O governo continua errando os seus alvos. E continua tentando
domar o PMDB e viver de ilusões. É da natureza desse partido essa divisão
interna que muitos de dentro e também de fora tentaram cooptar e não
conseguiram. E acredito, não se conseguirá novamente. O governo trabalhou muito para viabilizar a eleição do deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ)
para líder do partido na Câmara. O Picciani pai, presidente da Assembleia Legislativa
do Rio, também usou todos os seus artifícios para eleger o filho, fazendo com que
nove deputados que estavam em ministérios ou como secretários estaduais reassumissem
por um dia os seus mandatos, votassem e, acabada a votação, retornaram aos cargos
que ocupam. Houve até promessas de concessão de ministério, como o da Aviação
Civil, destinado a bancada de Minas Gerais.
Enfim, o governo jogou pesado e,
mesmo assim, ganhou por sete votos de diferença, o que mostra a fragilidade do
esforço. Sim, porque os suplentes já voltaram a ser deputados e, feitas as
contas, o governo só pode contar com o voto certo de apenas vinte e sete dos
sessenta e sete deputados do PMDB. Valeu a pena? Acho que não.
Na verdade o governo não consegue nem mesmo o apoio maciço do PT...
Mas se se disser que Eduardo Cunha está do outro lado, a presidente
não resiste e parte para briga, sem avaliar muito bem os resultados.
Pelo que vejo no Congresso, nada mudou, o ambiente vai
continuar hostil. Acredito que a presidente só conseguirá tirar o país da
situação em que seu primeiro governo colocou o Brasil, se partir para a
conciliação com o parlamento e com a sociedade.
Mas para isso ela terá primeiro que reconhecer o caos em que
colocou a economia nacional. Reconhecer que gasta muito mais do que pode tanto
com pessoal quanto com custeio, que isso precisa parar, porque senão a dívida
pública vai continuar subindo. E continuarão subindo também os juros, o dólar e
o desemprego, tudo num afã de financiar a gastança sem sentido nenhum para o
desenvolvimento da nação.
Ela precisa cortar o aparelhamento desenfreado do governo
pelos militantes do PT. A começar pela Presidência da República, lotada de
assessores nem sempre qualificados. Na revista Veja dessa semana, um petista
que há mais de vinte anos trabalhava na Casa Civil e era subchefe cansou de
alertar sucessivos Ministros da Casa Civil, entre os quais a própria Dilma, que
“não cabia mais sequer uma pulga ali”, com o agravante é que eram gente sem
qualificação adequada e podiam ter problemas com isso no futuro. Centenas de cargos
DAS foram criados e a qualidade foi perdida.
Porém, ninguém acredita que ela fará isso, temendo a reação
do PT, sobre a qual ela não tem controle nenhum. Se isso chegou ao cerne do
governo, ao Palácio do Planalto, imaginem nos demais ministérios. Mas, para ter
autoridade de propor sacrifícios à nação, é necessário que ela demonstre que os
cortes começarão por ela. Como ninguém acredita que ela vai fazer isso, fica
muito difícil o apoio dos demais.
Estamos num tremendo impasse que só ela pode romper, mas
dificilmente o fará. Essa é a realidade tenebrosa que ameaça a todos, com perda
rápida da governabilidade e da credibilidade.
Mudando de assunto, vamos atabalhoadamente e sem estrutura
combatendo o Aedes aegypti. Luta inglória, segundo o infectologista Artur
Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengues e Arboviroses. Segundo
o que diz o médico, a ameaça que o mosquito representa será sempre presente, dada
a sua capacidade de adaptação e as condições brasileiras de país tropical de
clima quente e úmido. Além disso, contribuem para isso a falta de
infraestrutura da grande maioria das cidades brasileiras, que são cercadas de
depósitos de lixo construídos sem nenhum critério, sem sistemas adequados de
drenagem urbana, sem tratamento e sistemas de coleta de esgoto, com imensas
deficiências no fornecimento de água potável. Quem sofre mais com isso, claro,
são as regiões norte e nordeste, sendo esta última responsável pela notificação
do maior número de casos de dengue, microcefalia e demais doenças correlatas.
Para Timerman, só teremos proteção efetiva com a vacina, mas
se queixa de não conseguir obter do governo o material e nem a verba necessária
para a pesquisa. No nordeste, os cientistas têm que pegar reagentes emprestados
para trabalhar e identificar os anticorpos no sangue produzidos pela infecção. Não
será possível desenvolver a vacina sem isso.
A estratégia adotada pelo Ministério da Saúde, que consiste
em ir atrás do mosquito pode minorar o problema em certas áreas urbanas e até
mesmo ter algum efeito local, mas não resolverá o problema, pois até para a
notificação não existe um padrão e cada estado faz de um jeito, o que
cientificamente não tem valor, por falta de credibilidade.
Como já temos muitos casos de estrangeiros infectados após
visitarem o Brasil, é possível que em
breve uma vacina seja desenvolvida no exterior.
É a nossa esperança!
O Brasil, desorganizado desse jeito, dificilmente terá
sucesso a curto prazo, embora tenhamos excelentes cientistas.