terça-feira, 7 de novembro de 2017

POLÍTICA E CRIME ORGANIZADO



Fernando Gabeira, ex-militante da esquerda radical, ex-deputado federal, intelectual e jornalista publicou no jornal O Globo de domingo, dia 5 de novembro, um artigo muito bem elaborado com o título “No coração das trevas”. Nele, Gabeira analisa a profundidade da crise de segurança do Rio, levada as manchetes dos meios de comunicação de todo o país pelas declarações do ministro da Justiça Torquato Jardim de que a crime ali praticada estaria sendo sustentada por políticos e por comandantes de batalhões da Polícia Militar. 

Com a reação do governador do estado, do comandante da PM e dos políticos, o ministro recuou, pediu desculpas, mas quando fez o desabafo, estava respaldado por informações dos órgãos de segurança do governo federal. Foi precipitado, reconheceu, mas certamente falava a verdade e o assunto não vai se encerrar com o recuo. Nem poderia...

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou há algum tempo que havia relação entre políticos e o crime organizado no Rio. Eles precisam de voto e o crime organizado controla mais de 800 pontos no Rio de janeiro. Na Baixada fluminense, esse número é muito maior. Jungmann propôs uma força tarefa para desvendar os vínculos entre crime e política naquele estado. Raquel Dodge concordou. Gabeira conta que “não é bem assim” e que, conversando com amigos dele na PM, estes asseguraram que há bons e honestos comandantes, o que também certamente é verdade. O perigo maior, sem dúvidas, é a cobertura que esses políticos influentes dão aos comandantes desonestos e ao crime organizado, impedindo investigações, punições e a luta total contra esse estado de coisas.

Já escrevi aqui que a decisão do STF acabando com as doações do setor privado sem colocar nada em seu lugar abriria caminho para que o crime organizado - que tem dinheiro - financiasse políticos a ele ligados, desestabilizando o país, como está acontecendo agora no Rio.

O que ocorre é que, como nos conta Gabeira, estabeleceu-se ali um clima de total desconfiança entre os órgãos de segurança federais e estaduais, o que impede que o combate ao crime organizado ganhe força e possa ser eficiente, pois para isso é necessária a completa união e um trabalho em conjunto das duas esferas governamentais. O que não existe lá.

E o próprio Gabeira que, inclusive, no auge da sua militância, participou até de sequestros de embaixador, diz com muita propriedade: “O potencial de descobrir caminhos para programas que reforcem a segurança no Rio não está em governos combalidos, mas na própria sociedade. Sem que os sobreviventes no governo peçam socorro e a sociedade lhes dê a mão, não vai prosperar uma defesa real diante da crise da segurança”. E conclui: “nossas chances dependem também da percepção do abismo, quanto mais rápida melhor”.

Esse é o retrato do caos a que chegou o Rio. Mas todos sabemos que é ali e em São Paulo que as facções criminosas, cada vez mais dominam e se expandem para todo o Brasil. Os métodos são os mesmos e o que acontece no Rio ecoa por todo o país.

Gabeira está certo. A sociedade tem que participar alertando, informando. Essa força-tarefa envolvendo os órgãos de segurança federal, estaduais e o ministério público, é a resposta que deu certo em outros países. São inúmeros exemplos, na Europa e nos Estados Unidos, até na América do Sul. Nem tudo está perdido, mas urge começar.

E tem que ser agora!