O governo federal fez uma bagunça tão grande no setor elétrico
brasileiro que agora não sabe como sair. Amadorismos sucessivos acabaram por
descapitalizar o setor elétrico, obrigando um grande aumento das tarifas tanto
residenciais quanto industriais. Tudo isso sem levar em conta a estiagem que já
acontecia naquele momento e que acabou por produzir uma “tempestade perfeita”,
característica do momento em que nada dá certo, todas as variáveis em conjunto
e ao mesmo tempo fracassam. Isso sem contar as seguidas declarações da
candidata Dilma Rousseff na campanha de reeleição, afirmando que tudo estava em
ordem, que não haveria aumentos de tarifas de energia, nem racionamentos, pois
tudo estava sob controle. Pronto. Tempestade perfeita.
Hoje, tendo em vista a grave situação, os técnicos da área aconselham
adotar um racionamento estudado e bem estruturado, tentando causar o menor dano
possível à população brasileira, preservando ao máximo as bacias hidrográficas
onde existem usinas hidrelétricas. Esse racionamento teria que começar em abril
– agora – no início do período de estiagem, evitando grandes problemas. Se isso
não ocorrer, aí sim estará aberta a temporada de apagões. Em outras palavras, a
falta controle penalizando profundamente todos os setores da economia e
prolongando a situação nefasta por mais de um ano.
O governo, paralisado, nada faz e torce para que a recessão econômica
que domina o país, e o preço das tarifas que assustou o consumidor e diminuiu o
consumo de energia elétrica empurre o problema para diante, talvez até para
2016. Mas o que poderá acontecer se os reservatórios das hidrelétricas não se
recuperarem e se a estiagem continuar por mais algum tempo?
A situação hoje é a
seguinte: a principal região produtora de energia hidrelétrica é o
Sudeste/Centro-Oeste, que produz 70% do total do parque hidrelétrico e que no
dia 31 de março tinha apenas 28,54% de água nos reservatórios. A segunda região
mais importante é o Nordeste, que participa com 18% do total e tinha só 23,53% de
volume hídrico em seus reservatórios. No Sul, que participa com menos da metade
da participação do Nordeste, em torno de 7,0%, havia 39,3% de volume, e no
Norte que participa com cerca de 5,0%, temos 61%. E em abril começa a estiagem
e a partir de maio não mais choverá até outubro, quando tem início o próximo período
chuvoso
Portanto, o governo
escolheu nada fazer e rezar para que o consumo diminua e os preços reduzam o
consumo, pois desde fevereiro de 2014 o reajuste da conta de luz chega a quase
60%. Um absurdo.
Hoje o Brasil tem as
tarifas entre as mais altas do mundo para a indústria, contribuindo
sobremaneira para o aumento do chamado “custo Brasil”. Entre 28 países
pesquisados, tomando-se os preços em reais por megawatts utilizados (R$/MW), somente
a Índia, que cobra tarifa de 596,96 e Itália com 536,14, estão mais caros que o
Brasil, cujo preço cobrado é 498,28. O Canadá cobra 129,87, Estados Unidos
cobra 128,23 e Argentina 57,63. Todos os outros países do mundo tem tarifas
para a indústria mais baratas que o Brasil.
E o Maranhão? Nosso
estado tem tarifas caríssimas. Praticamos o preço mais elevado da região
nordeste, cobrando 506,13. Em âmbito
nacional, entre os vinte e sete estados, 17 tem tarifas mais baratas do que as
nossas. E olhem que nós produzimos aqui o dobro da energia que consumimos.
A Comissão de Minas e
Energia da Câmara dos Deputados está discutindo um projeto muito interessante,
capaz de aliviar o peso das tarifas onde atualmente os consumidores não têm
opção e são obrigados a comprar energia de concessionárias das quais são
clientes cativos, sem opção. Trata-se da portabilidade de conta de energia, ou
seja, não importa em qual estado brasileiro o usuário estiver, ele poderá ser
cliente de qualquer concessionária em qualquer outra unidade federativa.
Isso já vale para o
consumidor industrial e cerca de 60% do PIB industrial brasileiro adquire
energia no mercado livre. Seria uma inovação brasileira? Não. Dezenas de países
já praticam a portabilidade, como países europeus, os EUA, Japão e até muitos
países da América do Sul, como Chile, Uruguai, Peru. Pesquisas mostram que os
consumidores desses países estão muito satisfeitos e sondagem realizada pelo
IBOPE no Brasil mostra que 66% dos consumidores gostariam de poder escolher o
seu fornecedor. Os motivos principais são o preço, a qualidade do atendimento e
a procura por energias mais limpas.
O que acontece hoje no
setor industrial é mais do que suficiente para demonstrar os benefícios dessa
escolha. Nos EUA já ficou muito bem demonstrado que “mercados onde o consumidor
pode escolher seu fornecedor de eletricidade apresentam preços mais baixos”.
Nos estados americanos onde isso não ocorre, as tarifas do setor residencial subiram 4,3% e
naqueles em que é permitido, houve uma queda nos preços de 5,8%.
E na prática como
será? Por exemplo, a Companhia Elétrica de Brasília (CEB) é a empresa que cobra
menos pela energia que fornece. Por que não comprar energia dessa companhia, já
que todo o sistema está interligado, e é uma coisa só? Somente os estados do
Amazonas, Roraima e Amapá não estão interligados e assim não poderiam fazer
parte do sistema.
E como funcionaria? O
consumidor verificaria qual empresa é mais conveniente para ele e faz um
contrato de dois anos com ela. Isto é, mesmo estando aqui no Maranhão, onde vigora
uma das tarifas mais altas do país, o usuário pagaria a tarifa da empresa de
outro estado que tivesse contratado. Ao final do contrato, este poderia ser
renovado ou então o usuário poderia firmar um novo instrumento com outra empresa
que lhe fosse mais conveniente. Isso obrigaria as
empresas a serem mais competitivas e acabariam os fregueses cativos que se
tornam, por esse motivo, cativos, sem opção de tarifa.
Pois bem, para isso ser
feito, a legislação atual teria que ser modificada e modernizada. Mas uma coisa
é certa: o consumidor teria muito a ganhar com essa opção.
A boa notícia é que a Comissão de Minas e Energia da Câmara dos
Deputados começa a discutir o assunto. E
contam com meu total apoio.
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