GUERRA NO GOVERNO
Ricardo Murad não consegue seu intento de voltar a ser secretário de Saúde; Roseana Sarney resistiu às pressões do cunhado, aceitando os conselhos do marido Jorge, crítico da demasiada ‘ocupação de espaços’ do irmão no governo, e da filha Rafaela, que quer manter o tio de seu marido na Secretaria da Saúde
POR OSWALDO VIVIANI
A pretensão de Ricardo Murad - ex-deputado estadual pelo PMDB e ex-secretário de Saúde do Maranhão - de voltar à secretaria, desistindo de tentar a reeleição à Assembleia Legislativa, parece não ter vingado. Ricardo anunciou essas decisões por meio de um blog do Sistema Mirante, no domingo passado, e desde então tem pressionado, de todas as formas, a governadora Roseana Sarney Murad (PMDB), sua cunhada, a renomeá-lo secretário.
No entanto, gente do próprio clã "pôs areia" na manobra de Ricardo, que visava derrubar o atual secretário da Saúde, Luiz Alfredo Netto Guterres Soares Júnior, porque este resolveu ser o secretário de fato e não uma espécie de "rainha da Inglaterra", como queria Murad.
Segundo o Jornal Pequeno apurou, o ex-secretário continuava "despachando" do Hotel Luzeiros (Ponta do Farol), como se secretário ainda fosse, distribuindo tarefas e ordens aos funcionários mais próximos a ele na Saúde, como Fernando Neves da Costa e Silva (secretário adjunto de Administração e Finanças), José Márcio Soares Leite (secretário adjunto de Regionalização dos Serviços de Saúde), Jorge Luiz Pereira Mendes (secretário adjunto de Saneamento) e Vera Castro (Compras).
Jorge, Rafaela, Sarney, Lobão... - Crítico da demasiada "ocupação de espaços" do irmão no governo, Jorge Murad aconselhou a mulher, Roseana, a resistir às pressões de Ricardo. A filha adotiva da governadora, Rafaela, também entrou no circuito, a favor de Luiz Alfredo. O atual marido de Rafaela, o bacharel em Direito Luiz Gustavo Amorim (filho de Leomar Barros Amorim de Sousa, desembargador federal e membro do Conselho Nacional de Justiça - CNJ), é sobrinho do secretário da Saúde.
O patriarca do clã, José Sarney (PMDB-AP, presidente do Senado), e Edison Lobão (PMDB-MA, que tentará se reeleger senador) também mandaram seus recados de Brasília contra a substituição de Luiz Alfredo. Sarney, como se sabe, preza muito suas relações com integrantes do Judiciário, e não quer ver estremecida sua amizade com o desembargador Leomar Amorim.
Ricardo Murad (centro) deve perder a briga pela Secretaria da Saúde para o irmão Jorge, que o quer longe do governo da mulher Roseana Sarney.
Edison Lobão, da mesma forma, mantém bom relacionamento com a família Amorim. Conforme a Folha de S. Paulo revelou em 2009, Luiz Gustavo Amorim foi nomeado pelo então ministro Lobão, em 2008, a um cargo de confiança na Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, do Ministério de Minas e Energia, com salário de mais de R$ 2,5 mil.
Portarias da discórdia - Três portarias - duas assinadas no dia 5 de abril e uma no dia 17 deste mês de maio, anulando as duas primeiras - foram o estopim da "guerra" na secretaria, que se estendeu ao governo.
Publicadas no Diário Oficial do Estado no dia 6 de abril, as portarias números 197 e 198 - assinadas por Luiz Alfredo Guterres, mas idealizadas por Ricardo Murad, pouco antes de sua saída da Secretaria da Saúde, para manter o órgão sob seu controle -, davam ao "homem de confiança" de Murad na Saúde, o secretário adjunto de Administração e Finanças Fernando Neves da Costa e Silva, atribuições próximas às de um secretário de Estado.
Pela portaria 197, Neves ficou incumbido de movimentar os recursos do Fundo Estadual de Saúde junto ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal, além de solicitar a abertura de contas de depósito em nome da Secretaria da Saúde; efetuar transferências e pagamentos; efetuar resgate de aplicações financeiras; e cadastrar, alterar e desbloquear senhas de contas.
Já a portaria 198 autorizava o aliado de Ricardo Murad a deflagrar e homologar processos licitatórios; liberar passagens aéreas; ordenar a emissão de notas empenhos e pagamentos (ordens bancárias); assinar contratos, termos de parceria, convênios, contratos de gestão, ou quaisquer outras contratações e parcerias com terceiros, fossem eles entes públicos ou privados; assinar portarias; assinar ofícios e outras correspondências; liberar diárias e adiantamentos; assinar prestações de contas dos convênios federais; e assinar e receber mandados judiciais.
A revogação dessas duas portarias, retirando os poderes de Fernando Neves na Secretaria da Saúde - e, por extensão, de Ricardo Murad - foi publicada no Diário Oficial do Estado de 18 de maio passado. De número 299, a nova portaria designou o gestor do Fundo Estadual de Saúde, Inácio da Cunha Boueres, como executor de despesas, e não cita mais o nome de Fernando Neves.
Cargo à disposição - Assim que soube da retirada de suas atribuições na Secretaria da Saúde, Fernando Neves redigiu uma carta, endereçada ao secretário Luiz Alfredo, colocando seu cargo de secretário adjunto de Administração e Finanças à disposição. "O meu pedido dá-se para que Vossa Excelência possa ficar à vontade para compor a sua equipe de trabalho, uma vez que a minha indicação se deu na gestão anterior", escreveu Neves. A efetivação de sua saída do cargo ainda não foi decidida.
O governo estadual até o momento não veio a público para esclarecer o "imbróglio" da Saúde. Durante boa parte da semana que passou, a governadora Roseana Sarney viajou para quatro cidades maranhenses - Miranda do Norte, Itapecuru Mirim, Chapadinha e Presidente Vargas - e não comentou assunto. O JP tentou ouvir a posição da governadora, na sexta-feira e ontem, por meio de sua Assessoria de Comunicação, mas a assessoria informou que não conseguiu contato com Roseana.
O secretário de Saúde, Luiz Alfredo Guterres, disse, por meio de sua assessoria, que prefere não comentar o assunto enquanto a governadora não formalizar sua decisão sobre o caso.
A reportagem deixou ontem um recado na caixa postal do ex-secretário Ricardo Murad, informando que queria ouvi-lo, mas até o fechamento dessa matéria, na tarde de ontem, ele não havia retornado a ligação.
O JP apurou que Roseana Sarney - por influência do marido Jorge Murad - já teria decidido frear as novas investidas de Ricardo Murad na Secretaria da Saúde. Às vésperas de enfrentar uma campanha eleitoral que promete ser acirrada, ela preferiria manter na secretaria, em vez de um político tido como "espaçoso" como Ricardo, um técnico qualificado e bom administrador - perfil de Luiz Alfredo Guterres, ex-diretor do Hospital Geral.
Isso evitaria decisões políticas desastradas na área, como o corte de recursos estaduais aos municípios, levado a cabo por Ricardo Murad. A medida foi apontada como causa principal da morte de 17 crianças por falta de leitos de UTI em Imperatriz (segunda cidade mais importante do Maranhão), e arranhou de forma irremediável a imagem do governo cujo slogan é "governar é cuidar das pessoas".
Quanto a Ricardo Murad, o mais provável é que ele "desista de desistir" e retome o projeto original de tentar retornar à Assembléia Legislativa, lugar que, segundo ele próprio teria definido, não envolve nada ligado a povo. "Entre meu mandato e o povo, fico com o povo. Meu objetivo agora é trabalhar pelo Maranhão", teria dito Ricardo, na reunião em sua casa, no sábado, 15, em que desistiu da candidatura a deputado e se "autonomeou" novamente secretário de Saúde. Faltou combinar com Roseana e o clã.
Link Original
Ricardo Murad não consegue seu intento de voltar a ser secretário de Saúde; Roseana Sarney resistiu às pressões do cunhado, aceitando os conselhos do marido Jorge, crítico da demasiada ‘ocupação de espaços’ do irmão no governo, e da filha Rafaela, que quer manter o tio de seu marido na Secretaria da Saúde
POR OSWALDO VIVIANI
A pretensão de Ricardo Murad - ex-deputado estadual pelo PMDB e ex-secretário de Saúde do Maranhão - de voltar à secretaria, desistindo de tentar a reeleição à Assembleia Legislativa, parece não ter vingado. Ricardo anunciou essas decisões por meio de um blog do Sistema Mirante, no domingo passado, e desde então tem pressionado, de todas as formas, a governadora Roseana Sarney Murad (PMDB), sua cunhada, a renomeá-lo secretário.
No entanto, gente do próprio clã "pôs areia" na manobra de Ricardo, que visava derrubar o atual secretário da Saúde, Luiz Alfredo Netto Guterres Soares Júnior, porque este resolveu ser o secretário de fato e não uma espécie de "rainha da Inglaterra", como queria Murad.
Segundo o Jornal Pequeno apurou, o ex-secretário continuava "despachando" do Hotel Luzeiros (Ponta do Farol), como se secretário ainda fosse, distribuindo tarefas e ordens aos funcionários mais próximos a ele na Saúde, como Fernando Neves da Costa e Silva (secretário adjunto de Administração e Finanças), José Márcio Soares Leite (secretário adjunto de Regionalização dos Serviços de Saúde), Jorge Luiz Pereira Mendes (secretário adjunto de Saneamento) e Vera Castro (Compras).
Jorge, Rafaela, Sarney, Lobão... - Crítico da demasiada "ocupação de espaços" do irmão no governo, Jorge Murad aconselhou a mulher, Roseana, a resistir às pressões de Ricardo. A filha adotiva da governadora, Rafaela, também entrou no circuito, a favor de Luiz Alfredo. O atual marido de Rafaela, o bacharel em Direito Luiz Gustavo Amorim (filho de Leomar Barros Amorim de Sousa, desembargador federal e membro do Conselho Nacional de Justiça - CNJ), é sobrinho do secretário da Saúde.
O patriarca do clã, José Sarney (PMDB-AP, presidente do Senado), e Edison Lobão (PMDB-MA, que tentará se reeleger senador) também mandaram seus recados de Brasília contra a substituição de Luiz Alfredo. Sarney, como se sabe, preza muito suas relações com integrantes do Judiciário, e não quer ver estremecida sua amizade com o desembargador Leomar Amorim.
Ricardo Murad (centro) deve perder a briga pela Secretaria da Saúde para o irmão Jorge, que o quer longe do governo da mulher Roseana Sarney.
Edison Lobão, da mesma forma, mantém bom relacionamento com a família Amorim. Conforme a Folha de S. Paulo revelou em 2009, Luiz Gustavo Amorim foi nomeado pelo então ministro Lobão, em 2008, a um cargo de confiança na Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, do Ministério de Minas e Energia, com salário de mais de R$ 2,5 mil.
Portarias da discórdia - Três portarias - duas assinadas no dia 5 de abril e uma no dia 17 deste mês de maio, anulando as duas primeiras - foram o estopim da "guerra" na secretaria, que se estendeu ao governo.
Publicadas no Diário Oficial do Estado no dia 6 de abril, as portarias números 197 e 198 - assinadas por Luiz Alfredo Guterres, mas idealizadas por Ricardo Murad, pouco antes de sua saída da Secretaria da Saúde, para manter o órgão sob seu controle -, davam ao "homem de confiança" de Murad na Saúde, o secretário adjunto de Administração e Finanças Fernando Neves da Costa e Silva, atribuições próximas às de um secretário de Estado.
Pela portaria 197, Neves ficou incumbido de movimentar os recursos do Fundo Estadual de Saúde junto ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal, além de solicitar a abertura de contas de depósito em nome da Secretaria da Saúde; efetuar transferências e pagamentos; efetuar resgate de aplicações financeiras; e cadastrar, alterar e desbloquear senhas de contas.
Já a portaria 198 autorizava o aliado de Ricardo Murad a deflagrar e homologar processos licitatórios; liberar passagens aéreas; ordenar a emissão de notas empenhos e pagamentos (ordens bancárias); assinar contratos, termos de parceria, convênios, contratos de gestão, ou quaisquer outras contratações e parcerias com terceiros, fossem eles entes públicos ou privados; assinar portarias; assinar ofícios e outras correspondências; liberar diárias e adiantamentos; assinar prestações de contas dos convênios federais; e assinar e receber mandados judiciais.
A revogação dessas duas portarias, retirando os poderes de Fernando Neves na Secretaria da Saúde - e, por extensão, de Ricardo Murad - foi publicada no Diário Oficial do Estado de 18 de maio passado. De número 299, a nova portaria designou o gestor do Fundo Estadual de Saúde, Inácio da Cunha Boueres, como executor de despesas, e não cita mais o nome de Fernando Neves.
Cargo à disposição - Assim que soube da retirada de suas atribuições na Secretaria da Saúde, Fernando Neves redigiu uma carta, endereçada ao secretário Luiz Alfredo, colocando seu cargo de secretário adjunto de Administração e Finanças à disposição. "O meu pedido dá-se para que Vossa Excelência possa ficar à vontade para compor a sua equipe de trabalho, uma vez que a minha indicação se deu na gestão anterior", escreveu Neves. A efetivação de sua saída do cargo ainda não foi decidida.
O governo estadual até o momento não veio a público para esclarecer o "imbróglio" da Saúde. Durante boa parte da semana que passou, a governadora Roseana Sarney viajou para quatro cidades maranhenses - Miranda do Norte, Itapecuru Mirim, Chapadinha e Presidente Vargas - e não comentou assunto. O JP tentou ouvir a posição da governadora, na sexta-feira e ontem, por meio de sua Assessoria de Comunicação, mas a assessoria informou que não conseguiu contato com Roseana.
O secretário de Saúde, Luiz Alfredo Guterres, disse, por meio de sua assessoria, que prefere não comentar o assunto enquanto a governadora não formalizar sua decisão sobre o caso.
A reportagem deixou ontem um recado na caixa postal do ex-secretário Ricardo Murad, informando que queria ouvi-lo, mas até o fechamento dessa matéria, na tarde de ontem, ele não havia retornado a ligação.
O JP apurou que Roseana Sarney - por influência do marido Jorge Murad - já teria decidido frear as novas investidas de Ricardo Murad na Secretaria da Saúde. Às vésperas de enfrentar uma campanha eleitoral que promete ser acirrada, ela preferiria manter na secretaria, em vez de um político tido como "espaçoso" como Ricardo, um técnico qualificado e bom administrador - perfil de Luiz Alfredo Guterres, ex-diretor do Hospital Geral.
Isso evitaria decisões políticas desastradas na área, como o corte de recursos estaduais aos municípios, levado a cabo por Ricardo Murad. A medida foi apontada como causa principal da morte de 17 crianças por falta de leitos de UTI em Imperatriz (segunda cidade mais importante do Maranhão), e arranhou de forma irremediável a imagem do governo cujo slogan é "governar é cuidar das pessoas".
Quanto a Ricardo Murad, o mais provável é que ele "desista de desistir" e retome o projeto original de tentar retornar à Assembléia Legislativa, lugar que, segundo ele próprio teria definido, não envolve nada ligado a povo. "Entre meu mandato e o povo, fico com o povo. Meu objetivo agora é trabalhar pelo Maranhão", teria dito Ricardo, na reunião em sua casa, no sábado, 15, em que desistiu da candidatura a deputado e se "autonomeou" novamente secretário de Saúde. Faltou combinar com Roseana e o clã.
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2 comentários:
O sr. deveria ler o Blog do Kenard, ele escreveu um grande artigo sobre a compra de petistas ("PT maranhense vai às compras"). Vale reproduzir. Abraços.
Carlos Silva
Ela preferiu foi fazer o que ela achava certo isso sim. Esse Ricardo só foi manchar o seu governo.
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