A cada dia as coisas se complicam mais para o Brasil e para o governo
federal. Na área política tudo é incerto. O presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, vê suas opções de sobrevida se encurtarem dramaticamente, pois o trunfo
que tinha, que é a decisão sobre o impeachment da presidente da república, vai
se estreitando. Isto, porque já não pode confiar em ninguém, já que o peso da
opinião pública, ao sabor dos fatos revelados pelas investigações da Lava Jato
e outras em andamento, vai caindo com força sobre os políticos e tudo muda dia
após dia. Os acordos de ontem já não valerão amanhã.
Cunha já viu que o PT nega solidariedade até aos seus mais ilustres
membros colhidos em mal feitos, como agora acontece com um dos mais poderosos
petistas, Delcídio Amaral, líder do governo no Senado. E porque eles não são
mais os “guerreiros do povo brasileiro”, como era o costume? Por causa da
imprensa livre, pelo peso da opinião pública que a tudo muda.
Aturdidos, paralisados e sem
ação, não sabem o que fazer. Pagam agora pelas irresponsabilidades e loucuras
cometidas no passado. O Brasil está sem dinheiro até para pequenas despesas. A
conta chegou.
Dessa forma, na parte econômica tudo segue piorando. E o próximo ano
já está contaminado. Pela primeira vez teremos no Brasil uma recessão que
ultrapassa um ano. Para que tenhamos
ideia das dificuldades em que se envolveu a nossa economia, vou transcrever
trechos de um artigo do senador José Serra publicado no Estadão na última
quinta-feira, que é um abrangente estudo sobre o quadro atual da nossa
economia. Segue:
“Não há necessidade maior para as pessoas que vivem em comunidade que
a de serem governadas, autogovernadas se possível, bem governadas se tiverem
sorte, mas, em qualquer caso, governadas”.
Walter Lippman
A economia brasileira passará o réveillon na UTI e nela permanecerá
por bom tempo. Sabemos hoje que os vaticínios pessimistas sobre 2015 foram
demasiado amenos. A realidade, como se vê neste final de ano, acabou sendo bem
mais adversa. O principal indicador do nível da atividade econômica, o PIB,
teve contração em torno de 3%. De ponta a ponta, ou seja, comparando este
último trimestre com o mesmo período de 2014, a queda estimada é mais forte:
4,5%.
Como o setor agropecuário, ao longo do ano, teve desempenho razoável –
cresceu em torno de 2% – e a área de serviços sempre varia em torno da média,
os dados ruins do PIB escondem algo pior: a evolução catastrófica da indústria
manufatureira, cujo produto caiu em torno de 11%. A marcha para a ruína do
setor, iniciada pela política econômica do segundo governo Lula, prossegue
implacável. Basta mencionar que o produto industrial nunca mais superou o nível
de 2008. Eis a grande marca econômica da era petista: a desindustrialização do
Brasil.
A pesquisa mensal do comércio aponta declínio superior a 11% nas
vendas no varejo, batendo com o declínio da massa salarial, da ordem de 10,5%
de outubro a outubro. Já os investimentos do conjunto da economia têm caído
aproximadamente 12% – causa e efeito da queda da indústria. A contração dos investimentos
governamentais atinge espantosos 40%!
Do lado do emprego, os números absolutos são impressionantes: no
acumulado de 12 meses houve destruição líquida de 1,4 milhão de vagas (carteira
assinada) – 557 mil na indústria de transformação e 442 mil na construção civil
–, acertando em cheio setores de menores rendimentos. Igual pode ter ocorrido
com a remuneração dos trabalhadores no setor informal. Em outubro os
rendimentos reais dos brasileiros foram 7% inferiores aos de outubro de 2014.
Pelo menos 1 milhão de assalariados formais perderam seu plano de
saúde juntamente com o emprego. Os gastos reais do SUS, incluindo Estados e
municípios, caíram em torno de 5% nos dez primeiros meses de 2015 em comparação
com 2014. O colapso das finanças municipais e estaduais é assombroso e
compromete diretamente o atendimento nas áreas sociais. No caso dos Estados,
entre janeiro e agosto, em relação ao mesmo período de 2014, as receitas reais
caíram em média 5,4%.
E o futuro próximo? As previsões sobre o PIB apontam para a
persistência da retração em 2016, cerca de 2%, que será mais intensa no
primeiro semestre.
Do ponto de vista social, ou seja, da oferta de serviços básicos, dos
rendimentos e do emprego, o quadro adverso de 2015 vai se acirrar nos próximos
meses. Em parte isso se deve ao fato de que as consequências do desemprego
sobre a renda e a demanda das famílias são proteladas no Brasil por causa dos
benefícios recebidos por quem é demitido. Assim, o trabalhador com carteira
assinada que perde o emprego recebe pelo menos o saldo do FGTS recolhido, mais
multa de 40% sobre esse saldo, seguro-desemprego, aviso prévio de um mês,
férias proporcionais (incluindo o abono de férias) e fração de 13.° salário.
Somados, esses benefícios dão alívio temporário aos recém-desempregados. Por
isso os efeitos da onda recente de desemprego tenderão a se manifestar com
intensidade crescente nos primeiros meses de 2016.
Além dos naturais efeitos da contração industrial que se espraiam por
toda a economia, tudo indica que o País se confrontará com a retração da oferta
de crédito das instituições financeiras públicas e privadas, cada vez mais
temerosas com a insolvência das empresas e alarmadas com o naufrágio de
projetos que envolvem a Petrobras, como é o caso da Sete Brasil.”
Serra continua adiante: “[...] o déficit público agregado e acumulado
aumenta 115% em 12 meses, passando de R$ 250 bilhões em setembro de 2014 para
R$ 536 bilhões um ano depois! Só de juros os gastos chegaram a R$ 510 bilhões
no período – cerca de cinco vezes o Orçamento federal da educação e 18 vezes o
Bolsa Família.
De fato, minha sensação, ou conclusão, é de que dias melhores não
virão. A menos que...
A menos que haja uma mudança política de grande profundidade. Ou seja,
a economia dependerá mais do que nunca da política. O atual governo, inepto,
inseguro, sem rumo nem sustentação congressual, é um elo decisivo do círculo
vicioso que empurra o Brasil para trás e para baixo.
Lembro, a esse respeito, a opinião externada em discurso na semana
passada por um senador do PSB, Fernando Coelho. Ele propôs que a presidente
Dilma Rousseff incite a Câmara de Deputados a apreciar ao menos um dos pedidos
de impeachment que se acumulam na Casa. Se vencesse, retomaria alguma condição
de governar. Se perdesse, abriria a chance de o Brasil se voltar para o futuro.
Do jeito que vai, só lhe restará contemplar o barco que não dirige continuar à
deriva no mar bravio.”
Depois dessas palavras por ora nada resta a acrescentar.
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