sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Querem transformar o Maranhão no Zimbabwe

Reproduzo abaixo artigo do Professor José Lemos:


Querem transformar o Maranhão no Zimbabwe

...Não conseguirão!

A República do Zimbabwe está situada na região Centro-Sul da África e tem uma população sofrida de 12,3 milhões. Os primeiros colonizadores britânicos chegaram ao País em meados do século XIX e, depois do grande influxo de migrantes ingleses, começaram a exercer influencia a ponto de nomearem o território de Rhodesia, em homenagem ao inglês Cecil Rhodes então dirigente da Companhia Britânica-Sul Africana.

Em novembro de 1965, os conservadores de minoria branca e de origem britânica declararam a sua independência em relação à Inglaterra. Seguiram-se pressões da maioria negra por mais direitos, dentro do seu próprio território invadido, o que induziu a sanções econômicas e ações de toda ordem para garantir a supremacia no poder dos brancos. Em março de 1970 a Rhodesia proclamou-se República, e em 1976 marcou o colapso de 11 anos do Governo da minoria que se instalara no País.

Seguem-se movimentos nacionalistas dos nativos que eram liderados pelo Bispo Abel Muzorewa e por Ndabanigi Sithole do moderado Congresso Nacional Africano. Mas também havia líderes como Robert Mugabe da União Nacional Africana do Zimbabwe e Joshua Nkomo da União do Povo Africano do Zimbabwe. Esses dois grupos queriam ações revolucionárias para que a maioria negra assumisse o comando do País.

Em março de 1978 foi assinado o acordo que transferia parte do poder para a maioria negra. Contudo, o cargo de Primeiro Ministro continuava pertencendo à minoria. Observa-se que, mesmo os negros tendo tido acesso ao poder, os brancos ainda detinham o cargo chave e não consentiam a realização de eleições livres e multirraciais.

Entretanto, a pressão por avanços era intensa e, finalmente, houve a conquista de eleições multirraciais em 1980. Com uma retórica socialista e revolucionária, Mugabe foi eleito com ampla maioria, enchendo de esperanças aquele sofrido povo. O País conquistou a sua independência de fato em 17 de abril de 1980 sob o nome de Zimbabwe. Empossado, Mugabe tentou estabelecer o que ele chamou de Estado de Partido Único e Socialista. Contudo, em 1990 resolveu adotar o pragmatismo dos oportunistas. Fez conchavos que lhe proporcionaram mais poderes e estabeleceu o multipartidarismo que era conveniente para as suas ambições pessoais. Dessa forma foi cooptando parte dos que lhe faziam oposição e em 1991 retirou da Constituição do País toda e qualquer referencia ao Estado Socialista, que havia lhe servido de argumento para convencer os eleitores e se eleger Presidente.

A partir de então as eleições ocorriam a cada seis anos e sempre mais manipuladas para atender aos seus interesses de permanência indefinida no poder. Também por isso a comunidade internacional, que antes tinha Mugabe como um herói do anti-colonialismo passou a vê-lo como autoritário. Há denuncias de violações de direitos humanos no País. A economia ficou caótica, a inflação disparou, a pobreza e os famintos se multiplicaram, colapso no abastecimento de água e falta de saneamento. Resultado, surto de cólera no País.

Os métodos de Mugabe e sua família são muito parecidos com os utilizados no lado de cá do Atlântico. Para se perpetuar no poder incluem todas as formas de sordidez como manipulação de informações na mídia sob seu amplo domínio, uso de bajuladores para plantar mentiras contra adversários, constrangimentos e ataques, inclusive pessoais, aos desafetos políticos, trafico de influencia em tribunais, chantagem sobre inimigos políticos para que se mantenham calados. Nestes 28 anos, ele e a sua família acumularam riquezas, e a infeliz população do Zimbabwe mergulhou em depressão e pobreza profundas.

Em 2008 houve eleições parlamentares e presidenciais no Zimbabwe. A população manifestou a sua insatisfação e repúdio a Mugabe e sua trupe votando na oposição e em Morgan Tsvangirai, seu oponente. Mugabe não aceitou os resultados desfavoráveis das eleições e usou de todos os artifícios para permanecer no poder. Inclusive há denuncias de observadores internacionais que ele teria corrompido autoridades eleitorais do País.

O Maranhão da metade dos anos oitenta até o inicio deste milênio apresentava indicadores sócio-econômicos parecidos com os do Zimbabwe de hoje, tendo mergulhado no fundo do poço nos anos de 1996 a 1998. Embora protagonistas de processos históricos diferentes, os maranhenses também experimentaram, por longos anos, os equívocos de políticas públicas desenhadas para assegurar a hegemonia de uma família, que conseguiu a proeza de transformar um dos estados mais promissores, no mais pobre do Brasil.. Como em Zimbabwe, em outubro de 2006 a população maranhense resolveu dá um basta e reconstruir o seu próprio destino. Os que foram derrotados pela população insistem, mesmo que não tenham votos, em retomar o poder. Lá, como cá, vale tudo para que isso aconteça. Cabe ao povo do Maranhão, ao povo do Zimbabwe e ao povo de qualquer lugar onde haja ultrajes ao direito de sonhar, sair às ruas, unido e dizer NÃO, em alto e bom som contra atos de violência explícita de tolher direitos elementares de cidadania.

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José Lemos é Engenheiro Agrônomo e Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. lemos@ufc.br. Autor do Livro “Mapa da Exclusão Social no Brasil: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre”.

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