terça-feira, 1 de dezembro de 2015

TUDO É INCERTO


A cada dia as coisas se complicam mais para o Brasil e para o governo federal. Na área política tudo é incerto. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, vê suas opções de sobrevida se encurtarem dramaticamente, pois o trunfo que tinha, que é a decisão sobre o impeachment da presidente da república, vai se estreitando. Isto, porque já não pode confiar em ninguém, já que o peso da opinião pública, ao sabor dos fatos revelados pelas investigações da Lava Jato e outras em andamento, vai caindo com força sobre os políticos e tudo muda dia após dia. Os acordos de ontem já não valerão amanhã.
Cunha já viu que o PT nega solidariedade até aos seus mais ilustres membros colhidos em mal feitos, como agora acontece com um dos mais poderosos petistas, Delcídio Amaral, líder do governo no Senado. E porque eles não são mais os “guerreiros do povo brasileiro”, como era o costume? Por causa da imprensa livre, pelo peso da opinião pública que a tudo muda.
 Aturdidos, paralisados e sem ação, não sabem o que fazer. Pagam agora pelas irresponsabilidades e loucuras cometidas no passado. O Brasil está sem dinheiro até para pequenas despesas. A conta chegou.
Dessa forma, na parte econômica tudo segue piorando. E o próximo ano já está contaminado. Pela primeira vez teremos no Brasil uma recessão que ultrapassa um ano.  Para que tenhamos ideia das dificuldades em que se envolveu a nossa economia, vou transcrever trechos de um artigo do senador José Serra publicado no Estadão na última quinta-feira, que é um abrangente estudo sobre o quadro atual da nossa economia. Segue:
“Não há necessidade maior para as pessoas que vivem em comunidade que a de serem governadas, autogovernadas se possível, bem governadas se tiverem sorte, mas, em qualquer caso, governadas”.
Walter Lippman
A economia brasileira passará o réveillon na UTI e nela permanecerá por bom tempo. Sabemos hoje que os vaticínios pessimistas sobre 2015 foram demasiado amenos. A realidade, como se vê neste final de ano, acabou sendo bem mais adversa. O principal indicador do nível da atividade econômica, o PIB, teve contração em torno de 3%. De ponta a ponta, ou seja, comparando este último trimestre com o mesmo período de 2014, a queda estimada é mais forte: 4,5%.
Como o setor agropecuário, ao longo do ano, teve desempenho razoável – cresceu em torno de 2% – e a área de serviços sempre varia em torno da média, os dados ruins do PIB escondem algo pior: a evolução catastrófica da indústria manufatureira, cujo produto caiu em torno de 11%. A marcha para a ruína do setor, iniciada pela política econômica do segundo governo Lula, prossegue implacável. Basta mencionar que o produto industrial nunca mais superou o nível de 2008. Eis a grande marca econômica da era petista: a desindustrialização do Brasil.
A pesquisa mensal do comércio aponta declínio superior a 11% nas vendas no varejo, batendo com o declínio da massa salarial, da ordem de 10,5% de outubro a outubro. Já os investimentos do conjunto da economia têm caído aproximadamente 12% – causa e efeito da queda da indústria. A contração dos investimentos governamentais atinge espantosos 40%!
Do lado do emprego, os números absolutos são impressionantes: no acumulado de 12 meses houve destruição líquida de 1,4 milhão de vagas (carteira assinada) – 557 mil na indústria de transformação e 442 mil na construção civil –, acertando em cheio setores de menores rendimentos. Igual pode ter ocorrido com a remuneração dos trabalhadores no setor informal. Em outubro os rendimentos reais dos brasileiros foram 7% inferiores aos de outubro de 2014.
Pelo menos 1 milhão de assalariados formais perderam seu plano de saúde juntamente com o emprego. Os gastos reais do SUS, incluindo Estados e municípios, caíram em torno de 5% nos dez primeiros meses de 2015 em comparação com 2014. O colapso das finanças municipais e estaduais é assombroso e compromete diretamente o atendimento nas áreas sociais. No caso dos Estados, entre janeiro e agosto, em relação ao mesmo período de 2014, as receitas reais caíram em média 5,4%.
E o futuro próximo? As previsões sobre o PIB apontam para a persistência da retração em 2016, cerca de 2%, que será mais intensa no primeiro semestre.
Do ponto de vista social, ou seja, da oferta de serviços básicos, dos rendimentos e do emprego, o quadro adverso de 2015 vai se acirrar nos próximos meses. Em parte isso se deve ao fato de que as consequências do desemprego sobre a renda e a demanda das famílias são proteladas no Brasil por causa dos benefícios recebidos por quem é demitido. Assim, o trabalhador com carteira assinada que perde o emprego recebe pelo menos o saldo do FGTS recolhido, mais multa de 40% sobre esse saldo, seguro-desemprego, aviso prévio de um mês, férias proporcionais (incluindo o abono de férias) e fração de 13.° salário. Somados, esses benefícios dão alívio temporário aos recém-desempregados. Por isso os efeitos da onda recente de desemprego tenderão a se manifestar com intensidade crescente nos primeiros meses de 2016.
Além dos naturais efeitos da contração industrial que se espraiam por toda a economia, tudo indica que o País se confrontará com a retração da oferta de crédito das instituições financeiras públicas e privadas, cada vez mais temerosas com a insolvência das empresas e alarmadas com o naufrágio de projetos que envolvem a Petrobras, como é o caso da Sete Brasil.”
Serra continua adiante: “[...] o déficit público agregado e acumulado aumenta 115% em 12 meses, passando de R$ 250 bilhões em setembro de 2014 para R$ 536 bilhões um ano depois! Só de juros os gastos chegaram a R$ 510 bilhões no período – cerca de cinco vezes o Orçamento federal da educação e 18 vezes o Bolsa Família.
De fato, minha sensação, ou conclusão, é de que dias melhores não virão. A menos que...
A menos que haja uma mudança política de grande profundidade. Ou seja, a economia dependerá mais do que nunca da política. O atual governo, inepto, inseguro, sem rumo nem sustentação congressual, é um elo decisivo do círculo vicioso que empurra o Brasil para trás e para baixo.
Lembro, a esse respeito, a opinião externada em discurso na semana passada por um senador do PSB, Fernando Coelho. Ele propôs que a presidente Dilma Rousseff incite a Câmara de Deputados a apreciar ao menos um dos pedidos de impeachment que se acumulam na Casa. Se vencesse, retomaria alguma condição de governar. Se perdesse, abriria a chance de o Brasil se voltar para o futuro. Do jeito que vai, só lhe restará contemplar o barco que não dirige continuar à deriva no mar bravio.”
Depois dessas palavras por ora nada resta a acrescentar.