Reinaldo Azevedo de Veja: No sábado, escrevi um texto afirmando quer seria considerado adversário deste blog quem fizesse qualquer exploração indevida da condição de saúde da ministra Dilma Rousseff. Há quem não tenha entendido o texto até agora. Fazer o quê? É um risco que se corre. Escrevi lá:
“Será considerado um inimigo desta página aquele que ousar fazer o que faz a escória que combato: usar essa questão para atingir politicamente a pré-candidata do PT. (...) E, caso haja exploração política do caso, tenha ela que natureza for, farei a devida denúncia. O câncer não faz ninguém nem melhor nem pior. O câncer é só um mal. E tem de ser combatido. Que ela tenha sucesso na empreitada.”
Lembram-se de Marco Aurélio Garcia? É aquele senhor que, durante a crise aérea, diante de uma notícia que considerava favorável ao governo, embora se referisse à maior tragédia havida no setor no Brasil, fez com as mãos o famoso “top, top”, seguido por um seu assessor, que simulou trazer contra a pélvis quadris imaginários. Demonstravam sua piedade. E sua delicadeza.
Marco Aurélio, ontem, fez jus à sofisticação analítica empregada no caso da crise aérea. O valente resolveu refletir sobre a doença de Dilma Rousseff e sua candidatura. E não poderia ser mais explícito — seu pensamento, diga-se, é sempre digno de uma tarja preta.
Dizendo ter conversado com um filho, que é médico, afirmou Marco Aurélio:
"Do ponto de vista médico, ela tira isso aí de letra. Do ponto de vista político, ele disse que isso vai reforçar a candidatura dela".
O filho, como vêem, também é analista político.
A doença afastaria eventuais aliados? Marco Aurélio volta às suas reflexões:
"Pelo contrário. Reforça a candidatura. Eu, que já enfrentei situações parecidas, não tenho a mínima dúvida de que nossa ministra Dilma já se saiu bem desta, inclusive a coragem com que enfrentou, a franqueza. Ou seja, isso deve ter impactado muito bem na opinião pública do País".
Eis aí. Já não resta mais a menor dúvida sobre a marquetagem oficial com a doença da ministra. Essa gente, como é sabido, nunca teve limites. A ida de Franklin Martins ao governo conferiu profissionalismo a esse laxismo moral.
Pensar os benefícios eleitorais de um câncer é posicionar-se no último degrau da cadeia moral. Imaginem se a oposição estivesse, sei lá eu, fazendo cálculos em voz alta, contando com o insucesso da ministra. A ética seria a mesma, compreendem?
Em sua coluna na Folha de hoje, Clóvis Rossi fica bravíssimo com a base aliada, nestes termos:
O problema, agora, seria desrespeitar não a ministra ou a candidata, mas o ser humano. Dilma merece que lhe deixem em paz ao menos durante os quatro meses em que se submeterá a quimioterapia. Depois, cabe a ela -e exclusivamente a ela- decidir se se sente ou não em condições de ser candidata (...) Enquanto isso, que os abutres disfarcem o "apetite". Tudo o que a emporcalhada política brasileira dispensa, a esta altura, é o desrespeito a um ser humano.
Clóvis Rossi parece desconsiderar os abutres (termo impróprio porque a ministra está vivíssima) do PT. Quem lê o seu texto pode ficar com a impressão de que não é o partido da candidata Dilma o que mais está tentando fazer o que parecia inimaginável: faturar com o câncer da ministra. Não é assim porque eu quero. É assim porque, entre outros, Marco Aurélio Garcia quer. Abutres? Não! Aves de rapina.
No palanque
Lula e Dilma estiveram ontem Manaus. A exploração eleitoreira na doença não poderiam ser mais escancarada. Leiam trechos publicados pelo Globo Online:
No último evento da longa agenda que cumpriu nesta segunda-feira em Manaus, a inauguração do Conjunto Habitacional Cidadão IX, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu aos populares que fizessem orações pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (...). Ao finalizar o discurso, Lula pediu que Dilma se levantasse, segurou e ergueu a sua mão e pediu aos populares presentes que rezassem por ela. Segurando a mão da ministra, dirigiu-se a ela: - Quero que você olhe para as pessoas, porque a partir delas vem a sua força. Vem a força que você precisa para ser forte. Esse povo vai precisar muito de você daqui para a frente - disse Lula, voltando-se para o povo: - Orem por ela.
Lula encerrou a cerimônia sob aplausos da população e dos políticos e autoridades locais. Dilma canta com quebradeiras de coco e ensaia alguns passos.
À tarde, a ministra Dilma cantou com as quebradeiras de coco de Manaus, ensaiou alguns passos da dança regional e tirou muitas fotos com populares presentes no Centro Cultural dos Povos Indígenas. Num discurso de meia hora, Dilma, num tom emocional, agradeceu a solidariedade dos manauaras.
— Fiquei muito emocionada pela imensa solidariedade de vocês e tenham certeza que vocês me dão muita força e determinação. Agradeço a todos o carinho e também por torcerem por mim. Para mim, isso é muito importante - disse Dilma, no fim de seu discurso sobre as ações de cidadania divulgadas no evento.
Algumas mulheres que estavam à frente do palanque e trabalham com o plantio de castanhas gritaram em coro: "Dilma presidente!".
Voltei
Como se nota, Marco Aurélio nada mais fez do que vocalizar uma espécie de estratégia decidida pelo marketing. E cada personagem cumpre o seu papel. A doença de Dilma é real. Surreal é a vigarice oficial, que mistura, como se nota, oportunismo, populismo e até alguns laivos de messianismo.
Link original do Blog do Reinaldo Azevedo da Revista Veja
Um comentário:
José Reinaldo, fico feliz em ver você, enfim, vocalizando contra os atos do PT nacional, que, como todos podem notar, as cassações ddos dois governadores só não têm as 10 digitais de lula porque ele só tem 9 dedos.
VOcê pode significar essa bandeira contra o mal chamado PT. Hoje, sarney é o maior petista em atuação no brasil e lula o maior peemedebista.
É hora de destoar, é hora de remar em favor do que é certo e não seguindo a corrente.
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