Quando era governador, procurei a ministra das Minas e Energia, Dilma
Rousseff, com uma solicitação: dar condições de competitividade ao Maranhão
para atrair empresas industriais e aumentar o nosso nível tecnológico, a fim de
podermos dispor aqui das condições necessárias para o desenvolvimento autossustentável.
A ministra foi uma parceira e tanto e depois de algumas reuniões já
dispúnhamos de um traçado para o gasoduto que vislumbráramos. O empreendimento partiria
do porto do Pecém no Ceará e, passando por Teresina, chegava a São Luís e ao
seu porto. Era um importante projeto estruturante e a ministra, que tinha muito
poder de decisão, conseguiu os recursos necessários para a execução da obra.
Mas houve um problema que não conseguimos vencer: com o apagão elétrico que
ocorreu no final do governo de Fernando Henrique Cardoso e a construção de
termoelétricas em grande número para evitar novos problemas semelhantes a esse,
o grande incentivo dado aos empreendedores foi a garantia de que, funcionando
ou não, o gás necessário ao seu funcionamento estaria sempre à disposição. Em
outras palavras, mesmo que o apagão estivesse superado, esse gás não poderia
ser usado em outros projetos. Dessa forma era como se o gás de que dispúnhamos não
existisse. Ele era originário da Bahia - limitado - e para termos muito mais gás para a
região nordeste, teríamos que construir um novo gasoduto entre a Bahia e Santos,
onde a Petrobras tinha o recurso disponível em grandes volumes.
Como não existia ainda essa ligação, o projeto não pôde seguir em
frente naquele momento, a despeito da grande vontade da então ministra Dilma em
nos ajudar. Naquele momento perdemos grande chance de colocar o Maranhão no
mesmo patamar atrativo para empresas que do qual já desfrutavam o Ceará e
outros estados do nordeste. Poucos anos depois, com a interligação feita, eu já
não estava mais no governo e o projeto foi esquecido. Nenhum governo se lembrou
de que o gás era fundamental para o nosso desenvolvimento e, como consequência,
fomos ficando para trás.
Entretanto, criamos a Gasmar, e trabalhamos junto a Petrobras para
obtermos informações sobre a existência de petróleo e gás no Maranhão. Foram
realizados leilões na área denominada ‘formação Barreirinhas’, assim como foram
desenvolvidas pesquisas sísmicas na promissora ‘formação da Bacia do Parnaíba’,
que tem o dobro da extensão de todo o estado do Maranhão.
Eike Batista, meteórico milionário global, despertou para o mercado de
gás e petróleo e, como invulgar vendedor de grandes projetos mundiais, foi
buscar um grande número de profissionais dentro da Petrobras. Diferentemente da
estatal, que só se interessava por enormes projetos e que na ocasião ainda não
se preocupava com a exploração e venda de gás, os especialistas procurados por
Batista, entre os melhores do país e no mesmo nível de excelência global, se
dedicaram a estudos mais acurados da formação Parnaíba que permitiram ao
empresário divulgar ao mundo que tinha descoberto uma nova Bolívia em termos de
quantidade de gás. A verdade é que não chegamos a esse ponto em tamanho, mas de
fato ali existe gás suficiente para transformar o Maranhão, desde que esse gás seja
usado para o seu desenvolvimento.
Eike evidentemente não tinha outro interesse que não o de ganhar muito
dinheiro e não dava a menor bola para o desenvolvimento do estado. Com Roseana
Sarney como parceira então nem se fala... Dessa forma, ele usou o gás como se fosse um
bem que lhe pertencesse. O resultado disso é que ele partiu para a implantação
de lucrativas termoelétricas que nada deixam para o Maranhão em termos
econômicos e de desenvolvimento. Na irresponsabilidade e ausência de Roseana,
perdemos mais uma vez uma oportunidade de ouro de mudarmos o perfil econômico
do estado por meio de grande desenvolvimento industrial. Mais uma vez o grupo
Sarney e os seus compromissos próprios passaram por cima do interesse maior do
estado.
Hoje já não existem as empresas X criadas por Eike Batista. Elas foram
sucedidas pela Parnaíba Gás Natural, uma gigantesca empresa que tem como sócias
grandes financeiras e que detém um enorme e qualificado corpo técnico. Além
dela há ainda a Eneva, que detém uma parte menor das ações da PGN e é também
formada por empresas financeiras e por uma gigante da energia global. Por
contrato, a Eneva recebe o gás da PGN e opera quatro termoelétricas. Essas
empresas tem contratos entre si para fornecimento de gás que chegam a 7,4
milhões de m³/dia, o que é bem maior do que a atual produção, e só será
alcançado em meados do ano que vem, conforme ajuste assinado com a Agência
Nacional do Petróleo -ANP. Isso significa que o Maranhão só terá acesso ao gás
quando esse volume contratado for superado, o que deverá se dar só em 2017. Com
efeito, só teremos gás no Porto do Itaqui, se tudo correr bem, em meados de
2018.
Como boa notícia, o poço que começaram a perfurar em 27 de dezembro
passado, apresentou um volume muito bom de gás e só neste ano serão perfurados
22 novos poços. A ANP, em um esforço para ajudar o Maranhão, vai lançar a décima
quarta rodada em que serão leiloadas muitas áreas na Bacia Parnaíba, em terra,
o que certamente aumentará bastante a oferta de gás no estado.
Por ora é isso. Não é fácil para o Maranhão superar os efeitos
deletérios de governos de Roseana Sarney, mas vamos envidando esforços. Existem
ainda outras opções “verdes” muito importantes que podem beneficiar o nosso
estado. Em outros artigos falarei sobre elas.
É questão de tempo vencermos a “herança maldita” do grupo Sarney.