O senador Alexandre Costa, de saudosa memória, disse em certa
ocasião ao senador José Sarney que, quando os filhos dele estivessem mandando
na política, isto seria o seu fim e do grupo comandado por ele. Isso ocorreu há
muitos anos, tanto que alguns amigos informam que essa mesma frase teria sido
dita pelo estimadíssimo Maranhãozinho, competente chefe do escritório de
representação do estado no Rio de Janeiro, durante muito tempo. Hoje o fato finalmente
se tornou realidade e Roseana Sarney - com a sua decisão do dia 4 - sela definitivamente
o destino do grupo, prestando contribuição decisiva e irremediável para dar fim
a tanto poder exercido durante tanto tempo.
A decisão de Roseana não teve motivação política. Foi pessoal,
envolvendo apenas ela e o marido Jorge, que parece ser hoje quem realmente a
influencia. E os motivos reais são ainda nebulosos, tanto que essa decisão
ainda é inexplicável para o próprio pai e para todo o grupo, que se sente
traído. Sarney lutou muito para evitar esse desfecho, mesmo porque acreditava
que ela teria grandes chances de se eleger para o senado. Havia pesquisas nesse
sentido. E ele, naturalmente, considera
que a presença no senado de alguém da família seria de fundamental importância para
que ele pudesse manter o poder junto ao governo federal e, consequentemente, a blindagem
de toda a família quanto à possíveis ações judiciais. Como Roseana tinha
chances reais de ganhar a eleição para o senado, a decisão que tomou - tempestiva
e longe dos desejos do pai - trouxe grande amargura para o chefe do clã. O que
resta a fazer então?
Ele ‘jogou a toalha’, muito desgostoso, antes da sexta-feira,
quando, estupefato, tomou conhecimento da decisão da filha, chegando a dizer
que não aguentava mais e iria largar tudo.
O ato da governadora foi tão solitário que ela estava sozinha
e muito nervosa no momento da divulgação. Se fosse uma decisão compartilhada e
de comum acordo com os que tem poder no grupo, ela estaria acompanhada naquele
momento. Lá não estavam nem José Sarney, muito menos Edison Lobão, João Alberto
ou mesmo deputados estaduais e federais ligados ao grupo. Ela estava só. Tampouco
o seu então candidato à sucessão governamental, Luís Fernando, estava lá.
É fato que Roseana já demonstrava sinais de cansaço. Já não
exercia o governo na plenitude. Não aparecia e nem acompanhava o seu secretário
de infraestrutura, travestido de candidato ao governo, no seu frenético esforço
de se viabilizar, assinando ordens de serviço para todo o lado. Talvez Luís
Fernando não tenha notado que Roseana pouco se importa com seus deveres de
governadora. E só se aborrece com a rotina do governo. Sim, porque ela nunca
prezou a classe política e sempre se aborreceu muito em ter que receber
deputados e prefeitos.
Pois bem, com esse gesto Roseana abandona politicamente a
família e toda a base política do grupo. A reforma que fez nos altos escalões,
nomeando novos secretários, demonstra o seu enfado com tudo. Como explicar o
nexo, a adequação das pessoas escolhidas para os cargos a que foram nomeados?
Enfim, penso que agora Sarney cogitará fortemente a
viabilização de um nome para disputa ao senado como alternativa final para dar
uma sobrevida ao grupo e proteger a família. E tem duas opções: ele mesmo
disputar uma arriscadíssima eleição no Amapá, onde não é favorito de maneira alguma,
ou, junto a Lobão e João Alberto, lançar
um candidato ao senado para preservar algum poder. Mas quem?
Enquanto isso, consta que na noite do último sábado aconteceu
um encontro nada amistoso entre Luís Fernando e Roseana, no qual Fernando
Sarney também participou. A reunião, ao que tudo indica, foi tensa, ríspida, com
ataques de todos os lados e, quando saiu de lá, Luís Fernando definitivamente
já não era mais candidato a nada.
É bem verdade que vocês, leitores e amigos, sabem que eu
nunca acreditei na candidatura de Luís Fernando e que ele, portanto, seria fatalmente trocado
na reta final. Ele não conhecia bem com quem lidava. Deveria ter ouvido os
alertas, mas, ao contrário, ficava muito irritado.
Na atual conjuntura é possível presumir que nem Sarney e tampouco
Roseana estão no poder como antes. Agora o dividem com Lobão e João Alberto. Ao
que parece, Lobão assumiu força no grupo. Nunca existe vácuo de poder e sempre
que há tergiversações, alguém o assume e o exerce. É sabido que Lobão nunca
contou com a simpatia da dupla Roseana Sarney e Jorge Murad. Sempre sofreu
hostilidades daqueles. E o mesmo acontecia com o filho Edinho Lobão. Então, com
a confusão e a perda de controle causada pela tresloucada decisão de Roseana,
sem apoio de ninguém, abriu-se um vácuo no grupo Sarney e Lobão se aproxima
para assumir o controle. Como primeiro ato, trabalha pela candidatura do filho
ao governo do estado, entrando com grande pique, efetuando ligações telefônicas
para todo o mundo político maranhense perguntando como veriam uma candidatura de
Edinho ao cargo de governador.
Agora resta o Senado. Quem poderia sair como candidato do
grupo? Gastão já pulou fora. Sem nomes, procuram Castelo, tão perseguido por
eles, quando exercia o cargo de prefeito da capital. Creio que o partido não
entrará nessa aventura, mesmo porque existem exemplos em grande número de que,
quando atraem os adversários, o fazem unicamente para depois lhe darem um ‘abraço
de afogado’. Parece que a motivação principal do convite é a de apenas tentar
dividir a oposição. E só.
Entretanto, nada apagará a realidade. Acabou o grupo Sarney,
o poderoso grupo que mandou no estado do Maranhão por quase cinquenta anos. Bastante
deteriorado, teve início o seu desmoronamento e esta deverá ser a última
eleição que disputarão. E, como concretização da profecia de Alexandre Costa,
fato que intitula este artigo, Roseana, sem ouvir os apelos do pai, desferiu o
golpe fatal no seu grupo, entregando todos à própria sorte. Por que fez isso? A
verdade só será conhecida com o tempo.
Será assim? Não sei, mas as probabilidades são grandes. Vamos ver.
Por fim, mesmo considerando a factibilidade de todas essas
movimentações, compartilho com vocês algo que me ocorreu: é também provável que
Edinho Lobão acabe de fato concorrendo apenas ao senado, onde teria reais chances,
se considerarmos a vantagem que a ‘máquina estatal’ poderá lhe conferir. Nesse
caso, a candidatura ao governo, anunciada nesse momento, seria para impedir a
deflagração de uma corrida de pretensos candidatos ao espólio de Roseana. Algo
que eles deixariam para decidir depois, mas que por ora os mantém no controle
do processo.
Eles sabem trabalhar a política, sem dúvidas.