quinta-feira, 14 de maio de 2009

Casa de Marimbondo

Yuri Kasahara
Professor da FGV-RJ e pesquisador do Centro de Pesquisas em Direito e Economia (CPDE) da FGV

Daniel Strauss Vasques
Mestre em economia pela PUC-RJ e advogado


Em artigo intitulado “Votos anulados e eleição mantida”, o ministro Carlos Ayres Britto apresenta uma justificativa para a solução dada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aos processos que levaram à recente cassação dos governadores do Maranhão e da Paraíba. Tomando o procedimento adotado pelo tribunal como a consolidação de uma tendência, o ministro defende que, em caso de cassação do eleito por vício na candidatura, o TSE deveria empossar aquele candidato que seria vencedor no primeiro turno desconsiderando do cálculo os votos dados ao candidato cassado, o que ele chamou de rescaldo eleitoral. Na ausência de um candidato que atenda esse requisito, um novo pleito deveria ser realizado. Sem entrarmos no mérito da cassação nesse caso específico, acreditamos que o procedimento adotado pelo TSE e os argumentos apresentados pelo ministro merecem análise mais cuidadosa.

Em primeiro lugar, a ideia de que essa solução garante o respeito ao princípio da maioria democrática é não apenas equivocada, mas também perigosa em caso de aplicação generalizada no futuro. Tomemos como exemplo o município alagoano de Marimbondo, que obteve uma breve fama nas eleições de 2008 por eleger seu prefeito Zé Márcio (PSC) com 5.167 votos contra apenas um voto de sua adversária, Reneide Vieira (PHS). Segundo a nova tese do TSE, com uma eventual cassação da candidatura do prefeito eleito e de seu vice, Reneide Vieira deveria ser empossada. Mesmo tendo recebido o voto de apenas um único eleitor, ela preencheria com folga os requisitos, pois não só teria a maioria dos votos válidos do tal rescaldo da eleição, como sua totalidade.

O caso hipotético de Marimbondo é extremo, mas está longe de ser um episódio isolado. Analisando os dados do TSE, constatamos que pelo menos 91% dos municípios brasileiros, se tivessem seus prefeitos cassados, poderiam empossar o segundo colocado pela improvisada fórmula do aproveitamento do rescaldo da eleição. É o que ocorreria em cidades como Belo Horizonte, Fortaleza, Curitiba e Recife. Mais ainda, segundo essa recém-criada linha de sucessão, Piracicaba, Limeira e outros 75 municípios brasileiros teriam candidatos eleitos com menos de 10% dos votos válidos da eleição originária.

Além desse possível cenário surrealista, é discutível o respeito desse procedimento àquilo que o ministro Ayres Britto chama de princípio da legitimidade ética. Poderíamos entender como legítima ou como ética a pura e simples desconsideração dos votos dados ao candidato cassado? Deveriam esses eleitores ser punidos por ações do candidato que escolheram? Ao adotar esse procedimento e negar aos eleitores outra oportunidade de manifestar a sua vontade, o TSE os trata como cúmplices. A punição, nesse caso, estaria sendo estendida a uma parcela considerável do eleitorado.

Em terceiro lugar, esse procedimento cria perigosos incentivos para que candidatos posicionados em segundo lugar façam acusações, reais ou fabricadas, contra os vencedores de eleições para cargos executivos. Vislumbrando a possibilidade de ser nomeado vencedor da disputa, o segundo lugar de uma eleição consideraria interessante levar denúncias a público logo após o resultado ter sido anunciado. Poupar o segundo candidato da via-crúcis de um novo pleito pode se mostrar no curto prazo uma medida que levaria uma série de novos casos para apreciação pela Justiça Eleitoral. Cria-se, dessa forma, a possibilidade de uma transferência maciça de responsabilidade eleitoral para o Judiciário, e não para as eleições em si. Um cenário no qual diversas eleições passariam a ser decididas pelo TSE não pode, assim, ser desprezado.

Não resta dúvida de que a tese elaborada pelo TSE produz efeitos práticos imediatos. Declarar um vencedor sem a necessidade de uma nova eleição evita um período de vacância no cargo e as despesas com a organização de um novo pleito. Ocorre que, nesse caso, celeridade e economia não são necessariamente sinônimos de legitimidade democrática, gerando mais problemas do que soluções e contrariando os princípios que a própria decisão acredita defender. Em breve, o Supremo Tribunal Federal terá a possibilidade de se manifestar novamente sobre a matéria. É uma oportunidade que não deve ser desperdiçada de ratificar os princípios democráticos do processo eleitoral e retificar a decisão do TSE. Não há por que se mexer em casa de marimbondo.


Fonte: Correioweb

quarta-feira, 13 de maio de 2009

César Maia: “Eros Grau é 13″

Mensagem do Ministro Eros Grau aos funcionários do TSE

Brasília, 05 de maio de 2009

Leda, Marise, Juliana, Ariadne, Larissa, Julio, Ronaldo, Gustavo, Murilo, Edgard, Cezar e Rocha, meus Amigos:

Tudo passa. Por isso cada manhã somos outros. Passou o meu tempo no TSE. O Supremo me absorve. Estou convencido de que não posso dividir a minha fidelidade a ele com outro tribunal. Aqui fizemos o suficiente. Fizemos o suficiente nós todos, Vocês e eu. Curiosamente, fomos treze. Fizemos como deveríamos ter feito. Juntos. Não fosse cada um de Vocês, e todos, eu não deixada o TSE tranquilamente, seguro de que cumpri o meu dever. Com dignidade. Corretamente.
Obrigado, meus Amigos.
Somos treze. Contem comigo tal e qual sempre contei com Vocês.
Abraço afetuoso,
Eros Roberto Grau

MINISTRO EROS GRAU É 13! É PT! "CURIOSAMENTE SOMOS 13”! "JUNTOS SOMOS 13”!

O Ministro Eros Grau, do STF, renunciou semana passada à sua vaga de ministro no TSE. E deixou uma carta aos funcionários. Nitidamente a carta sinaliza para o número 13, o número do PT. Num ministro da Corte Suprema, que cuida de cada letra ao escrever, não pode ser coincidência. Na carta, ele afirma: "Curiosamente somos 13". E mais à frente reafirma: "Juntos somos 13". Leia a carta com atenção e avalie se um ministro da Corte Suprema pode insinuar simpatia partidária.

Comentário do Blog: Conforme a interpretação dada por Cesar Maia, publicada em seu Blog, esse fato é da maior gravidade. Insinua que o Ministro defendeu no Tribunal , interesses do seu partido, mais precisamente os do Presidente Lula. Permite a interpretação de que Lula agiu para cassar Jackson Lago, a pedido de seu grande amigo e conselheiro José Sarney. Consta que um outro Ministro nomeado por Lula que votou nesse dia, votou contra Jackson, contrariando seu próprio desejo que era de votar a favor de Jackson, atendendo, também, a um pedido do Presidente. Essas são versoes dominantes em vários circulos de Brasília e que agora ganha força com essa carta de Eros Grau, que foi o relator do processo. Com o tempo as coisas vão ficando mais claras..

Fonte: Ex-blog do César Maia (www.cesarmaia.com.br)

Resistência Democrática

A decisão do Tribunal Superior Eleitoral que tomou de Jackson Lago o governo do Maranhão e o deu para a candidata derrotada nas eleições, Roseana Sarney, nas palavras de seu presidente, Ministro Ayres de Brito, foi de “menor extensão democrática”. Num artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, este tenta explicar tal decisão e acaba se embaraçando ainda mais, criando frases sem nenhum sentido como essa. Suponho que nem ele sabe o que quis dizer. Mas foi assim que aconteceu e hoje temos no governo uma governadora biônica, despreparada como sempre, e que não consegue governar.

O que vem acontecendo com os desabrigados pelas cheias no Maranhão está sendo agravado, em muito, pela falta de liderança, disposição e motivação para atender o povo sofrido do nosso estado. Com isso sofrem as famílias, jogadas em locais insalubres, sem sanitários suficientes, sem assistência médica e hospitalar, como descreveu o Jornal Nacional. Quem não viu - e se chocou - com a cena de uma mãe de família levando seu filho ardendo em febre, de canoa, em busca de socorro? E esse é apenas um fragmento doloroso do drama cotidiano dessas famílias... Uma verdadeira tragédia, terrível para essas pessoas, que a muito custo montaram suas casas, mobiliaram-na e, de uma hora para outra, vêem tudo ser arrastado ou estragado pelas águas. São pessoas pobres que ficam mais pobres e que, além de cestas básicas do governo federal e de prefeituras, nada mais possuem que sirva de amparo.

Muito diferente do que está acontecendo no Piauí, exemplo não muito longe e perfeitamente possível de se criar uma comparação, por ser uma unidade federada igualmente pobre. Ali, o governo está presente, apoiando, construindo hospitais de campanha, entregando remédios, e inovando até com programas, como o aluguel de vagas em casas que se dispõem a receber as famílias flageladas. O subsídio é pago pelo governo aos locadores, como se fosse uma espécie de aluguel, no valor de R$ 150,00 mensais. Resultado disso é a diminuição da pressão por abrigos e o envolvimento da população na solução do problema. Não bastasse isso, coisas surpreendentes tem sido registradas nesse programa: exemplos vivos de solidariedade, pois muitas famílias, quando podem, não aceitam receber o aluguel.

O que impede então este novo governo maranhnese de organizar mutirões médicos, como o que fizemos centenas de vezes, na capital e no interior, os muito bem avaliados “Mutirões da Cidadania”? Todas as pessoas que estiveram envolvidas nesse programa continuam no governo. Contam-se milhares e estão aí mesmo, dispostos a enfrentar as adversidades. São médicos, para-médicos, dentistas, enfermeiros, biólogos, pessoas de boa vontade e desprendidas e que não são aproveitados apenas porque esse não é o rumo da atual gestão...

Mas a governadora, não eleita, e que já havia feito um governo ausente de rumo, a ermo e sem projetos, que levou o Maranhão para a pobreza, não tem interesse e vê esse lado da sua administração com enfado. Não foi à toa que quase um milhão de maranhenses fugiram daqui devido ao abandono em que se encontravam. Num momento esquisito, em que o governo não tinha Secretária de Agricultura, nem combate a aftosa, nem ensino médio, nem... Bem, é tanta coisa que nem vamos repetir.

Estes não conseguem assumir suas obrigações e pensam que seu esquema de mídia substitui tudo, dando-lhes vida boa no modorrento dia a dia governamental e enganando o povo. Não é mais assim! O povo está insatisfeito e disposto a cobrar o apoio que lhes é devido.

Roseana só pensa em dinheiro. Com ódio dos prefeitos, quer lhes tomar o dinheiro de obras e benefícios que o governo passado, parceiro, colocou em suas contas. Dinheiro economizado por aquela administração exatamente para ser aplicado em benefício da população. E, Roseana, que disso não participou, que em nada contribuiu, quer impedir essa ação. Para quê? Ninguém sabe.
Tentando aproveitar-se do sofrimento dos flagelados, a governadora preparou uma armadilha para Lula. Apresentou-lhe uma conta de 1 bilhão de reais, não se sabe de quê, sem projetos, nem nada, mas certamente de olho nas eleições do ano que vem. Lula, conhecedor da personagem, disse que não era assim e que, não era só com dinheiro que desabrigados poderiam ser amparados. E fez mais: condicionou a liberação de dinheiro do governo federal como contrapartida à apresentação de projetos muito bem justificados e auditados. Além disso, não desfilou com ela, tampouco foi ao Palácio dos Leões. Isso demonstra claramente a ausência de intenções deste em “consolidar” o governo biônico de Roseana Sarney Murad, como publicou equivocadamente o seu jornal.

Na verdade, Lula demonstrou desapreço por Roseana. Lembram que Sarney, José Dirceu e outros, pressionaram-no para nomeá-la Ministra, de qualquer coisa, e ele, fazendo cara de paisagem, disse que nunca a havia convidado?

Avancemos. Olhem só como Roseana Sarney encara o governo: ela cancelou o inicio da Campanha de Vacinação Contra a Aftosa, prevista para começar no último sábado, porque iria a um casamento. Estaria ela exausta de tanto representar como governadora?

Outro fato intrigante: em sua gestão passada extinguiu Secretárias de Estado, agora só faz aumentar o seu número. Foi um escândalo, naquele tempo, a extinção da pasta da agricultura. Agora, incoerente até com ela mesma, cria não uma, mas duas Secretarias de Agricultura. Isso é que é uma crítica, abalizada, ao seu próprio governo! Não bastasse isso, susta o primeiro ato de uma delas, a campanha de vacinação. É um governo 'sem lenço e sem documento', com apenas um propósito: o seu plano revanchista, objetivo síntese de suas ações.

Prova disso é o que se tem observado nas últimas semanas. Sem inquéritos, nem apurações administrativas, mandam a polícia investigar Secretários de Jackson. Querem prender alguém para exibir com um troféu para o Maranhão e o Brasil. Já pensou se isso tivesse sido feito antes? Com Salangô, Fábrica de Rosário e etc? Poucos escapariam. Será que agora os outros terão direito de defesa?

Por tudo isso, está na hora de nos reunirmos. Precisamos nos solidarizar com o povo abandonado do Maranhão, a mercê de um governo que não foi eleito, descomprometido e omisso. Na segunda-feira próxima, dia 18 de maio, conclamo a todos para nos encontrarmos às nove horas da manhã, no auditório da Assembléia Legislativa, A Casa do Povo, para debater o atual momento. Vamos aproveitar a iniciativa do PSB, que convocou a reunião, mas os partidos da antiga Frente estarão lá, assim como as grandes lideranças empenhadas por um Maranhão melhor.

Vamos lutar por um Maranhão livre de oligarquias e monarcas. Um estado justo e bom para o seu povo. Vamos lutar para o Maranhão retomar o seu caminho.

É uma reunião pública. Vamos lá. Até segunda!

domingo, 10 de maio de 2009

Brasil

VERDADES QUE ENVERGONHAM

Deputado que respondeu a processo até por favorecimento à prostituição diz que está "se lixando para a opinião pública" e que se reelege apesar das críticas. O pior é que ele tem razão...


Otávio Cabral

Roberto Stuckert Filho/Ag. O Globo
TÔ NEM AÍ Sérgio Moraes defende a absolvição do colega Edmar "Castelo" Moreira: sem medo do que vão dizer da decisão

O Congresso seria bem diferente se todos os deputados e senadores eguissem o exemplo do deputado Sérgio Moraes, do PTB do Rio Grande do Sul. Na semana passada, o nobre parlamentar gaúcho deu uma invejável demonstração de sinceridade aos colegas e aos eleitores. Relator do processo que analisa as peripécias do deputado Edmar Moreira – aquele que tem um castelo de 25 milhões de reais e nunca declarou isso ao Fisco e também cultivava o hábito de usar a verba de gabinete para contratar serviços de suas próprias empresas –, Moraes se irritou com os jornalistas que cobravam dele uma posição mais rigorosa sobre o caso e disparou uma das mais honestas declarações que se ouviram da boca de um político nos últimos tempos: "Eu estou me lixando para a opinião pública! Até porque a opinião pública não acredita no que vocês escrevem. Vocês batem, batem e nós nos reelegemos mesmo assim".

A repercussão foi tanta que Moraes foi ao plenário se explicar, mas, no geral, não recuou um milímetro do que dissera – nem deveria. O deputado está certíssimo. Ele e uma parte considerável de seus colegas realmente não se importam com o que pensam os eleitores e, como tem ficado evidente diante dos últimos escândalos, agem com profundo desprezo em relação às questões mais elementares da ética, movidos pela convicção de que ainda serão premiados por isso nas próximas eleições.

Fotos Leo Fontes/O Tempo/AE e Andre Dusek/AE

TRANQUILO Edmar Moreira está confiante na absolvição: castelo não declarado, uso irregular da verba de gabinete e sonegação fiscal

A biografia do deputado é a própria demonstração do seu teorema político. Deputado federal em primeiro mandato, Sérgio Moraes presidiu o Conselho de Ética até março. Seu principal feito no cargo foi trabalhar pelo arquivamento do processo contra o deputado Paulinho da Força (PDT-SP), que participou de esquema de desvio de recursos do BNDES. Antes de chegar a Brasília, Moraes teve dois mandatos de vereador e dois de prefeito em Santa Cruz do Sul (RS), também foi duas vezes deputado estadual. Vencia eleições à medida que respondia a processos. Há oito acusações contra ele no Supremo Tribunal Federal, entre as quais algumas bizarras, como a instalação de um telefone público na casa do próprio pai quando era prefeito. E já respondeu a outras um pouco mais delicadas, como a de receptação de joias roubadas e de envolvimento com uma rede de prostituição – crime pelo qual chegou a ser condenado em primeira instância. Apesar da ficha corrida, o deputado é campeão de votos na região. Sua popularidade é tamanha que ele elegeu a mulher prefeita de Santa Cruz do Sul e o filho vereador da mesma cidade. Por isso, Moraes sabe o que fala quando diz que está se lixando para a opinião pública.

Há dezenas de outros exemplos de parlamentares que se envolveram nos mais escabrosos escândalos da recente história política brasileira e que flanam pelos corredores do Congresso anistiados pelos eleitores. São as evidências reais de que o deputado Sérgio Moraes, infelizmente, apenas reproduziu a verdade. "O que se convencionou chamar de opinião pública atinge um público restrito, com um pequeno poder de mobilização. Grande parte da população não tem acesso às informações sobre os desmandos dos políticos. E mesmo aqueles que têm informação estão mais preocupados com problemas cotidianos, como emprego, salário e educação dos filhos, deixando a política em segundo plano", diz o cientista político Rubens Figueiredo. Para Claudio Abramo, diretor da ONG Transparência Brasil, as denúncias sobre os desmandos ainda são a melhor arma para a sociedade se defender dos maus políticos. "Nos últimos anos o acesso à informação tem sido facilitado e, com isso, a vida dos políticos corruptos tende a ficar mais difícil, mas é um trabalho de longo prazo", afirma. A entidade vê com bons olhos a possibilidade de proibir os políticos com ficha suja de disputar eleições.

Roberto Stuckert Filho/AE
NO SENADO O casal João Carlos e Denise Zoghbi: milhões na conta da babá e proteção dos padrinhos políticos

Apesar de algumas demonstrações de indignação sobre as declarações de Sérgio Moraes, o Congresso, como regra, tem seguido linearmente o que o deputado prega – só que no mais conveniente silêncio. Há duas semanas, por exemplo, foi revelado que João Carlos Zoghbi, ex-diretor de recursos humanos do Senado, e sua mulher, Denise Zoghbi, receberam 2,3 milhões de reais do Banco Cruzeiro do Sul pela renovação de contrato para concessão de crédito consignado aos funcionários do Senado. O pagamento foi feito a empresas do casal, que estavam registradas em nome de uma ex-babá de 83 anos. Em vez de remeter a investigação do caso à Polícia Federal, como seria o normal, o presidente do Senado, José Sarney, preferiu chamar a Polícia Legislativa. Zoghbi, o milionário, tem uma relação muito próxima com o grupo político de Sarney e seu padrinho político é o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, aliado de Sarney. Seu chefe imediato no Senado era Agaciel Maia, o ex-diretor-geral demitido por esconder a propriedade de uma mansão de 5 milhões de reais. Agaciel chegou à direção do Senado em 1995, após ter protegido Roseana Sarney, filha de Sarney, de uma investigação do Ministério Público sobre uso político da gráfica do Senado, que ele presidia. Qualquer investigação minimamente séria teria de se debruçar sobre as ligações políticas dos funcionários afastados com os parlamentares que comandam o Senado. Traduzindo: é uma investigação apenas de mentirinha, de faz de conta, para não chegar a lugar algum e deixar tudo como está. Os senadores também estão se lixando para a opinião pública.

CRIME E PERDÃO

É constrangedor, mas o deputado Sérgio Moraes tem razão. Autoridades, deputados e senadores envolvidos em grandes escândalos foram absolvidos pelos eleitores

Corrupção e Fortuna — Jader Barbalho renunciou à presidência do Congresso acuado por denúncias de enriquecimento ilícito. Um ano depois, foi eleito deputado federal.
Propina — Severino Cavalcanti renunciou à presidência da Câmara por receber propina de um dono de restaurante. Três anos depois,elegeu-se prefeito de João Alfredo (PE).
Impeachment — Fernando Collor perdeu o mandato de presidente após ser acusado pelo próprio irmão de liderar um governo corrupto. Catorze anos depois, foi eleito senador por Alagoas.
Milhão escondido — Roseana Sarney renunciou à candidatura à Presidência depois que a polícia apreendeu 1 milhão de reais de origem desconhecida em seu comitê de campanha. No mesmo ano, elegeu-se senadora.
Mensaleiro — João Paulo Cunha foi absolvido pelo plenário da Câmara em 2006 por receber dinheiro do esquema que ficou conhecido como mensalão. No mesmo ano, foi reeleito deputado.

Fotos Beto Barata/Folha Imagem; Lula Marques/Folha Imagem, Antonio Cruz/ABR; Dida Sampaio/AE; Beto Barata/AE

Fonte
: Matéria publicada na edição de Veja No. 2112 de 13 de Maio de 2009. Link original aqui.

Está Difícil Abafar o Escândalo

A direção do Senado monta um teatro para tentar reduzir os danos do caso da ex-babá – mas não param de surgir novas denúncias

Andrei Meireles e Matheus Leitão
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SOB ENCOMENDA

João Carlos Zoghbi e sua mulher, Denise, na saída do depoimento à Polícia do Senado (ao fundo, o advogado Kakay). Eles avisaram que poderiam perder o controle diante da Polícia FederalNas duas últimas semanas, o presidente do Senado, senador José Sarney (PMDB-AP), tentou conter os possíveis estragos causados pelo casal Zoghbi. Com apoio da maioria da Mesa do Senado, está em curso um plano concebido por assessores e pelo advogado do casal, Antônio Carlos Almeida Castro, o Kakay, um dos mais articulados de Brasília. Kakay já atuou como advogado de gente como o ex-deputado e ex-ministro petista José Dirceu, atuou para grandes construtoras durante a CPI do caso Collor e já defendeu interesses de vários senadores – entre eles o próprio Sarney.

A intervenção de Kakay ocorreu depois que o casal Zoghbi passou a enviar mensagens preocupantes a seus padrinhos políticos e a seus parceiros em negócios no Senado. Eles informaram que estavam abalados e receavam enfrentar um depoimento à Polícia Federal ou ao Ministério Público. Sarney colocou a Polícia do Senado para investigar as denúncias. Em geral, ela investiga apenas pequenas agressões e furtos dentro do Senado. Outro problema: a Polícia do Senado é comandada por homens de confiança do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, implicado em acusações de corrupção feitas pelo casal Zoghbi a ÉPOCA.

“A Polícia do Senado não tem competência nem legitimidade para promover essa investigação”, afirma Cezar Britto, presidente nacional da OAB. Sarney também enfrentou reações em plenário. Afirmou que não tinha intenção de obstruir as investigações e prometeu mais de uma vez que a apuração seria acompanhada pelo Ministério Público. Na terça-feira, Sarney buscou o respaldo do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. Por duas vezes, pediu a indicação de um procurador para acompanhar o trabalho da Polícia do Senado. Antonio Fernando não topou. O procurador Gustavo Pessanha Velloso, que já se ocupava da investigação e mapeou todas as denúncias surgidas até aqui, vai trabalhar com a Polícia Federal.

Na quarta-feira, o casal Zoghbi prestou durante quatro horas depoimento à Polícia do Senado. Nada lhes foi perguntado sobre as cinco empresas criadas em nome da babá de 83 anos. Na saída, o chefe da Polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo Cavalcanti, chegou a dizer que o casal negara as acusações feitas a ÉPOCA. O próprio Kakay telefonou para ÉPOCA e afirmou: “Eles não desmentiram nada. Apenas esclareceram que disseram tudo aquilo como uma tentativa de evitar a publicação da reportagem sobre a babá”. Seu plano, aparentemente, é abafar uma investigação sobre um esquema de corrupção no Senado, deixar o casal longe de investigadores de verdade e produzir um depoimento que possa virar arma de defesa em um inquérito. Ao assumir a causa, Kakay afirmou que só a aceitou porque não haveria denúncia contra nenhum senador. “Para mim, isso seria um conflito de interesses. Tenho 15 senadores como clientes.” De acordo com o relato de vários senadores, Kakay também avisou a parlamentares que não aceitaria o trabalho se o casal Zoghbi mantivesse qualquer denúncia contra Agaciel.

Na sessão do Senado na quinta-feira, o trabalho de apuração da Polícia do Senado foi criticado. “Esse depoimento foi uma farsa”, afirmou na tribuna o senador Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM). “É até maldade com a Polícia do Senado, que está pronta para enfrentar a baderna do MST, mas não para investigar os generais da Casa.” As críticas de Virgílio foram endossadas por outros senadores, como Pedro Simon (PMDB-RS), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Eduardo Suplicy (PT-SP).

Senadores que, em outros momentos, subiam à tribuna e chamavam a atenção do país com sua combatividade hoje estão calados. É fácil entender por quê. Eles temem, provavelmente, que a turma de Agaciel use informações negativas para desmoralizá-los. É o que tem acontecido com as passagens aéreas. Essa postura defensiva só protege o esquema que domina a máquina do Senado há 15 anos e quer preservar sob segredo os negócios feitos pela administração da instituição.

(*) Fonte: Matéria publicada na edição de Época No. 573 de 09 de Maio de 2009. Link original aqui.