Folha: A farra das passagens aéreas provocou tal escândalo que o presidente da Câmara foi obrigado a limitar seu uso ao próprio parlamentar e seus assessores. A reação dos deputados foi imediata.
Um deles teve o descaramento de afirmar que não estava no Congresso por seu bel prazer, mas para servir à nação, a um custo que, acrescento eu, só de grana viva, vai a mais de R$ 60 mil, sem falar do resto. Outro cara-de-pau afirmou que queriam separá-lo da esposa, acabar com seu casamento, já que a proibiam de ir encontrá-lo em Brasília. A hipótese de ele pagar a passagem dela está excluída, uma vez que, na sua opinião, "a família faz parte do mandato".
Nunca vi marido tão apegado à esposa, já que não pode ficar sem ela nos três únicos dias da semana que passa em Brasília. Esse é o tipo de gente que está nos representando. A reação dos eleitores os fez voltar atrás. "Me entenderam mal", disse um deles, com o mesmo despudor.
A atitude das pessoas que se opuseram à medida tomada pelo governo do Rio para definir os limites das favelas com a construção de muros me parece mais fruto de preconceito do que outra coisa.
Aludiram todos ao Muro de Berlim, numa forçação de barra que deveria constrangê-los. Parece até que foram os comunistas que inventaram o muro. Na casa onde morei, em São Luís, com meus pais e irmãos, nos anos 50, havia um muro, sabiam? E também havia em todas as casas da vizinhança. É uma tática manjada demonizar as coisas para desacreditá-las. Lembro-me de um prefeito que, faz uns 30 anos, decidiu cercar as praças do Rio com grades. Imediatamente os defensores da liberdade sem limites vieram a público criticá-lo. Como não puderam lançar contra ele as "grades de Berlim", alegaram que estava atentando contra o direito de ir e vir dos cidadãos. A verdade é que praças como a Sezerdelo Correa, aqui em Copacabana, haviam se tornado valhacoutos de mendigos, que ali faziam suas necessidades, e de pivetes, que cheiravam cola e assaltavam as pessoas. Pois bem, o prefeito não deu ouvido às críticas e cercou as praças, que assim continuam até hoje, para a felicidade dos cariocas. A praça Serzedelo Correa, como a praça do Lido hoje são lugares aprazíveis, onde as crianças brincam e os aposentados jogam dominó e batem papo.
A brasileira Bruna Bianchi Ribeiro era casada com o norte-americano David Goldman. Moravam nos Estados Unidos e tiveram um filho. O garoto tinha 4 anos, quando Bruna disse ao marido que viria com o filho passar férias no Brasil e, aqui chegando, telefonou para ele dando por acabado o casamento e dizendo que o filho ficaria com ela. Isso, sem dúvida, caracteriza sequestro. Pouco depois Bruna morreu e seus pais, junto com o novo marido dela, negaram-se a devolver o menino ao pai biológico. O advogado da família chegou a afirmar que, se o menino, por força da Justiça, for entregue ao pai, será repetir o que fez Vargas, entregando Olga Benário aos nazistas. Afirma isso e nem corado fica.
A propósito do bate-boca entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e o ministro Joaquim Barbosa, o presidente Lula declarou: "Isso é natural. É que nem futebol, onde se briga a toda hora. Se fosse por isso, o futebol já tinha acabado". É uma observação de raro brilhantismo. Imagino em que pobreza não ficará a vida intelectual brasileira depois do Lula!
Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, afirmou que não há homossexuais em seu país e por isso o governo iraniano não tem de legislar a respeito. Nunca houve ou não há mais? Fala sério, Ahmadinejad!
E por falar nele, o discurso que fez, no encontro da ONU para discutir o racismo, provocou a reação das delegações dos países europeus, que se retiraram do recinto. O ministro brasileiro da Igualdade Racial não tugiu nem mugiu, ficou quieto, atitude coerente com a do seu governo, que não costuma apoiar os brancos de olhos azuis, mesmo quando têm razão. Já no Brasil, informado da opinião de Lula, aderiu ao protesto.
O país inteiro ficou surpreso quando Dilma Rousseff, em entrevista coletiva, fingindo naturalidade, comunicou à nação que estava com câncer. Nunca vira, até então, uma pessoa expor publicamente doença tão grave, que todos procuram ocultar. E logo deduzi: foi Lula quem a mandou fazer isso para salvar a candidatura à Presidência da República, o que logo se confirmou. A que ponto chegam as pessoas por ambição política! O Brasil vai mal. Confio que Dilma sairá dessa; quanto à candidatura, depois disso, não sei.
Texto de Ferreira Gullar para a Folha de São Paulo