sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ciro só desiste se Dilma disparar, diz Eduardo Campos

A candidatura do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) ao Palácio do Planalto só não se concretizará caso o seu partido entenda que isso possa atrapalha os planos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010.

Em entrevista exclusiva ao colunista do UOL Notícias e da Folha de S.Paulo Fernando Rodrigues, o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, defendeu duas candidaturas à Presidência no lado governista: Ciro Gomes, do PSB, e a da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), pré-candidata do PT. A única hipótese de Ciro não ser candidato é se Dilma disparar nas pesquisas e se isolar em primeiro lugar.

"A nossa estratégia é que duas candidaturas no lado do governo possam somar votos e levar a disputa para o segundo turno. Queremos que essa soma dos dois candidatos seja maior que o campo da oposição. Até agora tem dado certo. Mas se a ministra Dilma sozinha tiver mais que a oposição, não convém lançarmos candidatura", disse o governador. Segundo Campos, a decisão do partido será tomada até março de 2010.

Nas pesquisas recentes, a soma de pontos obtidos por Dilma e Ciro não é superior à pontuação obtida pelo principal pré-candidato da oposição ao Planalto, José Serra (PSDB). Para ter acesso a todas as pesquisas disponíveis, clique aqui.

Na entrevista, o governador reforçou a disposição do PSB em trabalhar pelos planos eleitorais traçados pelo presidente Lula.

"Eu, o Ciro e o Lula conversamos e decidimos que o PSB não fará nada que atrapalhe o campo do governo de ganhar as eleições", disse Eduardo Campos. "É preciso olhar o tabuleiro. Além do candidato, precisamos da estrutura política, apoios nos Estados, palanques. Queremos entrar para ganhar".

Indagado sobre a declaração de José Serra no dia 24 de novembro de que "Ciro não fará nada que o Lula não queira", Campos disse que Ciro "merece mais respeito" e que "ele fará apenas o que for melhor para o Brasil".

O presidente do PSB disse que a possibilidade de Ciro Gomes se candidatar ao governo de São Paulo está em aberto.

"É uma possibilidade. O campo de oposição em São Paulo não tem uma candidatura tida como natural e o Ciro está muito bem posicionado nas pesquisas por lá", disse Campos.

Serra não abandonará disputa

Em entrevista ao UOL Notícias no último dia 3, Ciro disse que Serra abandonará a disputa à Presidência para concorrer ao governo de São Paulo. Eduardo Campos discorda da avaliação.

"A menos que o PSDB decida lança o Aécio [Aécio Neves, governador de Minas], acho improvável que o Serra desista da candidatura a essa altura", disse.

De acordo com o governador, a candidatura de Aécio Neves, governador de Minas Gerais e um dos possíveis candidatos à Presidência pelo PSDB, representaria um problema maior para os partidários do governo Lula do que a candidatura de Serra.

"O Aécio reduziria o campo de alianças governistas. Ele é mais amplo e vem de alianças mais amplas. Isso prejudicaria a candidatura do governo", disse.

Eleições em Pernambuco

Eduardo Campos faz parte de uma nova leva de governadores que têm renovado as direções partidárias. Ele deve ser candidato à reeleição ao governo de Pernambuco em 2010. Se vencer, pensa em disputar o Palácio do Planalto em 2014.

O político pernambucano, que é neto de Miguel Arraes (1916-2005), declarou que sua vitória "virá com tranquilidade", citando pesquisas que hoje o colocam como favorito (veja aqui as pesquisas disponíveis sobre a disputa em Pernambuco).

"Graças ao bom trabalho temos um alto índice de aprovação, ampla maioria na Câmara Legislativa, amplo apoio dos deputados federais do Estado e uma grande aliança com 17 partidos compondo o governo", falou o governador.

O principal adversário de Eduardo Campos é o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que está em segundo lugar nas pesquisas.

Jarbas já foi governador de Pernambuco duas vezes. Ganhou projeção por conta de sua militância contra a corrupção no Congresso.

"É preciso combater a corrupção não só no discurso, mas na prática de governo. E quem fez isso fomos nós", disse Campos.

Futuro do PSB

Parte da base de apoio do governo Lula, o PSB (Partido Socialista Brasileiro) tem hoje 30 deputados federais, dois senadores e três governadores.

O governador Eduardo Campos diz esperar um crescimento do partido na eleição de 2010. Segundo ele, o PSB deve fazer 50 deputados federais, seis senadores e terá candidatos a governador em oito Estados com chance de vitória.

O PSB esteve envolvido no mensalão do DEM, suposto esquema de pagamento de propinas a políticos no Distrito Federal. O deputado distrital Rogério Ulysses (PSB) foi citado em vídeos como um dos beneficiados pelo esquema.

O partido não expulsou o deputado dos seus quadros. Campos justificou a atitude da Executiva Distrital da legenda.

"A gente é surpreendido até por amigos e pessoas próximas. O importante é a atitude firme e nesse ponto o PSB não vacilou. Saímos do governo e abrimos um processo interno contra o deputado", disse Campos.

Ao comentar casos recentes de corrupção no país, Campos criticou a reforma eleitoral, aprovada em setembro pelo Congresso. Ele defendeu o financiamento público de campanha.

"Financiamento de campanha é um ponto que precisa ser atacado. Temos que limitar os gastos, reduzir a campanha à internet, debate, televisão. O financiamento de campanha tem que ser público", disse o governador. "O problema é ter reforma eleitoral a cada eleição. Na ausência dos parlamentares a Justiça fica legislando".

O presidente do PSB defendeu a criação de uma cláusula de barreira como limitação aos partidos pequenos. Quem tiver poucos votos (um percentual a ser estabelecido) ficaria sem acesso amplo à propaganda eleitoral em rádio e TV, por exemplo.

"A lei foi derrubada na Justiça porque tinha falhas de elaboração. Mas a norma tem que se sustentar. Vamos voltar a defender o estabelecimento da cláusula de barreira", disse.

Pré-Sal

O governador de Pernambuco defendeu a distribuição igual dos recursos provenientes da exploração de petróleo na camada pré-sal entre todos os Estados do país. Segundo o governador, é preciso superar os regionalismos na hora de debater a partilha dos recursos.

"Hoje, nós somos excluídos da arrecadação de R$ 22 bilhões em royalties. Só o Estado do Rio recebe cerca de R$ 7 bilhões, o que equivale quase ao orçamento total de Estados como o Ceará e Pernambuco. Em tese o valor deveria ser dividido de forma equânime entre os todos os Estados com base na população, no IDH", disse o governador.

A distribuição dos royalties do petróleo está atualmente em discussão no Congresso Nacional. A intenção do governo é concluir a votação do marco regulatório do pré-sal até março do próximo ano.

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