segunda-feira, 25 de outubro de 2010

DÁ PARA ENTENDER?

Como você se sentiria se durante quatro anos cumprisse com determinação e lealdade os seus deveres como deputado federal, pertencente a um partido que faz parte da base mais comprometida de apoio ao governo do presidente Lula, sem nunca negar esse apoio, em momento algum, mesmo nos momentos de crise mais aguda;

Se gozasse de total confiança entre todos os partidos, inclusive e principalmente no partido do próprio presidente, ao ponto de ser escolhido como relator de vários projetos da maior importância e prioridade para o próprio governo;

E se, apesar de tudo isso, na hora em que coloca todo o seu prestígio a serviço de uma candidatura ao governo do estado, abrindo uma nova opção renovadora de apoio a candidatura de Dilma à presidência da república, que só somaria votos para ela, e se visse repudiado pelo próprio Lula, que ostensivamente lhe toma o apoio do PT conquistado em eleição democraticamente realizada no âmbito do partido?

E se durante todo o processo eleitoral assistisse incrédulo o próprio Lula, e a sua candidata, empenhados em tentar conseguir votos para Roseana Sarney, representante maior da oligarquia que Lula tanto combateu antes de chegar ao governo?

E se agora, para coroar todo esse terrível processo, sem receber nenhuma provocação, vê estupefato pelos jornais declarações do presidente, atacando-o, antigo aliado, apenas porque reage aos acontecimentos nebulosos ocorridos no dia da eleição e que, diga-se de passagem, a auditoria técnica feita pelo partido evidencia a existência de sérios indícios de fraude ocorridos na apuração, e que foram naturalmente anunciados pelo candidato lesado, dentro do seu direito e das regras do jogo eleitoral, que estava entrando com ações para apurar o ocorrido. O presidente, no entanto, argumenta que este apenas faz o “choro de perdedor”, como se ele se sentisse muito ofendido com uma reação legítima?

A que se deve essa defesa extemporânea, essas dores tomadas em relação ao resultado da eleição que colocou no governo a filha de Sarney, que seguramente Lula nem acompanhou diretamente? Porque o ataque a Flávio? Será que, mais uma vez, se pautou pelas intrigas que o senador Sarney se empenha em chegar aos seus ouvidos? É lamentável.

Decididamente não da para entender a cabeça e o raciocínio do presidente e a sua estranha lealdade a Sarney. Eleição no Maranhão, este pobre e pelo poder central tão esquecido estado, só vale se Sarney ganhar? E porque desprezar qualquer outro aliado, por mais leal e correto que seja?

Flávio não merece esse tratamento por parte do presidente.

Repete-se agora o que aconteceu comigo quando estava no governo e o presidente me chamou ao seu gabinete e pediu-me para reatar os laços políticos com Sarney.  Eu fiz ver a ele que, se estivesse no meu lugar, ante as circunstâncias que eu transpunha para governar, ele faria a mesma coisa e não capitularia. Ele terminou a conversa dizendo que “não tinha jeito” e daí para a frente não pude contar com mais nenhuma ajuda do governo federal e os seus ministros nem sequer vieram mais ao Maranhão.

Confesso que não sabia que ao romper com Sarney eu também estava rompendo com Lula e com o governo federal. Isso não foi dito...

Como Sarney conseguiu tão valiosa lealdade que ele sabe usar com muita competência ao seu favor e de sua família?

Talvez no futuro se encontre a resposta...