sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O vírus se espalha

Crise do Senado extravasa a instituição e atinge outros setores do Estado e até o princípio da liberdade de imprensa



Conforme o dia e a ocasião, passam do ridículo ao revoltante, e do grave ao pitoresco, as tentativas que se adotam no Senado para neutralizar os efeitos da crise atualmente em curso.
As irregularidades cometidas ao longo dos últimos tempos compõem, por si mesmas, um prontuário suficientemente carregado, obra coletiva de senadores oriundos dos mais variados agrupamentos partidários. Mas o escândalo não se resume a isso.


A utilização da máquina pública em interesse próprio vai extravasando os muros do Senado para atingir a totalidade das instituições republicanas.
O jornal "O Estado de S. Paulo" noticia o andamento de uma operação da Polícia Federal envolvendo a família Sarney. Mobiliza-se então um desembargador, de notórias relações com o clã -e revive-se, em pleno Estado democrático, a censura à imprensa.


Os interesses sarneyzistas se chocam com as atividades da Receita Federal: eis que a secretária do órgão, Lina Vieira, é demitida. Se é difícil encontrar provas concretas da relação entre os dois acontecimentos, tudo se torna mais plausível a partir das declarações de Lina Vieira quanto às pressões que teria recebido para "agilizar o caso".


Assinale-se que a ministra Dilma Rousseff nega a existência de um encontro sigiloso no qual tivesse enunciado qualquer coisa nesse sentido. É a palavra de uma autoridade, nem sempre em pleno domínio das informações sobre seu próprio currículo, contra a de uma funcionária demitida, sem dúvida disposta a queimar as pontes que a vinculavam ao aparelho petista.


Aparelho por aparelho, vê-se a antiga "República de Alagoas" aliada à oligarquia maranhense e a petistas num estado mental que oscila entre a catatonia e o alopramento. As notas monótonas de uma cantilena tradicional -a da "governabilidade"- entoam-se em nome dos interesses lulistas a favor do respaldo peemedebista à candidatura Dilma Rousseff.


Nesse contexto, o presidente Lula propõe a concessão de uma emissora de rádio ao filho do senador Renan Calheiros (PMDB-AL). É como se as mais diversas áreas de atuação do poder público se colocassem a serviço das oligarquias de sempre, quanto mais estas se veem desmascaradas em seu comportamento.
Vem, por fim, a nota pitoresca. Depois de manifestantes terem invadido o plenário do Senado, aos gritos de "Fora, Sarney", decidiu-se pela proibição das visitas à Casa. O motivo oficial seria evitar a contaminação pela gripe suína.


Mas o vírus presente no Senado é de outro tipo. Atinge tanto governistas quanto a oposição. O apego do senador Arthur Virgílio ao cargo de líder do PSDB é tão intenso, cabe lembrar, quanto o de seu maior adversário.


Cuidados básicos de higiene, hoje tão em voga, são ignorados na política brasileira -e, se há algum inocente em toda a história, trata-se sem dúvida da simpática categoria dos suínos, que leva a culpa pela gripe, enquanto lodaçais de outro tipo se frequentam com grande espalhafato e gosto.




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Lula, O Chefão dos Reacionários

É melancólico, não? A impressão, que não deve estar muito longe da realidade, é que o concerto do Senado não tem conserto. Anos de desmandos e mandonismo fizeram da Casa uma verdadeira corte persa, comandada por eunucos superpoderosos, que passam o dia a conspirar — mais ou menos como Gore Vidal narrou em Criação. A diferença é que nosso Xerxes é Sarney; nosso Dario é Renan Calheiros.

Alguns capas-pretas do se organizam abertamente contra qualquer tentativa de botar uma ordem mínima na Casa. Puxa daqui, puxa dali, e tudo sempre acaba no mesmo lugar — ou no mesmo homem: Agaciel Maia. E Agaciel Maia, é desnecessário lembrar (ou melhor, é necessário), remete a José Sarney (PMDB-AP), o, por assim dizer, presidente da Casa.

Ah, claro, claro! Sarney não é culpado por tudo etc e tal. Essa ladainha já conhecemos. O problema é que ele representa a garantia da continuidade dessa caixa preta em que se transformou o Senado — na verdade, podem botar aí o Congresso. A lambança com as passagens aéreas na Câmara não nos permite ter muita esperança sobre o que anda por lá.

E quem tem nas mãos, hoje, o futuro do Legislativo? O PMDB de Sarney, Renan e Wellington Salgado. Lula, que poderia ser a liderança moral do país, ainda que chefiando outro Poder, beira o cinismo quando dá uma espécie de pito nos senadores, mas garantindo apoio irrestrito a Renan. Mais do que isso: organizou com ele a “reação”.

Abaixo, publico uma espécie de tradução comentada de um editorial da Economist, que rasga elogios ao desempenho econômico do Brasil e ao governo Lula, mas aponta a sua incrível irresponsabilidade na política externa, sempre flertando com ditaduras e ditadores. A irresponsabilidade na política interna não é menor. No dia seguinte àquela baixaria protagonizada por Fernando Aquilo Roxo Collor (PTB-AL) na altercação com Pedro Simon (PMDB-RS), o presidente o recebeu em seu gabinete. Os dois devem ter comemorado o sucesso da operação.

Há muito tempo critico — e, se procurarem no arquivo, vocês encontrarão a expressão em muitos textos — o que chamo de “rebaixamento institucional” (ou “das instituições) promovido por Lula e por seu partido. Eis aí. Sim, é verdade: os desmandos vêm de longe. A questão é saber que aliança, hoje, impede qualquer mudança. No comando das forças da reação, está Luiz Inácio Lula da Silva.

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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sarney, o Ímpio

SARNEY O ÍMPIO

O senador José Sarney se esforçou a vida inteira para mostrar uma grande religiosidade e ser um católico praticante. Porém, na sua vida real, no seu cotidiano, o que faz é exatamente o contrário do que pretende mostrar.

Hoje é raro o dia em que a grande imprensa não o pegue tentando mentir e passar ao distinto público inverdades que variam desde a malandragem boba até a perversidade de tentar imputar a adversários coisas graves que não praticaram.

Os exemplos se contam em dezenas. Entretanto, em todas essas ações há por trás um objetivo a alcançar. Nada têm de simplórias, nem são - nunca foram, aliás - mentiras inocentes ou desprovidas de maldade.

São principalmente proferidas tentando dissimular alguma quebra de procedimento ético ou de decoro, alguma culpa ocasionada pela realização de algum delito ou quando tenta prejudicar alguém em seu favor.

Sobre isso, o jornal O Estado de São Paulo, no dia seguinte ao estudado discurso de aparência de humildade ao analisar os fatos, que o próprio Sarney citou em sua defesa, mostrou que este havia mentido em tudo que falou. Era tudo mentira, algumas de tal modo grosseiras, que só risos causaram. Não sei, não vi, não conheço, não foi eu. Ridículo!

No outro dia voltou para tentar contestar parte do que dissera no dia anterior e tentou confundir a opinião pública, fazendo confusão sobre “Rodrigos”, querendo convencer que o PSOL havia citado em sua representação ao Conselho de Ética, outro Rodrigo que não o seu afilhado, genro de Agaciel, de quem foi padrinho de casamento. Foi contestado na hora pelo senador José Nery, do PSOL, ao mostrar que em sua representação figurava o Rodrigo como genro de Agaciel, seu afilhado. Sarney tem que saber que na era da tecnologia, da internet, fica difícil mentir tanto. Triste.

No mesmo desastrado discurso, disse que o Ibope havia realizado pequisas sobre o seus escândalos e que só os membros das classes A e B eram contra e que as classes C e D não se importavam com o que acontecia.

Caros leitores, que demonstração de preconceito por parte do abastado Sarney!

Esse senhor pensa que as pessoas, por serem menos aquinhoadas financeiramente, se tornam alienadas. É o contrário, Sarney!

Uma pessoa, quanto mais luta pela vida de maneira honesta, maior será a sua repulsa a atos moralmente indefensáveis e perniciosos dos poderosos...

A mentira de Sarney – a deslavada invenção de uma história - foi prontamente desmentida pelo dono do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, em telefonema a Lúcia Hippólito, cientista política, comunicando a todos que “há cinco anos não fala com Sarney, que o instituto não fez pesquisa sobre o assunto e que pensa exatamente o contrário do que este falou”. Vejam quanta inconsequência!

Ele, Sarney, está querendo evitar uma defesa impossível de seus malefícios, dizendo que é vítima de uma conspiração da imprensa. Chora o tempo todo, alegando ser a vítima e não o malfeitor. E nessa linha tentou mostrar como a imprensa agia de maneira irresponsável e violenta contra ele.

Vejamos o nebuloso caso da venda de sua propriedade, o Sítio do Pericumã, negócio enroladíssimo, em que as terras não possuem titularidade, com terra pública incluída no meio, com venda póstuma de terra pelo proprietário, usucapião em terra negociada recentemente e que acabou levando uma juíza a impedir o registro do loteamento por absoluta impossibilidade de provar que José Sarney era dono, além de falta de pagamento de impostos durante anos). Uma verdadeira lambança.

No momento em que foi tratar do assunto em tribuna, transformou-se num verdadeiro ator dramático, tentando passar a todos uma idéia falsa de que um repórter, ao investigar o caso, agiu com má-fé tão grande que, ao entrevistar um dos sócios do empreendimento, já chegou gritando, ameaçando e aproveitando-se da ausência do sócio na sala para pegar a papelada e sair em disparada. Com isso, Sarney tentava evidenciar a baixeza da ação da imprensa.

Naturalmente, nessa mesma ocasião, Sarney vestiu mais uma vez o figurino do homem bonzinho e disse, magnânimo, que não iria dizer o nome do repórter para não prejudicá-lo e tampouco o nome da revista. Informou, contudo, que tinha o DVD e quem tivesse curiosidade era só procurá-lo que ele mostraria tudo.

Domingo veio a verdade desmoralizante para Sarney. A revista Época publicou o material e disponibilizou o vídeo citado por Sarney, em que o repórter, depois de atendido, saiu calmamente acompanhado pelo empresário. Sem roubar e correr como disse o presidente do Senado. E para completar, logo depois que saiu, o outro sócio liga para outros envolvidos, instigando-os a mentir e ensinando-os a fazer quando o repórter estivesse com eles.

Será que é normal o comportamento do senador? Onde está o decoro?

Citei esses mentiras recentes para demonstrar como Sarney age. E quando resolve prejudicar adversários, como no caso Reis Pacheco ,de triste memória para os maranhenses, em que inventou mortes, imputando-as ao senador Cafeteira, à época seu adversário?

Chegou ao cúmulo de ir em comitiva ao Ministro da justiça dar parte do caso. Tentava anular o favoritismo de Cafeteira, que ameaçava derrotar sua filha Roseana. Por ela é capaz de tudo, como faz sempre...

Sarney não mede esforços em fazer mal às instituições e à qualquer pessoa, desde que tenha um motivo para isso. Nada o detém, não tem limites.

E o que mais impressiona é que às vezes vai à igreja, se aproxima de sacerdotes, faz doações, tudo para ser reconhecido como um homem de bem, religioso, incapaz de fazer mal a uma mosca.

Segundo o dicionário Caldas Aulete, a palavra ímpio, usada no título deste artigo para qualificar José Sarney, significa: “que não tem fé, que demonstra impiedade, malévolo, perverso”. Nada mais adequado.

Sim, porque um bom cristão deve seguir os dez mandamentos. No caso em tela, sobressaem os preceitos “não adulterarás” e “não darás falso testemunho contra o teu próximo”, entre outros que não transcreverei... Com isso, fica fácil concluir a impietude do senador. Pode analisar! Parece adorar, ao invés de Deus, um virtual bezerro de ouro, simbolismo do materialismo mais desenfreado.

A Folha de São Paulo publicou domingo uma matéria bombástica. Entrevistou Lina Maria Vieira, a ex-Secretária da Receita Federal, demitida recentemente. Na matéria, Vieira diz que, no final de 2008, Dilma Rousseff pediu-lhe que a investigação sobre as empresas da família Sarney fosse concluída rapidamente. Lina interpretou como se fosse um pedido para concluir rapidamente a investigação, o que se recusou a fazer. Depois foi demitida. Dilma nega a acusação.

Sarney, com suas necessidades, cria grandes problemas para todo mundo. É por isso que não pode sair. Desmoraliza-se e desmoraliza os que o cercam.

Do jeito que vai, poderá continuar a ser um desmoralizado Presidente do Senado, mas não escapará da excomunhão…

Mais um escorregão de Dilma

A ofensiva do presidente Lula em defesa de José Sarney não começou quando o foco dos escândalos no Senado passou a se concentrar no seu nome, em junho último. Começou antes mesmo que o senador pelo Amapá se lançasse candidato a presidente da instituição pela terceira vez, em janeiro, contra um pretendente petista que parecia ter o apoio do Planalto. E não se limitou a apelos do tipo do político que "tem história suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum". É a dedução inevitável a tirar da revelação da ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira de que, no final de 2008, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, lhe pediu para "agilizar" a auditoria do Fisco nas empresas da família Sarney, iniciada em 2007 e intensificada havia pouco por ordem judicial. Os negócios do clã são conduzidos pelo primogênito do senador, Fernando Sarney, indiciado pela Polícia Federal por diversos delitos penais. A Receita responde ao Ministério da Fazenda.

Lina Maria, demitida no mês passado do cargo que exercia há 11 meses, depois de considerar irregular uma operação contábil da Petrobrás endossada pelo governo, disse à Folha de S.Paulo que, numa conversa rápida para a qual tinha sido chamada pela chefe do gabinete da ministra, Erenice Guerra, Dilma lhe perguntou "se podia agilizar a fiscalização do filho de Sarney". A secretária, que teria se limitado a responder que ignorava a auditoria e iria verificar, entendeu que Dilma lhe pedira para "encerrar" a devassa. A ministra nega não apenas ter feito a solicitação, mas que o próprio encontro tivesse ocorrido. O duplo desmentido parece tão crível como a sua alegação de que não tinha conhecimento da inclusão de um fictício doutorado em economia pela Unicamp no seu currículo oficial. Ou a sua versão, contra todas as evidências, de que a Casa Civil não vinha preparando um dossiê sobre os gastos com cartão corporativo da Presidência da República, no período Fernando Henrique, depois da divulgação do formidável crescimento dessas despesas no governo Lula.

A negativa não se sustenta por uma série de razões. Em primeiro lugar, conforme o noticiário, não foi a ex-secretária da Receita quem tomou a iniciativa de relatar a ingerência; apenas a confirmou. Segundo, ela se recorda de que a ministra estava apressada e de como estava vestida. Terceiro, nenhum dos políticos governistas que saíram em defesa de Dilma repetiu a história da inexistência do encontro. Preferiram dizer que ela não havia feito nada de errado porque o verbo "agilizar" não poderia ser interpretado como sinônimo de encerrar. Na realidade, é a única interpretação possível. Não se tratava, com efeito, de uma fiscalização que se arrastasse por uma eternidade. Além disso, o pedido se seguiu a um ofício encaminhado à Receita por um juiz federal do Maranhão, determinando o aprofundamento da auditoria, sob pena de prisão da cúpula da Receita, o que levara o órgão a montar uma equipe especial de fiscais. Por fim, a demanda da ministra praticamente coincide com a entrada de Sarney na disputa pelo comando do Senado, na contramão do que dissera várias vezes a Lula.

Nesse ponto, as peças se encaixam. Já à época era voz corrente que o que mais pesou na decisão de Sarney foi o intento de proteger o filho Fernando dos desdobramentos da Operação Boi Barrica da Polícia Federal - um dos quais, precisamente, foi a ordem judicial dada à Receita. Com a sua característica visão do que pode o poder, imaginou que a sua volta à presidência do Senado inibiria a ação de ambos os organismos, quando não do próprio Judiciário. E com toda a probabilidade ele deve ter mencionado a Lula as suas inquietações com a devassa do Fisco nas empresas da família.

O prestimoso presidente, de seu lado, há de ter feito saber à ministra, a quem ungiu como sucessora em potencial, até que ponto estava solidário com as aflições do cacique político de cujo partido espera o apoio uníssono à sua candidatura. Ágil, ela captou a mensagem. O fato de não ter sido bem-sucedida ajuda a entender o que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse à secretária da Receita ao demiti-la: a ordem "veio de cima". E o que ela quis dizer quando, já demitida, falou contra a "ingerência política na administração tributária". Mais um escândalo, enfim, que o lulismo tentará abafar.

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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

TSE encaminha ao Supremo recurso que pode obrigar nova eleição no Maranhão

Do UOL Notícias:

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Ayres Britto, encaminhou recurso extraordinário para que o Supremo Tribunal Federal (STF) analise a legalidade da posse de Roseana Sarney (PMDB) ao governo do Maranhão, de acordo com o TSE.

Roseana foi nomeada ao cargo após cassação do mandato do então governador Jackson Lago (PDT) e do seu vice Luiz Carlos Porto por abuso de poder político durante o processo eleitoral de 2006.

O recurso foi ajuizado pela coligação "Frente de Libertação do Maranhão", que apoiou Lago em 2006. Em março, após a cassação, o TSE determinou que fosse empossada a segunda colocada no pleito de 2006, a então senadora Roseana Sarney.

No recurso, a coligação afirma que novas eleições deveriam ter sido convocadas, sob o argumento que o TSE teria afrontado os artigos 77 e 81 da Constituição Federal de 1988, segundo o tribunal.

Desde a cassação, a coligação apresentou vários recursos ao TSE, todos negados pelo presidente do tribunal, ministro Carlos Ayres Britto. Nesse caso, Britto decidiu encaminhar o recurso ao STF porque o argumento apresentado pela coligação recai sobre a constitucionalidade da ação do TSE, cujo julgamento é de competência do Supremo.

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Lula é aconselhado a se 'afastar' da crise do Senado

Pela 1ª vez, presidente parece dar ouvidos à ponderação

Começa a admitir que solução passa por saída de Sarney

Fala agora em solução ‘honrosa’, sem perda do mandato


O governo começa a emitir sinais de que pode modificar sua estratégia em relação à crise do Senado.

Até aqui, Lula e seus operadores políticos quebraram lanças para manter José Sarney grudado à cadeira de presidente.

Avaliam agora que a encrenca foge ao controle. E Lula já não é refratário aos conselheiros que recomendam que tome distância da crise.

O blog ouviu uma dessas pessoas que tem acesso aos ouvidos do presidente. Notou uma indisfarçável inflexão no discurso.

Antes, dizia que a permanência de Sarney era vital à governabilidade. Agora, afirma que um Senado em guerra não ajuda o governo.

Mantém os ataques à oposição. Repisa a tese segundo a qual os vícios do Senado não se resumem a Sarney. Mas modula o tom de voz.

Trata o agravamento da crise como um dado da realidade. “Não dá para brigar com os fatos”, disse o auxiliar de Lula.

Num diálogo telefônico que manteve no final de semana, Lula reconheceu, pela primeira vez, que a solução do impasse “talvez” passe pela saída de Sarney.

Soou como se estivesse mais preocupado em privar Sarney de humilhações do que em salvar-lhe a presidência.

Não contempla a hipótese de o mandato de Sarney ser passado na lâmina. Sem esmiuçar o raciocínio, fala em buscar uma hipotética saída “honrosa”.

Lula vem adotando em relação a Sarney um comportamento, por assim dizer, ciclotímico.

Num primeiro momento, disse que o senador, mercê de sua biografia, não podia ser tratado como uma “pessoa comum”.

Numa segunda fase, disse que não votara em Sarney. Nem para elegê-lo senador nem para fazê-lo mandachuva do Senado.

Mas, embora dissesse que a crise do Senado era problema dos senadores, Lula manteve os movimentos subterrâneos em favor do aliado.

Nesta semana, a suposta inflexão do presidente será submetida a teste. A prova dos nove vai ser o comportamento da bancada de senadores do PT.

Lula foi informado de que Aloizio Mercadante, líder do PT, cogita aliar-se à oposição para desarquivar no Conselho de (a)Ética uma das ações contra Sarney.

Reaberto o processo, Sarney teria de apresentar defesa escrita e deixar a presidência até que o caso fosse julgado em termos definitivos.

O afastamento seria “temporário”. Mas nada impede que seja convertido em definitivo mediante negociação que leve à preservação do mandato de Sarney.

Como se sabe, há sobre a mesa de Paulo Duque, o presidente do conselho, uma representação do PMDB contra o líder tucano Arthur Virgílio.

Também neste caso, o PT cogita unir-se à oposição, sepultando as acusações. Algo que, imagina-se, atrairá tucanos e ‘demos’ para a tese da pacificação negociada.

Há um quê de pragmatismo eleitoral na articulação que começa a ser esboçada em Brasília. Pesquisa feita por encomenda do PSDB detectou o seguinte:

A popularidade de Lula teria recuado quatro pontos percentuais. As intenções de voto atribuídas a Dilma Rousseff teriam caído entre cinco e seis pontos.

Em ambos os casos, o tucanato atribui a oscilação negativa ao apoio irresoluto da dupla a Sarney.

Em privado, o presidenciável tucano José Serra diz que, também nas pesquisas restritas a São Paulo, detectou-se uma leve queda no prestígio de Lula.

O Planalto dispõe de sondagens próprias, mantidas em segredo. É provável que tenham identificado o mesmo movimento incômodo.

Nos próximos dias, quem estiver interessado em medir até que ponto vai a nova disposição do governo, deve observar os calcanhares de Aloizio Mercadante.

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domingo, 9 de agosto de 2009

Vídeo desmente acusação de Sarney contra repórter de ÉPOCA

O vídeo em que Andrei Meireles entrevista Jeovane de Morais e Argeu Ramos, ligados ao caso da fazenda Pericumã de Sarney, prova que o jornalista não pegou qualquer documento à força




Na semana passada, ao subir à tribuna, o presidente do Senado, José Sarney, se disse "vítima de uma campanha sistemática e agressiva" da mídia. Na parte final de seu discurso, Sarney descreveu a visita de "um jornalista credenciado no Senado" ao escritório do empresário Jeovane de Morais, com quem ele se envolveu numa transação imobiliária. Sarney descreveu a cena com estas palavras: "Chega agredindo, dizendo 'o senhor é laranja do Sarney, confesse!' e rouba os papéis que estavam em cima da mesa dele e sai correndo". Em seguida, brandindo um estojo plástico com um DVD em seu interior, Sarney fez um gesto dramático: "Isto está gravado aqui. A cena foi filmada e não deixa dúvida".

O repórter que fez a entrevista é Andrei Meireles, que desde 2002 trabalha em ÉPOCA. Andrei esteve no escritório de Jeovane em 30 de julho, em busca de informações sobre a Fazenda Pericumã, uma sociedade entre ele, Sem avisar o repórter, Jeovane montou uma câmera de vídeo para registrar os diálogos e movimentos ocorridos durante o encontro. ÉPOCA obteve o vídeo. Nas imagens e diálogos não há roubo, não há correria, não há fuga nem afirmações abusivas nem grosseiras. Há apenas o esforço de um repórter que tenta esclarecer uma compra mal explicada.Em determinado momento, Jeovane toma a iniciativa de entregar a Andrei vários papéis. Há uma pasta preta, papéis soltos sobre a mesa e um relatório encadernado. À vista de todos, Andrei folheia os documentos e examina detidamente esse relatório. Nem Jeovane nem os demais dizem que ele não poderia levá-lo. O diálogo prossegue, até que Andrei se levanta. Depois de vestir o paletó e colocar o celular no bolso, Andrei pega o relatório encadernado, à vista de todos os presentes, e se dirige à porta. Jeovane vai com ele. Argeu Ramos, ao telefone, assiste a tudo.

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Um passeio pela Sarneylândia

Em apenas um dia, ÉPOCA encontrou 12 lugares em São Luís que levam o nome de alguém da família Sarney




Fonte: Revista Época On Line


O plenário da antiga sede da Assembleia Legislativa do Maranhão, no centro de São Luís, ostentava em suas paredes dois símbolos que contam muito sobre a história do Estado. De um lado, ficava um crucifixo, símbolo católico comum em repartições públicas brasileiras. No lado oposto, na mesma altura do crucifixo, havia um letreiro dourado com a frase “Não há democracia sem Parlamento livre”, assinada pelo senador José Sarney (PMDB-AP), ex-presidente da República e ex-governador do Maranhão.

Em novembro do ano passado, a Assembleia mudou de endereço. Trocou o antigo prédio da rua Egito por uma edificação maior, recém-construída num bairro distante do centro. Com a mudança, os deputados resolveram mexer na decoração do plenário. Sem alarde, optaram por não levar o crucifixo para o novo endereço, já que a presença da peça católica no local costumava render reclamações de ateus, evangélicos e pessoas sem religião. Dispensaram Jesus Cristo. No letreiro de Sarney, porém, ninguém ousou mexer. Sua frase foi reinstalada no novo plenário, exatamente como aparecia na antiga sede.

A presença do sobrenome Sarney em instituições públicas e privadas é comum no Maranhão. O campeão em homenagens é José Sarney, que virou até município. Presidente Sarney, no noroeste do Estado, tem cerca de 15 mil habitantes e Índice de Desenvolvimento Humano 0,555, patamar parecido com o de Gana, país africano que aparece na 135ª posição do ranking mundial. Roseana Sarney (filha), Marly Sarney (mulher), Sarney Filho (filho), Kiola Sarney (mãe), Sarney Costa (pai) e até Fernanda Sarney (neta) são alguns dos outros homenageados em ruas, travessas, escolas, edifícios, tribunais e vilas, na capital e no interior.

Há poucos dias, a governadora Roseana Sarney (PMDB) enviou um documento ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) solicitando a retirada de seu nome da fachada da instituição. A ordem chegou após duas decisões do Tribunal de Justiça do Maranhão determinando a remoção dos nomes de políticos vivos dos logradouros públicos do Estado. Desde 2002, quando foi inaugurado, o nome oficial do prédio do TCE é Palácio Governadora Roseana Sarney Murad. É lá que os técnicos e conselheiros devem analisar a legalidade das contas da administração da própria Roseana. Poucos dias antes do pedido, o nome de Roseana já havia sido retirado da fachada do prédio, mas ainda é possível ver a marca do letreiro antigo na parede.

Roseana divulgou que passou o mesmo tipo de recomendação aos seus secretários e aos prefeitos do interior. Ela não quer mais ver seu nome estampado em instituições públicas. Se a mesma regra for aplicada em todos os locais que ostentam o sobrenome Sarney, os maranhenses terão que gastar muita tinta. Num passeio de apenas um dia por São Luís, um dos 217 municípios do Estado, ÉPOCA encontrou 12 estabelecimentos e logradouros batizados com o nome de alguém da família.

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O ‘Fica Sarney’ transformou-se em imperativo cívico

Todos os brasileiros de bem, em dia com o pagamento de seus tributos, tem o dever de defender, entusiasticamente, a permanência de Sarney no comando do Senado.

A oposição exige que Sarney se abstenha de presidir o Senado até o término das “investigações”. Apurações, assim, conspurcadas pelas aspas.

Meio acabrunhado, um pedaço do consórcio governista também defende o pedido de licença do morubixaba do PMDB. Nada feito.

Sarney mergulhou o Senado num surto antropofágico. Os senadores estão se comendo uns aos outros. Alvíssaras!

Em transe psicótico, o Senado vive uma rotina suicida. Decidiu se autodesmoralizar. Assiste-se a uma espécie de harakiri do patrominialismo secular.

Nas crises anteriores, os dramas do Senado foram interrompidos pelo meio. Jader renunciou. ACM caiu fora. Renan bateu em retirada.

Sarney é a chance de acabar com a síndrome do quase. A crise ganhou contorno revolucionário. Chegou-se à plenitude do erro. Só a depravação irrestrita salva o Senado.

É um dos piores senados da história republicana. Natural que queira atear fogo às vestes. E o suicídio, convenhamos, é coisa íntima.

Ninguém tem o direito de se meter na vida –ou na morte— de um suicida. Tome-se o caso de Sarney.

Virou uma versão tupiniquim de dom Sebastião, aquele personagem da mitologia portuguesa que se lançou em meio às tropas mouras e sumiu, massacrado.

Os defensores da saída de Sarney dizem que ele está rendido aos métodos cangaceiros de Renan, o bárbaro. Volte-se no tempo. Estacione-se em 2007.

O Senado teve a chance de devolver Renan a Alagoas. Absolveu-o. Muitos dos que hoje o satanizam ontem ajudaram a salvar Renan.

Estão lá, impressas sob a diáfana camada de sigilo do painel eletrônico, as digitais de Lula; dos Silvérios do PSDB, dos quintas-colunas do DEM; das abstenções do PT.

Ficou combinado que, para o governo e a maioria dos senadores, nada acontecera. Acertou-se mais:

Não valia a pena aviltar o compadrio que permeia as relações políticas em nome de algo tão relativo e politicamente supérfluo como a verdade.

Depois, a oposição voltou a se relacionar com Renan. Pior: a tribo ‘demo’, embora soubesse que Sarney é Sarney, viabilizou a vitória dele.

No Brasil, o público sempre se confundiu com o privado. Mas, sob Sarney, o Senado expôs as próprias vísceras.

Descobriu-se que os sábios da pátria deixaram de atentar para a velha discrição que disfarçava em interesse público os mais escusos benefícios pessoais

Os senadores esqueceram de maneirar, eis o que restou demonstrado. Não há mais espaço para meio-termo. A platéia merece saber até onde o melado vai escorrer.

Assim, não resta senão bradar, a plenos pulmões: fica, Sarney; resista, Sarney; não esmoreça, Sarney. Agarre-se a Renan, Sarney. Exija fidelidade de Lula, Sarney.

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Doutor Sarney, Zuleido, as arcas da Gautama e a PF

Rivais de Sarney negociam desarquivamento de ação

Articulação envolve lideranças do PSDB, do DEM e do PT

Focam no caso da contratação de um namorado da neta


Com um par de manobras, o suplente de suplente Paulo Duque retirou José Sarney da grelha do Conselho de (a)Ética do Senado.

Na quarta (5), Duque mandou ao arquivo quatro das 11 ações protocoladas contra Sarney. Na sexta (7), engavetou as outras sete.

Decididos a devolver Sarney ao espeto, lideranças do PSDB e do DEM abriram uma negociação com Aloizio Mercadante, o líder do PT.

Juntos, tucanos e ‘demos’ dispõe dos cinco votos necessários para recorrer contra as decisões de Paulo Duque (PMDB-RJ).

De posse dos recursos, Duque é obrigado a submeter os arquivamentos a uma votação no conselho. Porém...

Porém, para que as ações sejam reabertas são necessários oito votos. Placar que a oposição só atingirá se contar com o reforço dos três votos petistas no conselho.

Em reuniões reservadas e em contatos telefônicos, Aloizio Mercadante mostra-se disposto a ajudar. Age movido pela vontade da maioria de sua bancada.

A despeito da adesão de Lula ao “fica Sarney”, pelo menos sete senadores do PT advogam a tese do afastamento de Sarney. Uma licença, não a renúncia.

Na última quarta (5), antes da reunião em que Duque anunciou o engavetamento das primeiras quatro ações, Mercadante reuniu-se com um par de ‘demos’.

Foram ao gabinete do líder do PT Demóstenes Torres (GO) e José Agripino Maia (RN), líder do DEM.

Nessa conversa, Mercadante reiterou o que dissera em outra reunião que ocorrera na véspera, no gabinete do presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE).

O líder do PT disse que não está de acordo com o arquivamento linear de todas as denúncias que assediam Sarney.

Afirmou que tampouco concorda com a reabertura de todas as representações. Comprometeu-se com a análise criteriosa, caso a caso.

Depois, em diálogos privados que manteve com outros grão-petistas, Mercadante mostrou-se disposto a ressuscitar apenas uma das ações.

Refere-se à nomeação, por meio de ato secreto, do namorado de uma neta de Sarney. Coisa documentada em grampos realizados pela Polícia Federal.

As escutas registram uma triangulação de conversas das quais participaram José Sarney e o filho Fernando Sarney.

A voz do presidente do Senado soa nítida no grampo. Concorda com o pedido de contratação do namorado da neta, que já se encontrava com Agaciel Maia.

Oito dias depois do último diálogo, o namorado da neta foi pendurado, secretamente, na folha de pagamento do Senado.

No discurso de autodefesa que pronunciou na tribuna, Sarney não teve como negar o fato. Limitou-se a realçar dois detalhes:

1. A divulgação do som dos grampos, colhidos numa operação policial chamada Boi Barrica, fora ilegal.

2. Não há nos diálogos menção a ato secreto. Com isso, tenta acomodar o malfeito na conta do ex-diretor-geral do Senado.

Em conversa telefônica que manteve com o tucano Sérgio Guerra, na manhã de sexta (7), Mercadante reiterou o descompromisso com o arquivamento em bloco.

Nos próximos dias, tucanos e ‘demos’ vão a Mercadante para cobrar a entrega da mercadoria: três votos petistas no Conselho de (a)Ética.

Resta agora saber se o petismo terá peito para desagradar Lula e para comprar briga com Renan Calheiros (AL), o líder do PMDB.

Renan acomodara Paulo Duque, um soldado de sua milícia parlamentar, na presidência do conselho para evitar dissabores a Sarney.

Duque não se afastou do script um milímetro. Os recursos da oposição já eram esperados. O que Renan não admite é a “traição” do PT.

Supondo-se que Mercadante leve às últimas conseqüências a aliança tática com a oposição, Sarney será apartado da cadeira de presidente na marra.

Desengavetando-se uma ação, o mandachuva do Senado terá dez dias para apresentar defesa. E Duque será compelido a indicar um relator para o processo.

A escolha do relator marca a abertura oficial da ação. E uma resolução do Senado, que leva o número 20, estabelece o seguinte:

Quando o senador alvo de investigação é membro da Mesa diretora, impõe-se o seu afastamento do cargo até que o caso seja julgado em termos definitivos.

Embora tenha preparado recursos contra os 11 arquivamentos, a oposição dá-se por satisfeita com a reabertura solitária do caso do namorado da neta.

Basta um processo para que o objetivo da bancada anti-Sarney se concretize: o afastamento temporário do presidente.

Dá-se de barato no Senado que, uma vez retirado da cadeira, Sarney não volta. Com isso, imaginam todos, o Senado passaria a respirar novos ares. Será?


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