segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Reproduzo abaixo artigo do Professor José Lemos:



Algumas Reflexões para Debater um Projeto para São Luís


Estamos novamente em período de eleições no Brasil, em que pretendentes de todos os perfis fazem muitas promessas tentando seduzir os eleitores. Nessa busca de votos observa-se que a maioria dos candidatos utiliza lugares comuns e frases prontas. Respaldados por “marqueteiros” dizem o que imaginam ser o que o eleitor quer ouvir. Alguns, evidentemente, conseguem se eleger, e ao assumirem os respectivos mandatos “esquecem” o que foi prometido nos palanques. Este comportamento tem levado os políticos brasileiros a serem nivelados por baixo, e o exercício de mandato eletivo, que é fundamental para a democracia, vem caindo na vala comum do descrédito.

Com a experiência de alguns anos de Academia, e nesse período ter produzido trabalhos que tentaram entender as causas da pobreza e como fazer para mitigá-la é que resolvi explicitar algumas idéias. Não há a pretensão de ser dono da verdade nem de trazer projetos acabados. Há apenas a intenção de disponibilizar para a sociedade da terra com a qual mantenho vínculos fortíssimos de responsabilidade social alguns conhecimentos que adquiri na vida. Pesa também o fato de ter participado da equipe do ex-Governador Zé Reinaldo que criou e executou um conjunto de ações que ajudou a retirar o Maranhão da estagnação social e econômica em que se encontrava na virada deste milênio.

Como demonstramos em artigo do dia 2 de agosto deste ano neste espaço, São Luis entrará em 2009 com 26% da sua população, ou 260 mil pessoas, socialmente excluídas. Estima-se um déficit habitacional entre 65 mil e 75 mil imóveis. Obviamente que as prioridades devem ser reduzir drasticamente esta divida social que inclui também reduzir o percentual de excluídos, levando àqueles ainda privados desses serviços, água encanada, saneamento, coleta de lixo e reduzindo-lhes a taxa de analfabetismo.

São Luís precisa aumentar e preservar a sua área verde. O próximo Prefeito poderia liderar um grande mutirão para arborizar a cidade. Isto poderia ser feito de forma simultânea através da expansão e a introdução de novas áreas de preservação permanente, mas também através de projetos de arborização de curto, médio e longo prazo. Existem espécies arbustivas e arbóreas que tem maior precocidade, e que no primeiro momento seriam plantadas com maior densidade. Assim o planejamento envolveria o plantio escalonado de espécies frutíferas e ornamentais com diferentes períodos de crescimento.

As reservas do Rangedor e do Itapiracó poderiam ser transformadas em parques ou Jardins Botânicos. Esta ação deveria ser feita em sinergia com o Governo do Estado, de tal forma que as espécies que fazem parte daquelas reservas seriam identificadas com nomes científicos e vulgares, e assim também tendo utilidade didática. Dentro desses parques seriam construídas trilhas ecológicas por onde as pessoas poderiam fazer passeios, exercícios aeróbicos, e praticar esportes. Ações que deveriam ser complementadas com a construção de logradouros públicos para o lazer das famílias, sobretudo nos seus bairros mais pobres. Tudo isso junto tornaria a cidade mais humanizada.

O patrimônio cultural e arquitetônico de São Luis é muito rico e diversificado. Logradouros como as Praças Deodoro, João Lisboa, Pedro II e todo o Centro Histórico precisam ser revigorados, haja vista que as ações até aqui realizadas não foram suficientes e por isso precisando de projetos mais arrojados. Todo aquele conjunto arquitetônico deve ser resgatado em sua harmonia para deixar a cidade mais bela para a sua gente e para quem a visita. Poderia ser trazido de volta o bonde elétrico para fazer um circuito turístico pelo centro, saindo da Praça João Lisboa, descendo a Rua Afonso Pena e passando pelo Mercado Central, que também precisa ser revigorado. A Prefeitura se uniria à iniciativa privada e promoveria, sistematicamente, eventos culturais nesses logradouros resgatados visando atrair a população da capital e os turistas, e assim injetaria efervescência naqueles espaços atualmente pouco freqüentados até por falta de motivações com essas.

Através da Secretaria de Agricultura Municipal, que deveria ser criada, o município trabalharia junto com o Estado e entidades do terceiro setor prestando assistência técnica aos agricultores familiares na construção de um “cinturão verde” no entorno da capital. Esses agricultores familiares deveriam dispor de diferentes espaços para negociarem diretamente com os consumidores em São Luis. Venderiam os seus produtos por preços remuneradores e os consumidores da capital, sobretudo os de baixa renda, teriam produtos de qualidade sendo comprados a preços abaixo daqueles praticados nos supermercados e nas demais feiras livres. Essas feiras de agricultores familiares teriam como vantagem adicional a função de funcionarem como reguladoras dos preços de hortaliças e frutas nos mercado da capital, trazendo-os para baixo. Ficam as sugestões para aqueles que buscam ser Prefeito da capital refletirem e se apropriarem, se acharem que vale a pena.

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José Lemos é Engenheiro Agrônomo e Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. lemos@ufc.br. Autor do Livro “Mapa da Exclusão Social no Brasil: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre”.

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