domingo, 1 de junho de 2008

O Maranhão e a Crise Mundial da Produção de Alimentos

Reproduzo abaixo artigo do Professor José Lemos:


O Maranhão e a Crise Mundial da Produção de Alimentos

A elevação dos preços dos alimentos no mundo veio para ficar. Mesmo que cresça a sua produção por causa do estimulo dos preços, ainda assim eles não serão flexíveis para baixo, como aprendemos com Keynes. A estabilização dos preços dos alimentos ocorrerá em patamares bem mais elevados do que os observados até recentemente.

A disparada dos preços do petróleo, que nesta semana voltou a ultrapassar US$ 130,00 por barril, devidamente condimentada pela utilização de milho como fonte de bioenergia nos Estados Unidos e Europa, principalmente, são alguns dos ingredientes que constroem o cenário de escassez e que induzem ao encarecimento da comida no mundo. Vale ressaltar que os paises desenvolvidos ainda subsidiam a produção de alimentos e de matérias primas para biocombustiveis. Esses subsídios inviabilizam a capacidade competitiva dos paises pobres que tem na produção agrícola o seu principal item de vantagem comparativa. Além disso, o subsidio à bioenergia nesses países, contribui para a substituição de áreas destinadas à produção de alimentos por produção de agroenergia.

Dentre os produtos alimentares, o arroz é o cereal mais importante da dieta de quase todos os povos no mundo, teve o seu preço duplicado em menos de um ano. O Brasil não passa ileso deste cenário internacional e já se observa pressão inflacionaria vinda principalmente dos itens que compõem a cesta de alimentação dos brasileiros, sobretudo dos mais pobres, inclusive com grande elevação do preço do arroz.

Nesta conjuntura nacional e mundial o Maranhão detém um grande potencial para ocupar vácuos tanto na produção de alimentos como na de matérias primas para a bioenergia. Com efeito, o Maranhão já foi o terceiro maior produtor de arroz do Brasil no começo dos anos de 1980. Em 1982, o Maranhão plantou a maior área de arroz desde que o IBGE começou a fazer registros em 1933 (1.167.204 hectares). Naquele ano os arrozeiros maranhenses colheram a maior produção histórica de 1.575.030 toneladas. Portanto com uma média de 1,35 toneladas por hectare. Em 1982, o Maranhão também teve as maiores colheitas de feijão, mandioca e milho, que juntas ao arroz, chegaram a 3.584 gramas diárias por habitante naquele ano. Também o maior registro histórico desde 1933.

Em função de uma série de equívocos na condução da política agrícola do Estado, que começou em nível Federal em 1985, a área colhida de arroz no Maranhão chegou ao fundo do poço em 1998, atingindo inacreditáveis 425.736 hectares. Naquele ano os arrozeiros maranhenses colheram apenas 380.953 toneladas, portanto com um rendimento medíocre de 894,81 quilos por hectare (66,3% da média de 1982 que já era baixa).

De acordo com o Censo Agropecuário de 2007 a área total do Estado é de 14.984.830 hectares, dos quais 4.077.548 estavam ocupados com lavouras (perenes e temporárias); 6.162,.692 hectares eram de pastagens nativas ou cultivadas e 4.641.773 hectares estavam cobertos com matas e florestas nativas ou cultivadas. Em 1982, arroz, feijão, mandioca e milho ocupavam 2.288.113 hectares. A partir de 2002 o Maranhão iniciou a retomada da sua atividade agrícola com a participação ativa do Estado. O conjunto de ações que reconstruiu o aparato institucional e técnico voltado para o setor fez o Maranhão concluir 2006 com uma área agregada daquelas culturas de 1.235.692 hectares.

O grande desafio para o Estado seria retomar até 2010 a área que foi colhida em 1982 com essas culturas alimentares e elevar as respectivas produtividades da terra. Isso é possível mediante acesso dos agricultores familiares a todas as modalidades de crédito do PRONAF. Através da melhoria e da ampliação dos serviços de assistência técnica, pesquisa e extensão rural, seria possível elevar a produtividade do arroz para quatro (4) toneladas por hectare; a do feijão para uma tonelada por hectare; a da mandioca para 15 toneladas por hectare e a do milho para duas toneladas por hectare. Isso sendo feito sem derrubar uma única árvore das matas e florestas do Estado, mas, ao contrário fazendo ações paralelas de recuperação das áreas degradadas do Semi-Árido maranhense onde sobrevivem mais de 1,2 milhões de brasileiros.

Apenas com essas ações a produção total desses quatro itens saltaria para aproximadamente 13,8 milhões de toneladas. Considerando somente o arroz o Maranhão produziria aproximadamente 4,5 milhões de toneladas. Aos preços de hoje, em nível de produtor, isso significaria para os agricultores e para o Maranhão um montante entre cinco e 5,4 bilhões de reais. O PIB do Maranhão em 2005 foi de R$ 25,33 bilhões. Portanto, em valores de hoje, apenas essa produção representaria 21,32% de todo o PIB do Estado. Tudo isso dependeria apenas de uma série de ações proativas. Um grande desafio!


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José Lemos é Engenheiro Agrônomo e Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. lemos@ufc.br. Autor do Livro “Mapa da Exclusão Social no Brasil: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre”.

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