terça-feira, 6 de setembro de 2011

ALCATEIA

A governadora Roseana Sarney temerariamente lançou a candidatura do Chefe da Casa Civil, Luís Fernando, ao governo do estado na semana passada. Ela mal completou nove meses de mandato e, contrariando a prática política de preservar o seu próprio governo, só permitindo o debate de sua  sucessão no ultimo ano, ela inopinadamente lançou seu candidato ao governo para a eleição de 2014. 
 
Todos os governadores não admitem sombra política, pois isso desvia o foco da gestão que nesse período tenta encontrar seu rumo e lançar os seus mais importantes programas de governo. Mas sabe-se lá porquê, talvez devido ao marasmo em que envolveu o seu próprio governo, ela se sentiu obrigada a lançar a novidade.
 
Foi tão estranho que na Assembleia pairou uma dúvida se o chamado para Luís Fernando descer do terceiro andar, onde é seu gabinete, para o segundo, onde é o dela, não seria para já – agora - pois ela própria se colocou ausente e é imperioso que alguém governe. Luís Fernando foi colocado na Casa Civil para comandar o governo, mas, por temperamento e timidez, não assumiu até hoje, preferindo fazer seminários pelo interior do estado. Talvez faça isso por não sentir segurança em tentar comandar um governo sem nenhum controle, dividido, e sem programas estruturantes e mobilizadores. Talvez saiba que do jeito que está é difícil...
 
E para sacramentar a grande bagunça que se instalou ali, os blogs da Mirante, empresa da governadora, divulgaram a notícia de modo muito revelador do clima político de mixórdia que paira ali. Ou seja, anunciaram que ela havia lançado Luiz Fernando candidato a sua sucessão e ao mesmo tempo matado a alcateia que ameaçava lançar candidato dentro do grupo.  
Alcateia, no dicionário, é o substantivo coletivo para lobos. Como faz parte da oligarquia, a família Lobão, representada na Câmara Federal, no Senado e no ministério de Dilma, chefiada por Edison Lobão. Sim, o mesmo que foi recém- eleito senador e que, como divulgou, teve mais votos que a governadora (fato inaceitável para a oligarquia). 
A compreensão natural  é que o anúncio feito pelas hostes miranteanas embutia uma agressão ao “aliado”. Gratuita e desnecessária, mas dentro do jeito Roseana de ser. Pura arrogância. Lobão, político experimentado, deve ter se queixado ao senador José Sarney, mas nada dirá de público nem responderá a agressão. Mas na hora certa dará o troco.
Roseana há pouco tempo deu um “chega para lá em outro senador, desta vez João Alberto, que na moita também é candidato ao governo do estado. João Alberto era o patrono da candidatura à prefeitura de São Luís de Roberto Costa, seu fiel escudeiro. Se este vencesse a eleição,  João Alberto se tornaria o mais forte candidato ao governo do estado pelo lado da oligarquia. 
No entanto, Roseana, para manter viva a candidatura de Luís Fernando, muito amigo de Jorge Murad, seu marido, chegou espanando tudo e de surpresa lançou a candidatura de Max Barros. Mesmo que não ganhe, impede a candidatura de Roberto Costa, que estava muito desenvolto. Parece que ela não gosta muito dos seus senadores, pois os colocou na mira de seus canhões…
Pois bem, este é um jogo que ainda precisa ser jogado. Nada garante a Roseana que no final das contas tudo fique como planejou. Tanto João Alberto quanto Lobão tem em 2014 a sua (possivelmente) última oportunidade de voltar ao governo, como eles tanto querem. Ambos terão ainda quatro anos de mandato de senador e portanto nada perdem. Lobão sairá do PMDB na hora certa e irá para o PSD, onde seus amigos lhe garantirão a legenda. João Alberto, por sua vez, é dono do PMDB, onde manda e desmanda. Sarney, terminando mandato, não sendo candidato a reeleição, vestirá uma saia justa e pouco poderá fazer. 
Esse é o quadro que Roseana atabalhoadamente tenta controlar, mas que dificilmente sairá como ela quer.
Não bastasse isso, Roseana continua brincando com coisa muito séria. No seu governo anterior, inventou o tele-ensino do segundo grau e agora faz escolhas muito descuidadas para a pasta mais importante para o futuro do estado. Nada tenho a dizer quanto aos escolhidos em si, mas sim, com relação a absoluta falta de preparo específico para pasta tão importante. É garantia de que nada importante se fará ali para corrigir o tremendo atraso do Maranhão, comparativamente com os outros estados. É um fosso que vai se alargando negativamente. É uma irresponsabilidade muito grande. Se fosse em uma pasta menos importante e estratégica… Mas na Educação? 
Mas para quem privou os jovens estudantes maranhenses do ensino médio, ao ponto de, quando deixou o governo em 2002, inexistir a oferta dessa etapa do ensino em 157 municípios do estado, isso não é nada demais.
E agora ela comete um ato muito reprovável. Inaugurou três UPAs como se fosse mérito dela, sem citar que esse é um programa do governo federal, lançado ainda no governo Lula e continuado pela presidente Dilma. Ela fez um convênio para construir dez UPAs e até agora só concluiu três. Ela constrói com dinheiro federal e depois de concluidas é que começará a parte de sua responsabilidade, que é o funcionamento da unidade. Portanto, só daqui para a frente, de acordo com a qualidade do atendimento, é que Roseana mostrará seu trabalho. 
Ela, porém, muito carente de realizações, nada disse sobre isso e tentou passar para a população que é um projeto de seu governo. Um belo equívoco, não é, Roseana?
E já viram que agora qualquer coisa que fazem na área da saúde é de alta complexidade? Mesmo que seja banal, passa a ser de alta complexidade. Creio que de alta complexidade é o governo que ela está fazendo. São os reis da marquetagem...
E para finalizar, o senador José Sarney deve estar muito feliz com a defesa que fizeram dele na Assembléia, quando do episódio do uso do helicóptero da PM. Isso demonstra que, com esses amigos, ele não precisa de inimigos. A repercussão da defesa foi quase tão grande, e negativa, quanto o uso do helicóptero. Deve ter ficado muito feliz. Será que já agradeceu ao esforçado deputado?