terça-feira, 31 de maio de 2011

O MISTÉRIO DO TEGRAM

Em 2005  o meu governo iniciou a luta para dotar o porto do Itaqui de um terminal para carregar a soja produzida no estado, em todo ou em parte, com eficiência, rapidez e a preços baixos.  Era a maior aspiração dos produtores desses grãos, desejosos de poderem  assumir o comando de uma etapa importante da cadeia de formação de preços da exportação da soja e dos grãos em geral. Tão importante que os empresários se comprometeram em arcar com todos os custos da implantação do terminal e da sua operação. Ou seja, nenhum custo para o governo, mostrando a enorme prioridade conferida ao Tegram, como foi chamado o “terminal de grãos”.

Todos queriam e aparentemente ninguém era contra, pensávamos. Ledo engano. Quando o edital de licitação foi publicado, começaram problemas inesperados. A Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) – organismo regulador do governo federal – REGULADOR, repito, resolveu que aqui no porto do Itaqui, ela também era operacional. Não bastava a Emap. E então determinou que o edital de licitação só valeria se fosse aprovado por ela. Daí para a frente, até hoje, jamais saiu a autorização para a construção, em que pesem os esforços do meu governo e o de Jackson Lago. Um grande mistério que na verdade envolve vultosos interesses econômicos de determinados grupos.

Você só consegue intuir o que há por trás disso tudo conversando com os produtores de grãos do pólo de Balsas como fizemos, eu e Flávio Dino, durante as eleições do ano passado.

Fomos recebidos em almoço na sede da Fapsem, que selecionou um grupo dos mais expressivos empresários para uma palestra inicial ministrada por aquela instituição sobre as perpectivas e avanços da cultura da soja na região e sobre os principais problemas que a região enfrenta para crescer ainda mais e se consolidar como um dos principais pólos do país na produção de grãos.

A reunião foi muito proveitosa e ouvimos que, além do problema da manutenção das estradas de acesso as fazendas, que este governo deixou de fazer, o problema fundamental é a inexistência do Tegram, o que acarretava grandes prejuízos aos produtores a cada embarque da soja pelo porto. E mais: se o porto está bem aparelhado e existe uma ligação ferroviária entre este e o terminal de soja de Porto Franco, o que pensar disso? Sabe-se que o transporte ferroviário em distâncias maiores que 400 quilômetros é bem mais barato que o  rodoviário - por caminhões – e, quanto maior for a distância a ser percorrida no transporte, mais vantajoso fica. Desta feita, acabamos por concluir após a reunião que o que vale para o mundo inteiro, não vale no Maranhão! 

Ainda sobre o assunto, repasso agora o problema tal como relatado pelos empresários:

Se o empresário escolhe transportar o seu produto pelo meio de transporte que oferece o frete mais baixo, no caso o caminhão, este, quando chega ao porto, é obrigado a entrar em filas para descarregar a soja. Isto, por vezes, dura vários dias, o que acaba por onerar o produto tanto no caminhão quanto no navio, que custa uma fortuna por cada dia que fica parado no porto a espera da carga para poder zarpar. Porém, se o empresário acaba por se render à Vale, que é operadora do trem e aceita pagar fretes mais altos do que este encontra na modalidade terrestre, então ele não precisa se preocupar, pois sua carga, ao chegar ao porto, é logo colocada no porão do navio. 

Evidentemente como não há opção, tem que aceitar pagar o preço que o terminal da Vale lhe cobra. Em outras palavras, os empresários ficam na mão da Vale, o que não aconteceria se o Tegram existisse e funciomasse. Sim, porque poderiam então escolher livremente o meio de transporte de custo mais baixo, ou o caminhão ou o trem, além de certamente pagar menos para carregar o navio no porto. Isto, naturalmente, acabaria por forçar a Vale a praticar preços mais competitivos, tanto no uso do trem quanto do terminal marítimo, com ganhos evidentes para os produtores e a economia do estado.

Como a família Sarney e a Vale são parceiros em vários projetos - Vale Festejar, Instituto Geia, além desta empresa ser anunciante de peso na TV, jornais e rádios da família e também importantes doadores de recursos nas campanhas eleitorais dos seus membros, ninguém espera que parta desse governo qualquer ação mais forte para que a Vale adeque seus preços aos produtores. Nem muito menos qualquer ação séria para construir o Tegram, o que poderia ser conseguido com facilidade, pois sempre tiveram muita influencia na direção da  Antaq.

Com efeito, vislumbra-se um roteiro para o mistério que envolve a construção do Tegram, que todos querem, mas ninguém consegue.

Assim é o Maranhão de verdade, aquele que existe a despeito da propaganda enganosa do governo…

Mudando um pouco de assunto antes de finalizar: ouvi dizer que membros do governo tem alardeado que R$ 8 milhões é pouco para que a escola de samba Beija-Flor coloque em seu enredo a celebração dos 400 anos de São Luis. Dizem que o justo seria pagar R$ 18 milhões… E a agremiação carnavalesca do Rio de Janeiro, entrando no jogo, diz que aqui não precisa tirar leite de pedras, porque aqui encontrou apenas leite.

Aproveitando a deixa, é impossível não contrapor essa afirmação à constatação de que enquanto isso, a população do Coroadinho só tem encontrado pedras, chegando ao ponto de ter que ir protestar, porque uma escola estadual de nível médio teve sua reforma paralisada desde fevereiro do ano passado e até agora nada se fala. Sabem qual é o valor? Meros R$1,5 milhão...

 É típico do governo Roseana. Só aparece dinheiro para festas e propagandas. Para a educação, nem pensar…