sábado, 4 de julho de 2009

História secreta da simulação da renúncia de Sarney

Senador se finge de Jânio para voltar ‘nos braços do PT’

Plano envolveu conversas reservadas com Lula e Dilma

Brasília respirou, entre terça e quarta-feira, a expectativa de uma renúncia planejada para não acontecer. Moído por uma crise que o persegue há cinco meses, José Sarney pôs em marcha uma estratégia definida por um de seus aliados como “Plano Jânio Quadros”.

Jânio, como se sabe, renunciou à presidência da República, em agosto de 1961, seis meses e 23 dias depois de ter sido empossado. Em texto manuscrito, de cunho enigmático –“forças terríveis levantam-se contra mim”—, comunicou a decisão ao Congresso e voou para São Paulo.

Esperava que o Legislativo recusasse a renúncia e que o povo fosse às ruas clamar por seu retorno. Não ocorreu nem uma coisa nem outra. O resto é história. Sarney –“um Jânio sem álcool”, na definição ouvida pelo blog— simulou a renúncia para “voltar” a um cargo que lhe foge. Sem o inconveniente de deixar a cadeira.

Para livrar sua “presidência” das aspas que a conspurcam, Sarney tramou uma ressurreição “nos braços do PT”. Deu-se o seguinte:

1. Na manhã de quarta, Sarney recebeu em sua mansão, no Lago Sul, Aloizio Mercadante e Ideli Sanvatti. Foram contar a ele um segredo de polichinelo. Na noite anterior, a bancada do PT posicionara-se a favor do seu afastamento. Licença de um mês. Sarney refugou. Licença não tiraria. Ou o PT o apoiava ou renunciaria.

2. Sem que Mercadante e Ideli suspeitassem, Sarney armava a reação desde a tarde da véspera, quando a notícia sobre a cara virada do PT lhe chegara aos ouvidos. Em segredo, conversara pelo telefone com Lula, que estava na Líbia. Queixara-se da movimentação do petismo. Ouvira de Lula críticas acerbas ao PT. O presidente chamara de amadores os senadores de seu partido. E tranquilizara Sarney.

3. Lula acionaria, desde a Líbia, a ministra Dilma Rousseff e o chefe de gabinete dele, Gilberto Carvalho. Ordenou-lhes que agissem para deter o “amadorismo” do PT. Na noite de terça, enquanto a bancada petista apreciava o pedido de licença de Sarney –7 votos a favor e 4 contra– o “alvo” reunia-se secretamente com Dilma e Carvalho, na casa da ministra.

4. Sob orientações de Lula e de olho na preservação do apoio do PMDB à sua candidatura presidencial, Dilma acalmou Sarney. Pediu que aguardasse o retorno do chefe. Tudo seria solucionado, disse. Assim, Lula e sua principal ministra já haviam vendido a Sarney o apoio do PT, que Mercadante e Ideli diziam não existir.

5. Sarney tinha razões para escorar-se no governo. O plenário fervia. Três partidos exigiram a sua licença: PSDB, PDT e até o DEM. Sem o PT, sua “presidência”, já comprometida pelas aspas, poderia virar cinzas. Na conversa com Mercadante e Ideli, testemunhada por Renan Calheiros, Sarney, na pele de “Jânio sóbrio”, como que devolveu o problema ao PT e ao governo. Parecia jogar o seu futuro numa única mão de cartas. Mas a renúncia era teatro.

6. Quatro dias antes, no início da noite de um domingo frio de Brasília, um Sarney apegado ao cargo e seu escudeiro Renan Calheiros tiveram uma primeira reunião sigilosa com com Lula. Dera-se na Granja do Torto. Lula se preparava para a viagem à Líbia. Àquela altura, a fuga do DEM tinha a forma de uma ameaça, pendurada nas manchetes pelo líder José Agripino Maia. Sarney e Renan pareciam descrer. Pelo sim, pelo não, decidiram testar os limites do apoio de Lula. Não havia limites. O presidente prometeu-lhes apoio irrestrito.

8. Tampouco o PSDB, parceiro de oposição do DEM, levava a sério os arroubos de Agripino. “Não vão chegar a tanto”, dizia, na segunda-feira, o presidente tucano Sérgio Guerra ao dissidente peemedebista Jarbas Vasconcelos. Estavam no aeroporto de Cumbica, em São Paulo. Retornavam de uma viagem a Estocolmo. Àquela altura, Agripino já havia costurado o rompimento.

9. O líder ‘demo’ entendera-se com os “formadores de opinião” de sua bancada. Até o sereno Marco Maciel apoiara a tese do afastamento de Sarney. A decisão do DEM foi vendida ao público como “consensual”. Meia-verdade. De 14 senadores, três saíram da reunião como votos vencidos: Eliseu Resende (MG), ACM Jr. (BA) e Heráclito Fortes (PI).

10. Primeiro-secretário da Mesa presidida por Sarney, Heráclito ponderou que o rompimento poderia empurrar Sarney para a reunúncia. Pintou um cenário de caos. Agripino atalhou a argumentação com uma idéia que sabia inviável: “Por que não uma candidatura própria, de Marco Maciel? Ficava claro que, além de romper com Sarney, o DEM já esboçava a sucessão. Agripino prevaleceu.

11. No meio da reunião do DEM, tocou o telefone. Era o tucano Sérgio Guerra. Queria que Agripino aderisse a uma proposta de última hora: a constituição de um grupo de senadores notáveis. Reformariam o Senado sob um Sarney manietado. Agripino já havia sido informado dos planos de Guerra por Renan, procurado antes dele. Reagira mal. Chamara a proposta de “tolice”. Nem atendeu ao telefone. Mesmo sem o assentimento de Agripino, Guerra foi à casa de Sarney. Levou a tiracolo os tucanos Alvaro Dias e Marisa Serrano.

12. Apresentado à tese da constituição do grupo de senadores insignes, Sarney simulou interesse. Disse que iria pensar. Os tucanos disseram-lhe que nem precisaria se licenciar do cargo. Bastaria um afastamento informal. Não queriam ver Sarney pelas costas. De quebra, sondaram-no sobre a disposição de instalar a CPI da Petrobras. “Parece que nem a oposição está interessada”, provocou Sarney.

13. O tucanato estava, sim, interessado. Sarney e Renan trataram de levar esse interesse ao caldeirão da crise como mais uma ameaça ao governo. Em seus diálogos, deixaram antever que, ao menor sinal de abandono, o PMDB ajudaria a abrir a CPI.

14. Lula manteve a mão estendida. Mal posou na base aérea de Brasília, na noite de quarta, discou para Sarney. Antes, telefonara para Ideli Salvatti, que lhe relatara um encontro ameno de Sarney com dez dos 12 senadores do PT. Só Marina Silva e Eduardo Suplicy ousaram repisar a tese da licença diante de Sarney. A bancada parecia ceder à pressão. Lula sentiu o pulso de Sarney e agendou uma conversa com ele. Seria na quinta. Foi transferida para sexta. O presidente quis, primeiro, avistar-se com o PT.

15. Lula testemunhou ao vivo o “amadorismo” que pressentira à distância. Cinco senadores petistas defenderam a licença de Sarney. Em resposta, reduziu a crise do Senado a uma “guerra política”. Lembrou 2010 e apelou à governabilidade. Encurralado, o PT reunirá sua bancada, de novo, na próxima terça. De antemão, Lula disse a Sarney, nesta sexta, que entregará a mercadoria que prometera. Se conseguir, José ‘Quadros’ Sarney ganhará sobrevida para continuar conduzindo o Senado. Não se sabe para onde.

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O taumaturgo

Por Miguel Reale Junior*

As relações entre o senador Epitácio Cafeteira e o presidente do Senado, José Sarney, foram, ao longo do tempo, de amizade e inimizade. Em 1962 Cafeteira foi eleito deputado federal pela UDN, então partido de Sarney. Já no regime militar, Sarney veio a ser governador do Maranhão e nomeou Cafeteira prefeito da capital, São Luís.

Em 1974 Cafeteira passou para o MDB, chegando a presidir o diretório maranhense do partido. Com a passagem de Sarney, presidente do PDS, partido do governo militar, para o PMDB, e indicado por injunções jurídicas para compor a chapa com Tancredo Neves, Sarney e Cafeteira se reconciliaram. Em 1986 Cafeteira foi eleito governador do Estado do Maranhão.

Em 1994 surgiu uma disputa entre ambos: Cafeteira disputou o governo do Estado com Roseana, filha de Sarney, e foi vencido. Novo insucesso se deu em 1998, quando Roseana foi reeleita no primeiro turno contra Cafeteira, então integrando os quadros do PPB. Em 2002 Cafeteira, ainda na condição de adversário de Sarney, disputou uma cadeira no Senado, para ser outra vez derrotado.

Em 2006 realizou-se, por conta de Fernando Sarney, filho do ex-presidente, a reconciliação: uniram-se novamente Sarney e Cafeteira, tendo este dado apoio ao clã Sarney por meio do PTB, seu novo partido. Aí, sim, Cafeteira, perdedor duas vezes como candidato ao governo do Estado e sem mandato, pois vencido na disputa para o Senado em 2002, viu novamente sua consagração nas urnas, sendo eleito senador.

Grato pela aproximação com Sarney, industriada por seu filho Fernando, condição essencial para a vitória eleitoral, o senador Cafeteira nomeou, em fevereiro de 2007, como seu assessor, João Fernando, filho de Fernando Sarney com Rosângela Terezinha Michels Gonçalves, candidata a Miss Brasília 1980, sua ex-namorada. Em outubro de 2008 o rapaz foi exonerado, por meio de decreto secreto, em cumprimento à decisão contrária ao nepotismo imposta pelo Supremo Tribunal Federal. No lugar do neto de Sarney foi nomeada sua mãe, Rosângela.

Cafeteira, indagado acerca da nomeação do neto de Sarney, justificou que era muito grato ao pai dele, Fernando, pela reconciliação promovida com o velho Sarney, razão pela qual o presenteara com um carguinho pago pela folha do Senado. Era justo!!! O Supremo tentou impedir a sinecura e secretamente o neto de Sarney foi exonerado, mas em compensação nomeou-se sua mãe. Era justo!!! Dívida deve-se pagar, ainda mais dívida de gratidão.

Desde 2003 Amaury de Jesus Machado, alcunhado como Secreta, prestou serviços na casa da então senadora Roseana Sarney - um agregado da família, pau para toda obra. A agora governadora do Maranhão justificou esse desvio de função de forma comovente: "Ele é meu afilhado. Fui eu que o trouxe do Maranhão. Ele vai à casa quando preciso, uma ou duas vezes por semana. É motorista noturno e é do Senado. E lá até ganha bem."

Segundo notícia publicada pelo Estado em 20/6, o Secreta cuida dos serviços de copa e cozinha, distribui ordens aos funcionários e organiza recepções. Ganha R$ 12 mil por mês, o que se justifica por ser afilhado de Roseana, segundo ela mesma explicou tão claramente. É justo!!!

A República brasileira vive, desde seu nascedouro, à custa da compra de fidelidades. São afilhados, parentes, agregados, todos beneficiados com um cargo na administração, pois dessa forma não apenas se dá um sustento sem trabalho a apaniguados, mas se adquire definitivamente sua lealdade como correligionários a toda prova: cabos eleitorais seguros nas futuras eleições. Demonstra-se, assim, a todos que se possui poder.

O importante é ter a caneta que nomeia, pois se viabiliza saldar o passado ao pagar as dívidas com dinheiro público e garantir o futuro pela obtenção de apoios de cupinchas esperançados, seguros no cumprimento de promessa de uma sinecura qualquer.

José Murilo de Carvalho relata que metade dos papéis arquivados da gestão de Rui Barbosa como ministro da Fazenda, no governo de Deodoro da Fonseca, dizia respeito a pedidos de emprego, alguns formulados por pessoas dotadas de poder, como a própria esposa do presidente marechal proclamador da República.

Aos 120 anos de República consolida-se o apadrinhamento, ao se institucionalizar o reconhecimento de sua validade pela palavra do presidente da República, para quem Sarney "não é uma pessoa comum" e sua história o isenta de responsabilidades, em vista do que as denúncias de nepotismo merecem ser tratadas com benevolência.

Une-se agora a categoria do favor, denunciada por Roberto Schwartz, com o providencialismo estatal: clientelismo e salvacionismo lulista. Raymundo Faoro, em Os Donos do Poder, menciona a figura do pai do povo que guarda dos infortúnios e confunde o político com o taumaturgo. Hoje, o presidente Lula perdoa as culpas dos amigos e das pessoas "não comuns" e, ao mesmo tempo, assegura a salvação ante todos os perigos: transforma a crise mundial em "marolinha", garante a não-disseminação da gripe suína, reduz a crise iraniana a confronto entre flamenguistas e vascaínos.

Da combinação entre o passado e o presente surge o novo taumaturgo que exorciza os males e passa a mão milagrosa na cabeça dos culpados: absolve mensaleiros, ungindo-os com a bênção presidencial, bem como os "aloprados" de 2006, produtores de dossiês falsos.

Neste instante, perdoa o mais ferrenho adversário do passado, e esse mesmo passado, tantas vezes condenado, vale para redimir as culpas de Sarney, cuja "história no Brasil é suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum".

O taumaturgo demagogo domina o espetáculo. Por ser o salvador de um povo crédulo, pode desprezar a ética e a verdade e consagrar, com a liturgia do cargo, os piores vícios do Brasil.

Miguel Reale Júnior, advogado, professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

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O conto da governabilidade

O presidente do Senado, José Sarney, acabamos de saber, tem mais uma inconveniência em comum com o ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia, a quem nomeou em 1995, na primeira das suas três passagens pelo posto, e a quem pediu que se demitisse em março último. Agaciel teve de sair do cargo em que se comportou como um czar da burocracia do Senado depois que o jornal Folha de S.Paulo revelou que ele tinha ocultado do Fisco a propriedade de uma mansão em Brasília, avaliada em R$ 5 milhões.

Pois ontem o Estado revelou que Sarney deixou de incluir nas suas declarações de bens enviadas à Justiça Eleitoral em 1998 e 2006, como candidato a senador pelo Amapá, a casa de 700 metros quadrados em que reside na Península dos Ministros, no Lago Sul da capital. O imóvel, comprado em 1997 do banqueiro Joseph Safra, é avaliado em R$ 4 milhões. Sarney mandou dizer que a omissão foi "um erro do técnico" que providenciou a documentação e que a propriedade consta da sua declaração de renda, cópia da qual está no Tribunal de Contas da União (TCU). À parte a reincidência no "erro", apenas o patrimônio informado ao tribunal eleitoral é de conhecimento público - para isso, aliás, que é exigido.

Na véspera da divulgação da notícia, depois que o presidente Lula aplastou a bancada petista por ter aderido à iniciativa do DEM, PSDB e PDT de pedir a Sarney que se licenciasse da presidência até o fim das investigações dos escândalos da Casa, só se ouvia em Brasília que Sarney havia superado o pior momento de suas atribulações, recompusera o pacto de poder no Senado entre o PMDB e o PT e podia arquivar a conversa da renúncia de que se valera para assegurar o arrimo de Lula - a menos que uma nova denúncia o atingisse. (A mais recente foi a de que um neto seu intermediava empréstimos bancários a servidores da Casa.) A situação de Sarney, portanto, voltou a ficar incerta, e o presidente que o protege terá de insistir no mesmo comportamento escabroso de impor ao PT a primeira lei da máfia - Il capo ha sempre ragione - e, mais grave ainda do ponto de vista institucional, interferir descaradamente nos rumos de outro dos Poderes da República. Antes mesmo de vir à tona o caso do imóvel que Sarney omitira das declarações de bens, Lula embarcara no mais puro terrorismo político para manter o partido dobrado às suas ordens.

Segundo relatos do jantar para o qual convocou os 12 senadores petistas, no Palácio da Alvorada, e que terminou no começo da madrugada de ontem, Lula teria dito que a eventual renúncia de Sarney desencadearia uma crise cujo desfecho seria imprevisível. "Tudo pode acontecer", alarmou, em tom apocalíptico. Não para o País, decerto, mas para a blindagem que a permanência do senador proporciona ao seu governo e o decantado apoio do PMDB à candidatura Dilma Rousseff em 2010. É o conto da governabilidade. Lula não se dá por achado pelo fato de ser mais do que óbvia a patranha que passou a impingir a torto e a direito e que os seus submissos companheiros se apressaram a papaguear depois de chamados à ordem pelo chefe. (Registre-se, a propósito, a sabuja proclamação do líder petista Aloizio Mercadante: "Minha combatividade está a serviço do presidente Lula.") Por menos que se devam subestimar as proporções do embrulho no Senado, ele não paralisará a capacidade do Executivo de governar. Nem isso tira o sono de Lula. O que ele teme é que, sem Sarney e com o PMDB desarvorado, finalmente saia do ponto morto a CPI da Petrobrás, seguida de outra, sobre os nebulosos negócios no setor de Transportes. E que a sigla se divida na sucessão presidencial.

Além da embromação da governabilidade, o lulismo falseia as razões do desmanche do Senado. Este não nasceu do confronto entre governo e oposição. Sarney foi eleito por uma aliança entre o PMDB e o DEM, cuja simbiose o maranhense encarna melhor do que ninguém, contra um candidato do PT apoiado pelo PSDB. O rebatizado PFL só se dissociou do último dos oligarcas que prosperaram no partido e voltou a somar com a bancada tucana depois que, em desespero de causa, Sarney atribuiu a sua ruína a "uma campanha midiática" em razão do seu apoio ao presidente. Ao retribuir de forma "incondicional", como chegou a dizer, Lula imaginava baixar a febre da crise. Agora corre o risco de fazê-la subir.

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Sarney, até quando abusarás de nossa paciência?

A grande expectativa, hoje, é pelo momento da renúncia de Sarney à presidência do Senado. Vã espera. O apego ao poder se sobrepõe a qualquer noção de honra, dignidade, pejo ou qualquer outro nome que se queira dar a “vergonha na cara”.

O poder tudo pode e a ele tudo é permitido. Essa é a receita do “estadista” José Sarney, para quem nada é constrangedor se o objetivo é a conquista ou a manutenção do poder. Portanto, não se espere nenhum gesto de desprendimento ou desapego a qualquer fatia de poder. Muito pelo contrário. Qualquer iniciativa, qualquer atitude ou ação será sempre no sentido da manutenção do poder conquistado.

É nesse momento que afloram o cinismo, a falsa humildade, o pieguismo, o apelo à doença e até a cara-de-pau. Tudo muito próprio do farsante que é José Sarney.

A tentativa será a de vencer a todos pelo cansaço. Aguardar que se exaure a divulgação de todos os escândalos e que eles se banalizem, para, enfim, por meio da chantagem, das ameaças veladas e dos meios escusos que tão bem sabe utilizar, negociar sua permanência na presidência do Senado.

O cargo e sua importância são fundamentais para a manutenção da filha Roseana no governo do Maranhão e do filho Fernando fora do alcance da Policia Federal e da Justiça. Isso sem esquecer sua importância para as eleições de 2010.

“É nesse momento que afloram o cinismo, a falsa humildade, o pieguismo, o apelo à doença e até a cara-de-pau. Tudo muito próprio do farsante que é José Sarney.”

Faz-se mister que o Senado tome uma atitude. Por muito menos, foram defenestrados Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho e Renan Calheiros. Todos renunciaram para não serem cassados. Sarney não renuncia porque tem certeza que os senadores não têm coragem de cassá-lo.

Essa é a versão que seus aliados divulgam aqui no Maranhão. Os mais chegados dizem que o arsenal armazenado nas mãos do pupilo Agaciel Maia é o suficiente para manter sob controle qualquer senador. Diante dessa dura e triste realidade, torna-se cada vez mais importante o movimento “Fora Sarney” que já se alastra pelo país. O povo haverá de encorajar os ilustres senhores senadores a fazer a faxina que se impõe e que todos nós esperamos.

O que nos preocupa no momento é que os escândalos do Senado desviam a atenção do que está acontecendo aqui na província. As inexplicáveis e escandalosas “dispensas de licitação” já são suficientes para colocar sob suspeita o governo da senhora Roseana Murad. E não vale culpar o mordomo, afinal nada está sendo feito “secretamente”. Pelo contrário. Tudo está sendo feito às escâncaras, publicado no Diário Oficial. Um escárnio. Talvez um deboche.

“O cargo e sua importância são fundamentais para a manutenção da filha Roseana no governo do Maranhão e do filho Fernando fora do alcance da Policia Federal e da Justiça. Isso sem esquecer sua importância para as eleições de 2010.”

A certeza da impunidade é o incentivo para essas práticas, próprias dos que ainda outro dia faziam denúncias da tribuna da Assembléia e hoje ministram verdadeiros cursos de ilegalidades e ilicitudes. Somente nas secretarias de Saúde, Educação e Caema já foram dispensadas licitações em montante superior a 30 milhões. Vigilância, combustíveis, passagens aéreas e até suspeitíssimo escritório de advocacia do Piauí foram objeto de obscuras dispensas de licitação.

“Essa é a marca desse governo [de Roseana Sarney]. Ilegalidade, ilicitude e perseguição. É por isso que só foi possível chegar ao Leões por meio de um golpe pela via judiciária.”

Uma coisa é certa. Há algo de podre no Reino do Maranhão. Mas, como diz o samba, “a maldade nessa gente é uma arte”. A podridão não se contenta apenas com a falcatrua. Há também o revanchismo e a perseguição. No dia 16 de abril foi encaminhado pelo governador Jackson Lago, ao Diário Oficial, o decreto com a promoção de 1.912 professores. A senhora Roseana Murad mandou recolhê-lo para que não fosse publicado. Prejudicou deliberadamente a todos que sem nenhum favor fizeram jus à promoção. Para ela, coisas dessa natureza só podem ser feitas por meio do favorecimento. Essa é a marca desse governo. Ilegalidade, ilicitude e perseguição. É por isso que só foi possível chegar ao Leões por meio de um golpe pela via judiciária.

Temos, portanto, de estar atentos ao que acontece em Brasília, mas sem perder de vista o que está ocorrendo aqui no Maranhão. O acompanhamento constante, a vigilância permanente e sobretudo a denúncia responsável são armas que deveremos empunhar na defesa do povo maranhense. Ninguém tem o direito de se omitir.

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Sarney oculta da Justiça Eleitoral casa de R$ 4 milhões

Em nenhuma das 2 eleições disputadas por ele depois da compra o imóvel foi incluído nas declarações de bens

BRASÍLIA - O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ocultou da Justiça Eleitoral a propriedade da casa avaliada em R$ 4 milhões onde mora, na Península dos Ministros, área mais nobre do Lago Sul de Brasília. De acordo com documentos de cartório, o parlamentar comprou a casa do banqueiro Joseph Safra em 1997 por meio de um contrato de gaveta. Em nenhuma das duas eleições disputadas por ele depois da compra - 1998 e 2006 - o imóvel foi incluído nas declarações de bens apresentadas à Justiça Eleitoral.

Sobre a ausência da casa nas declarações registradas na Justiça Eleitoral, a assessoria de Sarney informou ao Estado, por escrito, que ocorreu um "erro do técnico que providencia a documentação do presidente Sarney junto aos órgãos competentes". Afirmou ainda que o imóvel consta das "declarações anuais de Imposto de Renda do presidente, entregues também ao TCU com frequência anual".

Dois documentos do próprio senador, arquivados no Tribunal Regional Eleitoral do Amapá (TRE-AP), deixam dúvidas sobre a declaração da casa à Receita Federal. Num dos documentos, apresentado na campanha de 2006, Sarney listou seus bens, mas sem nenhuma referência à casa de R$ 4 milhões em Brasília. Ao final, ele escreveu de próprio punho que aquela lista de bens declarados à Justiça Eleitoral é a reprodução fiel de sua declaração à Receita. "De acordo com minha declaração de bens à Receita Federal em 2006", registrou o presidente do Senado no rodapé, que leva sua assinatura.

O outro documento é da campanha anterior, a de 1998. Na ocasião, Sarney juntou ao registro de candidatura uma cópia da sua declaração de IR apresentada à Receita naquele ano. O imóvel avaliado em R$ 4 milhões ficou de fora. Por ter sido comprado em 1997, o imóvel deveria constar da declaração de renda apresentada em 1998, ano-base 1997.

Por lei, as declarações de Imposto de Renda de qualquer cidadão são protegidas por sigilo fiscal. Por ser parlamentar e receber dinheiro público, Sarney envia cópia ao Tribunal de Contas da União (TCU), que também mantém esses dados em segredo. O único meio de o eleitor conhecer o patrimônio de um candidato é a declaração apresentada à Justiça Eleitoral. É quando essas informações se tornam públicas - e, ao divulgá-las, Sarney deixou a casa de fora.

O advogado Alberto Rollo, especialista em direito eleitoral, falou em tese sobre o assunto. Segundo ele, a omissão de um bem à Justiça Eleitoral pode ser interpretada como "fraude". Sem analisar especificamente o caso de Sarney, o diretor executivo do portal Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, também condenou a prática. "Quem omite bens mente ao eleitor."

Dez anos depois

O valor da casa de Sarney em Brasília destoa dos demais imóveis que o senador declarou ao TRE. O imóvel mais caro listado por ele é um terreno em Santo Amaro, município da região dos Lençóis Maranhenses, no valor de R$ 60 mil.

Sarney comprou a casa de Brasília em 1997, do banqueiro Joseph Yacoub Safra, dono do Banco Safra. O negócio foi fechado por meio de um "instrumento particular de promessa de venda e compra, não levado a registro".

O valor de R$ 400 mil, segundo o banco, Sarney quitou logo no ano seguinte, em 1998. A transferência do imóvel, porém, se deu apenas em 2008, dez anos depois, quando a escritura foi lavrada e registrada no cartório de imóveis.

À pergunta sobre a demora em transferir a casa, o Banco Safra respondeu ao Estado: "Desconhecemos." Por meio dos assessores, Sarney avisou que não responderia sobre a razão de ter levado dez anos para registrar o imóvel no Lago Sul em seu nome.

Na escritura registrada ano passado, Safra, como pessoa física, repassa formalmente a propriedade da casa a Sarney e ao filho dele, o deputado Zequinha Sarney (PV-MA). Pelo documento, Sarney e Zequinha passaram a ter, cada um, 50% dos direitos sobre o imóvel.

Ao contrário do pai, o deputado incluiu em suas declarações de bens o direito à metade da casa na Península dos Ministros, onde o metro quadrado chega a custar R$ 3 mil. Em valores atuais, nenhuma casa onde está a de Sarney valeria menos de R$ 4 milhões, de acordo com consultores da Câmara de Valores Imobiliários de Brasília.

Se considerados os valores de 1997, quando ocorreu a transação, a avaliação da casa feita pelo governo de Brasília para fins de cobrança de IPTU, o imposto sobre imóveis urbanos, já era de R$ 593,6 mil. O valor de mercado, normalmente, é superior ao da avaliação oficial.

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Governo Roseana direciona editais para o jornal da família Sarney

O deputado Edivaldo Holanda (PTC) denunciou nesta quinta-feira na Assembleia Legislativa que o governo Roseana Sarney está privilegiando o jornal "O Estado do Maranhão" na distribuição dos editais e atos do governo, informa o blog do jornalista Raimundo Garrone.

Todas as publicações do governo estão sendo destinadas ao jornal da família Sarney, em uma curiosa e descabida atitude, onde a governadora paga e a empresa de sua família recebe.
- Ela está dos dois lados do balcão – denunciou o deputado.

Os donos dos jornais “menores” dizem que o governo argumenta que a escolha deve-se ao fato de que o Estado do Maranhão é o único jornal que está filiado ao Instituto de Verificação de Circulação – IVC.

Holanda explica que o próprio governo federal ignora a exigência do IVC para a sua publicidade, e a distribui sem distinção.

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sexta-feira, 3 de julho de 2009

A política das quadrilhas

Em toda parte, nos jornais, nos restaurantes, nas conversas de família, os escândalos no Legislativo suscitam protestos inflamados. É natural. Sem a capacidade de se indignar, o humano não existe. Mais que natural, é positivo que os cidadãos manifestem repúdio, revolta ou mesmo - a palavra é forte, mas é precisa - asco. A ira da sociedade é um bom combustível para a remoção de corruptos. Só isso, contudo, não basta. A gritaria revestida de sanha justiceira até ajuda, mas não explica nem resolve as coisas. Um pouco de razão serena é essencial.

Isso não significa que nos devamos refugiar nas atitudes fáceis dos que dizem que tudo é culpa "do sistema", que se não mudarmos a legislação eleitoral ou o que quer que seja nada se vai transformar de fato. Essas teorias que isentam os indivíduos de qualquer responsabilidade beiram o cinismo e, no limite, vêm para abençoar a burla - desde que dissimulada - das regras democráticas e a apropriação privada - desde que às escondidas - dos recursos públicos. Isso também não significa que qualquer concessão moral possa ser feita em nome da "governabilidade", nem significa que serão perdoados os crimes cometidos em favor do partido que, lá na frente, vai redimir a sociedade de suas misérias. Isso significa, apenas, que, só na base do moralismo, na acusação desse ou daquele corrupto, não se pode compreender a terrível crise de valores éticos que se abateu sobre a política brasileira.

A crise não se explica, somente, pela falta de caráter de fulano ou beltrano. Esse desastre não deve ser debitado às escolhas de dois ou três indivíduos. Ela decorre, também, de costumes que amparam e, por vezes, estimulam essas escolhas. Ela passa pelas características de um Estado - como foi apontado direta ou indiretamente por muitos - que não nasceu como obra da sociedade, mas como seu contrário, isto é, em muitas regiões brasileiras o Estado "caiu do céu" ou veio da metrópole para atuar como "fundador" da sociedade civil ou, pior ainda, para abastecer, com poder legal e com dinheiro estatal, os chefes locais, cujo mando sempre se baseou na força bruta, nas leis da selva, em estruturas sociais primitivas, anteriores, portanto, a uma noção de esfera pública. Aos olhos desses senhores, titulares do mandonismo local, a política não é uma extensão do exercício da cidadania, mas uma forma superior de articulação dos interesses privados que dão o bote sobre a coisa pública. Política, para eles, é isso, mais ou menos como organizar uma caçada: a gente vai lá, encontra as nossas presas, atira nelas, mata quantas conseguir matar e depois traz tudo para casa. Eles olham para o Estado como os extrativistas do século 16 olhavam para o pau-brasil: aquilo está lá à espera dos nossos machados e da nossa ambição. A política, para eles, é, sim, uma disputa: a disputa para ver quem chega primeiro à recompensa. Mais, uma recompensa que também é uma arma letal: o que o Estado puder oferecer para abater os inimigos será muito bem aproveitado.

Nesse sentido, não há de ser muito surpreendente que velhos coronéis do atraso se aliem a supostos socialistas de matriz bolchevique: para uns e outros, por mais distantes que pareçam estar, o Estado se toma para fins privados (fins partidários ou fins familiares são igualmente privados). Eles podem não se entender naquilo que alegam ser seus programas estratégicos, mas se irmanam de corpo e alma quando se trata de defender a preservação desse padrão de política: aquela que vê na coisa pública um butim, um atalho para a acumulação primitiva, uma fortaleza tática.

Às vezes, os noticiários de televisão nos brindam com imagens chocantes de certos desastres rodoviários: um ônibus tombou na estrada, vários morreram e, antes que o socorro chegasse, ele foi saqueado por não se sabe quem. É assim que esses senhores veem o Estado, como um ônibus que rolou de uma ribanceira. Alguns, não contentes em pilhá-lo, ainda se aboletam por ali. Constroem sua morada dentro da carcaça metálica que se enferruja e depois chamam os parentes, que por sua vez chamam mais parentes, e fazem daquela forma de habitação o símbolo de seu poder tribal. Para os súditos desses chefes, o Estado não é o corolário de um esforço coletivo, o produto de um grande mutirão histórico, o resultado do trabalho de cada um. Ao contrário, ele veio do nada, como um cavalo dado que passa encilhado, caiu como um meteorito cheio de pedras preciosas, um presente para o enriquecimento dos mais fortes, dos mais espertos, dos mais aptos. A quem os que têm juízo obedecem.

A muitos brasileiros estarrece que alguns dos políticos que agora ganham as manchetes por obra de sua desonestidade não emitam sinais de vergonha. Eles não se abalam, não demonstram a mínima crise de consciência. Por que será? Também para isso há outras explicações, além daquelas que acusam neles uma intransponível cara dura. Essa outra explicação tem que ver com a ética que os move, que não é a ética da coisa pública. Para eles, a lealdade aos amigos é um valor que fica, sim, acima da lei - e por isso eles são venerados entre os seus. Para eles, empregar a família é um dever moral, um dever muito mais respeitável do que economizar dinheiro público. Eles não se veem como corruptos, mas como guerreiros de sua gente e, nessa nobre missão, usam o que for preciso - principalmente o Estado, é lógico. Deles não se poderia dizer que não sabem o que fazem, pois têm noção do mal que causam, mas se poderia dizer que não alcançam as consequências de longo prazo de suas práticas. São como alguém que joga lixo pela janela do carro, na rua, sem ter noção dos malefícios públicos desse gesto.

A rua em que eles atiram seu lixo é o rosto de cada um de nós.

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Única Saída

Há momentos em que instituições e biografias entram em rota de colisão. Como no caso do Senado e de seu presidente José Sarney. E as instituições não podem ser atropeladas por conveniências pessoais, mesmo compreensíveis e defensáveis. Não se trata de prejulgar, trata-se de romper o impasse e abrir espaço para que se faça o necessário: um amplo levantamento de fatos conhecidos a partir de denúncias consistentes de que funcionou, ou funciona, no quadro de funcionários da Casa, um ou vários esquemas delinquentes de desvio de dinheiro do contribuinte para bolsos privados, entre outros crimes. Se houve ou não conivência de parlamentares, veremos nas investigações. Confirmada a cumplicidade, missão para o conselho de ética avaliar e enviar o(s) processo(s) ao Supremo Tribunal. Simples assim.

Está evidente que a permanência do senador José Sarney à frente da Mesa impede que investigações sejam feitas. Manter-se prejudica o próprio senador, sem se defender por causa das limitações do cargo.

Sarney nomeou Agaciel Maia diretor-geral da Casa no primeiro mandato como presidente, em 1995. No posto, Maia, funcionário do Senado desde 1985 graças a um desses trens da alegria que costumam transitar pela Praça dos Três Poderes - viagem em que, por coincidência, teve a companhia de Roseana Sarney -, se investiu de poderes imperiais.

Com eles, entre outros delitos, inchou de maneira inaceitável a máquina burocrática do Senado - hoje com 10 mil funcionários para atender 81 parlamentares. Ao lado de João Carlos Zohbi, diretor de pessoal do Senado, exercitou, também como cúmplice de parlamentares, o nepotismo e o clientelismo, práticas nefastas entranhadas na vida política do país. Fez de tudo, até empréstimos por baixo do pano a senadores, como ao tucano Artur Virgílio, a fim, é certo, de mantê-los sob controle. Editou mais de 600 atos secretos - se respaldado pela Mesa, veremos -, deixando, enfim, com a ajuda dos "agaciboys", nomeados por ele para postos-chave, um rastro de destruição de princípios morais.

Ter nomeado Agaciel não pode justificar que se coloque o senador José Sarney como corresponsável pelas malfeitorias. Mas a presença de Sarney no comando da Casa serve de natural freio ao andamento das investigações, e ajuda a degradar ainda mais a imagem dele e do Senado. Por isso, o senador deve se afastar. Não é prejulgamento, é precaução ditada pela emergência de um quadro que não deve perdurar.

O Senado não pode naufragar na inércia do impasse criado pela sucessão de denúncias porque o Palácio não quer se arriscar a perder o frágil controle que mantém sobre a Casa. Não é hora - aliás, nunca deveria ser - do varejo político. A própria sustentação de Sarney se esfarela. Na terça-feira, o DEM, uma das bases históricas do senador, recuou. Pediu-lhe que se licenciasse, assim como fizeram o PSDB e o PDT. Na tarde de ontem, senadores do próprio PT apelaram a Sarney que se afastasse por 30 dias, mesmo que isso significasse entregar o comando provisório do Senado ao tucano Marconi Perillo. Depois, voltaram atrás. Sarney esperaria uma conversa com Lula, de volta da Líbia, com chegada prevista para ontem, antes de anunciar alguma decisão. O encontro poderia ocorrer ainda à noite.

As circunstâncias conduziram Sarney ao mesmo beco de única saída em que se meteram Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho e Renan Calheiros, guardadas as diferenças entre cada um: para eles e o Senado a única alternativa foi afastamento do cargo. Inerte, a massa orgânica dessas crises tende a se deteriorar e apodrecer.

É inútil atacar a imprensa profissional, tentando-se enxergar nas reportagens sobre o Senado conspirações subterrâneas. Aliás, como também é interpretada a série de notícias desabonadoras sobre a Petrobras.Fatos têm sido publicados e precisam ser investigados. Apenas isso. No que se refere à estatal, por uma CPI já criada. Em vez de atacar a mídia, governistas deveriam se explicar perante a opinião pública.

Não importa se é por causa da luta pelo poder no Senado entre PT e PMDB que escabrosas histórias de desmandos administrativos passaram a ser relatadas a repórteres por grupos de funcionários da Casa, e com provas. Importa é esclarecer se os casos são verídicos, apurar responsabilidades e executar punições.

José Sarney foi um dos que, ao decodificar com sensibilidade política os horizontes pouco visíveis na primeira metade da década de 80, deram cabal contribuição ao projeto político de transição do regime militar para a democracia, sem rupturas violentas. Apoiou aquele regime, mas soube ajudar a construir a ponte sobre o vazio, e o destino colocou-lhe em mãos o comando do país na volta à liberdade. Trajeto sinuoso, percorrido com êxito.

Da mesma capacidade de interpretar os ventos da política ele precisou lançar mão nos últimos dias. Espera-se que tenha se convencido a afastar-se da presidência da Casa - em nome não apenas de uma biografia, mas também para proteger o Senado. Questões mais amplas se colocaram à frente do experiente político, como há quase 30 anos.

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O PT e seu dilema: virar a mesa ou senta-se a ela?

Um moralista, como se sabe, é um degenerado que ainda não ficou preso no elevador com a Maitê Proença.

Do mesmo modo, um petista é um tucano que ainda não recebeu um pedido do Lula para apoiar o Sarney.

Poucas horas antes de um jantar em que Lula apelará por Sarney, a bancada de senadores do PT vive um dilema.

Assediado pela crise moral do Senado, o petismo não sabe se vira a mesa ou senta-se a ela, ao lado de Sarney e tudo o que ele representa.

Na noite de terça (30), sete dos 12 senadores do PT posicionaram-se a favor de um pedido de licença de Sarney.

Na quarta (1), informado acerca da novidade, Sarney disse que preferia renunciar a licenciar-se.

Do estrangeiro, onde se encontrava, Lula entrou em parafuso.

Pôs-se a telefonar para Brasília. Mobilizou ministros e assessores. Era preciso chamar o PT às falas.

A firmeza do petismo subiu no telhado. Ou, por outra, escalou um muro que, noutros tempos, era território exclusivo do tucanato.

Numa das peças de Nelson Rodrigues, ambientada num Rio de Janeiro que ainda era a capital do país, um personagem grita, em meio a uma suruba:

"Se Vinicius de Moraes existe, tudo é permitido!"

A frase é, na verdade, uma atualização de comentário de outro personagem, de Dostoievski: “Se Deus não existe, tudo é permitido”.

Pois bem, Lula sugere ao PT que reflita sobre outra máxima: Se Sarney existe, tudo é permitido. Inclusive apoiar o inaceitável, em nome da governabilidade.

Em 1959, o Partido Social Democrata alemão rejeitou os conceitos de “luta de classes” e “economia planificada”.

Em 1991, o Partido Socialista francês renegou o marxismo.

Em 2002, numa carta ao povo brasileiro, Lula pisoteou o passado e aceitou as regras do mercado.

Em 2009, Lula pede ao PT que renegue os princípios da moralidade pública. Na prática, mera formalização de algo que já ocorreu.

O PT de hoje, evidentemente, não é o PT de ontem. No governo, viu-se compelido a mimetizar o PSDB de FHC, abraçando-se a parceiros como o PMDB.

Um PMDB que frequenta as franjas do poder ameaçando romper com o governo, pleiteando, pedindo, querendo... E obtendo.

O apoio do PT a Sarney, exigido por Lula, será mais um exemplo das metamorfoses que o poder costuma operar.

Para que a hipocrisia possa funcionar, salvando o Senado do caos, é preciso que o PT faça o seu papel. O papel de otário.

Otário consciente, assumido, que reconhece a conveniência de sucumbir às amoralidades alheias em nome da governabilidade.

Afinal, Se Sarney existe, tudo é permitido!

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Lula e o grande pensamento político

Nesta altura do campeonato, em que a política cada vez mais se apropria do universo futebolístico, é justo invocar o maior pensador político da nação - Antonio Franco de Oliveira (1906-1976). Era torcedor fanático do Botafogo do Rio de Janeiro e reinou na década de 40 nas areias de Copacabana como respeitado goleiro do Posto Quatro Futebol Clube, que calçava chuteiras número 44 e fazia defesas incríveis com as mãozonas que mediam 23 centímetros. Esta desproporção rendeu o apelido que lhe garantiu a imortalidade: Neném Prancha.

É dele uma frase que define neste momento, com precisão, o corintiano Luiz Inácio Lula da Silva, também presidente da República: “Quem pede, recebe. Quem desloca, tem preferência”. Lula entrou de sola no jogo de várzea do Senado, pediu a bola da crise e recebeu, redondinha, a esférica confusão em que se meteu o time nada amador dos senadores.

Do Rio, do Irã, da Líbia, onde encontrasse um microfone, Lula calibrava a voz e disparava um petardo no ângulo, em defesa incondicional de José Sarney, ‘o presidente que não é um cidadão comum’. Foi ao ponto de atropelar o time de seu partido no Senado, a bancada do PT, para fazer a bancada engolir a idéia de afastamento preventivo do presidente sob suspeita. O líder do PT, Aloísio Mercadante, com cara de bola murcha, teve que subir à tribuna para ensaiar uma explicação complicada para o recuo inexplicável.

Indiferente ao ditador líbio Muammar Kadafi, ao seu lado, Lula ligou da África para Sarney para pedir que não fizesse nada até conversar com ele, pessoalmente. Dissimulado como sempre, Lula voltou ao Brasil e disse que não tinha nenhum encontro com Sarney.

Lula segue, à risca, uma lei imutável de Neném Prancha: “Joga a bola pra cima, enquanto ela estiver no alto não há perigo de gol”. O barbudo do Planalto tenta tirar a bola do meio-de-campo do Senado para salvar o bigodudo do Maranhão. Existe uma lógica nesta jogada que o esperto Neném reconheceria com outra frase lapidar: “O importante é o principal, o resto é secundário”.

Traduzindo: Lula não está preocupado com a integridade física de Sarney. O presidente está apreensivo, na verdade, é com a saúde política de seu governo. E nada traduz melhor a deficiência técnica deste governo do que a constatação de que ele, hoje, está pendurado nos fios embranquecidos do octogenário bigode de Sarney.

A política de Lula é como o futebol para Neném Prancha: “É muito simples – quem tem a bola, ataca; quem não tem, defende”. Ao ver Sarney manietado em campo, com pés e mãos politicamente amarrados pela mão boba de seu pupilo Agaciel Maia, Lula percebeu que o amigo precisava de defesa, já que a bola não sai do campo da oposição. Sem ela, não restou ao presidente outra saída senão a defesa, intransigente, inegociável, inarredável.

Defender Sarney é defender o PMDB, que vai defender as cores governistas no campeonato presidencial de 2010, armado em torno da favorita de Lula e do PT – Dilma Roussef, o Fenômeno do PT, uma espécie de Ronaldo mais magra do time escalado por Lula para manter a mão na taça no próximo mandato. Acuado, Lula acusou a oposição de forçar a renúncia de Sarney como uma tentativa de ganhar o Senado no ‘tapetão’.

No jogo bruto da política, o país acabou descobrindo uma vocação irrefreável de Lula: seu apetite para entrar no jogo alheio, sempre pelo lado errado, permanentemente atraído pelas causas piores.

Fez assim para salvar Antônio Carlos Magalhães, quando o líder baiano se enrolou nas fitas do mega-grampo patrocinado por ele na Bahia e arredores. O pedido de cassação do Conselho de Ética foi interceptado, a pedido de Lula, com o providencial engavetamento na Mesa Diretora do Senado, presidida então – quem, quem? – por ele, José Sarney.

Lula fez de novo ao mover seu time do PT para salvar Renan Calheiros, enrolado em confusões extra-conjugais e bois não contabilizados, que ameaçaram jogar seu mandato no brejo. E Lula faz agora, outra vez, para salvar a cara rosada e a presidência mambembe do eterno Sarney, agora enrolado nos atos secretos e na parentada empregada com os bons augúrios do fiel Agaciel Maia.

Tudo isso Lula fez e faz em nome da governabilidade, esta santa palavra que tudo explica, justifica, ampara e protege. Lula desconhece, porém, um detalhe da sabedoria popular que Neném Prancha resumiu com a habitual simplicidade: “Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”.

Só no Brasil e só no Governo de Lula, à exceção dos generais da ditadura, se mistura com tanta desfaçatez dois poderes que deviam ser autônomos e independentes: o Executivo e o Legislativo. Sarney, esperto, disse em nota que a crise — ‘que não é dele, mas do Senado’ — criou-se só porque ele apóia o presidente Lula. Pendurou-se, sem nenhum disfarce, nas barbas de Lula. Para um poder já emasculado pelas medidas provisórias que atropelam e abastardam o Congresso, não é surpreendente o gesto de desespero de Sarney.

Inesperada, porém, é a forma cínica e despudorada com que Lula intervém na crise do Senado, atravessando fronteiras políticas e éticas, humilhando ainda mais um Parlamento que já não consegue se safar, com suas próprias forças, das atrapalhadas em que se mete. É preciso que o presidente do Planalto socorra o presidente do Senado, em nome do quê? Da governabilidade, ora essa!

Lula não está inquieto com a roubalheira, os maus feitos, as negociatas, a má imagem e o desgaste do Senado. Está preocupado, apenas, com o amigo e a aliança que lhe dá fôlego e futuro político, sabe-se lá a que preço. O país não deve se preocupar com tudo isso, diz Lula, porque é tudo denuncismo da imprensa, que gosta de publicar só notícia ruim. Lula gostaria de ver todo dia manchetes, artigos e editoriais festejando os gols de Ronaldo e os títulos do Corínthians. Mas Neném Prancha poderia lhe ensinar que a política, como o futebol, é uma caixinha de surpresa.

Este conúbio de Lula com Sarney e do PT com o PMDB lembra outra frase definitiva de Neném: “Casamento é coisa muito séria para terminar nas manchetes de jornais”. A crise atual virou manchete de jornais. E elas podem terminar com este casamento. Neném Prancha já avisou, Lula.

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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Enigma

A revista Veja publicou excelente matéria neste final de semana intitulada “Hora da Faxina”. Nela, expõe a perplexidade em descobrir que Sarney não é nada daquilo que se pensava: um homem realizado, satisfeito por ter alcançado cargos onde nunca poderia ter chegado, imortal da Academia Brasileira de Letras, homem que faz questão de mostrar grande erudição, prosa fácil e amena, um simpático senhor de 79 anos de idade, com fama de grande político, estrategista etc.

A matéria sugere ainda o questionamento sobre os motivos que o levaram a chegar a tal ponto, o porquê de não ter se recolhido quando terminou seu mandato de Presidente da República, enfim, por que continuou na lide política e nos embates e disputas que no fim fizeram-no descer do pedestal que imaginou para si?

Para melhor compreensão reproduzo parte da material da Veja:


Sarney tem biografia e nome para, a esta altura da vida, estar distante das refregas mais rasteiras do mundo político. Mas ele nunca quis, ou pôde, se afastar dos cargos que conferem poder de nomear e influir. Sem isso, Sarney torna-se presa fácil para seus não poucos adversários. Além dessa circunstância, vale a pena investigar, munidos apenas dos mecanismos da psicologia mais comezinha e da história, o que leva um político a essa situação. A resposta mais lógica, amparada na história, é a fronteira indefinida e fluida entre o público e o privado na vida nacional. Quando d. João VI se mudou com a corte de Lisboa para o Rio de Janeiro, em 1808, os nobres foram alojados nas melhores casas da cidade, das quais os donos foram sumariamente expulsos. Mas não eram eles os proprietários? Eram. Até que uma necessidade específica do estado os privou do que parecia um direito adquirido. Na mão oposta, são incontáveis os casos de altos funcionários do império e da república que se valeram de suas funções públicas para satisfazer suas necessidades particulares. Sarney é um herdeiro dessa mentalidade, com raríssimas exceções, prevalente no Brasil”.

E nisso incutiu em toda a família a mesma crença. Que diria o articulista da Veja se examinasse mais de perto o que fizeram e fazem Roseana Sarney, Fernando Sarney, isso se os dispusermos a citar apenas esses dois?

Roseana, como foi noticiado na época e relembrado agora, é ela própria cria de um ato secreto do Senado. Foi admitida por meio desse expediente, em um famoso trem da alegria em 1985. Talvez até fosse aprovada se tivesse feito concurso, vamos acreditar, com muita boa vontade, mas para quê, se podia entrar por meio de fraude?

Ela cresceu sem saber distinguir o que era público e o que era privado. Foi educada assim, a vida era fácil e boa , tudo era dela… Dessa forma, dezenas de parentes pertencentes a essa “grife” foram arranjando polpudos empregos, sob a égide de atos secretos do senado. Estavam acostumados e para eles era mais do que natural, era um direito. Depois, em sequência, foram amigos do peito, defensores intransigentes da família, agregados e apadrinhados, faz-tudo, serviçais... Enfim, uma constelação de apaniguados. Todos dependendo de quem? De Sarney, naturalmente.

Assim, como sair, como se aposentar, pois essa turma que chega a milhares, poderia, de uma hora para outra ficar desempregada com a aposentadoria do patriarca? E Sarney, acostumado com o poder, leitor da biografia de poderosos da História, que passavam por cima de todas as regras e massacravam os adversários, o que iria fazer sem a razão de sua vida, o poder absoluto?

Por outro lado, pode-se conjeturar um outro motivo para Sarney se expor tanto. É o fracasso de seu plano em ter um sucessor que segurasse tudo e herdasse todo seu poder. Ele imaginou, tempos atrás, que Roseana poderia assumir o seu lugar, acreditava que ela tinha talento e inteligência para isso. Hoje sabe que Roseana é fraca e sem talento, não seria nada sem o sobrenome Sarney, que ela, aliás, aturdida, quer esconder.

Abafar o inquérito da Polícia Federal contra Fernando Sarney é outro motivo forte para ser dependente do poder.

E ele renunciará? O historiador Marco Antonio Villa, em entrevista na Folha, diz: Sarney raciocina pensando nos interesses da sua família. Creio que o grande temor de renunciar à presidência do Senado é o de perder influência no governo federal e isso prejudicar os interesses da família. É esse raciocínio que ele vai utilizar para decidir se renuncia ou não. A saída só ocorrerá se ele perceber que a avalanche de denúncias chegou a tal ponto que coloca em risco o domínio da família no Maranhão e a eleição de Roseana ao governo estadual em 2010. Ele é um bom chefe de família, basta ver o número de familiares que empregou no Senado.

Em 2010 o povo maranhense saberá dar uma resposta a essa família!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Um neto escolado, esse do Sarney

De Malu Gaspar no blog Esquerda, direito e centro, da revista EXAME:

Suspeito de usar a influência do avô para operar créditos consignados no Senado, José Adriano Cordeiro Sarney (ex-José Sarney Neto), diz que tem qualificação suficiente para não precisar de costas quentes. Ele afirma ter se formado em administração na Sorbonne e feito pós-graduação em Harvard. Não é bem assim.

A página dos ex-alunos de Harvard na internet, de acesso restrito, informa que José Adriano fez um curso de extensão, que é equivalente a um curso de graduação, e não uma pós, como disse o neto de Sarney. É um dos poucos cursos de Harvard em que não há processo seletivo.

Para ser admitido, basta fazer previamente três disciplinas na mesma escola de extensão (estrangeiros podem fazê-las à distância), desde que paguem de 650 a 1 975 dólares por disciplina.

Ah, e tem mais: Harvard acaba de extinguir esse curso, chamado de certificate program. Segundo a universidade, "o interesse pelo programa caiu significativamente nos últimos anos, já que os alunos passaram a preferir o mestrado".

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O vício como método

Dezesseis dos 19 senadores do PMDB assinam um manifesto em defesa da permanência de José Sarney na presidência do Senado. Dos três que não assinam, um é o próprio Sarney, e os outros dois são Jarbas Vasconcelos (PE), que se negou a fazê-lo, e Pedro Simon (RS), que se submeteu a uma cirurgia. O articulador da manifestação é Renan Calheiros (AL), uma espécie de Sarney mais moço.

“Isso é um golpe, uma excrescência. Falar em Sarney deixar a presidência é excrescência política. Essa questão do Sarney, ela não existe, isso é bem anterior a ele, isso vem a partir do momento em que o PMDB constituiu maioria nesta Casa”, afirmou Almeida Lima (SE), deixando claro, então, que, em matéria de PMDB, os vícios não são exceção, mas método.

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Abandonado, Sarney virou presidente de mentirinha

José Sarney não preside mais a crise do Senado. É presidido por ela.

Longe do plenário, Sarney assistiu, pela TV, ao derretimento de sua autoridade.

Ruiu o apoio do DEM, que, por unanimidade, decidiu cobrar que se licencie.

“A credibilidade da instituição está fraturada e o presidente está acusado. Quero bem a Sarney, mas quero mais bem a essa Casa”, disse Agripino Maia.

Acentuou-se a aversão do PSDB, que sugere, além da licença de Sarney, a nomeação de uma comissão suprapartidária para gerir a crise.

“Estamos discutindo se Sarney continua como presidente sem governar, se vai pedir licença por 60 dias ou se vai renunciar”, disse Sérgio Guerra, presidente do PSDB.

Impaciente, o PDT encampou, também por unanimidade, a posição de Cristovam Buarque, que defende a licença de Sarney há dias.

“Pedimos que, ao se licenciar, Sarney permita uma investigação isenta, que possa, ao final, ter credito perante o Senado e a sociedade”, disse o líder Osmar Dias.

O PT ainda não se reuniu. Mas, a despeito dos apelos de Lula, metade da bancada torce o nariz para a permanência de Sarney.

Entre as legendas que têm algum peso, só o PMDB permanece ao lado de Sarney. Ainda assim, em ritmo de apelo:

“Alguns senadores e bancadas pedem que Sarney se licencie. Estaríamos fazendo um pré-julgamento, sem direito a defesa”, disse Valdir Raupp, em nome do PMDB.

“Por que não inverter essa proposta? Por que não darmos 60 dias para que Sarney possa comprovar sua inocência?”

Na prática, a pseudopresidência de Sarney está nas mãos de Renan Calheiros.

No papel de presidente informal do Senado, Renan lidera duas bancadas –a do seu PMDB e a do PTB.

A partir desse núcleo, tenta conter os rombos que se abriram no casco do navio de Sarney.

A idéia de um Senado à beira do abismo já foi superada.

A borda do abismo foi Jader Barbalho. O meio, ACM. O fundo, o próprio Renan.

Sarney é o subsolo do abismo, uma espécie de pré-sal do caos. Sarney é o erro levado às últimas consequências.

Após três presidências que resultaram em desastre –Jader, ACM e Renan— Sarney tornou-se a hipocrisia irrefletida.

Sarney virou a ousadia do velho esfregada na cara de uma opinião pública que anseia pelo novo.

A caravela do vício, por insustentável, roça o rochedo. Aos pouquinhos, o Senado vai aprendendo que tudo tem limite.

Certas circunstâncias não podem ter como resposta os infindos conchavismos da complacência.

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terça-feira, 30 de junho de 2009

A nova dor de cabeça de Roseana Sarney

Marcelo governa o Maranhão na ausência de Roseana

Quem viu por aí João Alberto de Souza, 73 anos de idade, atual vice-governador do Maranhão pelo PMDB?

No último dia 2, ele assumiu o governo em substituição à governadora Roseana Sarney (PMDB), que se licenciou do cargo para operar um aneurisma cerebral em São Paulo.

Roseana e ele chegaram ao poder em meados de abril último depois que o Tribunal Superior Eleitoral cassou os mandatos do governador Jackson Lago (PDT) e do seu vice, acusados de compra de votos.

Na quarta-feira da semana passada, João Alberto decidiu viajar a Brasília parar contatos com ministros - e fez o que a lei não o obrigava a fazer: transmitiu o cargo para o deputado Marcelo Tavares (PSB), presidente da Assembléia Legislativa e adversário político dele e de Roseana.

Desapareceu depois disso. Pode estar ainda em Brasília. Ou ter voltado a São Luís e se refugiado em casa - não se sabe por que.

Primo de José Reinaldo, ex-governador do Maranhão e inimigo declarado do clã dos Sarney, Tavares assumiu o cargo com rara desenvoltura.

No primeiro dia despachou no Palácio dos Leões, sede do governo do Estado. No segundo, acompanhado de secretários, assessores e correligionários, embarcou para Imperatriz, a segunda cidade mais importante do Maranhão.

Promoveu um comício por lá. Criticou Roseana. Reuniu-se com o PSB local e demais partidos que se opõem aos Sarney. Estimulou-os a seguirem se opondo.

No último fim de semana visitou municípios da Baixada Maranhense. Arregimentou ali a oposição ao governo de Roseana. Acenou com tempos melhores. E até prometeu a assinatura de alguns decretos antes de dar por findo seu curto período de governo.

Roseana recupera-se da operação em Brasília. Só deverá reassumir o governo na próxima semana.

O paradeiro do vice João Alberto continua um mistério. Noblat escreveu.

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Neto de Sarney também vendeu seguros para servidores do Senado

Por Rodrigo Rangel e Leandro Colon, no Estadão:


A Sarcris Consultoria - empresa de José Adriano Sarney, neto do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) - também atuou na venda de seguro de vida para servidores da instituição, além de intermediar empréstimos consignados. As vendas eram feitas em parceria com o Grupo MBM, empresa sediada no Rio Grande do Sul com negócios na área de seguros e previdência privada.


Ontem, o gerente do escritório da MBM em Brasília, Roberto Toledo, confirmou a parceria informal com a Sarcris. “Quando o servidor fazia o empréstimo, era oferecido a ele fazer o seguro da MBM”, afirmou, em entrevista gravada.


Segundo Toledo, a estratégia era aproveitar a oferta de empréstimos consignados aos servidores - principal ramo de atuação da Sarcris - para também vender seguro de vida. “Mas, veja bem, não fazíamos venda casada (o que é proibido por lei)”, apressou-se a dizer.


O gerente da MBM disse que a Sarcris foi indicada à sua empresa pelo HSBC, banco que, segundo o próprio José Adriano Sarney, era um de seus principais parceiros no negócio do crédito consignado no Congresso. Toledo relatou que “a Sarcris, por ser (representante) do HSBC, foi indicada para fazer a comercialização (dos seguros de vida)”. Ele afirmou que seu contato na Sarcris era o próprio José Adriano, 29 anos, filho do deputado Sarney Filho (PV-MA).

“Eu falava com o Adriano e com um outro rapaz, um funcionário que ficava no Senado fazendo os empréstimos.” O gerente disse ignorar o parentesco entre José Adriano e o presidente do Senado. “Nunca soube disso.”

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Ex-assessor de Sarney Filho foi da Sarcris

Filial no Maranhão da empresa do neto de Sarney chegou a ter como gerente um ex-funcionário do gabinete do deputado.

Funcionária entrega lista de clientes como o INSS, mas afirma que a empresa não trabalha mais com órgãos federais e estaduais do MA

De Hudson Corrêa:

A Sarcris Consultoria, que opera crédito consignado no Senado, tem um braço em São Luís, no Maranhão, berço político da família Sarney, que retomou em abril o governo do Estado. Na capital maranhense, a empresa chegou a ter como gerente um ex-funcionário do gabinete do deputado Sarney Filho (PV-MA).

Sócio da Sarcris, José Adriano Sarney é filho do deputado e neto do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Com matriz em Brasília, a empresa atua no Senado desde 2007, quando foi criada, na intermediação de empréstimos com desconto em folha para servidores, um negócio milionário que está sob investigação da Polícia Federal e é um dos pivôs da crise na Casa.

A atuação da Sarcris no Senado foi revelada na semana passada pelo jornal "O Estado de S. Paulo".

Em São Luís, a filial da empresa funciona discretamente em uma sala no centro da cidade, no terceiro andar do Edifício Colonial.

Assessor parlamentar de Sarney Filho até 2008, Fausto Rabelo Cosendey trabalhou como gerente administrativo da empresa na capital maranhense.

Após a notícia de que seu filho operava crédito consignado no Senado, Sarney Filho disse existir "uma campanha orquestrada para atingir o presidente José Sarney" e negou favorecimento ao seu filho.

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Simbiose - oligarquia e populismo

Leôncio Martins Rodrigues, professor titular - hoje aposentado - de Ciência Política na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), renomado estudioso e autor de importante obra no campo da política, foi certeiro no diagnóstico da crise que agride as instituições brasileiras. Em sugestiva entrevista ao Direto da Fonte, coluna de Sonia Racy, jornalista de O Estado de S. Paulo, Rodrigues mostra que a multiplicação de escândalos não punidos é fruto da aliança entre os grupos de Lula e de Sarney.

Segundo Rodrigues, "o explícito apoio do presidente Lula - que assim paga a força que lhe deu Sarney no mensalão - configura a união de duas elites. O líder das oligarquias tradicionais do Nordeste junta-se ao líder das novas classes ascendentes". Mas a radiografia de Rodrigues vai ainda mais fundo: "A união foi possível porque os ?novos? aderiram rapidamente ao projeto dos ?velhos?, de fazer da política uma escada para obter proveitos pessoais, enriquecimento e desfrute puro e simples do poder. É algo de fato original. Entre nós, a ascensão dos plebeus não significou a expulsão dos velhos oligarcas. Eles se entenderam, chegamos aonde chegamos."

O presidente Lula, de fato, sempre saiu em defesa das oligarquias que sustentam o seu governo. Em recente visita ao Casaquistão, Lula disse que Sarney "não pode ser tratado como uma pessoa comum" e classificou de "política do denuncismo" a revelação de sucessivos escândalos que sacodem o Senado, como os mais de 600 atos secretos para nomear parentes e aumentar salários, entre outras irregularidades.

"Sempre fico preocupado quando começa no Brasil um processo de denúncias, porque são acusações sem fim... e depois nada acontece. Não li a reportagem sobre o presidente Sarney, mas ele tem história suficiente para que não seja tratado como uma pessoa comum", disse o presidente, minimizando denúncias sobre os atos sigilosos. É o mesmo Lula que, quando estava na oposição, desfilou um rosário de qualificativos impublicáveis sobre o oligarca do Maranhão.

"É importante investigar para ver o que houve", disse o presidente. Para, logo em seguida, num recorrente empenho de relativização da denúncia, questionar: "O que ganharia o Senado com uma contratação secreta, se tem mais de 5 mil funcionários transitando naqueles corredores?"

O presidente da República, invariavelmente, sai em defesa daqueles que compõem o seu cinturão de proteção. Incomoda-o, e muito, o pipocar de denúncias envolvendo membros de sua equipe ou de sua base aliada. Não é de agora o comportamento leniente do presidente. Num primeiro momento, desqualifica a denúncia. Nada se apura. Posteriormente, os denunciados voltam ao abrigo do amplo guarda-chuva protetor do poder.

Há, sem dúvida, uma simbiose impressionante entre a velha oligarquia e a nova elite ascendente. O que está acontecendo, talvez em proporções inimagináveis, é o resultado final de um silogismo com premissas ideológicas bem concretas. O PT, partido do presidente da República, que sempre agitou a bandeira da ética, na verdade cresceu sob a sombra da práxis de inspiração marxista, isto é, o que importa é o poder a qualquer preço. A ética foi uma bandeira de marketing, mas não é o fundamento da ação. Daí a convivência quase amorosa com os inimigos do passado. Daí o vale-tudo em nome de um projeto de permanência no poder. Por isso, hoje eles encarnam o que sempre criticaram. O pragmatismo algemou a consciência.

O projeto de perpetuação no poder, com o terceiro mandato do presidente ou com um clone de Lula, reclama a aquiescência da base aliada. E o preço do apoio está aí escancarado, gritando nas manchetes dos jornais. Loteou-se o governo para obter um passaporte para o aparelhamento do Estado. Posso estar errado, mas vislumbro no horizonte pesadas sombras de autoritarismo populista.

O presidente Lula, inteligente como é, soube manter a economia nos trilhos. Ele tem horror da inflação e para evitar o seu ressurgimento é capaz de todas as ortodoxias. Sua biografia, carregada de sofrimento e desamparo, deu à sua alma intensa sensibilidade social. O presidente fez muito pelos pobres e desvalidos. Reconheço seus méritos e sua sinceridade. Ninguém lhe tira seu imenso crédito na poupança eleitoral. Homem de indiscutível talento para a comunicação popular e de patente gosto pelo exercício do poder, Lula soube montar uma rede de apoio ao seu projeto pessoal, que, na minha opinião, caminha em rota de colisão com a cultura democrática.

A ameaça plebiscitária, marca registrada de Hugo Chávez e de Evo Morales, não está fora de cogitação. Creio, no entanto, no vigor das nossas instituições. O Poder Judiciário, independentemente de seus problemas e dificuldades pontuais, tem sido pautado por fina sensibilidade democrática. A sociedade civil, embora encantada com o razoável desempenho da economia, não está disposta a abrir mão dos benefícios da democracia. E a imprensa livre e independente cumpre o seu papel de investigação e de denúncia.

A democracia é o melhor antídoto contra o veneno da corrupção e do populismo. Como já escrevi neste espaço opinativo, os caminhos democráticos lembram as trilhas de montanha. O excursionista está sempre subindo, até mesmo quando parece que está descendo. A democracia é um lento aprendizado. O eleitor, inicialmente ingênuo e manipulável, vai ganhando discernimento. Não há marketing que sustente indefinidamente a mentira e a impunidade.

Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, professor de Ética, é diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br) e da Di Franco - Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com)
E-mail: difranco@iics.org.br

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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sarney não deverá renunciar, diz historiador

Marco Antonio Villa, da UFSCar, avalia que presidente do Senado só deixa o cargo se isso ajudar Roseana.

Marco Antonio Villa, professor de história da Universidade Federal de São Carlos, escreveu em outubro de 2005 o artigo "A crise política e o coronelismo", na Folha. O texto gerou polêmica por conta das críticas a José Sarney (um dos filhos do senador enviou carta ao jornal respondendo ao historiador). Quatro anos depois, Villa diz que nada mudou em sua análise. Pelo contrário, a situação piorou: "É a pior crise na história do Senado republicano". Para o professor, a tendência é de que Sarney se mantenha no cargo, pois tem o apoio da maioria dos senadores. Villa diz que o presidente da Casa só deixará a cadeira se calcular que isso beneficiará as pretensões da família no Maranhão. 


FOLHA - Em 2005, o sr. escreveu um artigo que gerou polêmica pelas duras criticas a Sarney. Quatro anos depois, o que mudou na sua análise? 


MARCO ANTONIO VILLA - Infelizmente nada. José Sarney mantém hoje relações até mais extensas com o governo federal. O poder local, provincial, que ele tem, deve-se às relações estreitas com o governo federal. Só é um cacique tão poderoso porque controla as nomeações federais para o Maranhão, os recursos orçamentários. É um intermediário -na minha opinião perverso- entre o governo federal e o Maranhão. Sarney é o maior, o mais antigo dos oligarcas e o de maior êxito.

FOLHA - O que essa atual crise do Senado tem de peculiar? 


VILLA - É a maior crise do Senado republicano. O início de tudo foi a eleição da Mesa Diretora, mas ninguém imaginava que iria alcançar tamanhas proporções. Pela primeira vez ficou claro que o Senado era dirigido por funcionários que transformaram crimes em algo cotidiano, como se fossem atos normais. É algo muito grave.

FOLHA - Que consequências práticas a atual crise pode trazer? 


VILLA - O Ministério Público terá que atuar, porque foram cometidos crimes gravíssimos. Esse é um dos pontos centrais da grave crise ética que vivemos. Não é possível ter mais de 600 atos sigilosos e a Justiça não fazer nada. Os escândalos envolvendo Renan Calheiros em 2007 são coisas de criança se comparados aos deste ano.

FOLHA - Renan renunciou à presidência. Sarney pode renunciar? 


VILLA - A maioria do Senado não é contrária ao Sarney e tudo indica que não deva mudar de opinião porque tem práticas pouco republicanas e não acredita que a ação do Sarney seja algo negativo para a Casa. Ao contrário, acha isso natural. Os senadores (inclusive aqueles que se destacam pelo discurso da ética) foram coniventes com esses atos secretos. A grande maioria foi beneficiada. Isso explica a dificuldade do próprio Senado ter condição de se reformar. Agora, se as revelações continuarem, pode ser que o caminho seja a renúncia.

FOLHA - Por quê? 


VILLA - Sarney raciocina pensando nos interesses da sua família. Creio que o grande temor de renunciar à presidência do Senado é o de perder influência no governo federal e isso prejudicar os interesses da família. É esse raciocínio que ele vai utilizar para decidir se renuncia ou não. A saída só ocorrerá se ele perceber que a avalanche de denúncias chegou a tal ponto que coloca em risco o domínio da família no Maranhão e a eleição de Roseana ao governo estadual em 2010. Ele é um bom chefe de família, basta ver o número de familiares que empregou no Senado. Muitos senadores jogam com o esquecimento. Sarney bem que poderá dizer ao Renan: "Eu sou você amanhã". Renan usou a estratégia de se retirar dos holofotes e se deu bem. Antonio Carlos Magalhães renunciou ao mandato e voltou eleito senador.

FOLHA - O que o sr. achou da declaração de Sarney de que sofre ataques porque apoia Lula? 


VILLA - É uma estratégia porque ele precisa se manter próximo do presidente. O oligarca só tem poder na província porque tem forte poder central. Romper o poder coronelístico por dentro, na própria província, é tarefa quase impossível. Por isso torço para que o próximo presidente consiga destruir a fonte do poder dos oligarcas: as relações privilegiadas que o clã mantém com a União.
A questão central é que, hoje, Lula e Sarney são unha e carne, faces da mesma moeda. Por incrível que pareça, eles não se distinguem, o que é estranho pelas histórias tão distintas. A crise ética no Brasil chegou a tal ponto que não há mais distinção entre o Lula e o Sarney.


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Politicolíngua, série Sarney

Roberto Pompeu de Toledo: "O titular do baronato do Maranhão e Amapá olha-se no espelho e o que vê é o literato sensível, o detentor da sabedoria, o benfeitor das gentes e o salvador da pátria"

Atos aos quais faltou a formalidade da publicação – Expressão preferida pelo presidente do Senado, José Sarney, a "atos secretos", para designar as nomeações, exonerações, promoções, aumentos de salários e outras medidas que seus promotores preferiam manter longe das vistas do público. A intenção de lavar pela linguagem um procedimento delituoso lembra o Delúbio Soares dos "recursos não contabilizados" invocados em lugar de "caixa dois", à época do mensalão. Os atos secretos do Senado equivalem ao caixa dois dos procedimentos administrativos. "Eu não sei o que é ato secreto", disse Sarney. "Ninguém pode tomar posse sem ter sua nomeação publicada." Ele tem razão. Mas, por uma esquisitice brasileira, os atos secretos, tal qual ocorre com o caixa dois, produziram, sim, efeitos; os nomeados tomaram posse, os exonerados se desoneraram e os salários se fizeram presentes nas contas bancárias.

Família bem-composta – A família foi invocada pelo presidente do Senado ao queixar-se da injustiça que estariam praticando contra ele, logo ele… "eu, com tantos anos de vida pública, com a correção que tenho de vida austera, de família bem-composta"… De novo ele tem razão. Prova de quão bem-composta é a família é a atenção que merecem mesmo os ramos mais afastados do núcleo central. Vera Macieira Borges, sobrinha de Marly, mulher de Sarney, descolou um ato secreto que a fez funcionária do Senado mesmo morando em Campo Grande, sem função a exercer por lá. Mais eloquente só o caso de Isabella Murad, sobrinha do genro de Sarney, cujo ato secreto, campeão na modalidade de pagamento de salário a distância, alcançava-a lá em Barcelona, onde mora.

Grande família – Coube ao senador Edison Lobão Filho, o Edinho, numa nova invocação do santo nome da família, produzir a melhor frase da semana. Foi revelado que um funcionário de seu gabinete no Senado, Raimundo Nonato Quintiliano Pereira, o "Raimundinho", na verdade trabalha na Fundação José Sarney, acomodada no histórico Convento das Mercês, em São Luís. Edinho confirmou a notícia com orgulho e altivez: "No Maranhão a gente faz parte de uma grande família política. Liberei para trabalhar no convento porque, trabalhando para o presidente Sarney, ele está trabalhando para nós". O conceito de "grande família" veio a calhar. Conduz à copiosa parentela Sarney pendurada na folha de pagamento do Senado, mas também desperta ecos de família naquela outra acepção, aquela… o leitor sabe… de "famiglia".

Lixeiras e despensas – "Julguei que tivesse sido eleito para presidir politicamente a Casa, e não para cuidar de sua despensa ou para limpar suas lixeiras", disse Sarney. O titular do baronato do Maranhão e Amapá olha-se no espelho do salão e o que vê é o estadista. Que desagradável o barulho que vem da cozinha. Que insuportável o cheiro das estrebarias. O que lá se produz é não apenas necessário, como obedece aos propósitos do grão senhor. Mas por que fazê-lo deixando escapar o som e o cheiro? O Sarney que José Sarney imagina no espelho é o literato sensível, o detentor da sabedoria, o benfeitor das gentes e o salvador da pátria. Acreditaria José Sarney em José Sarney?

Mordomo – A denúncia de que outro frequentador da folha do Senado, Amaury de Jesus Machado, por alcunha o "Secreta", na verdade prestaria serviço de mordomo à governadora Roseana, filha de Sarney, provocou a indignação do patriarca. "O Senado nunca pagou nenhum mordomo", disse. "A senadora Roseana não tem mordomo em casa." A indignação, ainda uma vez, era contra a palavra. Mordomo não, mordomo nunca, mas, a começar da própria Roseana, ninguém da família negou que o "Secreta" (de "secretário", embora pudesse ser também de "secretamente lotado em lugar indevido") seria um faz-tudo a serviço da hoje governadora do Maranhão. "Ele é meu afilhado. E vai lá em casa quando preciso, umas duas ou três vezes por semana."

Pessoa incomum – A frase que vai ficar como emblema do rodamoinho que envolve o presidente do Senado foi produzida pelo presidente Lula: "Sarney não pode ser tratado como se fosse uma pessoa comum". Não é que ele tem razão? Não é em qualquer um que a fantasia do estadista convive com a resistente realidade do oligarca nordestino, cercado de parentes e agregados, quando não são afilhados, ou afilhados da filha, os limites entre os bens públicos e privados embaralhados e manipulados segundo os interesses do clã. Com força incomum, Sarney puxa o Brasil para trás.

Fonte: VEJA, Edição 2119, de 1º de julho de 2009

Sarney diz que fica e esboça estratégia da resistência

Fixou como prioridade evitar que o DEM abandone o barco

Mandou levantar dados sobre negócios do neto no Senado

Menos de cinco meses depois de ter sido eleito para a sua terceira presidência no Senado, José Sarney respira uma atmosfera de fim de gestão.

Instado a abandonar a cadeira –por renúncia ou por licença— Sarney dá de ombros: “Não vou sair. Não há razão para isso”, diz, em privado.

Antevê para os próximos dias um agravamento do mau tempo. Para atravessar a borrasca, cuidou, nesta sexta (26), de vistoriar a armada.

Reuniu-se com os dois líderes que lhe são mais fiéis: Renan Calheiros, do seu PMDB; e Gim Argelo, do PTB.

Por decisão de Sarney, a conversa ocorreu na sala da presidência do Senado.

Na véspera, acuado pela descoberta de que o neto José Adriano Cordeiro Sarney agencia empréstimos a servidores do Senado, Sarney trancara-se em casa.

Fugira do assédio dos repórteres e do burburinho do plenário. Não queria que um segundo dia de ausência consolidasse a idéia de que é pautado pelo medo.

A portas fechadas, Sarney, Renan e Argelo passaram a conjuntura em revista. Concluíram que o noticiário sobre o neto produzira uma trinca no casco.

Alarmaram-se com o movimento ensaiado por um protoaliado. A marujada do DEM –14 senadores— caminha na direção do bote salva-vidas.

Decidiram tentar demover os ‘demos’ da idéia de abandonar o navio. O próprio Sarney tocou o telefone para José Agripino Maia.

Acalçou-o pelo celular, no interior do Rio Grande do Norte. Explicou-lhe as razões que o levaram a soltar a nota da véspera.

Um texto em que se apresentara como vítima de uma “campanha midiática”, por conta do “apoio” que dá a Lula e ao governo dele.

Agripino disse a Sarney que, para o DEM, é essencial que ele explique, de modo “convincente”, os negócios do neto José Adriano.

Como a conversa pareceu malparada, Sarney pediu a Renan que ligasse, também ele, para Agripino.

No diálogo com Renan, o líder ‘demo’ soou mais específico. Disse que o neto de Sarney fora pendurado nas manchetes em posição constrangedora.

Afirmou que o DEM defendera o afastamento do ex-diretor João Zoghbi logo que se descobrira que ele fizera negócios nas franjas da folha de pagamento do Senado.

Comparou a ação do neto de Sarney à do filho de Zoghbi, que, associado a uma baba-laranja, agenciara empréstimos consignados no Senado. Agripino deixou claro a Renan que, sem um lote de explicações que lhe ofereçam “conforto”, o DEM pode, sim, tomar distância de Sarney.

Mais tarde, ao trocar idéias com um amigo, Agripino explicaria: “Não faremos força para derrubar Sarney, mas, se não der, também não vamos ajudar a sustentá-lo”. Diante do cheiro de queimado, Sarney mandou levantar informações sobre os negócios da Sarcris, a empresa do neto.

A firma começou a operar em 2007. Firmou contrato com seis casas bancárias. Quatro permanecem em vigor. O DEM reunirá sua bancada na próxima terça (30). Traz os olhos grudados no noticiário. E aguarda pelas explicações “convincentes” de Sarney.

Desde fevereiro, mês em que prevaleceu sobre Tião Viana (PT-AC) de maneira triunfal, Sarney convive com uma ilusão.

Desceu das nuvens da vitória para o chão escorregadio do dia-a-dia administrativo, embalado pela quimera de que preside o Senado.

Em verdade, é presidido pelas circunstâncias. É governado pela crise. E reage a ela como se estivesse acomeido por um surto de amnésia. Não assume responsabilidades pelos desmandos de Agaciel Maia, personagem que nomeara 14 anos atrás.

Diz que não sabia que uma penca de Sarneys havia sido pendurada na folha do Senado. Não enxerga o conflito de interesses embutido na ação do neto-empresário.

Para complicar, Sarney enfrenta o contraponto da Câmara. Michel Temer, seu colega de partido, soube dar respostas ao pedaço de crise que lhe coube administrar.

Sarney tem conversado amiúde com o presidente da Câmara. Solidário, Temer sugeriu-lhe que adotasse a sua tese em relação às medidas provisórias.

Antes, entedia-se que uma MP prevalecia sobre qualquer projeto. Sob Temer, os deputados abriram brechas para emendas constitucionais e leis complementares.

Com isso, a Câmara votou 43 projetos em maio e 50 em junho. “Há uma animação entre os deputados”, festejava Temer na noite da última quinta (25).

Em privado, Temer estimula Sarney a romper o dique das medidas provisórias. Mas, no Senado, a crise engolfa a pauta de votações.

Sarney tornou-se prisioneiro de um paradoxo. Promete a modernidade sem chutar o atraso. Abraçado ao velho, prega um Senado novo, reformado e enxuto.

Amigo de Sarney, o tucano Tasso Jereissati (CE) identifica na companhia de Renan Calheiros um dos mais vistosos dramas do presidente do Senado.

Acha que o arcaísmo representado pelos métodos de Renan conspurca a idéia de que Sarney possa impor ao Senado um novo padrão estético. O diabo é que, para sobreviver, Sarney depende de Renan. Agora mais do que nunca.

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