É muito difícil para qualquer um, por mais experiente que
seja, falar de coisas em que não acredita. Acaba por se trair. Foi o que
aconteceu com o experiente deputado Sarney Filho, quando tentava mostrar em
discurso na Câmara que o Maranhão governado por sua irmã Roseana Sarney estava “bombando”
de tanto progresso. No final de sua fala, contudo, acabou cometendo um
sintomático “ato falho”, usando o bom jargão psicanalítico, quando, muito
empolgado, comparou o estado a um caminhão descendo uma ladeira. Sem freios, completou a oposição.
Tudo começou com uma palestra do ministro Ricardo Paes de
Barros em São Luís, formulada para tentar atender a uma solicitação do senador
José Sarney, que busca há tempos uma desculpa para a terrível situação do
Maranhão, pior estado da federação em todos os parâmetros sociais. O ministro é
persona mui grata, velho colaborador da família, para quem trabalhou como
consultor contratado por diversas vezes.
Com efeito, Paes de Barros na verdade fez uma análise de
pretensos resultados da Bolsa Família, programa inteiramente do governo federal.
E passou por cima de uma polêmica, ao afirmar que uma renda de 70 reais por mês
tira o cidadão da extrema pobreza. Esse dado não é muito bem aceito pelos
estudiosos, já que é oriundo de uma leitura ultrapassada de uma definição dada
pela ONU, em que uma renda de 50 dólares por mês separaria a extrema pobreza da
pobreza. O problema é que, quando isso foi estabelecido, a quantia de cinquenta
dólares equivalia a setenta reais e nunca mais foi corrigido ou atualizado. Se
fosse, esse valor seria de 110 reais, já que o dólar equivale hoje a mais ou
menos dois reais e vinte centavos.
Resultado disso é que muitas dessas pessoas na verdade
continuavam na situação de pobreza absoluta e estariam ganhando com o Bolsa
Família menos que o equivalente aos cinquenta dólares, comparados ao paradigma
dos setenta reais que querem passar-nos como verdade.
Apenas Marketing. A situação não se alterou em nada porque os
indicadores não mudaram. É incrível a falta de seriedade que domina o país. Se
não concordar, tente viver com setenta reais por mês...
Vejam o que disse um grande estudioso do assunto ao tomar
conhecimento desse discurso:
“Ricardo Paes, se fez um pronunciamento desses, está muito mais
preocupado é em preservar o emprego. Uma pena que use a inteligência para
mostrar informações que não encontramos. Não sei de onde saíram essas
informações. A PNAD não desce a detalhes assim. Informações de municípios somente
são disponíveis nos Censos Demográficos. E lá, mostra a realidade que lhe
passei naquele texto que vai ser publicado em livro. O rapaz, deputado, está
delirando. O amigo conhece melhor esses números de estradas e de hospitais do
que eu e tem mostrado que tudo isso não passa de falácia. Dois leitos por mil
habitantes é delírio. Até porque os hospitais quando foram construídos, não têm
como funcionar.
Ele fala no potencial agrícola do Maranhão, mas a secretaria
que trata da agricultura familiar virou penduricalho de uma Secretaria de Ação
Social e os Agrônomos, Veterinários e técnicos agrícolas passam o tempo todo cadastrando
pessoas para a bolsa família. Assistência técnica inexiste. Produção de alimentos
em curva descendente.
Agora os culpados pelo atraso do Maranhão são os cearenses,
paraibanos, baianos, potiguares que migraram para aí por causa da seca. Isso
aconteceu ainda nos anos sessenta e setenta. Agora são os maranhenses que
abandonam o estado. Um desfile de fantasias.”
É isso que dar tentar criar factoides e pretensas
estatísticas a favor de uma tese. O senador José Sarney luta desesperadamente
para conseguir mostrar - na televisão, pelo menos - que o Maranhão está muito
bem e que o que é divulgado pelo IBGE, IPEA, PNAD, ENEM, IDEB etc. é apenas uma
formidável invenção da oposição do Maranhão. Não dá, senador, porque em nenhum
dos dados estatísticos disponíveis existe qualquer base para afirmações como
essa de Ricardo Paes de Barros! Para isso é preciso trabalhar, ter projetos,
planos, desejo de mudar. Coisa inexistente no governo de Roseana.
Na verdade, todos sabem, é apenas mais uma tentativa de
mostrar um Maranhão que não existe. E, se não existe, é porque sufocaram o
estado trazendo para cá uma política de dominação e medo. Acharam que isso
seria suficiente, já que são donos de poderoso sistema de comunicação. E nunca
tentaram ao menos conhecer e estudar os nossos problemas, para que pudessem
mudar essa realidade.
Enfim, falando da realidade, ela é mesmo tal qual a que o
deputado Sarney Filho descreveu no seu ato falho. Estamos cada vez mais descendo
a ladeira, cada vez piores e mais pobres. Foi apenas uma coisa ridícula.
E para concluir, denuncio mais uma vez o gravíssimo problema
da falência da segurança no Maranhão. Já aconteceu o que todos temiam: no mês
de Outubro o número de assassinatos na região metropolitana, não só atingiu o
número cem, mas ultrapassou por larga margem, chegando a cento e oito mortes
violentas. Uma corrida macabra patrocinada pelo governo do estado que, para não
deixar dúvidas de sua irresponsabilidade, corta profundamente o orçamento da
Segurança Pública para 2014. Será que não conseguem enxergar as coisas estapafúrdias
que fazem? Se este fosse um governo responsável, veríamos números aumentados e
atitudes condizentes.
É caso perdido mesmo.
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