sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A Juventude Brasileira é de Direita

(Reinaldo Azevedo): A Folha de S. Paulo publicou no domingo uma ampla pesquisa sobre o que pensam os jovens brasileiros. Rendeu até um caderno especial, de 20 páginas, chamado "Jovem Século 21". Segundo informa o caderno, a maioria das reportagens "foi feita pelos integrantes da 45ª turma do Programa de Treinamento da Folha", (...) patrocinada pela Philip Morris Brasil e pela Odebrecht". Comentarei abaixo alguns dados muito interessantes que a pesquisa revelou e tratarei da seguinte questão: a maioria dos jovens brasileiros, a exemplo da população, é de direita. Boa parte da imprensa e, vejam só, as instituições políticas, incluindo partidos, não se conformam com isso. Estão todos tomados pela patrulha esquerdista. Já chego lá. Antes, um pouco de memória.

Memória

No dia 9 de abril de 2007, há mais de um ano, escrevi aqui um post intitulado O Povo é de direita, revela o Datafolha. Foi uma gritaria danada. O link com a íntegra está aí. Recupero dois trechos:

" (...) um político que tivesse rigorosamente as opiniões do povo brasileiro (...) seria chamado de 'direitista' pela esquerda, certo? Quem sabe até de reacionário... E isso estaria a indicar que o povo brasileiro é, então, majoritariamente, 'de direita'. Ora, se ele é de direita, por que, então, estamos sendo governados pela esquerda — ainda que essa 'esquerda' seja a petista, com seu fanatismo recém-adquirido pelo financismo? A resposta é simples: questões como as colocadas acima [aborto, pena de morte, drogas] simplesmente estiveram ausentes do debate eleitoral. E os politicólogos brasileiros, quase todos de esquerda, acham que isso é um sinal do nosso amadurecimento. Essas clivagens aparecem nos confrontos eleitorais dos EUA e da Europa — sabem?, eles são os bárbaros... Já os civilizados brasileiros preferem não entrar nesse mérito porque acham que esse é um debate grosseiro."

"DEM e PSDB cometem, a meu ver, dois erros crassos: não conseguem ter um discurso organizado sobre economia para confrontar o PT e renunciam a fazer o que chamo de guerra de valores com a esquerda. O Datafolha esfrega no nariz das duas legendas o óbvio: o povo brasileiro é conservador e, vejam só, não tem, no Parlamento, quem o represente a contento."

Antes ainda, no dia 13 de agosto de 2006, escrevi aqui: "Uma boa leva de políticos no Brasil deveria olhar para os dados do Datafolha com vergonha. Vergonha de si mesmos e de sua covardia. Existe uma maioria silenciosa que hoje não encontra uma representação consistente. Uma boa pergunta seria a seguinte: como pode Lula vencer, ao menos por enquanto, a disputa presidencial no 1º turno se a maioria da população é mesmo de direita?". Nas duas datas, havia pesquisas Datafolha investigando a opinião dos brasileiros sobre questões de comportamento. Vamos, então, ao levantamento de agora.

A nova pesquisa

Sim, senhores: dados os perfis ideológicos que se desenham a partir de certas opiniões, pode-se dizer que a maioria dos jovens brasileiros é de direita. Declaram ter essa posição ideológica, aliás, 37% dos entrevistados (na população como um todo, são 35%). Dizem-se de esquerda apenas 28% (contra 22% do total). No centro, estão 23% (contra 17% no conjunto). Mas notem: não quero me apegar a nominalismos. Parto do princípio de que os jovens possam não ter a exata noção do que tais nomes encerram. Assim, parece-me, é conveniente informar opiniões muito específicas.

Aborto

O ministro José Gomes Temporão e os nossos "pogreçistas" certamente ficam desgostosos, mas o fato é que 68% dos entrevistados não querem mudar a lei do aborto — pretendem que a prática continue a ser considerada um crime, com duas exceções: gravidez decorrente de estupro e risco de morte da mãe. É o mesmo índice do conjunto da população.

Pena de morte

No que respeita à pena de morte, os jovens se mostraram ainda mais severos do que o povo como um todo: 50% se disseram favoráveis (contra 47% no outro grupo). Dizem-se contrários 46% nos dois universos.

Maconha

Acham que deve ser proibido fumar maconha nada menos de 72% dos entrevistados (ligeiramente inferior aos 76% de todos os brasileiros). Apenas 25% acreditam que deve "deixar de ser crime" (contra 20% no outro grupo). Aqui: só uma lembrança ao caderno da Folha: fumar maconha já não pode mais ser considerado um "crime" — traficar é que é. Como se vê, "Uzome da lei" no Brasil são mais laxistas do que os jovens...

Maioridade penal

No caso da maioridade penal, defendem a atual legislação apenas 12% dos ouvidos — 13% no total. Para 83%, a idade deve baixar: 37% acham que pode ser inferior a 16, e 46% a partir dessa idade.

Deus

E Deus, hein? Deus está morto? Parece que não! Apenas 1% dos jovens se dizem ateus, e 10% dizem não ter religião: 59% são católicos; 16%, evangélicos pentecostais, e 8%, evangélicos não-pentescostais. As demais religiões: espírita (2%), judaica (1%), umbanda (1%), candomblé (1%), outras (2%).

Valores

E quais são os valores das moças e moços? Qual é a lista das coisas que acham "muito importantes"? Vejam: família (99%), saúde (99%), trabalho (97%), estudo (96%), lazer (88%), amigos (85%), religião (81%), sexo (81%), dinheiro (79%), beleza (74%), casamento (72%).

E então...

E, vejam que surpresa, o levantamento mostra que os nossos jovens querem casa, carro, grana, todas essas malditas coisas do "consumismo", que deixam os comunistas que já têm todas essas malditas coisas muito decepcionados com a juventude...

Mais uma vez, constata-se o óbvio: há um enorme hiato entre o que pensa o conjunto da população — e, nela, sua fatia mais pretensamente inquieta — e os vários canais que vocalizam a opinião pública. Não, senhores! Não temos a imprensa que representa os valores que vão acima: a nossa, com as exceções de praxe, é majoritariamente "politicamente correta" e experimenta um verdadeiro divórcio em relação ao pensamento da maioria.
Reproduzo abaixo artigo do Professor José Lemos:
São Luís do Terceiro Milênio

Estamos novamente diante de eleição municipal no Brasil. Uma vez que vivemos nos municípios é nesses espaços que surgem os problemas que nos afetam diretamente. É também no município que ficamos mais perto do Chefe do Executivo, dos legisladores e podemos assim exercitar mais explicitamente, no corpo-a-corpo, o direito de reivindicar demandas que nos interessam diretamente. É também através dos prefeitos e vereadores que os eleitores podem acionar os legisladores estaduais e federais, bem como os chefes dos executivos estaduais e federal. Por tudo isso é importante a escolha adequada de bons prefeitos, entendida como homens e mulheres com preparo intelectual, capacidade gerencial e que usem como único critério de escolha de auxiliares a competência técnica. Reconhecemos que é muito difícil este tipo de isenção, mas ela é fundamental para um bom exercício da administração pública profissional que busca atingir metas estabelecidas de forma programática.

Pretendemos utilizar este espaço para mostrar, em quatro semanas seguidas, a situação de vários municípios maranhenses, aproveitando evidencias do meu livro. Imagino que esta seria uma forma de contribuir para ajudar os leitores do jornal na escolha dos seus futuros representantes, a partir dos problemas do seu município.

As grandes cidades têm recebido intensos fluxos migratórios nos últimos anos. Grande parte desses migrantes deixou as suas áreas de origem pela absoluta falta do que fazer. Muitas vezes não encontraram mais condições de viverem com um mínimo de dignidade nos seus locais de origem. A causa disso é justamente a falta de desenvolvimento nas cidades do interior e, sobretudo, nas suas zonas rurais. A falta de desenvolvimento rural é a fonte primária do grande êxodo das populações rurais que acabam se deslocando para as grandes cidades, pressionando os seus já precários serviços essenciais. Podemos afirmar que a conseqüência de não haver desenvolvimento rural é o caos urbano nas grandes cidades. A solução de muitos problemas das grandes cidades tem sua resposta no desenvolvimento rural.

É bom que se frise que desenvolvimento rural não significa, necessariamente, as famílias que residem nessas áreas viverem apenas da produção agropecuária, do extrativismo vegetal e animal. O rural não é sinônimo de agropastoril, por isso atualmente fala-se da multi-funcionalidade do espaço rural. Em muitas áreas do Nordeste brasileiro que estão no semi-árido, inclusive no semi-árido maranhense, existem dificuldades naturais e ambientais para o exercício da domesticação de animais e plantas. Nesses locais devem ser estimuladas as atividades não agrícolas que também promovem desenvolvimento rural. Algumas delas poderiam ser artesanatos, turismo, pequenas unidades de beneficiamento, oficinas, indústria de confecções, dentre várias alternativas.

São Luis, como todas as outras capitais de Estados brasileiros, experimenta um fluxo intenso de imigrantes. A população da capital maranhense chegou em 2006 a um total de 998.385 habitantes, segundo o IBGE. Com base na taxa geométrica de crescimento da população, estima-se que ao final de 2008 a capital maranhense terá 1.045.249 habitantes. Um contingente muito grande que pressionará ainda mais os serviços essenciais como água tratada, saneamento, coleta de lixo, habitação e outros.

Com efeito, estima-se que São Luis tem 18% da sua população vivendo em domicílios sem acesso a água encanada; 30% da população da capital do Estado ainda não dispõe de local adequado para destinar dejetos humanos. A escolaridade média na capital é de apenas oito anos. A renda dos habitantes da capital, além de baixa, é bastante concentrada. De fato o IBGE estima que em 2005 o PIB per capita da capital do Estado era de R$ 10.671,73 por ano, ou R$ 886,81 por mês (2,95 salários mínimos). Com base na Taxa de Aceleração da Renda ocorrida entre 2002 e 2005, projeta-se para 2008 um PIB per capita de R$ 13.346,31 (2,65 salários mínimos). Contudo, 58% da população de São Luis sobrevive em domicílios cuja renda total domiciliar varia de zero a dois salários mínimos. Consolidando estes indicadores econômicos e sociais prevê-se para São Luis um IDH de 0,780 e um Índice de Exclusão Social de 26%, ou 260.000 pessoas socialmente excluídas. São estas as condições em que o futuro Prefeito encontrará a nossa capital quando assumir em janeiro de 2009.

Ao Governo do Maranhão cabe prover serviços essenciais e interagir com os futuros prefeitos no sentido de que seja promovido o desenvolvimento rural em todo o Estado para que as populações não emigrem para a capital e grandes cidades no ritmo e nas condições em que fez nos últimos anos. Um grande desafio, sem dúvida!


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José Lemos é Engenheiro Agrônomo e Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. lemos@ufc.br. Autor do Livro “Mapa da Exclusão Social no Brasil: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre”.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Colunaço do Pêta

Data de Publicação: São Luís, Domingo, 27 de julho de 2008

Dr. Pêta recorre, hoje, a um oportuno comentário do blogueiro John Cutrim (www.johncutrim. zip.net) para abrir o Colunaço deste domingo!!! Vale a pena conferir!!!

“O ex-presidente da República e senador José Sarney, em nota escrita de próprio punho no último dia 16, endereçada à Agência Estadual de Notícias, manifestou solidariedade ao governador Roberto Requião, vítima de censura prévia imposta por decisão judicial a pedido do Ministério Público Federal. O senador Sarney afirma ser incompreensível que, na defesa de suas idéias, no exercício de sua liberdade de consciência e expressão, Requião seja punido e intimidado no seu justo direito de falar, expondo suas posições e defendendo o seu governo, relatando suas obras que são de grande dimensão, exemplares ao longo de sua vida pública.

Esse mesmo José Sarney, senador pelo PMDB do Amapá, ex-presidente da República, membro da Academia Brasileira de Letras, duas vezes presidente do Senado, ex-governador do Maranhão, tão democrata nos discursos do senado, nos artigos na Folha de São Paulo e que agora defende com unhas e dentes seu amigo da grande elite conservadora paranaense, está sendo acusado de usar a Polícia Federal para intimidar o jornalista Lourival Bogéa, diretor do Jornal Pequeno. Lourival é alvo de uma representação penal impetrada via Brasília na Polícia Federal.

O mesmo José Sarney, que criticou veementemente o presidente Hugo Chávez, acusando-o de autoritarismo e de cercear a imprensa naquele país, ingressou nesse mês com uma ação indenizatória no valor de 220 mil reais contra o Jornal Pequeno, que é um jornal que tem 57 anos, sempre trabalhando pelas causas democráticas e populares no Maranhão tendo como objetivo o compromisso de fazer uma imprensa livre, imparcial e ética. Tudo porque Lourival Bogéa é um contundente e diário crítico da atuação política de Sarney.

Diante de todas essas contradições do ‘coronel’ Sarney, ficam evidentes os seguintes pontos e indagações: o jogo duplo de cena que Sarney faz quando estão colocados em jogo os seus interesses, nunca fez e nunca fará nada de graça, nem mesmo quando apoiou a Ditadura Militar. Por que o senador Sarney não processa a revista Veja, que tem publicado um vasto material de cunho jornalístico sobre as suspeitas que recaem sobre ele e sua família no caso Gautama?! E, por fim, por que o ‘rei da mordaça’, como o senador José Sarney é conhecido por tentar impor censura a jornalistas do Amapá e do Maranhão, tenta de todas as formas (não conseguirá) calar o Jornal Pequeno, já que ele se auto-proclama escritor, jornalista e político defensor da democracia e das liberdades? Sarney é a figura de um paradoxo, o oposto do que alguém pensa ser a verdade”!!!

http://www.jornalpequeno.com.br/2008/7/27/Pagina83427.htm

Brasil está dormindo no ponto na área de biocombustíveis

"O Brasil está dormindo em berço esplêndido, confortável com sua pseudoliderança na oferta de biocombustíveis para o mundo e exibindo os louros de uma história que não exigiu muita inovação tecnológica. Enquanto isso, o país já vem perdendo competitividade", afirma o professor Weber , Antonio Neves do Amaral, da Esalq/USP, que até a semana passada era o diretor executivo do Pólo Nacional de Biocombustíveis, em Piracicaba.

Os movimentos da indústria do petróleo

Enquanto se enaltece o etanol como acommodity capaz de transformar o Brasil em potência dos biocombustíveis - sobretudo se aproveitado o bagaço da cana -, Weber Amaral recorre a um fato recente para sustentar sua hipótese de que estamos marcando passo: a compra pela BP (Beyond Petroleum, ex-British Petroleum) de 50% das ações dos novos negócios da usina Santa Elisa, o grupo sucroalcooleiro que mais investe em inovação.

"A BP vai trazer pesquisadores de um centro de excelência em etanol de segunda geração. O foco será justamente o bagaço da cana, que eles já estudam nos Estados Unidos".
Segundo o professor da USP, este centro se chama Energy Biosciences Institute (EBI), da Universidade de Berkeley, criado para desenvolver pesquisas em biomassas com US$ 600 milhões da BP - Beyond Petroleum, aliás, significa "além do petróleo".

"Berkeley venceu a concorrência internacional promovida pela companhia por ter reunido um grupo multidisciplinar e consistente de pesquisadores. Eles vão ocupar um espaço onde estamos muito pouco organizados".


Denvolvimento das energias renováveis


Na 60ª reunião da SBPC, Amaral deu conferência sobre o papel da pesquisa e inovação tecnológica para o desenvolvimento das energias renováveis, com base em pesquisas realizadas no Pólo de Biocombustíveis da Esalq, que envolvem quatro grandes cadeias produtivas: a do etanol a partir da cana, as diferentes matérias-primas para produção de biodiesel, as biomassas energéticas de atividades florestais e a produção de biogás.


O pesquisador observa que a inovação tecnológica exige uma visão integrada da cadeia. "De nada adianta ser competitivo na oferta da biomassa se não somos competitivos na sua conversão ou na distribuição do combustível.


Quando se deixa de inovar, caímos na síndrome da auto-suficiência, nos acomodando em suprir de equipamentos, bens e serviços a indústria sucroalcooleira. Mas em termos de engenharia de processos e de tecnologias de conversão, especialmente quanto à segunda geração de biocombustíveis, vamos perdendo competitividade".


Lei dos rendimentos decrescentes

Weber Amaral afirma que já se atingiu um patamar tecnológico que permite custos baixíssimos do etanol brasileiro - variando entre US$ 0,32 e US$ 0,38 -, mas atenta que será bastante difícil diminuí-los. "Eles estão muito próximos do custo 'ótimo' de produtividade.
Por outro lado, há o aumento do preço da terra e dos custos de produção agrícola - especialmente devido ao uso de insumos derivados do petróleo, que está em 140 dólares e pode chegar a 200 no final do ano. É um cenário que ameaça a competitividade do etanol, que é o trunfo do Brasil.

Biologia sintética


O professor acrescenta que, se houve 30 anos de investimentos no programa de desenvolvimento do álcool, o mesmo não acontece com a área de biodiesel, onde ainda não se consegue ganhar em escala, devido aos elevados custos de produção. "Os custos superiores ao do diesel na bomba, impedem novos investimentos, inclusive em inovação tecnológica. Enquanto isso, nos Estados Unidos e na Europa, exercícios de inovação que já estão viabilizando combustíveis sintéticos a 8 ou 9 centavos de dólar. Até dez anos atrás, era impensável que o sintético pudesse competir com o nosso etanol".

Nesta linha, Weber lembra outro exemplo da Universidade de Berkeley, onde três pós-doutorandos de biologia sintética captaram US$ 120 milhões na iniciativa privada para isolar uma bactéria capaz de produzir um composto (hidrocarboneto) bastante semelhante ao diesel. "Os três jovens criaram uma empresa que em dois anos será de capital aberto, mas cujo valor atual de mercado já é de US$ 200 milhões".


Investimentos globais em energias renováveis


A tendência de alocação de investimentos globais em energias renováveis, na visão do pesquisador, é de que eles chegarão a US$ 100 bilhões em 2010, o que representam 15% do total de recursos em P&D. "O Brasil investe apenas 1,1% do seu PIB em inovação, contra 3,4% da Alemanha, 3,1% da França e 1,5% da Espanha. Fragmentando o 1,1%, veremos que apenas 31% vêm de empresas e a maior parte de transnacionais, que não geram inovação, apenas adaptam tecnologias desenvolvidas lá fora".


Na opinião de Weber Amaral, o Brasil deve construir quatro pilares essenciais para a competitividade do etanol: a construção de um mercado global, já que os biocombustíveis representam apenas 4% do total de combustíveis consumido no planeta; a expansão da capacidade de produção em bases sustentáveis - e assegurando terras para cultivo de alimentos -, o que será requisito para abertura de mercados; aprimorar as análises do ciclo de vida da cana, removendo os gargalos na agricultura; e redimensionar o papel da inovação tecnológica.


Capital intelectual


O pesquisador da Esalq enaltece o esforço da Fapesp, que há duas semanas anunciou a liberação de R$ 160 milhões - a metade dos recursos vinda dosetor privado - para a consolidação de uma agenda de pesquisas em bioenergia. "Mesmo que os recursos sejam significativamente menores que dos Estados Unidos ou da União Européia, dar continuidade à pesquisa é fundamental. Também precisamos criar a cultura da interação entre academia, setor privado e governo, em que todos conversem com todos, gerando conhecimento, capital e recursos humanos".

Weber Amaral informa que seu grupo na Esalq fez um levantamento dos anúncios publicados nas revistas Nature e Science, com a oferta de vagas de professores permanentes nas universidades americanas. "Para cada vaga, a universidade reserva uma média de US$ 3 milhões que custearão toda a carreira do pesquisador. Nos últimos dois anos, somente para a área de bioenergia, foram oferecidas 650 vagas, o que totaliza US$ 1,8 bilhão em capital humano. É por isso que insisto na hipótese de que estamos acomodados numa pseudoliderança em biocombustíveis".


Comentário do Blog: O Professor Weber Amaral foi o consultor que representou a ESALQ - USP de Piracicaba no estudo sobre o potencial do Maranhão para produzir etanol de cana de açúcar. Esse estudo parece que não continuou e está parado. Se for assim, é um prejuízo e tanto para o Estado. Ele recomendou um convênio com a Embrapa para desenvolver a melhor variedade de cana para o Maranhão, trabalho semelhante ao realizado pela Fapsem para a soja em Balsas, com grande sucesso e razão da presença do Maranhão, Piauí e Tocantins como produtores brasileiros de soja. Vamos por o trabalho com a Embrapa nas prioridades do governo, Dr. Jackson!

Obama e a Esperança

O sistema eleitoral americano é tão democrático e tão forte que é capaz de produzir líderes que começam do nada e em uma campanha se tornam líderes políticos de expressão global pela importância do país. Quando são realmente especiais acabam levando sentimentos de esperança a milhões de pessoas que anseiam por um mundo melhor com paz e prosperidade.

Bill Clinton foi um presidente que conseguiu grandes resultados, internos e externos, para o povo americano. Em seu período de governo a economia americana apresentava grande crescimento, baixo desemprego, inflação baixa, massa salarial crescente. Por tudo isso, Clinton foi um presidente muito popular. Sua presença no mundo foi altamente positiva, pois usou a grande influencia e poder do país para conciliar regiões com grande potencial para conflitos. O prestigio americano no mundo era bastante positivo.

Depois de Clinton veio George Bush, de uma família poderosa, seu pai foi também presidente, com grande participação no setor de petróleo. Possuíam amigos influentes e com grandes participações na poderosa indústria bélica americana. Esses interesses predominaram e estavam por trás das ações de seu governo, marcado principalmente pela desastrosa guerra do Iraque. Hoje, ao final do seu governo, a imagem americana no mundo é muito ruim. Em todos os continentes. Cresceu no seu governo, como há muito não se via, um sentimento caracterizado por um anti-americanismo crescente.

Agora o mundo parece ver em um dos candidatos à sucessão do presidente Bush uma grande expectativa de mudança nas relações mundiais. A palavra mágica é “hope”, esperança, que é a base do discurso do candidato Barack Obama do Partido Democrata nos EUA.

O mundo começou a se interessar por Obama e procurou conhecê-lo durante as eleições primárias que existem unicamente no sistema eleitoral dos Estados Unidos. As primárias são instrumentos importantes da democracia americana, pois tiram dos caciques políticos a prerrogativa da escolha dos candidatos a presidente. Sem as primárias Obama jamais seria escolhido candidato do Partido Democrata. Senador pelo estado de Illinois ele não era conhecido nacionalmente e não pertencia a nenhuma família importante das elites americanas. Negro, filho de emigrante mulçumano, e de sobrenome Hussein. Filho de Barack Obama economista queniano negro educado em Havard e Ann Dusham, branca de Wichita, estado do Kansas, ele nasceu em Honolulu, estado do Hawai em 1961. Seus pais se separaram quando ele tinha 2 anos. Obama morou na Indonésia enquanto criança, após sua mãe se casar com um indonésio e depois viveu com avós brancos no Hawai. Essas idas e vindas, segundo ele mesmo, lhe deram as ferramentas necessárias para que pudesse se tornar um político hábil na hora de fazer coligações e traçar alianças. Casou-se em 1992 com uma negra bonita, alta, inteligente, Michelle Robison Obama e tem duas filhas. Foi estudante brilhante em Columbia e Havard e trabalhou como professor e defensor dos direitos civis em Chicago e foi eleito senador em 2004. Assim, passando parte de sua juventude no exterior, pele escura, descendência de mulçumanos, ele não teria chances de ser escolhido candidato, se não fossem as primárias. De outra maneira, como ganhar de Hilary Clinton, advogada muito respeitada, importante senadora, mulher de Bill Clinton, um dos cardeais do partido, casal de grande prestigio na sociedade americana, com amigos muito influentes e poderosos, depois de passar 8 anos na presidência em um bem sucedido governo da mais poderosa nação do planeta?

As primárias trouxeram um poderoso foco de luz sobre Obama e chamaram a atenção dos americanos e do mundo para o que ele dizia. Seu bordão era “Sim, nós podemos” que foi rapidamente incorporado por todos aqueles que estavam sem esperança com as crises do mundo e pela falta de perspectiva da exaurida economia americana. O americano via seu país ser considerado quase um vilão da humanidade motivado pelo intervencionismo do seu presidente, pela sua recusa em assinar os acordos mundiais para diminuir o efeito do aquecimento global, pela predominância dos interesses americanos em petróleo no mundo ao ponto de Alan Greenspan, ex-presidente do Banco Central dos EUA dizer em seu livro que a guerra do Iraque foi motivada pelos interesses americanos no petróleo iraquiano.

O carisma e o discurso forte de Obama acabaram por predominar entre os eleitores democratas e o levou, depois de duro embate com Hilary, a vitória.

Muitos pensaram que o partido enfrentaria os rivais republicanos divididos pelas longas e disputadas eleições primárias, mas a experiente Hilary abraçou a candidatura vitoriosa de Obama e uniu o partido em torno dele.

Agora enfrenta John McCain, indicado pelo Partido Republicano, e os adversários jogavam sobre ele a sua falta de experiência em política internacional. Mas ele acaba de espantar o mundo com uma muito bem sucedida viagem a alguns importantes países europeus.

Em seu único compromisso público, em Berlin, escolhida por ser uma cidade emblemática pelo que sofreu durante a guerra, pelo simbolismo do famoso muro e pelo esforço americano do pós-guerra no abastecimento da cidade bloqueada pelos soviéticos.

Foram ouvi-lo mais de 200 mil pessoas que vieram de todas as partes da Alemanha. Uma coisa nunca vista um candidato ao governo americano juntar tantos alemães para ouvir suas idéias para o mundo. E interromperam o discurso de 27 minutos mais de 30 vezes com grandes aplausos. E Obama não os decepcionou. Deixou claro que quer estreitar os laços com a Europa. O discurso focou cooperação, Irã, terrorismo, aquecimento global. Sorridente e sereno, apresentou à multidão as linhas gerais do que seria sua política externa. Disse que “foi nesta cidade que americanos e alemães aprenderam a trabalhar juntos” colocando a Europa como principal parceira dos EUA. Foi muito aplaudido quando lembrou os aviões americanos que lançavam alimentos na Berlim destruída após a segunda guerra mundial. Obama disse que está na hora de construir novas “pontes” entre países do mundo todo diante dos “muros” que ameaçam dividi-los. “A queda do muro de Berlim trouxe novas esperanças. Mas essa proximidade também trouxe outros perigos” lembrando que parte dos planos para o 11 de setembro foi traçada na Alemanha. “Precisamos de parceiros que escutem uns aos outros, que aprendam e acima de tudo, que confiem uns nos outros”, lembrando que alguns temas só poderão ser enfrentados com êxito com estreita cooperação internacional como o terrorismo, o tráfego de drogas, a pobreza, a imigração, a fome, o comércio internacional, o aquecimento global, entre outros. Defendeu o fim da guerra do Iraque, sob aplausos gerais.

No fim, a multidão gritava “Sim, nós podemos!” Obama é a esperança de um mundo ocidental que se preocupa. Ele concretiza a esperança de que não vai apenas modificar os EUA, mas a política em si.

Ele marcou o início da virada do sentimento antiamericano que bate índices recordes e domina a Europa desde pelo menos 2002.

Foi um começo e tanto!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Liceu Maranhense, 170 anos de Glórias

Reproduzo abaixo artigo do Professor José Lemos:

Liceu Maranhense, 170 anos de Glórias

Quinta-feira passada o tradicional Liceu Maranhense completou 170 anos. Foi fundado em 24 de julho de 1838 pela Lei Provincial N°77, assinada pelo então presidente da Província, Comendador Vicente Tomás Pires de Figueredo Camargo. É a segunda Escola pública criada no Brasil, logo apóe o Colégio Pedro II do Rio de Janeiro, que foi fundado em 1837.

O Liceu foi criado para viabilizar a educação dos filhos das classes ricas. Ou seja, nos seus primórdios era um colégio para as elites econômicas e políticas. Ao longo da sua gloriosa trajetória como vetor de desenvolvimento do Maranhão o Liceu passou por varias modificações curriculares e também por muitos percalços e descasos administrativos de governantes que não conseguiam reconhecer que a educação é o principal elemento libertador e fomentador do desenvolvimento social e econômico. Exatamente por isso governantes com essa visão que dirigiram o Maranhão ao longo desse período, deixaram o ensino público maranhense, em dificuldades. Sabe-se que não é interessante para governantes conservadores e, sobretudo para aqueles que querem fazer do Estado a sua fonte de poder e de riquezas, incentivar a educação. Governantes com esse perfil sabem que população esclarecida os alije do poder e tiram-lhes a única fonte que têm para construir seus impérios.

No Maranhão isso aconteceu de forma bastante significativa, sobretudo no passado recente, em que alguns poucos se apropriaram do poder político e econômicos do Estado construíram riquezas, império de comunicação e reuniram séquitos de bajuladores e porta vozes sem nunca terem exercido função empresarial, como seria normal num regime capitalista. Apropriaram-se do Estado e tratavam-no como brinquedo de estimação que devia ser repassado para amigos e parentes, sobretudo os mais próximos, para, a partir desse processo, enriquecerem. A voracidade dessa gente não tem limites. Alem das fortunas construídas à custa da deseducação que induz à desinformação ou à informação distorcida, exercitam um jogo de poder que chega ao cumulo de encontrarem formas de sempre serem lembrados através de monumentos construídos com recursos públicos como prédios, ruas e avenidas. No Maranhão isso aconteceu de forma acintosa e inimaginável em qualquer outro estado brasileiro, ao ponto de constituir-se motivo de gozação e até de desrespeito fora das suas fronteiras.

A despeito desse descaso, que conseguiu, até recentemente, deixar sem escola pública de nível médio 159 dos 217 municípios maranhenses, o Liceu consegue uma sobrevida mesmo assim gloriosa. Por isso esta data não poderia passar sem um registro e sem as devidas comemorações. Manifestações necessárias para sacudir a sociedade maranhense e mostrar que educandários como este precisam ser preservados, multiplicados e, mais do que isso, dadas condições aos seus gestores, professores e funcinários para poderem viabilizar ensino de qualidade e libertador. Ensino que seja capaz de preparar adolescentes para construir um novo Estado e que possa de verdade livra-lo daqueles que apenas querem tirar proveito das vastas disponibilidades dos recursos naturais maranhenses para acumularem fortunas e esbanjar vaidades.

Na sua trajetória o Liceu conseguiu ter educadores e estudantes que se destacaram em diversos ramos de atividade. Dentre os professores que honraram o Liceu pode-se citar João Lisboa, Sousândrade, Augusto Corrêa. Da minha geração eu destacaria os professores Sued, Raimunda Santos, Maria de Jesus Carvalho, Ivaldes, dentre tantos outros que tinham a nobre profissão de educar como verdadeiro sacerdócio. Pelos bancos do Liceu passaram personalidades que seriam responsáveis por momentos marcantes do desenvolvimento do estado. Outros, a minoria, é bom que se destaque, começaram a erigir naqueles espaços os seus projetos de riqueza fácil, egressos que eram de famílias poderosas. Assim, o Liceu pôde ser de utilidade para diferentes projetos de vida. Uma grande fábrica de sonhos e de talentos por onde circularam jovens que seriam as lideranças políticas do Estado, exercitando-a em beneficio próprio ou da família. Mas a maioria dos Liceistas estava, e estão, voltados para a construção de um Maranhão mais justo e vislumbram no Liceu e na escola publica as ancoras imprescindíveis de sustentação para atingir tais objetivos. Em razão da maioria que construíu no Liceu sonhos para uma sociedade mais justa e um Estado bom para todos, precisamos fazer com que este 24 de julho seja comemorado sempre e os 170 anos desse nosso colégio lembrado durante o restante deste ano.

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José Lemos é Engenheiro Agrônomo e Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. lemos@ufc.br. Autor do Livro “Mapa da Exclusão Social no Brasil: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre”.