Thomas L. Friedman é um dos jornalistas mais importantes do
mundo, articulista do The New York Times, vencedor de três prêmios Pulitzer e das
obras “O Mundo é Plano” e “Quente, Plano e Lotado”. Livros espetaculares,
leitura obrigatória.
Ele escreveu neste mês de fevereiro dois excelentes artigos
veiculados em jornal com os títulos “Índia, China e Egito” e “A Ascenção da
Classe Média Virtual”, que têm tudo a ver com o nosso estado. Ou deveria ter.
No primeiro, ele compara a Índia, a China e o Egito e procura
analisar aquele que tem melhores condições de crescer de maneira sustentável
nos próximos anos. E parte da seguinte observação: A Índia tem um governo
central fraco, mas uma sociedade civil forte. A China tem um governo central
forte, mas uma sociedade civil fraca. O Egito tem um governo fraco e uma
sociedade civil muito fraca, que foi reprimida por 50 anos, e para a qual foram
negadas eleições reais. Mas há uma coisa que todos os três têm em comum: um
número imenso de jovens com menos de 30 anos, cada vez mais conectados pela
tecnologia, mas com educação muito desigual.
‘Meu ponto de vista’, diz ele, “[é que] dentre os três,
aquele que mais prosperará no século 21 será aquele que der prioridade aos
jovens. Essa será a sociedade que proverá mais educação aos jovens, empregos e
a voz que buscam para atingir seu potencial pleno”. Esta corrida trata-se de “quem é mais
capaz de capacitar e inspirar seus jovens para ajudar na construção de uma
ampla sociedade próspera”. Os países que fracassarem em fazer isso terão uma massa
de jovens não apenas desempregada, mas não empregável. “Eles estarão
desconectados em um mundo conectado, em desespero ao verem outros desenvolverem
e concretizarem seu potencial e curiosidade".
Mas isso não servirá para nada sem uma melhor governança. “Minha
tese” – diz – “é de que a Índia ascendeu apesar do Estado. É uma história de
fracasso público e sucesso privado".
“A Índia cresce à
noite, quando o governo dorme”.
“Mas a Índia precisa
aprender a crescer durante o dia. Se a Índia consertar sua governança antes que
a China conserte sua política, então ela vencerá. (...) É preciso um Estado forte.
Em minha última viagem à Índia,
eu me deparei com algo que eu nunca havia visto antes: uma comunidade política
totalmente nova – a ‘classe média virtual’ da Índia. Seu surgimento explica
muito sobre o aumento dos protestos sociais no país, assim como em lugares como
a China e o Egito. Essa é uma das coisas mais emocionantes que estão
acontecendo no planeta hoje em dia. Historicamente, nós costumamos associar as
revoluções democráticas à obtenção, por parte das classes médias ascendentes,
de determinados níveis de renda per capita anual – digamos, US$ 10 mil por ano
– que permitem que as pessoas se preocupem menos com suas despesas com
alimentação e moradia e mais com a obtenção do status de cidadãos com direitos
e opiniões para influenciar seu próprio futuro.
Mas o mais fascinante é o fato da difusão maciça do acesso
barato e eficaz à internet, via celulares e tablets, durante a última década. E
ela não é impulsionada apenas pelos 900 milhões de celulares em uso atualmente
na Índia, nem pelos 400 milhões de blogueiros da China. O escritório do
Departamento para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos aqui em
Nova Déli me colocou em contato com um grupo de empreendedores sociais indianos
que os EUA estão apoiando – e o poder das ferramentas que eles estão entregando
nas mãos da classe média virtual da Índia, a preços baixos, é de cair o queixo.
A Gram Power está criando microrredes e medidores de eletricidade
inteligentes para fornecer energia elétrica de forma confiável para as áreas rurais da Índia, onde 600
milhões de indianos ainda não dispõem de uma oferta regular (às vezes, nem de
oferta nenhuma) de eletricidade para poderem trabalhar, ler e estudar. Por 20
centavos de dólar por dia, a Gram Power oferece a moradores de vilarejos rurais
um cartão de energia elétrica pré-pago capaz de alimentar todos os
eletrodomésticos deles. A Healthpoint Services está fornecendo água potável
para famílias de seis pessoas por cinco centavos de dólar por dia, além de
consultas médicas via internet por 20 centavos de dólar a visita. Atualmente, a
VisionSpring está distribuindo exames e óculos de grau para os cidadãos pobres
da Índia por preços que vão de US$ 2 a US$ 3 cada. O Instituto para a Saúde
Reprodutiva está alertando mensalmente as mulheres a respeito de seus dias
férteis usando mensagens de texto – que informam que o sexo sem proteção não
deve ser praticado no período indicado para evitar uma gravidez indesejada. E a
Digital Green está fornecendo sistemas de comunicação de baixo custo a
agricultores e grupos de mulheres indianos para promover um intercâmbio e
mostrar a cada um deles suas melhores práticas por meio de filmes digitais
projetados em um chão de terra batida.
Estas tecnologias ainda precisam ganhar escala, mas estão no
caminho certo. E elas estão permitindo que outros milhões de indianos pelo
menos acreditem que fazem parte da classe média e se sintam dotados do poder
político que acompanha essa condição social. Drasticamente os custos da
conectividade e da educação – tanto que um número muito maior de pessoas da
Índia, da China e do Egito, apesar de ainda ganharem apenas alguns dólares por
dia, agora têm acesso ao tipo de tecnologia e aprendizado anteriormente associado
apenas à classe média e uma sociedade forte, de modo que a sociedade possa
fazer o Estado prestar contas. A Índia só terá um Estado forte quando o melhor
da sociedade se juntar ao governo, e a China só terá uma sociedade forte quando
os melhores mandarins ingressarem no setor privado”.
É por isso que hoje a Índia tem uma classe média de 300
milhões de pessoas, além de outras 300 milhões de pessoas que fazem parte da
classe média virtual – um contingente que, apesar de ainda ser muito pobre,
exige cada vez mais os direitos, as estradas, os serviços de energia elétrica,
os policiais não corrompidos e um bom governo – demandas normalmente associadas
às classes médias emergentes. Esses cidadãos estão colocando mais pressão do
que nunca sobre os políticos eleitos da Índia para que eles se emendem e
governem do jeito certo.
A formação de uma classe média virtual, que não tem a renda
da classe média indiana, mas reivindica igual e se porta como classe média o
que fez com que essa dobrasse de tamanho e de 330 milhões de pessoas passasse a
600 milhões vai mudar a índia e seu fraco governo.
E é um país de renda per capita muito baixa e cheio de
carências. Igual ou pior ao Maranhão rural. Mas está encontrando soluções de
baixo custo.
A população do Maranhão é a que tem menos acesso a internet
entre todos os estados brasileiros e menor acesso a educação de qualidade,
sistema de saúde, saneamento e segurança. O governo paralisado e desligado dos
verdadeiros problemas que impedem o desenvolvimento do estado, da melhoria de
renda e do nível educacional não faz nada, nada mesmo, para mudar as coisas por
aqui. Não é carnaval caro e dispendioso que vai mudar.
Esse é o verdadeiro combate à pobreza. Capaz de mudar as
coisas.
Uma viagem à Índia para estudar tudo isso seria muito
importante. Mas as rotas desse governo são outras. Nada se pode esperar.
Mas a soluções estão aí à espera de governos melhores e comprometidos
com o Maranhão.
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