terça-feira, 11 de outubro de 2011

DESCONFIANÇAS


A candidatura do ministro Lobão ao governo do estado em 2014 foi colocada pelo senador Edinho Lobão como irreversível há poucos dias. Foi uma reação a uma declaração, pouco explicável, da governadora Roseana Sarney, lançando Luís Fernando como seu candidato ao governo no próximo pleito estadual. Não se sabe ao certo, e talvez nem ela saiba, o motivo de declaração tão fora do contexto, tão sem sentido, que na verdade só serviu para dividir irremediavelmente o governo. O fato é que hoje existe todo um clima de desconfiança e de vigilância entre a família Lobão e Roseana Sarney. E isso não pode ser consertado, pois o jogo é realmente de antagonismo. O máximo que pode ser feito é um mise-en-scène de aparências em encontros públicos.
Roseana sentiu pela reação que havia feito uma enorme bobagem e tentou remediar, jogando a culpa na oposição. Mas para certas coisas não há conserto. E essa é uma delas.
Lobão percebeu que precisava fazer algo, já que via Roseana cercá-lo e vigiá-lo de perto. Assim, mandou Nice Lobão para o PSD, imaginando ser esse o seu futuro partido, pois não poderá permanecer no PMDB. Sim, porque neste partido, quem dá as cartas é o senador João Alberto, ou seja, família Sarney, e este mesmo João Alberto figura como um possível candidato, também em 2014.
Entretanto, a estratégia política de Roseana flui com ela colocando seu pessoal no PSD para tentar controlar o partido e enquadrá-lo em seu projeto para 2014, do qual Lobão não faz parte. O nome é Luís Fernando.
A verdade é que Lobão tem ótimo trânsito na classe política, entre os prefeitos, mas prefeitos precisam do governo e na hora certa podem não estar disponíveis. Na eleição de 2010 para o senado, ele cresceu com o lançamento da refinaria Premium, a quinta maior do mundo, segundo suas palavras. O presidente era Lula, que tinha um estilo de não interferir muito e deixar os ministérios por conta dos ministros. Lobão se acostumou com a liberdade total e o apoio presidencial quase sempre pronto. Com Dilma Rousseff é muito diferente, pois ela acompanha tudo e interfere, dá menos liberdade e arbítrio. Principalmente no Ministério de Minas e Energia, onde sempre militou, conhece profundamente, pois foi ministra e comandou a pasta no governo Lula.
Com efeito, Lobão sentiu a mudança e, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, viu o governo intervir, por intermédio do Ministro da Fazenda, que no primeiro semestre deste ano cortou o orçamento da Petrobras, atingindo profundamente o programado para as refinarias novas. No entanto, permaneceu intacta a de Pernambuco, que o governador Eduardo Campos, com largo prestígio no governo, conseguiu liberar recursos, mesmo com a Venezuela não cumprindo financeiramente seus compromissos com o empreendimento. Hoje não dá mais para parar. Outra que ficou intacta foi a do Rio de Janeiro, estado que sedia a Petrobras. As outras sofreram cortes e adiamentos e entraram em uma zona de incertezas que dependem da conjuntura mundial no futuro, pois refino nunca foi uma atividade forte numa companhia que dirige preferencialmente seus recursos para a extração e exploração de petróleo.
Lobão ficou tão aturdido que nem tentou explicar nada naquele difícil momento. Só agora resolveu aparecer para mostrar que a refinaria continuava normalmente, pois sabe que esse trunfo sua candidatura ao governo se enfraquece muito, e em caso de dificuldades, a primeira a culpá-lo será possivelmente Roseana, direta ou indiretamente, como são especialistas.
Na solenidade ficou explícita a divisão do governo. Isto se confirma, dado que um evento desses, uma visita do ministro e senador Edison Lobão, candidato já previamente lançado ao governo do estado, onde este esclareceria o futuro de uma obra que, segundo a propaganda do governo, é uma das maiores do mundo, que promete empregar milhares de pessoas no Maranhão, deveria atrair a classe política em peso. Mas, curiosamente e para espanto geral, a classe política não apareceu, somente alguns deputados mais ligados ao ministro. Lógico que isso não é natural, tampouco normal. Também autoridades governamentais, que sempre estão presentes em todos os acontecimentos, mesmo os mais corriqueiros, como Luís Fernando e João Alberto, ambos tidos como pré-candidatos, lá não estiveram. A própria TV Mirante teve barrada sua entrada para televisionar o andamento das obras, o que é impensável no Maranhão, por causa dos seus donos. Parece que havia uma força misteriosa por trás de tudo e com o objetivo de limitar o alcance político e a visibilidade da visita.
Ao final, o que havia eram obras de terraplenagem do terreno e uma parte do canal de adução, o que levou o jornal da oligarquia, querendo mostrar o que ali não tem, “informar” que eram os alicerces da refinaria...
Lobão, político muito experiente e conhecedor profundo dos métodos da oligarquia, deve ter retornado a Brasília certo de que tem que abrir o olho com o PSD, porque eles podem derrotá-lo na convenção em junho vindouro com uma proposta de apoiar o candidato do governo, provavelmente Luís Fernando, que tem a candidatura apoiada e conduzida por Jorge Murad. Isto ocorrendo, o ministro ficaria sem legenda para concorrer ao governo do Maranhão em 2014.
A oligarquia não muda...