeiras críticas por ausência de transparência na priorização das obras e favorecimento a grupo político. A Cemar publicou que já havia interligado 130.652 residências em 180 municípios com recursos do PLPT a um custo médio de R$ 3.500/ligação. O Sindicato dos Urbanitários do MA denunciou ao TCU e ao Ministério Público Federal que parte desses recursos pode ter sido desviado pela Cemar. O Sindicato descobriu que os dados informados pela própria Cemar à Agencia Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não estavam batendo com os relatórios de obras do PLPT enviados ao governo federal.

Segundo o processo no TCU, existem municípios em que o número de ligações do PLPT, que a Cemar alega ter realizado, é maior do que o número de consumidores informados pela Cemar à Aneel. Em Buriticupu, a Cemar diz que fez 4.785 ligações do PLPT tendo recebido R$ 8,1 milhões pelos serviços, mas nos relatórios enviados à Aneel não aparecem essas ligações. O mesmo é verificado em outros municípios, como Santa Luzia, Arame, Barra do Corda, Bacabal, Coroatá, Amarante, Jenipapo dos Vieras, Bom Jesus das Selvas, Estreito e Cajari, considerados apenas os municípios em que há mais de 1.000 ligações do PLPT acima do número de consumidores informados pela Cemar à Aneel. Ou seja, para a Aneel a Cemar informa um número de consumidores interligados menor do que deveria existir após as ligações do Programa.

Além disso, levantamento de campo realizado pelo Sindicato no município de Pedro do Rosário (povoado de Quariquari) localizou ligações em currais, anexos de residências, igrejas, sendo que em alguns deles existiam apenas as ligações externas sem instalações da fiação interna e dos kits residenciais (3 lâmpadas e 2 tomadas). O sindicato verificou que a Eletrobrás, a quem caberia a responsabilidade de fiscalizar a aplicação dos recursos do programa tem apresentado relatórios de fiscalização favoráveis à Cemar, mas que foram realizados em tempo muito pequeno o que não permite aos técnicos realmente verificar se os recursos estão sendo aplicados corretamente. O Sindicato examinou com cuidado esses relatórios e verificou que seria impossível cada fiscal realizar o que diz ter feito no tempo em que fez e desconfia fortemente que são incompletos e apressados.

Assim, diz o e-mail, milhões e milhões de reais estão sendo repassados para a Cemar, sem que se tenha a certeza de que os recursos estão sendo aplicados em beneficio das comunidades carentes do nosso estado.

O sindicato denuncia que além desse possível desvio de recursos a Cemar conseguiu da Aneel um reajuste de tarifa de energia elétrica, adicional, de 4,25% para que a sociedade custeasse o aumento de custos da empresa com a inclusão desses novos consumidores, que podem ser fictícios obrigando a população a pagar mais caro por um serviço não prestado.

O Consea coloca o seu telefone de contato (98 - 3232-9939) e o seu e-mail con-sea.ma@yahoo.com.br para receber denúncias de irregularidades ocorridas no Programa Luz Para Todos.

Esse padrão de apropriação de dinheiro público foi comum no passado e levou ao empobrecimento do estado e à riqueza de alguns. Se realmente as denúncias forem comprovadas, é mais um crime contra a população pobre do Maranhão e também um ato criminoso contra os interesses maiores do estado que é o de se livrar da pobreza e do atraso. É um crime contra o Maranhão que precisa ser apurado e responsabilizados os culpados.

Até quando?

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Grampos

Servidor da Abin exibe prova dos 'grampos' no STF.
Revista reproduz diálogo de Gilmar Mendes com senador.
Foi captado, em 15 de julho, por escuta telefônica ilegal.
Ouvidos, os interlocutores confirmaram teor da conversa.
Presidente do Supremo aponta 'degradação institucional'.

Sérgio Lima/Folha

Três semanas depois da divulgação da notícia de que o presidente do STF, Gilmar Mendes, fora vítima de espionagem, surge uma nova evidência do malfeito.

Os repórteres Policarpo Junior e Expedito Filho obtiveram informações e documentos que não deixam dúvida: os telefones de Gilmar foram mesmo grampeados.

Os dados foram repassados por um servidor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

Para provar que dizia a verdade, o funcionário entregou a íntegra de um diálogo telefônico que Gilmar mantive com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

Deu-se às 18h32 do dia 15 de julho. A conversa está estampada nas páginas da última edição de Veja (só para assinantes).

Ouvidos, Gilmar e Demóstenes confirmaram o teor da conversa. Falaram por pouco mais de dois minutos. Eis a íntegra da conversa:

- Gilmar: Oi, Demóstenes, tudo bem? Muito obrigado pelas suas declarações.

- Demóstenes: Que é isso, Gilmar. Esse pessoal está maluco. Impeachment? Isso é coisa para bandido, não para presidente do Supremo. Podem até discordar do julgado, mas impeachment...

- Gilmar: Querem fazer tudo contra a lei, Demóstenes, só pelo gosto...

- Demóstenes: A segunda decisão foi uma afronta à sua, só pra te constranger, mas, felizmente, não tem ninguém aqui que embarcou nessa "porra-louquice". Se houver mesmo esse pedido, não anda um milímetro. Não tem sentido.

- Gilmar: Obrigado.

- Demóstenes: Gilmar, obrigado pelo retorno, eu te liguei porque tem um caso aqui que vou precisar de você. É o seguinte: eu sou o relator da CPI da Pedofilia aqui no Senado e acabo de ser comunicado pelo pessoal do Ministério da Justiça que um juiz estadual de Roraima mandou uma decisão dele para o programa de proteção de vítimas ameaçadas para que uma pessoa protegida não seja ouvida pela CPI antes do juiz.

- Gilmar: Como é que é?

- Demóstenes: É isso mesmo! Dois promotores entraram com o pedido e o juiz estadual interferiu na agenda da CPI. Tem cabimento?

- Gilmar: É grave.

- Demóstenes: É uma vítima menor que foi molestada por um monte de autoridades de lá e parece que até por um deputado federal. É por isso que nós queremos ouvi-la, mas o juiz lá não tem qualquer noção de competência.

- Gilmar: O que você quer fazer?

- Demóstenes: Eu estou pensando em ligar para o procurador-geral de Justiça e ver se ele mostra para os promotores que eles não podem intervir em CPI federal, que aqui só pode chegar ordem do Supremo. Se eles resolverem lá, tudo bem. Se não, vou pedir ao advogado-geral da Casa para preparar alguma medida judicial para você restabelecer o direito.

- Gilmar: Está demais, não é, Demóstenes?

- Demóstenes: Burrice também devia ter limites, não é, Gilmar? Isso é caso até de Conselhão (risos).

- Gilmar: Então está bom.

- Demóstenes: Se eu não resolver até amanhã, eu te procuro com uma ação para você analisar. Está bom?

- Gilmar: Está bom. Um abraço, e obrigado de novo.

- Demóstenes: Um abração, Gilmar. Até logo

Ao saber que a espionagem ao seu gabinete, que suspeitara ter-se limitado ao monitoramento via rádio, estendera-se aos telefones, Gilmar reagiu assim:

"Não há mais como descer na escala da degradação institucional..."

"...Gravar clandestinamente os telefonemas do presidente do Supremo Tribunal Federal é coisa de regime totalitário. É deplorável. É ofensivo. É indigno".

Decidiu tratar do caso diretamente com Lula: "Não acredito que a ação da Abin ou da Polícia Federal seja oficial, com o conhecimento do governo..."

"...Mas cabe ao presidente da República punir os responsáveis por essa agressão".

Demóstenes foi na mesma linha: "Essa gravação mostra que há um monstro, um grupo de bandoleiros atuando dentro do governo..."

Informou que pedirá providências ao presidente do Congresso, Garibaldi Alves. "É um escândalo que coloca em risco a harmonia entre os poderes".

Vai, de resto, requerer a convocação da Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso.

Em depoimento à CPI do Grampo, na Câmara, o diretor-geral da Abin, delegado Paulo Lacerda, negara, em timbre enfático, o monitoramento clandestino no STF.

A julgar pela nova evidência, só há duas hipóteses possíveis: ou Lacerda não sabe o que se passa sob seu nariz ou contou aos deputados uma potoca.

Há mais: o servidor da Abin contou aos repórteres que o grampeamento ilegal de autoridades é coisa corriqueira.

Ao listar os grampeados, mencionou: os senadores Garibaldi Alves, do PMDB; Arthur Virgílio, Alvaro Dias e Tasso Jereissati, todos do PSDB; e Tião Viana, do PT.

Há pior: segundo o servidor da Abin, só em 2008, já passaram pelo setor em que ele trabalha diálogos telefônicos captados ilegalmente de:

Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula; e de dois ministros com assento no Planalto: Dilma Rousseff (Casa Civil) e José Múcio (Relações Institucionais).

A ser verdade, o governo estaria abrigando em suas entranhas um monstro comparável ao velho SNI da ditadura.

É algo que não pode ficar sem uma boa investigação.

Escrito por Josias de Souza às 04h15
Reproduzo abaixo artigo do Professor José Lemos:



Algumas Reflexões para Debater um Projeto para São Luís


Estamos novamente em período de eleições no Brasil, em que pretendentes de todos os perfis fazem muitas promessas tentando seduzir os eleitores. Nessa busca de votos observa-se que a maioria dos candidatos utiliza lugares comuns e frases prontas. Respaldados por “marqueteiros” dizem o que imaginam ser o que o eleitor quer ouvir. Alguns, evidentemente, conseguem se eleger, e ao assumirem os respectivos mandatos “esquecem” o que foi prometido nos palanques. Este comportamento tem levado os políticos brasileiros a serem nivelados por baixo, e o exercício de mandato eletivo, que é fundamental para a democracia, vem caindo na vala comum do descrédito.

Com a experiência de alguns anos de Academia, e nesse período ter produzido trabalhos que tentaram entender as causas da pobreza e como fazer para mitigá-la é que resolvi explicitar algumas idéias. Não há a pretensão de ser dono da verdade nem de trazer projetos acabados. Há apenas a intenção de disponibilizar para a sociedade da terra com a qual mantenho vínculos fortíssimos de responsabilidade social alguns conhecimentos que adquiri na vida. Pesa também o fato de ter participado da equipe do ex-Governador Zé Reinaldo que criou e executou um conjunto de ações que ajudou a retirar o Maranhão da estagnação social e econômica em que se encontrava na virada deste milênio.

Como demonstramos em artigo do dia 2 de agosto deste ano neste espaço, São Luis entrará em 2009 com 26% da sua população, ou 260 mil pessoas, socialmente excluídas. Estima-se um déficit habitacional entre 65 mil e 75 mil imóveis. Obviamente que as prioridades devem ser reduzir drasticamente esta divida social que inclui também reduzir o percentual de excluídos, levando àqueles ainda privados desses serviços, água encanada, saneamento, coleta de lixo e reduzindo-lhes a taxa de analfabetismo.

São Luís precisa aumentar e preservar a sua área verde. O próximo Prefeito poderia liderar um grande mutirão para arborizar a cidade. Isto poderia ser feito de forma simultânea através da expansão e a introdução de novas áreas de preservação permanente, mas também através de projetos de arborização de curto, médio e longo prazo. Existem espécies arbustivas e arbóreas que tem maior precocidade, e que no primeiro momento seriam plantadas com maior densidade. Assim o planejamento envolveria o plantio escalonado de espécies frutíferas e ornamentais com diferentes períodos de crescimento.

As reservas do Rangedor e do Itapiracó poderiam ser transformadas em parques ou Jardins Botânicos. Esta ação deveria ser feita em sinergia com o Governo do Estado, de tal forma que as espécies que fazem parte daquelas reservas seriam identificadas com nomes científicos e vulgares, e assim também tendo utilidade didática. Dentro desses parques seriam construídas trilhas ecológicas por onde as pessoas poderiam fazer passeios, exercícios aeróbicos, e praticar esportes. Ações que deveriam ser complementadas com a construção de logradouros públicos para o lazer das famílias, sobretudo nos seus bairros mais pobres. Tudo isso junto tornaria a cidade mais humanizada.

O patrimônio cultural e arquitetônico de São Luis é muito rico e diversificado. Logradouros como as Praças Deodoro, João Lisboa, Pedro II e todo o Centro Histórico precisam ser revigorados, haja vista que as ações até aqui realizadas não foram suficientes e por isso precisando de projetos mais arrojados. Todo aquele conjunto arquitetônico deve ser resgatado em sua harmonia para deixar a cidade mais bela para a sua gente e para quem a visita. Poderia ser trazido de volta o bonde elétrico para fazer um circuito turístico pelo centro, saindo da Praça João Lisboa, descendo a Rua Afonso Pena e passando pelo Mercado Central, que também precisa ser revigorado. A Prefeitura se uniria à iniciativa privada e promoveria, sistematicamente, eventos culturais nesses logradouros resgatados visando atrair a população da capital e os turistas, e assim injetaria efervescência naqueles espaços atualmente pouco freqüentados até por falta de motivações com essas.

Através da Secretaria de Agricultura Municipal, que deveria ser criada, o município trabalharia junto com o Estado e entidades do terceiro setor prestando assistência técnica aos agricultores familiares na construção de um “cinturão verde” no entorno da capital. Esses agricultores familiares deveriam dispor de diferentes espaços para negociarem diretamente com os consumidores em São Luis. Venderiam os seus produtos por preços remuneradores e os consumidores da capital, sobretudo os de baixa renda, teriam produtos de qualidade sendo comprados a preços abaixo daqueles praticados nos supermercados e nas demais feiras livres. Essas feiras de agricultores familiares teriam como vantagem adicional a função de funcionarem como reguladoras dos preços de hortaliças e frutas nos mercado da capital, trazendo-os para baixo. Ficam as sugestões para aqueles que buscam ser Prefeito da capital refletirem e se apropriarem, se acharem que vale a pena.

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José Lemos é Engenheiro Agrônomo e Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. lemos@ufc.br. Autor do Livro “Mapa da Exclusão Social no Brasil: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre”.