quinta-feira, 16 de julho de 2009

Vórtice


Essa deve ser a sensação que Sarney deve estar sentindo a cada nova denúncia de malfeitos que o envolvem pessoalmente. O colunista d'O Globo, Ricardo Noblat, escreve que Sarney, com medo do que poderá vir no dia seguinte, passa as noites contando carneirinhos em busca do sono perdido... Quantos já teria contado?

Ele parece hoje um homem muito controlado e age como se realmente não tivesse nada com os fatos denunciados. A que custo consegue isso e até quando aguentará? Os analistas mais atentos  acreditam que o limite é enquanto perdurar o apoio de Lula. Fica então a pergunta: E se, frente gravidade e ostensividade das denuncias, cessar o apoio presidencial?

Nada do que Sarney diz resiste como verdade a mais de duas horas. É o tempo da verificação que os jornalistas fazem nos documentos. Sua persistência em permanecer agarrado ao cargo só vai colocá-lo como uma 

das figuras da história do país mais repugnantes e falsas. As gerações futuras irão vê-lo como um símbolo de tudo aquilo que concorreu para atrasar o país e suas instituições. Já é irreversível essa imagem, uma verdadeira tragédia para quem labutou para legar uma imagem de estadista, intelectual, homem da cultura. Nesta, o que ficará de lembrança é a voracidade com que investia nas verbas do Ministério da Cultura para alimentar entidades sem a menor idoneidade. Uma tragédia para o senador e  também a negação do objetivo de toda uma vida.

Até no exterior essa será a sua imagem. Para isso, a revista inglesa The Economist, uma das maiores e mais respeitadas do mundo, já se encarregou. E ele dizia que era uma trama do governador Jackson Lago. Como tirou Jackson do governo, agora diz que é uma trama da imprensa paulista e do PSDB. A culpa pode ser de qualquer um, mas não dele. E tampouco das loucuras que cometeu por onde passou ou que deixou acontecer.

Sarney virou a piada predileta do país, assunto obrigatório de chargistas. Algumas muito pesadas. Uma das mais engraçadas é a de Chico Caruso, parodiando o “moonwalking” (aquele passo de dança celebrizado por Michael Jackson) em que o presidente do Senado anda para trás e a medida que vai andando, vai diminuindo de tamanho…

Até o Convento das Merces, prédio tombado pelo patrimônio Histórico do qual José Sarney apropriou-se na marra,  vai ter a imagem prejudicada, pois ali ninguém se lembrará de que o local foi palco dos célebres sermões do Padre Antonio Vieira. No entanto, o Convento está eternizado como o "Mausoléu de Sarney", obra fruto de um ímpeto de locupletar-se aliado às estripulias financeiras cometidas com dinheiro público como descrevem as reportagens diárias dos jornais O Estado de São Paulo, Globo e Folha de São Paulo. 

É triste ver um ex presidente da Républica ter o seu nome ligado a notas fiscais falsas e malversação de dinheiro público,  como atestam as prestações de conta. A facilidade de conseguir dinheiro com a Vale, Banco do Brasil, Caixa Economica Federal, Petrobras, Telebrás, Eletrobrás para festas ali é a mesma da credibilidade das prestações de conta e das nomeações por atos secretos dos gestores das entidades.

Um dos mais caracteristícos casos foi com a escandalosa Mostra do Descobrimento, iniciativa do governo de Roseana Sarney com o seu compadre e padrinho de casamento Edemar Cid Ferreira, cujo montante de mais de R$ 5 milhões de dinheiro público, oriundos do governo estadual e federal foram usados. Talvez uma das exposições mais caras da história do Brasil. 

O Museu havia sido doado à Fundação José Sarney, era, portanto, um imóvel privado. Mesmo assim, a governadora mandou gastar R$ 600 mil na adaptação do prédio. Como era privado, ela não podia colocar dinheiro público e para evitar possível ação do Ministério Público, mandou mensagem à Assembleia Legislativa tomando de volta o Convento. A lei foi aprovada, mas como não houve a temida ação judicial, foi esquecida e nunca mais falou-se dela. Assim, criou-se uma aberração juridical, como tantas no Maranhão, pois a Fundação continuou a mandar no prédio como se referido diploma legal não existisse.

Sarney disse logo que não tinha nada com isso, que não era gestor. Mentiu, porque sabe-se muito bem que ele é o Instituidor e Presidente Vitalício da Fundação da Memória Republicana e, em sua ausência e em sua falta apenas, delegou poderes, até revogação em contrário, ao advogado José Carlos Sousa e Silva. Portanto, o Presidente Vitalício é ele, que não pode dizer que não tinha nada com isso como de fato disse. Esse documento, de 4 de Abril de 2000 está registrado no Cartório Cantuária de Azevedo, microfilme  16945.

Só por ter mentido, pode perder o mandato. E a afirmação não ocorreu em outras legislaturas, mas sim na quinta-feira passada em pronunciamento feito em plena sessão, do alto de sua cadeira de Presidente do Senado.

Além de casos como o da empresa varejista que dava aula de hidtória da arte, localizada em uma cuma casa na praia do Araçagi, ou como alunos empregados em atos secretos do próprio Senado,  a revista Veja dessa semana traz material expondo evidências de mais uma fraude grotesca do presidente do Senado. Tal matéria mostra que Sarney teve conta secreta no exterior que não consta de seu imposto de renda, tudo baseado em documentos do Banco Central. Segundo a revista, a conta de José Sarney era administrada pelo banqueiro Edemar Cid Ferreira por intermédio de sua secretária Vera, mantendo registros contábeis que foram descobertos pelo Banco Central e divulgados na revista.

Sarney reagiu à grave denúncia informando que vai pedir investigação ao Ministério Público Federal. Eis o que comenta sobre o assunto o jornalista Ricardo Noblat em seu blog:

"Nota à imprensa distribuída pela assessoria de José Sarney (PMDB-P), presidente do Senado:

'O presidente do Senado, senador José Sarney enviará ofício ao Procurador Geral da República, na próxima segunda-feira, conferindo-lhe todos os poderes e outorgando-lhe as permissões previstas nas leis brasileira e de quaisquer países para requisitar junto às instituições financeiras internacionais informações sobre contas bancárias que tenha no exterior ou tenha tido em qualquer época, valor, ações, depósitos, investimentos, propriedades e qualquer tipo de movimentação financeira em qualquer moeda e de qualquer valor em seu nome'.

Comentário de Ricardo Noblat: O governo não precisa de autorização de Sarney para investigar se ele tem ou teve contas no exterior. Mas qualquer procurador da República, munido dos poderes que Sarney se diz disposto a outorgar, poderia, sim, investigar o que ele pede. Para isso teria de reunir indícios veementes de que houve delito. Do contrário, não conseguirá a colaboração internacional.

O gesto de Sarney não terá nenhuma consequência. Vale para que ele diga em sua defesa: Nada temo".

É mais uma maneira de tentar sair do aperto em que se meteu.

E o Vórtice não para…

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa é tática MALUF, não sabemos qual será o resultado.
Dr. Zé Reinaldo, tá na hora do "xeque-mate"! falei outro dia, lembra? gostei dessa matéria, já trouxe algumas infomaçoes que o povo quer ler...