Hoje a palavra que mais se ouve no
Brasil é “pacto”. Coincidência ou percepção da real situação do país? Será que
alguém ainda duvida de que a crise econômica, social e política é de tal
proporção que há uma sensação generalizada de que o governo não tem mais
controle da situação, de que não se tem mais recursos para nada e que cada dia
é pior do que o anterior? Até onde chegaremos assim?
Vejam que essa situação levou o
senador José Serra a dizer que vivemos um momento pior do que 1964. O fato é
que no congresso podemos sentir a gravidade do momento e é notório que o
governo não tem mais quase ninguém com quem contar. Até o próprio PT, antes tão
aguerrido, vem cada vez mais votando contra os interesses do governo.
A presidente Dilma parece que não
sabe muito bem mensurar o que está acontecendo. Ela prefere partir para a briga
a lançar um projeto de conciliação nacional. Seu temperamento forte parece não
deixar que ela tenha humildade para reconhecer seus erros e chamar a todos para
ajudar sem rancor. Ela prefere brigar mesmo, chegando à beira do abismo, com
apenas 8 por cento de aprovação. Ou seja, apenas oito brasileiros em cada cem
aprovam o seu governo, enquanto que setenta e um em cada cem o rejeitam. Mesmo
assim, ela parte para a briga, desdenha do panelaço, desdenha da realidade do
momento em que vivemos.
Algo precisa ser feito! Em apenas
sete meses já ultrapassamos a meta de inflação proposta para o ano inteiro! Para
os pobres, a inflação já passou dos dez por cento, ou seja, as classes menos
favorecidas economicamente, que são a maioria do povo brasileiro, são as que recebem
o pior da crise, além do desemprego crescente.
Se o julgamento das contas do
governo da presidente pelo TCU for pela desaprovação destas e se ela for
enquadrada na Lei de Responsabilidade Fiscal, está tudo pronto na Câmara para
iniciar um processo cujo desfecho pode ser, de acordo com a lei, o seu afastamento.
Nesse caso, assumiria o vice-presidente Michel Temer para cumprir o restante do
seu mandato.
Alguma coisa pode salvá-la desse
desfecho? Especula-se que ela só conseguirá evitá-lo, se algo inusitado
acontecer. Por exemplo, se o PSDB se juntar ao PT. É incrível, mas pode
acontecer. E ocorrendo mesmo, o PSDB está arriscando a sua credibilidade
política, talvez de forma definitiva.
Vamos analisar o que estou dizendo:
A solução que descrevo acima dará o governo ao PMDB, pois Michel Temer assume.
E isso o PSDB parece não querer. Teme que uma vez instalados no governo, seja
difícil retirá-los de lá, pois jogam muito pesado.
O PSBD não escapará da acusação de
protagonizar um enorme casuísmo, já que o partido, que até agora incentivava o ‘Fora,
Dilma!’, pedindo o impeachment - que lhes era conveniente, porque nesse caso
haveria nova eleição para presidente e eles têm o candidato que está na frente
das pesquisas - mude de ‘fora, Dilma!’ para ‘Fica, Dilma!’, porque, se ela sair,
Michel Temer é que vai assumir.
Preferem deixar Dilma no governo,
isolada e detestada pelo povo, sem poder de reação - portanto, teoricamente
mais fácil de vencer - a enfrentar a turma pesada do PMDB. No entanto, dão a
entender que estão relativizando sua maneira de atuar e perdem credibilidade. A
fim de tentar encontrar uma saída política para a confusão, inventaram uma
proposta sem pé nem cabeça, que não tem amparo em nenhuma lei e nem na
Constituição e pedem novas eleições, como se estivéssemos no sistema
parlamentarista. Isto só dá mais força ao PT para denunciar uma pretensa
tentativa de golpe.
Agindo assim, terão que se explicar
a todo o momento, dando razão a sua antiga fama de não se decidir e de viver em
cima do muro.
Na verdade, a única pessoa que
poderia criar as condições para ficar no governo e cumprir o seu mandato é a
própria Dilma, se lançasse ao debate um projeto de conciliação nacional, se
desculpando pelos erros cometidos, enxugando o governo, chamando gente
competente para ajudá-la, não precisando mais atrair apoio a todo o custo em
nome da governabilidade e lançando ao debate uma pauta de projetos que, pela
sua importância, pudessem mudar o rumo do país, que hoje está em queda livre.
Mas não acredito que ela faça sequer
uma coisa parecida com isso. Parece que ela quer é liquidar adversários e a
oposição, parece querer é brigar mesmo, em um momento que não tem força
suficiente para enfrentar o grande antagonismo da população e do Congresso
incentivados por sua maneira de governar.
Mesmo porque se ela propusesse algo
marcante, não poderia ser apenas “da boca para fora”, não poderia ser apenas
retórica, teria que ser sincero e ela teria que levar o governo até o fim dessa
maneira.
Pelo que conheço dela, por seu
temperamento guerreiro, ela jamais teria humildade suficiente para se entregar a
essa tarefa.
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