Nada a contestar sobre a legítima vitória de Dilma Rousseff, reeleita Presidente
da República no último dia 26 de outubro. Foi um pleito muito disputado, com
resultado apertado e trouxe uma novidade: a presença de uma oposição muito forte
ao governo federal, fenômeno que durante mais de dez anos praticamente não
existiu.
Se isolarmos a região nordeste do restante do Brasil, veremos uma
novidade preocupante. Dilma teve um desempenho tão expressivo nessa região que
lhe permitiu a vitória, mesmo perdendo quase que no restante do Brasil. Sim,
pois, se excluirmos os votos do Nordeste, a apuração dos votos das demais
regiões (Norte, Centro Oeste, Sul e Sudeste) daria a vitória ao candidato Aécio
Neves. Na eleição de 2010, ela havia vencido no Nordeste e também na soma das
outras regiões. Portanto, o Nordeste deu a eleição a Dilma, já que a diferença
aqui foi tamanha que anulou o apurado em todas as outras.
E aqui preponderou a Bolsa Família que, conforme falou Dilma nos
debates, atenderia 50 milhões de pessoas, sendo mais de setenta por cento delas
nos diversos estados da região mais pobre do país. No caso do Maranhão, como unidade
mais pobre do Brasil, o BF atende mais de cinquenta por cento da população. Em
termos proporcionais lhe demos a mais expressiva vitória entre todos os estados
brasileiros.
A campanha pensada pelos marqueteiros do PT, atribuindo primeiramente
a Marina e depois a Aécio Neves a ameaça de que estes, se eleitos, acabariam
com a programa e deixariam no desamparo milhões de pessoas, serviu para manter esses
votos em Dilma e foi uma estratégia fundamental para sua vitória. Ou seja, daí
decorre a votação colossal que ela teve em todos os estados do Nordeste, como
se todos aqui pensassem do mesmo jeito. Fizeram política, enquanto seus
adversários se esqueceram de que é preciso fazer política para ganhar uma
eleição dessas em um país tão desigual. O Nordeste votou pelo conservadorismo.
Contudo, nas outras regiões, o que ficou evidente nas eleições foi o
desejo de mudança. Eis o porquê do enorme crescimento da oposição. Claro, não
se pode negar que parte desses votos de
mudança tenham sido para Dilma, em função da crença de que ela poderia fazê-la
de uma maneira mais confiável para eles. Talvez isso tenha ocorrido para a
maioria dos eleitores de Minas Gerais e Rio de Janeiro, únicos estados do Sul e
Sudeste em que Dilma teve maioria de votos.
Portanto, a presidente vai enfrentar enorme pressão. As pessoas não
mais se contentam com a vida que levam, com os grandes problemas que enfrentam
para obter serviços de qualidade na área da educação, da saúde, da segurança do
transporte, do emprego.
Muita coisa terá que ser feita pela presidente a fim de atuar no
controle efetivo da inflação, na reconquista da credibilidade junto aos
investidores e no consequente aumento dos investimentos. Tudo isso em um país
com sérios problemas de crescimento, de infraestrutura, que já gasta mais do
que arrecada e onde não se consegue concluir obras iniciadas há tempos. Isso sem
falar na violência, na baixa qualidade da educação e na oferta precária de
serviços de saúde.
Não bastasse isso, a presidente ainda poderá contar com uma grave
crise que se desenha no horizonte próximo, a definir-se com o aprofundamento
das investigações na Petrobras, subsidiadas pela delação premiada de um dos
seus ex-diretores e pelo doleiro Youssef. Esse, pela importância que tinha no
esquema de corrupção daquela empresa, é uma verdadeira ameaça a parlamentares,
políticos e homens do governo atual. Ninguém sabe até onde irá esse processo. E
tampouco o seu desfecho. Mas não será bom para o governo...
Pois bem, esse é o alerta que fica das urnas. Embora reeleita, Dilma
sabe que terá que fazer mudanças na condução de sua gestão. O país está
dividido e ela faz bem em procurar a conciliação da nação nesse momento.
Claro, pois nosso Brasil, país gigantesco e complexo, está perdendo
competitividade e crescendo menos do que todos da América Latina. Isso além de
estarmos nos isolando do comércio internacional e ficando importantes apenas
como exportadores de commodities agrícolas e minerais, muito instáveis no
mercado internacional.
É
enorme o desafio que a presidente Dilma vai enfrentar.