As oligarquias em geral não podem conviver com duas coisas:
povo educado e instruído e opinião contrária. Com efeito, seguem uma espécie de
cartilha do poder em cujo conteúdo desponta a existência de um poderoso aparato
de comunicação como equipamento básico dessas “organizações”.
Precisam fazer muita propaganda, tentando convencer a
população de que são competentes e diligentes e geralmente divulgam feitos
inexistentes, promessas nunca realizadas, um labor que só existe na ficção.
Todas são assim em sua essência. Esse poder midiático é usado para agredir e
tentar calar a oposição e a ação fiscalizadora de outros poderes de estado. É o
que a revista inglesa The Economist denominou, ao se referir a José Sarney e
analisar seus métodos de poder, de “coronel eletrônico”.
Pois bem, algumas oligarquias, como a que se instalou no
Maranhão, têm um domínio quase completo dos meios de comunicação,
principalmente dos sistemas de televisão. A oposição, por conseguinte, quase
nunca consegue falar nesses sistemas.
Para que tudo funcione, eles não podem conviver com a
existência no estado de um sistema qualificado de ensino público que possa
ajudar a retirar pessoas da pobreza e transformá-las em pessoas independentes e
informadas. Esses segmentos costumam ser exigentes e querem um estado mais
eficiente, serviços públicos melhores, menos corrupção, transparência e
fiscalização.
Dessa forma, sempre os governos oligárquicos perdem em
regiões mais desenvolvidas do estado, como as grandes cidades e regiões com
muitas pessoas que vieram de fora para trabalharem ali e, portanto, são
acostumadas com um nível mais alto de vida.
Não é por acaso que, quando Roseana Sarney saiu do governo em
2002, após quase oito anos de governo, não havia ensino médio em 73 por cento
dos municípios do estado. Vejam que o ensino médio é a parte que é de
responsabilidade dos governos estaduais
no sistema de educação do país. Ela não sabia? Impossível! É por isso também
que a educação é tão maltratada pelos governos que faz. Sempre à deriva, mesmo
que o titular da pasta no momento seja uma pessoa interessada e capaz. Mas o
sistema é tão ruim que só pode melhorar se for tratado como prioridade de
estado. O que pesa de fato é a falta de interesse da oligarquia pelo tema.
A consequência disso materializa-se nos péssimos resultados
do ENEM e do PISA.
Enquanto isso, infelizmente, o discurso grandiloquente do
senador José Sarney sobre o estrondoso desenvolvimento do estado proporcionado
por ele e seu grupo, quando confrontado
com estatísticas e levantamentos socioeconômicos isentos de manipulação - como
os citados acima - deixam o senador irritado, pois suas assertivas perdem o
sentido, já que tais dados mostram um Maranhão miserável, atrasado, pobre, sem
instrução, violento, com péssimos sistemas de saúde e de educação. Isto é, uma
realidade excludente e muito - mas muito mesmo - diferente do que diz o
senador. Essas estatísticas são inatacáveis pela seriedade dos órgãos que as produzem.
Com efeito, não podendo atacá-las como gostaria, o parlamentar ataca quem as
divulga e as estuda, como se tudo fosse uma invenção política.
Pois bem, novamente para irritação do senador nos chega mais
uma informação péssima para o estado, que não tem mais como esconder a
realidade do caótico quadro da educação que enfrentamos.
Desta vez foi o resultado do principal exame internacional de
educação básica, chamado PISA, que avalia estudantes de 15 a 16 anos em
matemática, leitura e ciências (ensino médio). Responsabilidade total dos
governos estaduais, portanto.
Nos dados divulgados para o ano de 2012, o Maranhão, que tem
a oitava população entre os estados brasileiros e ocupa o 16° lugar no PIB, o
resultado é péssimo. E vejam que os alunos das áreas rurais nem fizeram as
provas. Se tivessem feito, o resultado seria muito pior, já que nessas áreas a
educação oferecida é muito ruim, o que acaba redundando numa grande
concentração de pobreza, analfabetismo e outras mazelas.
As matérias examinadas foram três: matemática, leitura e
ciências. Nas três, o Maranhão ficou com o penúltimo lugar, só acima de
Alagoas, sempre o último. O Distrito Federal ficou em primeiro lugar em
matemática e leitura. Em ciências, foi o Espírito Santo, com 428 de média. A
Paraíba ficou o nono lugar nas três matérias. O Piauí assumiu o décimo primeiro
em matemática e leitura e o décimo em ciências. O Maranhão, por fim, obteve o
vigésimo sexto lugar.
Se tomarmos unicamente o exemplo do Piauí, que é tão ou mais
pobre do que o Maranhão, a diferença é que aquele estado se libertou há tempos
das oligarquias, ali existe alternância de poder e, consequentemente, melhores
governos, com avanços muito importantes em setores como a educação, área sempre
negligenciada pelas oligarquias, já que pessoas instruídas as repelem.
Com oligarquia no poder o Maranhão não sairá do buraco. É
preciso mudar.