É impressionante observar a completa dissonância do governo
federal com a realidade da nação. Realidade, aliás, criada no seu próprio bojo,
ao passar por cima de tudo para ganhar a eleição. No vale-tudo em que se
transformou a disputa eleitoral, Dilma fez de tudo. Criou recursos fictícios,
fazendo “pedaladas fiscais” - hoje comprovadas – e mentiu deliberadamente sobre
a verdadeira situação econômica do país. Resultado disso foi o caos que se
instalou logo depois, dias após a eleição.
Agora, ao invés de reconhecer a terrível situação do país,
envolto em gravíssima crise política, econômica e social, ela tenta escapar de
suas imensas responsabilidades colocando a culpa em uma inexistente crise
mundial. Sim, pois o mundo globalmente
crescerá neste ano cerca de 3 por cento e o Brasil terá crescimento negativo nesse
mesmo valor. Enquanto o mundo cresce, nós diminuímos de tamanho, jogando fora
trabalho de mais de uma década de crescimento e de mudança. E o pior é que, quando
tínhamos dinheiro sobrando - aí sim, beneficiados pelo crescimento mundial - jogamos tudo fora perdulariamente em consumo,
sem criar riquezas e sem mudanças qualitativas na educação, por exemplo. Só que
os ventos mudaram de direção e o balão do falso crescimento explodiu, levando
junto a saúde da economia brasileira.
O bilionário e megainvestidor americano Warren Buffet diz com
muita propriedade: “Quando a maré baixa é que vemos quem estava nadando nu”. O
Brasil nadava nu! Estava descoberto.
Famosa por não dizer frases conexas e não completar o seu
raciocínio, ela, coerente apenas com esse comportamento que causa estranheza a
todos, parece desconhecer a realidade. E ao negar a realidade é impossível
enfrentá-la de maneira apropriada. E assim, como tudo está se deteriorando ao
seu redor, obrigada pelas circunstâncias, ela anuncia e submete um pacote de
medidas que “cortam o vento”, como classificou Delfim Neto. As medidas não trarão
de imediato nenhum alívio às combalidas finanças públicas e agravarão o
terrível quadro instalado de recessão com inflação alta. Em contrapartida, sem efetuar
negociações, joga as suas próprias bases, fincadas no funcionalismo público e
em movimentos sociais ligados ao PT, contra ela e contra o seu governo, sufocando
a sua já pequena base de apoio.
É de se notar que ao seu lado estão políticos experientes que
poderiam, se pudessem agir com mais independência, abrir um diálogo com o Congresso,
mas as informações é de que ela não ouve ninguém e trata mal quem lhe
contraria, afastando pessoas que poderiam ajudá-la. No entanto, resolve apelar
para mais a arrecadação, como se a população brasileira estivesse disposta a
dar mais dinheiro ao governo, além dos quatro meses de salários anuais que este
já toma. Isso para receber em troca o desperdício, a corrupção, e os péssimos
serviços da previdência, da saúde, da educação, do transporte e da segurança, além
dos juros estratosféricos que penalizam a todos, forçando atitudes radicais
como a contração de empréstimos. Por falar nisso, os juros que são cobrados
pelos cartões de crédito são um escândalo mundial. Chegam a 400 por cento! É
até criminoso e as autoridades do Banco Central agem como se esse problema não
estivesse inviabilizando a vida de milhões de pessoas. Parece que aqui tudo
pode!
Qual então poderia ser a proposta ideal para nós? Eu
faria diferente. Mesmo sem conhecer todos os dados do governo arrisco que a
presidente, até para se proteger e ficar mais resistente às pressões normais do
dia a dia do governo, poderia propor uma espécie de Lei de Responsabilidade
Fiscal para o governo federal. Proporia parâmetros para o tamanho da folha de
pessoal, do salário mínimo, do endividamento do governo, do superávit primário.
Proporia ainda uma reforma tributária que simplificasse o pagamento de
impostos, desde o ICMS, acabando com a maioria deles e concentrando a
arrecadação somente em alguns mais simples de coletar, e promoveria uma abrangente
desburocratização que facilitasse a vida de empresários e cidadãos em geral. E,
claro, diminuiria o número de órgãos públicos, concentrando em poucos a ação do
governo.
Só para ilustrar, quando fui Ministro dos Transportes, faziam
parte dele a Rede Ferroviária Federal, a PORTOBRÁS, o GEIPOT, o DNER, a EBTU, a
VALEC, etc., e hoje, quase todos se transformaram em outros ministérios. Para
quê? Com a diminuição da máquina, também cortaria essa infinidade de cargos em
comissão. Também acabaria com as vinculações de setores ao orçamento, que só
levam ao desperdício dos gastos de recursos obrigatórios, pois engessam o
orçamento em 92 por cento, não deixando espaço para os governantes modernizarem
o país.
É sonho? Acho que não! Isso mobilizaria o país e atrairia
apoios ao governo no Congresso. Ninguém se sacrifica sem confiar.
Mudando de assunto, o Supremo concluiu a votação sobre o tema
das doações para campanhas políticas, considerando inconstitucional a doação efetuada
por empresas privadas. O que parecia ser uma boa medida, está se revelando o
contrário, pois do jeito que está, ficam altamente privilegiados os candidatos
ricos e os que possuem muita visibilidade, os que tem grandes sindicatos por
trás, os líderes partidários de grandes partidos que podem direcionar o Fundo
Partidário, e os que estejam exercendo cargos nos governos, com muita presença
na mídia, além das celebridades e dos aventureiros com dinheiro. Perdem os
partidos pequenos com pouco fundo partidário e os novos na política, fato que
impede a renovação. É uma boa solução?
Isso sem contar que a decisão tomada pelo STF também poderá
incentivar a pratica do caixa dois e mandar as campanhas para a ilegalidade. Melhor
seria estabelecer regras rígidas para as doações que pudessem ser capazes de
impedir casos como o do Petrolão.
Uma decisão dessas, para funcionar como pensado inicialmente,
teria que vir acompanhada de muitas leis que equilibrassem a disputa. Do jeito
que ficou, em que pesem as boas intenções da OAB e do Supremo, vai, ao final,
desequilibrar as campanhas em favor de alguns privilegiados.
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