As pessoas que moram em Trizidela do Vale ainda não receberam a ajuda prometida a eles em 2009, quando da cheia anterior, e já vivem o mesmo drama novamente. Tudo igual. O governo também, pois nada faz, nem para atenuar o sofrimento dos que estão sofrendo com a calamidade renovada e tampouco para ter o mínimo de controle sobre o Rio Mearim nesse trecho.
Como não pretendem fazer nada mesmo, nem procuram saber se existem possibilidade de atuação, mesmo em médio prazo, para impedir a repetição desses picos de enchente.
E na verdade muita coisa pode ser feita.
Quando eu estava no DNOS, no governo Figueiredo, tínhamos como uma das missões o controle de enchentes. Trabalhamos muito nisso por todo o Brasil. Quase todos os estados brasileiros receberam obras de controle de enchentes e muitos desses estados ficaram livres dessas catástrofes naturais que até aquela data se repetiam. Foi dessa época também que se cogitou o projeto de transposição do Rio São Francisco para o nordeste que agora está sendo realizado. Primeiro pelo presidente Lula e agora pela presidente Dilma. Essa empreitada teve seus estudos financiados pelo Banco Mundial a fundo perdido e recebeu apoio técnico do Ministério do Interior dos Estados Unidos. Foram feitos sob minha gestão no DNOS a pedido do ministro Mário Andreazza. É um projeto que trará muitos benefícios ao Ceará, Rio Grande do Norte e a Paraíba além de beneficiar áreas de Pernambuco.
Nessa época havia um projeto de saneamento ambiental no interior do Rio Grande do Sul que previa a construção de uma grande barragem. Alguns políticos na região não o queriam lá, pois era uma região bastante habitada e para a realização da obra era necessário a retirada de muitas pessoas que deveriam ser removidas para outro local. Deu-se o impasse e, aproveitando aquela situação e evitando a perda dos recursos, eu transferi o orçamento para o projeto do Rio Mearim e mandei detalhar os estudos da barragem do Rio Flores.
Foi assim que foi feita a barragem do Flores. O projeto de controle do Mearim previa a construção de mais duas barragens menores, uma no Rio Grajaú e outra no Corda. Essas barragens, quando prontas teriam o efeito de reduzir, em conjunto com a barragem do Flores, cerca de 55% as enchentes do rio Mearim.
No entanto, para que a contenção das águas possa acontecer de forma eficaz é forçoso que as barragens estivessem com as bacias de acumulação secas no inicio do período chuvoso, a fim de que pudessem receber e amortecer o excesso de água, evitando a enchente rio abaixo. Utilizando este mesmo princípio apenas para a barragem do Rio Flores, verifica-se que isso não está acontecendo ali, pois atualmente ninguém a está operando e, assim, quando começam as chuvas ela está cheia, e consequentemente, não atua para controlar a enchente do rio. Não há onde acumular água.
Pois bem, quando Collor assumiu a presidência da República, acabou com muitas organizações da administração federal, num gesto destinado a causar impacto, e entre essas estava o DNOS. Tudo feito sem base em qualquer estudo e sem a menor racionalidade. Então, desde esse tempo tudo que era do DNOS ficou abandonado. No Maranhão, além do projeto das barragens do Mearim, tivemos também entregue à própria sorte a barragem do Pericumã, que está sendo depredada e destruída. Esta também foi feita na minha época do DNOS.
Quando fui governador do Maranhão, minha gestão foi muito perseguida pela oligarquia e fiquei sem apoio nenhum do governo federal, pois a família impedia qualquer ajuda. Mesmo assim, consegui que o Dnocs fizesse algumas obras de reparo nas comportas e manutenção na barragem do Flores, àquela altura totalmente abandonada e sem fazer operação das comportas.
Sobre esse assunto, agora lhes digo: a governadora Roseana e seu pai, o presidente do Senado José Sarney, se quiserem tem força política suficiente para criar uma unidade do Dnocs ou da Codevasf, a fim de que operem a barragem que já existe, atualizando o projeto e colocando a construção das duas barragens restantes, menores que a do Flores até mesmo como prioridade nas obras do PAC. Podem também colocar um sistema de medição pluviométrica da bacia no alto Mearim e réguas de medição do nível do rio conectadas a um sistema de informática que permita com antecedência saber o nível que as águas atingirão nas cidades rio abaixo.
Além disso, um sistema de diques e casas de bomba poderiam ser executados nos pontos baixos das cidades como Trizidela e outras, reforçando o sistema e permitindo um razoável controle da vazão fluvial durante a época das cheias, evitando calamidades que estamos assistindo com muita frequência.
Portanto, solução há.
Força política eles já demonstraram ter, conseguindo até tirar do exercício do poder um governador eleito, para que Roseana pudesse assumir o governo depois de perder a eleição. Tanta força que até passaram por cima do que dispõe a constituição do estado...
Resta saber se querem fazer.
Pelo retrospecto, vai ser muito difícil!
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