terça-feira, 15 de novembro de 2016

NOSSO ÚLTIMO TREM

O Maranhão sempre foi descrito como um estado que fatalmente alcançaria o desenvolvimento, tal a exuberância da nossa natureza, dos nossos rios, das nossas terras, incomparavelmente mais pródigas do que as dos nossos vizinhos do semiárido, sem nenhum demérito aos seus territórios. Mas, ao contrário desses vaticínios, nós fomos decaindo, pois eles cresciam muito mais do que nós. E vejam que no passado realmente já fomos muito mais desenvolvidos e influentes. Depois paramos no tempo. Éramos a Atenas Brasileira e passamos a ser “apenas brasileira”. E fomos ficando para trás...

Hoje nossas chances de desenvolvimento sustentável são menores do que a dos nossos vizinhos. Uma das razões, talvez a principal, é a situação do nosso sistema educacional, expressa nas provas do IDEB. Temos uma escolaridade média muito baixa e um dos piores ensinos públicos no nível fundamental. Isto a tal ponto que, se não conseguirmos projetos estruturantes, ficaremos no “mais do mesmo”.

Então não temos chance e nem esperanças? Temos, sim. Temos projetos muito importantes, como o programa espacial brasileiro e o polo petroquímico, incluindo a necessária refinaria.

O programa espacial nunca se tornou uma prioridade verdadeira para o país. Somente na retórica. Mas é imprescindível ao Brasil por todas as razões que forem examinadas, tanto as de segurança, como de inserção em um mercado riquíssimo, como de desenvolvimento tecnológico. É, na verdade, imprescindível ao desenvolvimento brasileiro. E tem que ser feito aqui, porque é aqui que está o Centro de Lançamentos de Alcântara, o de melhor localização no mundo.

E teremos em breve o ITA, fundamental para que tenhamos aqui os centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, atraindo as empresas desenvolvedoras. Vejam que isso configura um desses projetos raros, pois são capazes, por si só, de mudar as coisas por aqui. Mas, isso ainda não basta. Precisamos ainda de uma empresa, para que essa faça o papel da Embraer, que foi fundamental para criar a indústria aeronáutica brasileira. Essa empresa, que seria para o setor espacial, está com todos os estudos prontos, mas ainda sem decisão do governo para criá-la. Essa é a nossa próxima luta.

O outro projeto capaz de influenciar e nos aproximar do desenvolvimento econômico e social é o polo petroquímico, projeto de iranianos e indianos, altamente germinador e que tem força econômica para atrair um grande número de empresas para cá. O ministro das Minas e Energia, Fernando Coelho, chefiará a delegação que contará com integrantes dos governos federal e estadual e da nossa bancada na Câmara. Essa visita deverá ser decisiva para o empreendimento.

Nesse contexto, impossível citar o ITA novamente, que é quem formará engenheiros altamente qualificados, sem os quais nada disso poderá fincar os pés aqui.

Então, mais uma vez lanço mão desse espaço, pois vale muito a pena explicarmos o projeto do ITA e da UFMA, já que dificilmente teremos uma iniciativa tão importante para o nosso futuro em curto prazo. Vamos lá:
Não, nós não vamos trazer o ITA de São José dos Campos para Alcântara. Isso seria impossível, jamais conseguiríamos. Nem nunca foi essa a nossa pretensão.

O ITA se consolidou como uma escola de engenharia de ponta, uma das melhores do mundo e um dos maiores centros brasileiros de inovação e de pesquisa. Em São José dos Campos estão instaladas uma grande quantidade de indústrias que trabalham como desenvolvedoras de equipamentos baseados nas pesquisas do ITA para todos os setores da economia.  O instituto prepara pessoal especializado para a indústria aeronáutica, para a indústria de defesa e para o programa aeroespacial, entre outros. Portanto, é impossível mudá-lo de lugar. Esse não é tampouco um projeto deles. Não é. O ITA passa por dificuldades financeiras que estão atrasando obras importantes de laboratórios e investimentos. Assim, esperar que aquele instituto banque outros projetos em outros estados é ficar contra a realidade que tão cedo não mudará. Não temos tempo para esperar.

O que queremos e o que precisamos é fazer aqui uma “cópia autêntica” do ITA. Uma escola com o mesmo DNA do ITA, com paternidade assumida por aquela escola, mas crida pela UFMA que, com os seus mais de cem doutores, é o local ideal para acolher e desenvolver uma escola de engenharia de ponta, como a de São José dos Campos. Ou seja, uma parceria completa entre o Instituto e a UFMA, com currículo desenhado pelo ITA -já pronto- e contando com professores preparados e pós-graduados por  aquele instituto, funcionando dentro dos padrões rígidos e com as mesmas exigências e supervisão inerentes a seus processos. Dessa forma, dentro da parceria estabelecida entre o ITA e a UFMA, conforme propôs o Reitor Anderson, quando esteve em nossa universidade, em seis anos os alunos recebem um diploma da UFMA, pelo curso regular, e outro do ITA pelo mestrado. Além disso, os alunos terão aulas nos laboratórios daquele instituto, acompanhados pelos professores de lá.

Vejam que essa dinâmica é muito semelhante ao que aconteceu com o próprio ITA. Este importou dos Estados Unidos, do Instituto Militar de Massachussets, os professores para funcionar. No começo, os alunos estudavam na Escola Militar de Engenharia, o IME, enquanto suas instalações ficavam prontas.

Portanto é uma iniciativa tripla que conta com o apoio do ITA, do Comando da Aeronáutica e da UFMA.

O professor José Edimar Barbosa Oliveira, maranhense de Colinas, é Doutor em Engenharia Eletrônica. Iniciou suas atividades no corpo docente do ITA em 1977. Em 1993, por meio de concurso público, ascendeu ao nível de professor Titular da Divisão de Engenharia Eletrônica e tem sido um entusiasta do projeto do ITA no Maranhão. Seus conselhos, tem sido muito importantes para o êxito do projeto.

Pois bem, esse é o trem, figurado, que não podemos perder, temos que embarcar nele, sob pena de mantermos o nosso estado atual de desenvolvimento por muito tempo.

Nada importante é feito sem muito sacrifício e dedicação.