Em abril do ano passado, em seu primeiro pronunciamento após tomar posse por determinação do TSE, Roseana Sarney prometeu retomar o Plano Maior. No lugar de Kátia Lima, porém, a peemedebista preferiu entregar a função desse resgate (argh) ao ex-prefeito de São Luís, o ex-pedetista Tadeu Palácio.
A proposta da criação de um consórico, unindo Piauí, Ceará e Maranhão, foi repudiada de pronto pelo próprio ex-pedetista Palácio. Por traz dessa ojeriza a dar o braço aos vizinhos estão questões políticas menores.
Ocorre que o consórcio, avalizado pela então ministra Marta Suplicy, requereu ao presidente Lula através do ministério dos Transporte a pavimentação da BR-402. A pavimentação da Rota das Emoções, ligando Lençois a Jeriquaquara, no Ceará, passando pelo Delta do Parnaíba, irá confirmar que o governador José Reinaldo Tavares não construiu pontes para cunhar no concreto a expressão “ligando nada a lugar nenhum”. Elas estão na rota que unirá destinos turísticos destacáveis no mundo inteiro dos três estados nordestinos. Leia matéria completa no blog do jornalista Henrique Bois. Link Original
Durante palestra na sede do PPS, na noite desta quinta-feira (11), o pré-candidato ao governo do Estado deputado federal Flávio Dino (PCdoB) disse estar confiante na aliança com o PT para a sucessão estadual. “Como o PT vai ser vagão de uma locomotiva que não anda”, disse, referindo-se à hipótese dos petistas apoiarem a candidatura de Roseana Sarney (PMDB) e à letargia do governo da filha de Sarney.
Flávio disse discordar da tese defendida pela minoria do PT que cita como exemplo a aliança entre PMDB e PT no Piauí. Para o comunista, a diferença entre as alianças está em quem liderou o processo de mudança. No caso piauiense, o PT aliou-se ao PMDB, mas o governador é o petista Wellington Dias.
Numa crítica direta ao grupo Sarney, Flávio Dino disse não acreditar que grandes projetos, como Carajás, Alumar, Termoelétrica, refinaria sejam a salvação para o Maranhão. “Vou governar para a maioria do povo. Não vamos perseguir empresário por ser inimigo ou beneficiar por ser amigo”, alfinetou.
Ele afirmou que vai priorizar poíticas que desenvolvam o estado a partir de suas potencialidades e a redistribuição de renda.
Na disputa com os sarneístas, o pré-candidato do PCdoB contabiliza como vitória o posicionamento da direção nacional do PT em respeitar a decisão a ser tomada pelos delegados estaduais da legenda e descartar a intervenção no partido. Ele disse ainda que as chances da cúpula do PCdoB nacional intervir para inviabilizar o projeto do partido no Maranhão é zero.
ALIANÇAS
Ao presidente do PPS, Paulo Matos; ao secretário-geral, Othelino Neto; à presidente do PPS/São Luís, deputada Eliziane Gama; e aos demais filiados e dirigentes, Flávio Dino reiterou o convite para o partido integrar a aliança em torno da pré-candidatura comunista. Disse respeitar a potencialidade da pré-candidatura de Altemar Lima lançada pelo partido, mas destacou as afinidades programáticas entre as legendas, que estiveram juntas no 2º turno da disputa pela prefeitura de São Luís, em 2008.
Sobre a possibilidade de não contar com o PT, Flávio Dino afirmou que este não seria fator impeditivo para a sua candidatura desde que conte com o PSB, PPS, PRB e PCB no arco de alianças e não descartou articulações visando a uma aproximação com o PSDB e PDT. “Nada é irremovível”, disse.
Flávio Dino descartou qualquer possibilidade de aliança com Roseana Sarney e PMDB e fez questão de ressaltar que em qualquer circunstância estará ao lado do ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB). “Em política temos que ter lealdade. Sou leal e amigo do Zé Reinaldo”, enfatizou.
A Polícia Federal decidiu intimar para depor e depois indiciar o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), por evasão de divisas.
Em um dos cinco inquéritos da Operação Boi Barrica, ou Faktor, o empresário é acusado de enviar US$ 1 milhão para uma empresa na China em 2008 sem declarar a remessa à Receita Federal.
Autoridades chinesas confirmaram a movimentação do empresário numa agência do HSBC, em Qingdao, na China.
Em outros dois inquéritos da mesma operação, o empresário já foi indiciado por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, entre outros crimes.
A polícia trabalha com a expectativa de interrogar Fernando Sarney e concluir as investigações em um mês. Para isso, depende da devolução dos autos que estão na 1ª Vara da Justiça Federal do Maranhão. Os autos foram para a Justiça em julho de 2009 e, oito meses depois, ainda não retornaram. As investigações começaram a partir de documentos e interceptações telefônicas da Operação Faktor. Entre os papéis apreendidos, a PF descobriu indícios de uma autorização de remessa ao exterior supostamente assinada por Fernando Sarney.
A partir daí, a PF abriu inquérito sobre a transação e pediu a checagem dos dados às autoridades chinesas. O pedido foi encaminhado pelo Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça com base num acordo de cooperação entre Brasil e China. As autoridades confirmaram as suspeitas: Fernando Sarney teria remetido US$ 1 milhão para uma conta do Prestige Cycle Parts, numa agência do HSBC, na China, em 2008.
Os investigadores estão tendo dificuldades para identificar os motivos da transação.
Fernando Sarney é investigado ainda por envolvimento em supostas irregularidades na construção da ferrovia NorteSul. Procuradores e policiais da Operação Faktor suspeitam que ele seja um dos donos da Lupama, empresa envolvida num nebuloso contrato para a construção de um dos trechos da ferrovia.
A Lupama foi contratada pela Constran, vencedora da licitação, para ajudar na execução das obras orçadas em mais de R$ 40 milhões. Para os investigadores, o contrato não faz sentido, já que a Lupama não teria condições de fazer o serviço.
Procurados pelo GLOBO, Fernando Sarney e seu advogado Eduardo Ferrão não retornaram as ligações.
Com os hospitais PAM Cidade Operária e PAM Centro em obras, e ainda o Carlos Macieira com o atendimento reduzido, aumentou bastante a demanda nos Socorrões municipais, o que vem provocando colapso na saúde ludovicense.
O líder da oposição na Assembleia Legislativa, deputado Edivaldo Holanda (PTC), desafiou, ontem, o secretário Ricardo Murad (Saúde) a abrir a "caixa-preta" da secretaria de Saúde e vir a público explicar o 'desmantelo' que o atual governo fez no Hospital dos Servidores do Estado, o qual tem resultado na superlotação do Hospital Socorrão, administrado pela Prefeitura de São Luís. A desestruturação do Hospital dos Servidores (Ipem), segundo Edivaldo Holanda, só fez aumentar a tragédia que o sistema de saúde do Maranhão está vivendo. Para exemplificar a situação crítica que o parcial fechamento do hospital tem causado aos funcionários públicos estaduais, ele mostrou o contracheque de um sargento do Corpo de Bombeiros que recebe mensalmente R$ 2.267 e desconta todo mês para a Fepa, apenas para manter o Hospital do Ipem funcionando, R$ 253,62.
Holanda lembrou que o fechamento do hospital tem causado sérios problemas à população, citando os casos das meninas Giovana, de Arari, e Luciana, de Codó, que "estão padecendo à míngua sem condições de atendimento hospitalar de qualidade. Ele anunciou que recorrerá ao Ministério Público Federal para tentar salvar a vida de uma das crianças que padece de um câncer e precisa de atendimento imediato.
A menina foi deixada com a mãe na porta do Materno Infantil, em São Luís, após ter sido recusada em um hospital de Teresina (PI), que não pode mais manter o tratamento. O governo do Maranhão, segundo Edivaldo Holanda em pronunciamento anterior, teria cortado o repasse proveniente do SUS, que era feito mensalmente ao estado vizinho, para custear o tratamento de maranhenses.
O líder oposicionista ressaltou que o estrago que o atual governo está fazendo no sistema de saúde do Maranhão é grande, pois além do Hospital dos Servidores, também foram fechados o Hospital Pan Diamante, o que fez triplicar o atendimento na Unidade Mista da Liberdade; a Unidade Mista da Cidade Operária, que fez triplicar o atendimento nos hospitais Socorrão II, no Cohatrac, e Unidade Mista do São Bernardo.
"O Hospital dos Servidores está praticamente fechado sem ter havido uma combinação prévia com o secretário de Saúde do município ou sem avisar os servidores. Transformaram em um caos ainda maior a saúde que já estava estragada" advertiu Holanda.
Edivaldo chamou atenção para a ameaça do Hospital dos Servidores vir a ser reformado pelo Estado e depois entregue à Cruz Vermelha, passando a atender, também, aos pacientes do SUS. Segundo ele, isso não pode acontecer pois "este hospital é dos servidores do Estado do Maranhão, que descontam no seu contracheque de forma compulsória pela manutenção desta unidade de saúde".
Na avaliação de Edivaldo Holanda, é uma vergonha o que está sendo visto no Hospital dos Servidores, praticamente fechado, sem medicação, sem médicos e os doentes nos corredores sem terem para onde ir.
"Em um ano que o atual governo transformou os hospitais em verdadeiros escombros", fez questão de ressaltar o deputado, ao apresentar um quadro das reformas que o Estado diz estar executando nas unidades de saúde dos municípios. Segundo ele, será mais um engodo que os maranhenses terão que enfrentar, após o fracassado pólo têxtil de Rosário e possivelmente o da Refinaria Premium. "Agora temos o engodo da caixa-preta do SUS", complementou.
O líder oposicionista também disparou críticas ao programa Viva Saúde, lançado por Ricardo Murad, com orçamento de R$ 500 milhões, que, segundo propaganda do governo, consiste na implantação de quatro Unidades de Pronto Atendimento 24 horas em São Luís, reforma e modernização do Hospital da Vila Luizão, reforma e modernização da Santa Casa, construção do novo Laboratório Central de Saúde Pública, implantação da UTI Pediátrica no hospital Infantil Juvêncio Matos, construção do Hospital de Alta Complexidade de Imperatriz, construção do Centro de Alta Complexidade de Oncologia, construção do Hospital Universitário, construção do Centro de Alta Complexidade em Oncologia e ampliação do Hospital Geral com a implantação do serviço de ortopedia, dentre outros.
Ele desafiou o governo a apresentar à Assembleia qualquer uma dessas obras prontas. "Nós queremos ver a inauguração de uma delas", ressaltando que nada existe de concreto obre a construção dos hospitais, apena previsões de que a parte final desse pacote de obras deva ser entregue em setembro deste ano, um mês antes das eleições.
Edivaldo leu na tribuna trecho de matéria publicada no blog do jornalista Raimundo Garrone, no qual ressalta que o secretário Ricardo Murad já teria conseguiu a façanha de abocanhar meio bilhão de reais somente com dispensa de licitação para construção de apenas um hospital. "É de admirar a coragem desse homem que chega às 6h para trabalhar e arquitetar as traquinagens administrativas e financeiras na Secretaria de Saúde do Estado. É um escândalo o que está acontecendo na gestão da saúde maranhense; nunca antes na história desse Estado houve tanta bandalheira numa única Secretaria de Estado, como ocorre agora na pasta comandada por Ricardo Murad. Cadê o Ministério Público?", questionou.
Outros escândalos envolvendo a construção de 65 hospitais, anunciados pelo governo para o interior do estado, também foram destacados por Edivaldo Holanda, dentre eles, um no município de Presidente Vargas, onde já existia uma estrutura de hospital pronta e passou a ser construído outro ao lado do cemitério. Ele ressalta que moradores temem que o lixo hospitalar contamine as reservas de água potável da região.
Diante desta situação da saúde do Maranhão, Holanda disse temer que essas propaladas obras sejam concluídas apenas para cumprir promessa, mas sem nenhuma funcionalidade. "Tenho medo desses hospitais virarem depósito de qualquer coisa, menos hospital", afirmou.
Edivaldo denunciou ainda que estes R$ 500 milhões estão indo no ralo da corrupção das eleições deste ano, pois não há interesse algum do governo em fazer hospital funcionar. Ele justificou que tais recursos serão gastos na construção apenas de paredes, sem conveniar com os municípios e sem apontar como os hospitais serão operados.
Finalizou o discurso disparando novas críticas a Ricardo Murad: "Este secretário é a cara deste governo descontrolado, sem escrúpulos, inconsequente e que traz sobre nós a sensação permanente de que com eles o patrimônio público sofre permanente dilapidação".
Por que o jornal O Estado de S.Paulo está impedido de publicar notícias sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal (PF), rebatizada de Faktor, enquanto toda a mídia cobre sem restrições a Operação Caixa de Pandora, realizada pela mesma instituição?
O programa Observatório da Imprensa exibido na terça-feira (2/3) pela TV Brasil discutiu os diferentes caminhos que essas duas investigações traçaram na imprensa. Uma sob censura prévia e a outra sem entraves judiciais. Há 215 dias, por determinação do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), o Estadão está proibido de publicar reportagens sobre a operação da PF que investiga o filho e a nora do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
O empresário Fernando Sarney, Tereza Murad e mais 11 pessoas são acusadas de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O empresário chegou a anunciar que abriria mão da ação, mas o jornal não aceitou a desistência e prefere que o mérito seja julgado. Já as notícias sobre a Operação Caixa de Pandora, que investiga um esquema de corrupção envolvendo integrantes do governo do Distrito Federal conhecido como "mensalão do DEM", estão sendo publicadas livremente. O governador licenciado José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM) entregou-se à PF e foi pedido o seu impeachment.
Para debater o tema, o programa recebeu no estúdio do Rio de Janeiro a diretora da Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amerj), Márcia Cunha, e Chico Otávio, repórter especial do jornal O Globo, autor de premiadas reportagens investigativas. Em Brasília, o Observatório contou com a presença de Rodrigo Rangel, repórter especial do jornal O Estado de S.Paulo. Rangel recebeu três vezes o Prêmio Esso – o mais recente, ano passado, pelas reportagens sobre o Caso Sarney.
Atrás das grades
Na coluna "A Mídia na Semana", Alberto Dines comentou dois fatos que tiveram destaque na imprensa recentemente. A morte do bibliófilo José Mindlin foi o primeiro tema da seção. "Cada uma das quase quarenta mil raridades bibliográficas que salvou do esquecimento foi uma aventura", relembrou. Em seguida, Dines criticou o fato de o desembargador Fernando Marques, do Tribunal Regional da 2ª Região, ter obrigado o Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro a conceder carteira de identidade de jornalista ao bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário da Rede Record.
Antes do debate ao vivo, em editorial, Dines ponderou que à luz da Justiça os casos Sarney e Arruda são diferentes e, por isso, os inquéritos tiveram procedimentos distintos. "Cada cabeça uma sentença. Mas a sociedade brasileira deveria estar apta a entender como funcionam estas cabeças e o porquê de cada sentença. Pelo menos parte das suspeitas seriam esclarecidas", afirmou. Para Dines, a exposição dos vídeos da equipe de José Roberto Arruda recebendo propinas contribuiu para o desfecho do caso. "Pela primeira vez em nossa história recente, um governador em exercício foi parar no xilindró."
Constituição Cidadã
O programa exibiu uma reportagem com opiniões a área jurídica e de jornalistas. O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, avaliou que o caso do ex-governador José Roberto Arruda se situa em um "quadro de normalidade" de uma sociedade democrática. "A imprensa pode aprofundar e alargar o noticiário com fundamento na liberdade de informação que a Constituição assegura", enfatizou. Azêdo acredita que no caso da Operação Faktor há favorecimento da Justiça para um "personagem poderoso". Outro problema apontado foi a "relação de camaradagem" entre o desembargador que proibiu a veiculação das matérias e a família do senador Sarney. "Há uma clara distorção do pronunciamento do Judiciário, que depois da imposição da censura prévia mostrou, como tem mostrado até hoje, lerdeza no tratamento do caso", criticou.
O advogado Sérgio Bermudes disse que a censura a O Estado de S.Paulo é "inconcebível" porque a liberdade expressão é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. "A liberdade de imprensa não é uma garantia da imprensa. Ao contrário do que se pensa, a liberdade de imprensa é uma garantia do cidadão, que tem que ser informado, e a imprensa é um veículo de informação das pessoas. Eis por que repugna à Constituição e repugna às leis que um jornal, seja ele grande ou pequeno, possa ser censurado", criticou.
Para o jornalista Eugênio Bucci, em toda cobertura que envolve denúncias de corrupção de homens públicos existem interesses contrariados e interesses que se quer preservar. "A notícia favorece um e desfavorece outro", assinalou. "As forças políticas que procuram interferir na linha editorial, na pauta dos veículos, estão sempre presentes. Não é a existência de uma força política no caso Sarney e no caso Arruda que explica as diferenças de desdobramento que os dois casos tiveram. As forças políticas estão presentes em um e em outro", comentou. O jornalista enfatizou que O Estado de S. Paulo não recuou na apuração das denúncias contra a família Sarney a despeito da existência de pressões políticas.
A quem o segredo serve?
No debate ao vivo, Dines pediu para Rodrigo Rangel rememorar o trabalho de apuração de O Estado de S.Paulo no caso Sarney. O repórter explicou que a cobertura dos atos secretos do Senado – que atingiam em cheio o presidente da Casa – estava no auge quando a equipe do jornal chegou a informações relevantes que ligavam os atos secretos à investigação da PF. Nesta, havia uma conversa telefônica em que Fernando Sarney tratava da nomeação do namorado de sua filha para um cargo no Senado e esta nomeação ocorreu por meio de um ato secreto.
"No âmbito da Operação Boi Barrica, vimos que havia elementos concretos sobre a maneira como se negociavam as nomeações", disse. Dines questionou se o jornal sabia que o caso estava sob sigilo. Rangel enfatizou que o empresário Fernando Sarney tomou conhecimento da investigação, por meio de um vazamento, meses antes da imprensa, mas o segredo de Justiça foi pedido apenas quando a imprensa obteve os dados sobre o assunto. O jornal estava ciente da decisão, mas publicou as informações porque havia interesse público.
Para Chico Otávio, é lamentável que um jornal esteja sob censura, mas é preciso salientar que a polêmica se trava dentro do processo legal. A situação é diferente da que ocorre em outros países da América Latina, como a Venezuela, onde "obstáculos são erguidos pelo braço forte do Estado, do poder". O jornalista avalia que há um exagero por parte da Justiça em decretar sigilo porque há a possibilidade de proteger apenas parte de uma investigação.
Já existe o entendimento de que a responsabilidade legal pelo vazamento cabe a quem passou a notícia, e não aos jornais que a publicaram. Chico Otávio destacou que a imprensa tem servido de fiscal da atividade judiciária – então, é salutar que os meios de comunicação tenham acesso aos processos, mesmo levando em conta que a "imprensa política" pode exercer um grande peso nas decisões judiciais.
Público e privado
Márcia Cunha explicou que o sigilo tenta proteger a investigação e não a pessoa do investigado. Em algumas situações, nem o próprio alvo do processo tem acesso às informações. A intenção é fazer com que nenhuma influência externa possa atrapalhar a apuração dos fatos. Na Operação Boi Barrica, o pedido partiu de Fernando Sarney e pretendia resguardar a sua honra até o julgamento. A opinião da desembargadora é diferente desta decisão judicial. "O homem público tem que ter consciência de que ele não tem uma privacidade igual a do homem que não é público. Ele tem a sua vida pública exposta e é dever dele prestar contas. A única coisa que deve ser preservada é a vida particular", disse.
Para a diretora da Amerj, quando um processo de interesse público que está sob segredo de Justiça vaza para a mídia, esta tem o direito de divulgar e é um direito do cidadão ser informado. "Tenho certeza absoluta que as coisas neste caso do governador de Brasília não teriam caminhado com a celeridade com que caminharam se não fosse o grande apelo público. E esse apelo é feito como? Através da imprensa, sem dúvida", disse.
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As cabeças e as sentenças
Alberto Dines # editorial do Observatório da Imprensa na TV nº 535, exibido em 2/3/2010
Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
Por que foi possível publicar os impressionantes vídeos das propinas no governo do Distrito Federal enquanto eram embargadas pela Justiça as denúncias sobre a corrupção no Maranhão? Este é um debate que se trava em algumas redações brasileiras, mas ainda não chegou ao leitor. Deveria. Seria muito instrutivo e, sobretudo, oportuno.
É evidente que ninguém está lastimando a divulgação daqueles vídeos da turma do governador Arruda embolsando as propinas. Graças à intensa exposição através da mídia, pela primeira vez em nossa história recente um governador em exercício foi parar no xilindró. Um avanço, vitória inequívoca na luta contra a corrupção.
Mas este avanço poderia ter ocorrido meses antes se a Justiça não impedisse o jornal O Estado de S.Paulo de prosseguir as revelações sobre o inquérito da Polícia Federal a respeito dos negócios da família Sarney. O Estadão está sob censura judicial há 214 dias. Não fosse este atentado contra a liberdade de expressão, o governador Arruda talvez não tivesse sido primeiro governador a ser encarcerado.
Dois pesos e duas medidas? Este tipo de comparação não pode ser linear. A ciência jurídica é mais sutil, complexa. Cada caso é um caso. A Polícia Federal investigou ambos, mas os inquéritos tiveram procedimentos diferenciados e foram apreciados por juízes com visões diferentes.
Cada cabeça uma sentença. Mas a sociedade brasileira deveria estar apta a entender como funcionam essas cabeças e o porquê de cada sentença. Pelo menos parte das suspeitas seriam esclarecidas.
1. As aparições de Dilma vão se sucedendo. Está aceitando convites para festa de 15 anos, batizado e inauguração de vestiário de futebol em clubes de várzea. Inclusive analisa a possibilidade de ser jurada em programa de calouros na TV, aos domingos. E sempre acompanhada de seu amigão, Lula.
2. Por isso, os Institutos medem o potencial de crescimento de Dilma cruzando os que sabem que Dilma é candidata de Lula com as intenções de voto dos candidatos. Em 2009, o GPP fez pesquisas nacionais e foi fazendo estes cruzamentos. E o número foi se estabilizando em torno de 30%. Com isso, a projeção de cenários para 2010 já levava em conta esse patamar.
3. Entre os eleitores que na época sabiam que Dilma era a candidata do Lula, ela tinha 30%. O que está aumentando não é a intenção de voto na Dilma e sim a base (percentual das pessoas que sabem que ela é a candidata do Lula).
4. Não adianta a oposição achar que está tudo errado e bater a cabeça. Está tudo dentro do esperado, acontecendo mais rápido devido à campanha de um só candidato.
5. O DataFolha, recentemente, deu uma diferença a Serra (com Ciro na chapa) de 4 pontos: Serra 32% x Dilma 28%.
6. O GPP, do último trimestre de 2009, mostrou que naquela época, 52,5% dos eleitores sabiam que Dilma era a candidata do Lula. Entre estes, 30,9% marcavam o nome de Dilma e 35,3% marcavam o nome de Serra, entre os quatro.
7. Na medida em que a outra metade souber, e a menos que, por uma razão não identificável na pesquisa, os que sabem hoje decidissem de forma muito diferente dos que saberão amanhã, a tendência é que Dilma esteja se aproximando de seu teto de pré-campanha. E com este entorno dos 30% ela tende a ir chegando às convenções de junho. Depois..., é performance de campanha. Um ou outro.
Se um delegado de polícia fala assim da segurança, imaginem nós cidadãos comuns que dependemos do estado para nos dar segurança? Que saudades da Eurídice Vidigal...
Essa história de mais de um no comando nunca, em lugar nenhum, deu certo. Não seria aqui no Maranhão que isso mudaria... E a comprovação dessa assertiva é o que estamos assistindo agora. Aliás, tudo se repete... No período anterior em que Roseana Sarney ocupou o governo, mais precisamente no início do segundo mandato, tratou de fazer uma reforma administrativa que na prática passava o governo para o seu marido Jorge Murad. Ela cuidava apenas das aparências e das campanhas publicitárias. O resultado foi a “década perdida”, como ficou marcado esse período do Maranhão, segundo análise elaborada pela Secretaria de Planejamento do seu próprio governo.
Esta mesma época notabilizou-se pela privatização da Cemar e do Banco do Estado, ambos vendidos a preços de banana e o segundo, por meio de uma nebulosa transação em que o estado se endividou em R$ 380 milhões e vendeu o Banco por R$ 78 milhões. Negócios típicos de Roseana Sarney.
Também foi a época do Tele-Ensino do antigo segundo grau, que custou ao estado mais de R$ 100 milhões junto a Fundação Roberto Marinho e logo em seguida foi abandonado, porque de nada serviu e acabou por prejudicar muitos jovens que acreditaram na propaganda do governo. Este mesmo engodo resultou na ausência de ensino médio em muitas localidades maranhenses e existente em apenas 25% do estado.
Foi ainda o tempo em que o estado se “consolidou” como o mais atrasado e pobre do país, afastando negócios e empresários, que temiam a interferência da família Sarney.
Por fim, foi também a época em que os políticos da sua própria base foram humilhados e maltratados, sem conseguir sequer serem recebidos pela governadora. Tempo em que fulguraram as famigeradas gerências, pura cosmética, cuja função principal era manter os políticos longe do Palácio do Governo. Nenhum político se esquece desse período...
Hoje, governando sob o manto da ilegitimidade, oriunda de uma decisão extremamente controvertida do TSE, que colocou no governo a perdedora das eleições, o comando do estado virou bagunça total. Sim, porque atualmente, vários mandam e quem empurra o governo no “vai ou racha” é o Secretario de Saúde. Jorge Murad, vendo o perigo, já tomou para si o controle das Secretarias do Planejamento e Fazenda, se reunindo semanalmente com os titulares dessas pastas.
Assim, com a inapetência da governadora, instalou-se a bagunça e o vale-tudo. Deputados da própria base de apoio ao governo botam a boca no mundo e dizem que os secretários estão comprando os seus redutos. Em consequência disso, ameaçam uns aos outros, alegando a existência de fitas gravadas comprovando o que dizem. E Roseana nem aí, não é com ela. Agora vejam: se isso acontece na base do governo, imaginem o que estão fazendo com a oposição?
Mas o que esperar de um grupo que, para ganhar o governo, montou dossiês falsos, chantageou pessoas temerosas de retaliações e gastou dinheiro com outras?
Quem vai pagar pela paralisia que tomou o Maranhão desde o ano passado? Quem vai pagar a irresponsabilidade dos empréstimos sem destinação e que foram tomados apenas para engordar o caixa do governo nessa época de eleições? Todos nós, evidentemente.
Mas o povo percebe e não perdoa. Pirotecnias não vão adiantar. O secretário Gastão Vieira, quando disse semana passada em reunião com as classes produtoras que estava ali representando a governadora Roseana Sarney, passou pelo constrangimento de ter que ouvir aturdido uma imediata e estrondosa vaia que demorou a cessar.
Como ela pode melhorar? De imediato, só se passar o governo para outro. Como não vai fazer isso, só se assumisse tentando tomar as rédeas do poder para tentar dar um rumo qualquer a sua sofrível gestão.
O povo tudo vê e vai tirando suas conclusões. Mesmo com o bloqueio do acesso aos meios de comunicação de massa aos membros da oposição, a situação é tão caótica e descontrolada que a própria rede Globo, aqui dominada pela família Sarney, vai se encarregando de mostrar o que se passa. Assim aconteceu quando mostrou nessa semana como é a educação no Maranhão. Foi terrível e constrangedor e tentaram imediatamente jogar a culpa isoladamente no colo dos prefeitos. Isto tudo como se ela,Roseana, não governasse o estado e as calamidades ou o que quer que se passe nos municípios esteja fora de sua jurisdição e ela não tenha nada com isso. Como ter um sistema de qualidade na educação do estado, se milhares de alunos passam pela mesma situação que aquela mostrada na televisão e todo mundo se omite?
É, as coisas vão muito mal... Tão mal que uma igreja tradicional do estado, como a igreja de São João, não pode mais abrir as portas para a tradicional missa do final da tarde de domingo por falta de segurança. Vejam que no recente assalto a um banco em Santa Luzia do Paruá, foi a Polícia Federal quem enfrentou os assaltantes de Banco no interior e o chefe da operação da PF disse claramente à TV Mirante que eles tiveram que intervir devido à precariedade da polícia do Maranhão.
Raimundo Cutrim, quando trabalhou comigo, foi um bom secretário porque eu lhe dava todo o apoio. Roseana Murad precisa apoiar o seu secretário de Segurança para as coisas entrarem nos eixos. Ela é quem ter que ser cobrada em primeiro lugar.
Se a oposição tivesse mínimo acesso aos meios de comunicação de massa, que só eles têm, e assim tentam neutralizar tudo que acontece escondendo a gravidade do que se passa no estado, ela nem poderia se habilitar a concorrer ao governo tal a mediocridade com que conduz o Maranhão...
Enquanto isso, tudo piora, incluindo para a própria família.
Após jurar, em sucessivas entrevistas, que jamais processou jornalistas - o que não é verdade - o presidente do Senado, José Sarney, nem se deu ao trabalho de contratar um advogado para processar Lourival Bogéa, diretor de redação do Jornal Pequeno, de São Luís (MA). Preferiu utilizar a Polícia Federal contra o jornalista, como fazem autoridades que tentam intimidar a imprensa. Bogéa foi intimado a depor na manhã desta terça-feira (9) na superintendência regional da PF do Maranhão. O jornalista, alvo de três ações de "investigação criminal" (por "crime de opinião"?), será acompanhado à PF pelo seu advogado Edson Vidigal, ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
No sábado, Fernando Sarney esbaldou-se na festa de formatura da filha, no Clube do Exército de Brasília. Primeiro dançou a tradicional valsa dos formandos. Depois, desinibido, agitou até altas horas na pista de dança. Àquela altura, já era pública a manchete da Folha de S. Paulo de domingo revelando que ele mantém uma conta não-declarada à Receita Federal na China.
Perto do fim, às 4h da manhã, o cantor da banda que animava a festa mandou até um recado para a turma dos Sarney:
- Alô para a galera de São Luís do Maranhão.
A homenagem justificava-se. Foram mais de 50 convidados para a mais nova formada do clã. O avô José Sarney e os tios Roseana e Zequinha não compareceram à festa.
Autoridades chinesas detectam conta em paraíso fiscal operada por Fernando Sarney
Empresário, que cuida dos negócios da família, enviou US$ 1 milhão em 2008 para agência do HSBC na China sem declará-lo à Receita
O governo brasileiro obteve documentos que comprovam que o filho do presidente do Senado, José Sarney, movimentou dinheiro no exterior sem declará-lo à Receita Federal.
Autoridades da China informaram ao Ministério da Justiça que o empresário Fernando Sarney opera pessoalmente uma conta num paraíso fiscal, em nome de uma empresa "offshore" com sede no Caribe.
No começo de 2008, Fernando usou esse canal financeiro para transferir US$ 1 milhão para uma agência do banco HSBC em Qingdao, na China. A autorização da transação contém a assinatura dele.
Recursos no exterior não informados ao fisco podem ser fruto de sonegação de tributos, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Empresas da família Sarney, que vão de emissoras de rádio e TV a shopping center, são investigadas pela Receita e pela Polícia Federal sob acusação desses crimes.
A operação policial, que levava o nome de Boi Barrica e depois foi rebatizada de Faktor, já indiciou Fernando Sarney sob acusação de formação de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Ele nega as irregularidades.
A remessa para a China é alvo da Faktor. Em 2009, Fernando negou a movimentação em entrevista à Folha. Laudo enviado pelo governo chinês para o Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça contradiz a versão do empresário.
A partir de autorização assinada por Fernando, autoridades chinesas rastrearam a origem do dinheiro e confirmaram que os recursos foram creditados na conta da Prestige Cycle Parts & Accessories Limited (pelo nome, uma empresa de acessórios de bicicleta), conforme ordem bancária.
Os investigadores brasileiros ainda não sabem qual a finalidade desse depósito. Acordos multilaterais permitem ao governo solicitar bloqueio e a repatriação de recursos enviados ilegalmente para fora do país.
Procurado pela reportagem, Fernando disse que não se pronunciaria sobre o assunto por orientação de seus advogados, alegando que o inquérito policial está sob segredo de Justiça.
Conforme a Folha publicou em 2009, as empresas da família Sarney passam por uma devassa feita pela Receita, iniciada a partir do trabalho da PF. Os auditores detectaram indícios de crimes contra a ordem tributária, como remessa ilegal de recursos para o exterior, falsificação de contratos de câmbio e lavagem de dinheiro.
Segundo a reportagem apurou, não há nas declarações à Receita das pessoas físicas e jurídicas ligadas à família a menção a nenhuma conta corrente em paraíso fiscal no Caribe.
Durante a Faktor, a PF interceptou com autorização judicial e-mails de Fernando, seus familiares e amigos. Em várias dessas mensagens havia referências ao envio de US$ 1 milhão para a China. Foi numa delas, entre Ana Clara e Teresa Sarney, filha e mulher de Fernando, que a PF capturou a autorização assinada por ele.
Os policiais levantaram também indícios de que Fernando contava com a ajuda do empresário Gianfranco Perasso (chamado por ele de "China" ou "Chinaboy") para operar contas no exterior em seu nome.
Perasso é apontado pela Polícia Federal como integrante do esquema comandado por Fernando que teria desviado dinheiro de obras e projetos do governo federal.
Outro lado:
Empresário vê vazamento de dados "criminoso"
O empresário Fernando Sarney disse à Folha, por e-mail, que a imprensa trata de suas movimentações financeiras de forma "truncada e dissociada da realidade" e que ele é alvo de "vazamento criminoso" de informações sob segredo de Justiça.
"Por essa razão, seguindo orientação dos meus advogados, e até mesmo em respeito ao sigilo estabelecido pela própria Justiça, não me pronunciarei a respeito", disse.
Fernando respondeu por ele, por sua mulher, Teresa Sarney, e por sua filha, Ana Clara. As duas também são citadas pela PF no inquérito da Operação Faktor, por participação nas transações financeiras da família.
Procurada pela reportagem, a assessoria do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse que o assunto não lhe diz respeito e que por isso ele não se manifestaria. Acrescentou que seu filho Fernando é quem tem autoridade para falar sobre o tema.
A reportagem não conseguiu localizar o empresário Gianfranco Perasso.