O Papa Francisco é um dos nossos. Da América Latina, nascido
na Argentina, conhece nossa realidade de pobreza e iniquidade. Conhece os
nossos políticos e o que eles construíram e continuam a construir por aqui. A
demagogia, a corrupção, a pobreza de um povo abandonado, das profundas
carências da educação ofertada por aqui, do descompromisso com a saúde, com a
segurança, com a preparação e a formação dos jovens em meio ao abandono em que
vivem. Presas fáceis dos traficantes e das drogas que liquidam com famílias
inteiras abandonadas pelo poder público. Do desemprego dos jovens, da falta de
esperança que leva às revoltas e ao repudio da classe política. Sabe da
pobreza, da desvalia e não esconde a sua preocupação com o mundo que está sendo
construído por aqui, das idolatrias fúteis, de falsos e ocos líderes que não
levam a nada, da apologia à riqueza e ao egoísmo. Conhece a falsa felicidade
decorrente dessas ilusões.
Tudo isso ele conhece muito bem. E como conhece, quer mudar
essa realidade. E em decorrência disso, ele prega profundas modificações na
atitude de todas as pessoas. E dos padres e bispos também.
E elegeu os jovens como foco dessa mudança, tão ameaçados
pelo desemprego, pela descrença em tudo e por não ver nos políticos um discurso
e uma prática com a mínima sintonia com a realidade em que está imerso.
Pois bem, em seu discurso logo depois que chegou, ao lado das
maiores autoridades políticas do país, Francisco disse que “a juventude está em
crise” e corre o risco de “nunca trabalhar”, logo depois de ouvir a presidente
fazer um discurso deslocado do momento, porque laudatório de seu próprio
governo que sofre no momento grande contestação manifestada nas ruas por tanta
gente, em sua maioria jovens. O papa cobrou educação e meios materiais para que
os jovens possam se desenvolver. E alertou para o risco de se criar uma geração
perdida diante da incapacidade de os jovens encontrarem trabalho. E cobrou dos
políticos: “Nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada
jovem quando souber abrir-lhes espaço: tutelar as condições materiais e
imateriais para o seu pleno desenvolvimento, oferecer a ele fundamentos
sólidos, sobre os quais construir a vida, garantir-lhes a segurança e educação,
para que se torne aquilo que pode ser”. Disse ainda o pontífice: “estamos
acostumados com uma cultura descartável. Fazemos isso com frequência com os
idosos e, com a crise estamos fazendo o mesmo com os jovens. Precisamos de uma
cultura de inclusão”. E completou: “É verdade que os jovens são o futuro do
povo, porque tem energia. Mas eles não são os únicos que representam o futuro.
Os idosos também, porque tem a sabedoria da vida”.
Miriam Leitão, por sua vez, em sua coluna Panorama Econômico,
mostra os dados. Com o título ‘Futuro Ameaçado’, diz que “a juventude está
ameaçada em vários aspectos. A morte prematura dos rapazes ronda os jovens no
mundo inteiro. O desemprego dos jovens é alto até no Brasil em que a taxa geral
está baixa. (A taxa de desemprego global do país é de 5,8% mas a dos jovens entre 18 e 24 anos é de
13,6% e crescente). Na Europa há o risco de uma geração perdida. E há os jovens
que não trabalham nem estudam. A
juventude sempre esteve exposta a riscos, mas agora eles se agravaram”. A repórter
continua dizendo que “a frustação pode causar traumas e inseguranças que a
pessoa carregará a vida inteira. As pessoas que tem responsabilidade e poder no
mundo, qualquer que seja a sua área de atuação, pode ser formador de opinião,
empresário, professor, formulador e executor de política pública precisam
entender que estamos errando dramaticamente com a juventude”.
O Papa chama o traficante de “mercador da morte” e critica
liberar uso de drogas. “Não é deixando livre o uso de drogas, como se discute
em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a
influência da dependência química”, disse o Papa. Para ele, a solução não vem
de liberar o uso, mas de uma estratégia para “enfrentar os problemas que estão
na raiz do uso das drogas, promovendo maior justiça, educando os jovens para os
valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando
esperança no futuro. Visitando um polo de atendimento integral a dependentes
químicos, disse que a função da igreja não é condenar, mas prestar
solidariedade que gere esperança e força necessária à superação. Tanto em
Aparecida como no Rio, fala da moral católica e de seus valores maiores:
solidariedade, fraternidade, amor, alegria, esperança. Não um moralismo de
condenação e fechamento, mas uma moral positiva. Uma moral em que os vetos
existem, mas ganham seu real sentido de defesa do amor e da realização, afinal,
o mal sempre deverá ser condenado, se queremos o bem. Esse é seu maior desafio:
mostrar ao mundo a moral católica como amor e esperança.
Em uma favela “pacificada”, ele falou que a UPP não será
solução, se os problemas sociais não forem sanados. E convocou os jovens a
continuar a protestar contra corrupção. Para ele, “a grandeza de uma nação só
pode ser medida a partir de como trata seus pobres”, conclamou.
E olha que o Papa Francisco nem conhece o Maranhão. Mas já
deve ter ouvido falar dos nossos “líderes”...
E para concluir, o anúncio da desistência de Lobão, que, como
todos sabem, é quem detém mais votos no grupo do governo, só quer dizer uma
coisa: experiente como é, chegou a conclusão que a causa está perdida e que seu
grupo não tem a menor chance de fazer o governador. Do contrário, não abriria
mão da candidatura.
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