sábado, 11 de dezembro de 2010

POBREZA ENERGÉTICA E OUTRAS POBREZAS

Existem muitas regiões do mundo que não dispõem de energia elétrica e por isso não têm a menor possibilidade de suplantar a pobreza em que vivem. Na África, por exemplo, esse problema é agudo. A ferramenta Google Maps, disponível gratuitamente na internet, mostra claramente esse cenário. Por meio dela, é possível visualizar fotos tiradas por satélite à noite, e se assustar com isso. Enquanto na Europa, nas Américas e na Ásia luzes cintilam às lentes dos sensores orbitais, observam-se vastas regiões africanas  que são simplesmente escuras como breu.

Como os problemas da pobreza, do HIV/Aids, da excassez/ausência de água potável e da malária podem ser revertidos de forma definitiva, se não há energia suficiente nem ao menos para acender as luzes? Vejam que, segundo estudos do Banco Mundial, a Holanda produz tanta energia elétrica quanto toda a África subsaariana, com exceção da África do Sul, ou seja, 20 gigawatts. A cada duas semanas, mais ou menos, a China incorpora tanta energia – um gigawatt de eletricidade – quanto todos os 47 países da África subsaariana, a cada ano, excetuando-se novamente a África do Sul.

Contudo, apesar dessa espantosa deficiência em eletricidade, a pobreza energética quase nunca é debatida. Acesso universal à eletricidade não estava entre os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio estabelecidos pela ONU e pelos mais importantes institutos do mundo em 2002. Esses estudos vão desde reduzir pela metade a pobreza extrema até proporcionar educação primária universal por volta de 2015. Como poderemos erradicar a pobreza sem erradicar a pobreza energética?

O Banco Mundial calcula que cerca de 1,6 bilhão de pessoas no planeta (uma a cada quatro) não têm acesso regular a uma rede de energia elétrica. São 550 milhões de pessoas na África subsaariana, no sul da Ásia –em lugares como a Índia, Paquistão e Bangladesh –  cerca de 700 milhões de pessoas, correspondendo a 50% da população total e 90% da rural, não são atendidas pela rede elétrica. Mantidas essas tendências, a Agência Internacional de Energia calcula que 1,4 bilhão de pessoas ainda não terão acesso a eletricidade em 2030.

Ora, a energia é como qualquer outro bem econômico.

Especificamente nos vilarejos, a pobreza energética significa que é impossível bombear água limpa regularmente, que não existe um sistema de comunicações, que não há como organizar turmas para a alfabetização de adultos e, com certeza, que não há como ter computadores nas escolas e tampouco ter acesso à conectividade, hoje uma forma contemporânea de exclusão social. Isso perpetua a desigualdade. Não foi por acaso que o Maranhão, até 2002, era o estado com menos disponibilidade de energia nas áreas rurais, entre todos os demais, e o mais pobre dos estados brasileiros.

Ou em outras palavras: todos os problemas dos países em desenvolvimento são também um problema de energia.

A pobreza energética hoje é muito mais prejudicial e desestabilizadora que costumava ser. Se o mundo se tornou quente e não tem há acesso à eletricidade, a capacidade de adaptação às mudanças climáticas é perigosamente limitada. E mais: impossibilita o uso de computadores, telefones celulares ou a internet – ferramentas hoje fundamentais ao comércio, à educação, à colaboração e às inovações globais.
Hoje, mais do que nunca, o crescimento econômico chega junto com o interruptor.

Os peritos em mudanças climáticas concordam, de modo geral, que crescentes aumentos nas temperaturas médias globais, na força dos ventos, nos níveis de evaporação e nos índices pluviométricos irão produzir variações meteorológicas extremas: chuvas mais abundantes e violentas em algumas regiões, e secas mais prolongadas em outras. O que se tornará um pesadelo para os habitantes energeticamente pobres.
Repito: sem eletricidade, a adaptação a esses extremos irá se tornar muito mais difícil.

Mas o que seria se todos os 1,6 bilhão de indivíduos que atualmente não dispõem de eletricidade fossem conectados a uma rede elétrica alimentada por carvão –como as que estão prestes a serem inauguradas no Maranhão – ou a gás natural ou petróleo? A poluição e as alterações climáticas seriam devastadoras.

É por isso que precisamos desesperadamente de elétrons abundantes, limpos, confiáveis e baratos – e rapidamente. Quanto mais diminuirmos o custo da energia solar, eólica, e mesmo nuclear, e disponibilizarmos essas tecnologias, de modo seguro, aos pobres do mundo, mais atenuamos um problema (pobreza energética) e prevenimos outro (mudanças climáticas e poluição atmosférica).

Energia abundante, limpa, confiável e barata criaria um mundo em que as oportunidades seriam realmente iguais. Esse é o tema que está se tornando o mais importante para todos, no presente e no futuro.

Em contrapartida, no Maranhão, a sociedade, os intelectuais, as universidades e o governo parecem dar pouca ou nenhuma importância a isso. Pelo contrário, aqui só cuidamos é de termelétricas a carvão, como se tivéssemos necessidade de energia suja para o nosso desenvolvimento econômico ou social. Nesse caso, ficaremos com a poluição e exportar a energia para outros lugares, que ficarão naturalmente com o ICMS. É o típico caso em que ficamos com o prejuízo e os empresários com o lucro.

Enquanto isso, nada se faz para explorarmos energia limpa, abundante no estado, como a eólica e a solar. Ceará e Rio Grande do Norte estão bastante avançados, e muito na nossa frente, embora tenhamos as mesmas excelentes condições de aproveitamento energético que eles têm. Até o programa que desenvolvemos, no meu governo, com a USP, para a produção de etanol no Maranhão, foi arquivado e nem se ouve falar.

É uma pena, pois a nação que dominar a tecnologia necessária para produzir energia limpa, abundante e barata vai se destacar de forma crucial e estratégica no mundo. O domínio proporcionado pela produção de energia oriunda de combustíveis fósseis no futuro pode não significar muito, visto que o seu uso poderá ser muito restrito...

As informações que compartilhei aqui novamente me vieram do livro “Quente, Plano e Lotado” do premiado jornalista Thomas Friedman. Leitura obrigatória!

Agora, antes de finalizar, volto a comentar as agruras atuais por que passa nosso estado pós-eleições. A cada dia que passa, constato a piora e a gravidade da situação das finanças do Maranhão. Agora me chega a notícia da exoneração de todos os terceirizados que trabalham em todos os hospitais administrados pelo estado. Exoneração em massa, não apenas de um, mas de todos!

E como se não bastasse, Roseana Sarney prepara o maior calote, nunca antes visto por aqui. Baixou decreto datado de 19 de novembro, que praticamente inviabiliza qualquer pagamento a ser efetuado na rubrica ‘encargos de exercícios anteriores’. Quem não conseguir o empenho neste ano, pode dar adeus ao direito de receber o que o estado lhe deve. As exigências são tantas que, no caso de pagamento de alguma despesa, uma sindicância sobre o gestor da instituição que autorizou a despesa terá que ser aberta.

A partir de agora, o próprio governo considera no mínimo suspeito os dirigentes dos órgãos estaduais do atual quadro de gestão.  Mas na verdade isso é apenas para evitar o pagamento...

Não tem outro nome: é trambique mesmo!