O ministro José Serra vem trabalhando há algum tempo para
retomar as conversas com os Estados Unidos sobre o uso do Centro de Lançamento
de Alcântara - CLA. É um Centro que tem localização excepcional, muito próximo
da linha do Equador, aspecto que permite uma economia de milhões de dólares a
cada lançamento. Sim, porque os lançamentos ali efetuados são 30 por cento mais
baratos em relação a qualquer outra plataforma no mundo.
O governo de Fernando
Henrique tentou resolver essa questão, mas o texto acordado entre os dois
países foi rejeitado pelo Congresso Nacional. A importância desse acordo, que na
verdade é apenas comercial, reside no fato de que ele dará uso permanente ao
Centro. Os americanos pagarão por isso e esse dinheiro pode ser usado no
desenvolvimento do programa espacial brasileiro. A tendência é que isso reverta
a aventura com a Ucrânia, um acordo que foi danoso ao país, fazendo-nos perder
10 anos (sem lançamentos) a um custo de 500 milhões de dólares. Dinheiro desperdiçado
sem nenhum benefício para o país.
Porém, esse tipo de negociação é basicamente demorado, pois o
texto do acordo entre os dois países terá que ser submetido ao Congresso
Brasileiro e ao Americano. Portanto, ainda haverá longo período de tempo até
ser colocado em vigor, se tudo for aprovado.
Ouvi muitos questionamentos de pessoas sobre o ITA ser
prejudicado e aproveito para responder que não haverá nenhum prejuízo. Como
falei acima, o acordo será apenas comercial, pois nenhum país transfere
tecnologia espacial para outro. Os países que já detêm o ciclo completo dessa
tecnologia não transferem nenhum conhecimento, pois existem leis severas que
não admitem essa transferência. É simples entender, uma vez que o mesmo foguete
que leva o satélite, pode levar bombas, inclusive, se transformando em foguete
balístico intercontinental. Uma arma de guerra. Por isso ninguém pode esperar
que a presença dos americanos em Alcântara signifique transferência de
tecnologia. Além dos EUA, os países que já dominam o ciclo completo são: Rússia,
União Europeia, China e Índia. Nenhum deles passa nada a ninguém. Dessa forma,
trata-se apenas de aluguel do CLA, não significando facilidades para termos a
tecnologia espacial à disposição.
Então o que teremos que fazer? Teremos que desenvolver a
nossa própria tecnologia, não temos opção quanto a isso. Aliás, como todos os
países citados fizeram. E o que precisamos dominar? A tecnologia de grandes
foguetes ou lançadores, a tecnologia do combustível - ou propelente líquido,
que não é instável como o combustível sólido, que dominamos. Por fim, temos
também que desenvolver a tecnologia de satélites avançados com grande poder de
resolutividade.
Nesse ponto é que entra o ITA, formando pessoal altamente
qualificado, imprescindível para essa empreitada. O que falta, e sempre faltou,
foram recursos para desenvolvermos essa tecnologia, pois contar apenas com recursos
orçamentários acaba não sendo confiável. Isto porque sem garantias firmes, as
pesquisas param e os técnicos se desestimulam e muitos vão embora, inclusive do
país. Até hoje isso foi tentado sem resultados palpáveis ao final.
E por que o Programa Espacial Brasileiro é importante? Além da
expectativa de desenvolvimento de tecnologia de ponta, que é imediatamente
usada na medicina moderna em equipamentos cirúrgicos não invasivos e no
diagnóstico por imagem, o controle de nossas fronteiras só pode ser feito por
meio do uso de satélites e de outros sistemas. Isto é fundamental para impedir
o contrabando de armas e de drogas. Aliás, como fazer o controle de nossas
fronteiras na Amazônia com a diversidade de rios que chegam até as cidades e
acabam por permitir a organização de grandes quadrilhas de criminosos como vimos
agora em Manaus? Temos ao total 16.866 quilômetros de fronteiras terrestres e
mais uns 8 mil quilômetros de costa marítima, portanto é uma tarefa
extremamente difícil.
Mas o domínio completo da tecnologia espacial permite ainda
desenvolver melhores previsões meteorológicas, climáticas, melhores sistemas de
navegação e de comunicação. Enfim, um país grande e continental como o Brasil não
pode deixar de dominar esse aspecto.
Isto é de fato urgente, sob pena do país correr o
risco de se transformar em um México, que convive com grandes cartéis de drogas
e criminalidade desenfreada. É um programa de Segurança Nacional!
Contudo, nessas circunstâncias em que vivemos, com o Brasil
mal saindo de uma severa depressão econômica, como poderemos encarar um
programa caro como esse?
Vejam que temos, sim, condições de viabilizar os
recursos para tornar possível o Programa Espacial Brasileiro, imprescindível
para o futuro do país. E basta seguir os passos do que foi feito para
viabilizar a nossa indústria aeronáutica, algo que na época de sua concepção
também era um sonho distante e hoje é a terceira indústria aeronáutica do
mundo.
Mas isso é outra história, que explicarei no próximo
artigo...
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