1. Economistas usam uma analogia biológica para explicar a relação entre o sistema financeiro e o produtivo. Dizem que o sistema financeiro é o sistema sanguíneo da economia. Outros preferem uma linguagem agrícola, dizendo que é o sistema de irrigação da economia. De uma ou outra forma, se o sistema sanguíneo está doente ou a irrigação não ocorre satisfatoriamente, a economia toda, no mínimo estará doente, ou a safra será muito baixa.
2. O governo federal procura alardear otimismo falando que aqui as coisas serão diferentes. Mas se a bolsa despencou, alguns pequenos bancos ficaram insolventes, a liquidez interna sofreu uma forte contração e o governo federal mandou liberar o redesconto e baixou uma medida provisória que tem o sabor de uma lei delegada para intervir no mercado financeiro, é evidente que o sistema sanguíneo ou de irrigação, interno, já foi atingido e a economia já o está sendo.
3. A resultante todos sabem: a taxa de crescimento em 2009 e 2010 será bem menor do que a projetada nos projetos de lei de diretrizes orçamentária e de orçamento. Há uma hipótese entre analistas, que ficará entre 2% e 3%. No entanto há que se ver o que significa isso. Quando uma economia cujo PIB é de 100, cresce, suponhamos para raciocinar de forma simplificada, 1 ponto aritmético por mês, em janeiro o PIB será de 101, em fevereiro de 102... até dezembro quando será de 112. O PIB desse ano teria alcançado 1.278.
4. Se a economia entrar em dezembro em recessão e parar de crescer, esses 112 de PIB ficarão iguais todo o ano seguinte e o PIB será de 1.344. Mas as estatísticas divulgadas dirão que houve um crescimento de 1.344 / 1.278 ou mais 5,16%. Essa informação estatística nada terá a ver com o que sentem as empresas e as pessoas. Por exemplo, a taxa de desemprego aumentará, pois novas gerações estarão entrando no mercado de trabalho. Se a economia está parada de fato e como o crescimento é uma média entre setores, alguns estarão decrescendo, desempregando, reduzindo a produção, com todo o multiplicador incorporado sobre outros setores.
5. Quando se faz um prognóstico de que a economia brasileira vai crescer em 2009 à taxa de 2,5%, na verdade se está dizendo que comparando a economia de 2009 com dezembro de 2008, ela estará parada e em forte recessão com todas as seqüelas sociais e fiscais.
6. Os elogios à gestão monetária responsável do governo Lula deve passar pela análise política. Uma coisa é ser responsável em início de governo, longe da eleição. Outra é uma recessão em final de governo. Em 2005/2006 a economia estava dentro de um ciclo de crescimento num patamar de 5%. As afirmações de responsabilidade monetária eram fáceis de serem feitas. Outra é viver num quadro de crise e recessão.
7. O governo FHC pode ser elogiado por quase tudo. Mas certamente não é o caso da gestão da política econômica em 1998. As irresponsabilidades -cambial e fiscal- foram ao limite. FHC ganhou a eleição, mas a economia estourou em seu segundo mandato.
8. Nessa crise financeira com os mega-pacotes de ajuda aos bancos, analistas nos EUA se perguntam por que o governo Bush deixou o Lehman quebrar? Um deles disse: um erro grave pela proximidade da eleição. Imaginavam que não daria tempo de contaminar o sistema, afirmariam a natureza liberal da política econômica, mostrando ao povo que os poderosos também quebram e manteriam até as eleições o Iraque e a política externa no centro do debate, com uma vitória fácil e previsível para McCain.
9. Mas "não se havia combinado com o adversário", para lembrar Garrincha. A contaminação veio à vista, o sistema entrou em colapso, se adotou um keynesianismo nunca visto, a agenda eleitoral veio para dentro e McCain derreteu.
10. O que farão Lula e seus pelegos distribuídos pela máquina com remunerações explosivas e poder ilimitado? Entregarão a rapadura à oposição? Quem terá coragem para arriscar e ir empurrando com a barriga e ver se Deus ajuda e se chega às eleições de 2010? E o que se fará em final de governo, com o desemprego aumentando, empresas quebrando ou reduzindo a produção, o superávit comercial externo desabando em função dos preços das commodities, o câmbio subindo...? Simplesmente se mantém a responsabilidade monetária e fiscal e se faz tudo certo por amor à Pátria?
11. O cenário político que este Ex- Blog projeta é o governo tentando manter o crescimento a qualquer custo, ampliando o déficit fiscal nominal, a turma da fazenda e do banco central sendo chamadas para uma conversinha política e a demanda sendo irrigada de qualquer forma para que a taxa de crescimento não caia para menos de 3%. O resultado -na melhor hipótese- será a inflação subindo bem além dos patamares recentes. E na pior hipótese, o nosso conhecido processo de estagflação.
12. Se com FHC e Malan se fez assim, imaginem com Lula e Mantega! Apertem os cintos e esperem as festas juninas de 2009 e terão a certeza que será assim. E previnam-se "hedgeando" as irresponsabilidades fiscais e monetárias que virão e a inflação em alta. E cuidado, pois os manetes ("remember" o desastre de Congonhas) podem estar na posição invertida.
Comentário do Blog: Tomara que Cesar Maia esteja errado e que nada disso aconteça. Mas é bom botar as barbas de molho. Seria importante diminuir as despesas do governo para que o governo não precise do mercado financeiro. Senão vai uma barra!
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