Deu em O Estadão: Desde o ano passado vimos criticando a política do governo de criar uma demanda artificial para obter maior crescimento econômico. Com isso, o que se criou foi uma situação muito desconfortável para o governo: não pode retirar de repente os incentivos à demanda, que contribuíram para aumentar as importações, por sua vez, estimuladas pela valorização do real - e o País corre o risco da acumular déficits nas transações correntes do balanço de pagamentos.
O primeiro estímulo a um aumento artificial do poder aquisitivo foi a criação do crédito consignado em folha de pagamentos, que, dando maiores garantias à instituição financeira, opera com taxa de juros muito inferior à do crédito pessoal e acabou estendido aos aposentados. Representa, hoje, em torno de 57% de todo o crédito pessoal. O propósito era positivo, mas a medida deveria ter sido acompanhada por uma limitação estrita da parcela empenhada dos vencimentos do tomador.
Com a redução das taxas de juros - apesar de continuarem elevadas, em termos relativos - se criou uma competição de ofertas em que as empresas procuram estender ao máximo os prazos dos financiamentos. Cresceram também as operações longamente parceladas nos cartões de crédito, que chegaram a 52% de todo o movimento de vendas do comércio. A tudo isso acrescentou-se o crédito imobiliário - facilitado e barateado -, que, por sua própria natureza, é de longo prazo.
A velocidade com que se criou um grande aumento da demanda (sustentada ainda pela política assistencial do governo) não permitiu uma adaptação rápida da oferta interna ao volume da demanda doméstica, com a diferença sendo coberta por importações, graças a uma taxa cambial valorizada que permitia adquirir bens importados a um custo menor do que os produzidos pela indústria nacional. Surge, assim, uma situação delicada para a balança comercial, que enfraquece as contas externas.
É muito difícil, para o governo, recuar dessa política de estímulos artificiais à demanda, como ficou claro com a reação negativa e peremptória do presidente da República à idéia do ministro da Fazenda de reduzir os prazos do crédito.
E ainda há outra ameaça: a do crescimento da inadimplência, caso ocorra queda da atividade econômica. O exemplo dos EUA mostra que a inadimplência atingiu o maior nível em 16 anos, não apenas no crédito imobiliário, mas também nos cartões. Caberia meditar sobre esse exemplo.
Comentário do Blog: Parece que além da sorte, ou dedo de Deus, como diz Delfim Neto, Lula resolveu turbinar resultados de uma demanda interna que pode ser artificial como denuncia esse artigo do jornal “Estado de São Paulo”. Seja como for, se é artificial, um dia terá fim. E como será esse fim? Como o que aconteceu nos Estados Unidos com o crédito imobiliário? Creio que não, a situação tem diferenças muito grandes. Mas tudo dependerá de como o governo vai equilibrar esse desequilíbrio latente na economia brasileira. Seja como for, o povo adorou e Lula “foi para a galera”. Tomara que tudo termine bem, embora o endividamento das famílias vá chegando a 9 meses de salário e muita gente já esteja contraindo empréstimos para pagar empréstimos mais antigos. Deus vai ter que reconfirmar a sua nacionalidade brasileira!
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