terça-feira, 31 de janeiro de 2017

AMÉRICA, LANÇAMENTOS E PROGRAMA ESPACIAL



O ministro José Serra vem trabalhando há algum tempo para retomar as conversas com os Estados Unidos sobre o uso do Centro de Lançamento de Alcântara - CLA. É um Centro que tem localização excepcional, muito próximo da linha do Equador, aspecto que permite uma economia de milhões de dólares a cada lançamento. Sim, porque os lançamentos ali efetuados são 30 por cento mais baratos em relação a qualquer outra plataforma no mundo.

 O governo de Fernando Henrique tentou resolver essa questão, mas o texto acordado entre os dois países foi rejeitado pelo Congresso Nacional. A importância desse acordo, que na verdade é apenas comercial, reside no fato de que ele dará uso permanente ao Centro. Os americanos pagarão por isso e esse dinheiro pode ser usado no desenvolvimento do programa espacial brasileiro. A tendência é que isso reverta a aventura com a Ucrânia, um acordo que foi danoso ao país, fazendo-nos perder 10 anos (sem lançamentos) a um custo de 500 milhões de dólares. Dinheiro desperdiçado sem nenhum benefício para o país.

Porém, esse tipo de negociação é basicamente demorado, pois o texto do acordo entre os dois países terá que ser submetido ao Congresso Brasileiro e ao Americano. Portanto, ainda haverá longo período de tempo até ser colocado em vigor, se tudo for aprovado.

Ouvi muitos questionamentos de pessoas sobre o ITA ser prejudicado e aproveito para responder que não haverá nenhum prejuízo. Como falei acima, o acordo será apenas comercial, pois nenhum país transfere tecnologia espacial para outro. Os países que já detêm o ciclo completo dessa tecnologia não transferem nenhum conhecimento, pois existem leis severas que não admitem essa transferência. É simples entender, uma vez que o mesmo foguete que leva o satélite, pode levar bombas, inclusive, se transformando em foguete balístico intercontinental. Uma arma de guerra. Por isso ninguém pode esperar que a presença dos americanos em Alcântara signifique transferência de tecnologia. Além dos EUA, os países que já dominam o ciclo completo são: Rússia, União Europeia, China e Índia. Nenhum deles passa nada a ninguém. Dessa forma, trata-se apenas de aluguel do CLA, não significando facilidades para termos a tecnologia espacial à disposição.

Então o que teremos que fazer? Teremos que desenvolver a nossa própria tecnologia, não temos opção quanto a isso. Aliás, como todos os países citados fizeram. E o que precisamos dominar? A tecnologia de grandes foguetes ou lançadores, a tecnologia do combustível - ou propelente líquido, que não é instável como o combustível sólido, que dominamos. Por fim, temos também que desenvolver a tecnologia de satélites avançados com grande poder de resolutividade.

Nesse ponto é que entra o ITA, formando pessoal altamente qualificado, imprescindível para essa empreitada. O que falta, e sempre faltou, foram recursos para desenvolvermos essa tecnologia, pois contar apenas com recursos orçamentários acaba não sendo confiável. Isto porque sem garantias firmes, as pesquisas param e os técnicos se desestimulam e muitos vão embora, inclusive do país. Até hoje isso foi tentado sem resultados palpáveis ao final.

E por que o Programa Espacial Brasileiro é importante? Além da expectativa de desenvolvimento de tecnologia de ponta, que é imediatamente usada na medicina moderna em equipamentos cirúrgicos não invasivos e no diagnóstico por imagem, o controle de nossas fronteiras só pode ser feito por meio do uso de satélites e de outros sistemas. Isto é fundamental para impedir o contrabando de armas e de drogas. Aliás, como fazer o controle de nossas fronteiras na Amazônia com a diversidade de rios que chegam até as cidades e acabam por permitir a organização de grandes quadrilhas de criminosos como vimos agora em Manaus? Temos ao total 16.866 quilômetros de fronteiras terrestres e mais uns 8 mil quilômetros de costa marítima, portanto é uma tarefa extremamente difícil.

Mas o domínio completo da tecnologia espacial permite ainda desenvolver melhores previsões meteorológicas, climáticas, melhores sistemas de navegação e de comunicação. Enfim, um país grande e continental como o Brasil não pode deixar de dominar esse aspecto.

Isto é de fato urgente, sob pena do país correr o risco de se transformar em um México, que convive com grandes cartéis de drogas e criminalidade desenfreada. É um programa de Segurança Nacional!

Contudo, nessas circunstâncias em que vivemos, com o Brasil mal saindo de uma severa depressão econômica, como poderemos encarar um programa caro como esse? 

Vejam que temos, sim, condições de viabilizar os recursos para tornar possível o Programa Espacial Brasileiro, imprescindível para o futuro do país. E basta seguir os passos do que foi feito para viabilizar a nossa indústria aeronáutica, algo que na época de sua concepção também era um sonho distante e hoje é a terceira indústria aeronáutica do mundo. 

Mas isso é outra história, que explicarei no próximo artigo...