terça-feira, 11 de agosto de 2015

A CRISE ISOLA O GOVERNO



Hoje a palavra que mais se ouve no Brasil é “pacto”. Coincidência ou percepção da real situação do país? Será que alguém ainda duvida de que a crise econômica, social e política é de tal proporção que há uma sensação generalizada de que o governo não tem mais controle da situação, de que não se tem mais recursos para nada e que cada dia é pior do que o anterior? Até onde chegaremos assim?

Vejam que essa situação levou o senador José Serra a dizer que vivemos um momento pior do que 1964. O fato é que no congresso podemos sentir a gravidade do momento e é notório que o governo não tem mais quase ninguém com quem contar. Até o próprio PT, antes tão aguerrido, vem cada vez mais votando contra os interesses do governo.

A presidente Dilma parece que não sabe muito bem mensurar o que está acontecendo. Ela prefere partir para a briga a lançar um projeto de conciliação nacional. Seu temperamento forte parece não deixar que ela tenha humildade para reconhecer seus erros e chamar a todos para ajudar sem rancor. Ela prefere brigar mesmo, chegando à beira do abismo, com apenas 8 por cento de aprovação. Ou seja, apenas oito brasileiros em cada cem aprovam o seu governo, enquanto que setenta e um em cada cem o rejeitam. Mesmo assim, ela parte para a briga, desdenha do panelaço, desdenha da realidade do momento em que vivemos.

Algo precisa ser feito! Em apenas sete meses já ultrapassamos a meta de inflação proposta para o ano inteiro! Para os pobres, a inflação já passou dos dez por cento, ou seja, as classes menos favorecidas economicamente, que são a maioria do povo brasileiro, são as que recebem o pior da crise, além do desemprego crescente.

Se o julgamento das contas do governo da presidente pelo TCU for pela desaprovação destas e se ela for enquadrada na Lei de Responsabilidade Fiscal, está tudo pronto na Câmara para iniciar um processo cujo desfecho pode ser, de acordo com a lei, o seu afastamento. Nesse caso, assumiria o vice-presidente Michel Temer para cumprir o restante do seu mandato.

Alguma coisa pode salvá-la desse desfecho? Especula-se que ela só conseguirá evitá-lo, se algo inusitado acontecer. Por exemplo, se o PSDB se juntar ao PT. É incrível, mas pode acontecer. E ocorrendo mesmo, o PSDB está arriscando a sua credibilidade política, talvez de forma definitiva.

Vamos analisar o que estou dizendo: A solução que descrevo acima dará o governo ao PMDB, pois Michel Temer assume. E isso o PSDB parece não querer. Teme que uma vez instalados no governo, seja difícil retirá-los de lá, pois jogam muito pesado.

O PSBD não escapará da acusação de protagonizar um enorme casuísmo, já que o partido, que até agora incentivava o ‘Fora, Dilma!’, pedindo o impeachment - que lhes era conveniente, porque nesse caso haveria nova eleição para presidente e eles têm o candidato que está na frente das pesquisas - mude de ‘fora, Dilma!’ para ‘Fica, Dilma!’, porque, se ela sair, Michel Temer é que vai assumir.

Preferem deixar Dilma no governo, isolada e detestada pelo povo, sem poder de reação - portanto, teoricamente mais fácil de vencer - a enfrentar a turma pesada do PMDB. No entanto, dão a entender que estão relativizando sua maneira de atuar e perdem credibilidade. A fim de tentar encontrar uma saída política para a confusão, inventaram uma proposta sem pé nem cabeça, que não tem amparo em nenhuma lei e nem na Constituição e pedem novas eleições, como se estivéssemos no sistema parlamentarista. Isto só dá mais força ao PT para denunciar uma pretensa tentativa de golpe. 

Agindo assim, terão que se explicar a todo o momento, dando razão a sua antiga fama de não se decidir e de viver em cima do muro.

Na verdade, a única pessoa que poderia criar as condições para ficar no governo e cumprir o seu mandato é a própria Dilma, se lançasse ao debate um projeto de conciliação nacional, se desculpando pelos erros cometidos, enxugando o governo, chamando gente competente para ajudá-la, não precisando mais atrair apoio a todo o custo em nome da governabilidade e lançando ao debate uma pauta de projetos que, pela sua importância, pudessem mudar o rumo do país, que hoje está em queda livre.

Mas não acredito que ela faça sequer uma coisa parecida com isso. Parece que ela quer é liquidar adversários e a oposição, parece querer é brigar mesmo, em um momento que não tem força suficiente para enfrentar o grande antagonismo da população e do Congresso incentivados por sua maneira de governar.

Mesmo porque se ela propusesse algo marcante, não poderia ser apenas “da boca para fora”, não poderia ser apenas retórica, teria que ser sincero e ela teria que levar o governo até o fim dessa maneira. 

Pelo que conheço dela, por seu temperamento guerreiro, ela jamais teria humildade suficiente para se entregar a essa tarefa.