sábado, 8 de agosto de 2009

Dilma quis agilizar apuração contra Sarney

Da Folha Online:

A ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira diz que, em um encontro a sós no final do ano passado, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) pediu a ela que a investigação realizada pelo órgão nas empresas da família Sarney fosse concluída rapidamente.

A ex-secretária conta, em reportagem de Leonardo Souza e Andreza Matais, como teria sido a conversa com a ministra e pré-candidata à Presidência da República.

O relato está na Folha deste domingo (9), que já está nas bancas. A ex-secretária disse que entendeu como um recado "para encerrar" a investigação.

A Casa Civil, por meio de sua assessoria de imprensa, declarou que Dilma "jamais pediu qualquer coisa desse tipo à secretária da Receita Federal".

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Feito!

Pronto! O Conselho de Ética do Senado — ou melhor: Paulo Duque — arquivou as outras sete ações contra José Sarney (PMDB-AP). Já não há mais nada na Casa contra esse colosso moral.

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Discurso de José Sarney manipula dados

Por Leandro Colon, de O Estado de S. Paulo:

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), tentou confundir os senadores no seu discurso ontem em plenário. Durante os 48 minutos em que apresentou sua defesa para as denúncias contra ele no Conselho de Ética, cometeu uma série de deslizes.

Num jogo de palavras, misturou duas investigações da Polícia Federal para insinuar que as gravações divulgadas pelo Estado no dia 22 de julho - em que ele negocia a nomeação do namorado da neta - poderiam ter sido montadas. Os áudios publicados no jornal são autênticos, do começo ao fim de cada telefonema, sem edição, e a voz de Sarney é real.

Na conversa, Sarney fala com o filho Fernando Sarney sobre a nomeação de Henrique Dias Bernardes - então namorado de Maria Beatriz Sarney - e diz que vai discutir o assunto com o ex-diretor Agaciel Maia.

As gravações, feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça, fazem parte da Operação Boi Barrica, em que a PF investiga o filho do presidente do Senado. Em seu discurso ontem, Sarney admitiu que era sua a voz nas gravações. Ele argumentou que os áudios não poderiam ser divulgados porque envolviam um senador, que tem foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF). “Trata-se de conversas coloquiais entre familiares”, disse.

Logo depois, começou a falar de uma suposta montagem, sem, porém, explicar imediatamente do que se tratava. “Agora, quero mostrar aos senhores os métodos que foram adotados. Não encontrando nada contra mim, então, faltando, acho, notícia, querendo generalizar, os senhores vão ficar pasmados: fraudaram a fita que distribuíram aos jornais e incluíram o meu nome com a voz de uma outra pessoa”, afirmou.

Somente depois Sarney explicou que se referia à Operação Navalha, realizada em 2007 pela PF para desmontar um esquema de fraudes em licitações. Essa investigação envolveu o empresário Zuleido Veras - dono da Gautama - suspeito de ligação com a família Sarney. Segundo o senador, um áudio - que o Estado jamais divulgou - teria sido montado. Numa gravação em que Zuleido teria dito que iria à casa de Sarney, a voz não seria do empresário, mas de outra pessoa.

Abaixo, o que diz Sarney (em vermelho) e os fatos:

Agüentei 12 mil greves, sem que nunca tivesse pedido um dia de prontidão militar, e crescemos, àquele tempo, a números que até hoje não se repetiram. Criamos uma sociedade democrática que, num sistema de capilaridade, penetrava em todas as camadas.

Em 1988, quando os metalúrgicos de Volta Redonda (RJ) entraram em greve e ocuparam a Companhia Siderúrgica Nacional, o então presidente Sarney enviou o Exército para reprimi-los. No conflito, três jovens operários foram mortos e 31 saíram feridos.

*Em seguida, veio a denúncia dos atos secretos. Eu acho que ninguém aqui nesta Casa sabia ou podia pensar que existisse ato secreto. Acho que é necessário esclarecer primeiro ao povo brasileiro o que se chama ato secreto.

Sarney anulou os atos secretos num primeiro momento.

*A Constituição diz, no art.37, que a Administração Pública Direta e Indireta de qualquer dos Poderes deve obedecer aos princípios da publicidade, da moralidade e da eficiência. Assim, esses atos, a meu ver, tinham uma nulidade essencial. Por isso, eu, pelo Ato 294, de 14 de julho de 2009, anulei todos eles,

Esta semana, o Senado anunciou que abrirá um processo para cada funcionário nomeado por ato secreto. Enquanto isso, esses funcionários seguirão trabalhando

*Quadro número um: João Fernando Sarney. Aqui no Senado - todos nós sabemos -, não se nomeia para o gabinete quem não for requisitado para nomear pelo Senador; e ele foi feito. Está aqui a requisição ao Diretor-Geral, do Senador Epitácio Cafeteira, que já teve a oportunidade de confessar que não me disse que tinha nomeado.

Cafeteira confessou que nomeou João Fernando a pedido de Fernando Sarney, filho do senador

*Segundo nome: Vera Portela Macieira Borges. Realmente, é sobrinha, por afinidade, minha. Eu requisitei do Ministério da Agricultura para a Presidência e pedi ao Senador Delcídio que a colocasse no gabinete em Mato Grosso, porque ela tinha se casado, e assim ela continuava trabalhando, não me julgando que nisso houvesse qualquer falha ou qualquer…

Nomeada em 2003, Vera Macieira já vivia em Mato Grosso naquele ano. Ela não se mudou para o Estado na época da nomeação

*Isabella Murad Cabral Alves dos Santos - Também não é minha parenta. Foi nomeada pelo Senador Cafeteira, que, segundo me afirmou, foi a pedido do Sr. Eduardo Lago, que é primo do Governador do Maranhão, que era meu adversário, e não por mim.

Sarney não disse, mas Isabella Murad é sobrinha de seu genro, Jorge Murad. Ele apontou o parentesco do empresário Eduardo Lago com adversários seus na política maranhense. Lago, entretanto, é ligado à família Sarney. A Polícia Federal investiga depósitos feitos por ele, às vésperas da campanha eleitoral de 2006, em contas controladas pelo filho de Sarney, Fernando.

*Luiz Cantuária, também não sei quem é Luiz Cantuária.

É político do Amapá, ligado a Sarney. Foi nomeado para vaga no Conselho Editorial, que Sarney preside.

*Rodrigo Cruz, também não sei quem é. Incluíram como se fosse nomeado por mim.

Sarney foi padrinho de casamento de Rodrigo Cruz no dia 10 de junho. Rodrigo se casou com a filha de Agaciel Maia, Mayanna. Ele trabalhou dois anos no Senado por meio de ato secreto.

*Perdão, eu pulei Ivan Sarney. Ivan Sarney trabalhou aqui dois anos. Em 2003, 2004 e 2005, no gabinete do SenadorIvan Sarney trabalhou aqui dois anos - em 2003 ou 2004, não me lembro, 2005 -, no gabinete do Senador João Alberto, que não é mais nem um gabinete, e é incluído aqui como se estivesse na lista entre a minha maneira de fazer nepotismo dentro da Casa. (Pausa.)

Ivan Sarney é irmão de José Sarney. E o ex-senador João Alberto é aliado de primeira hora dos Sarney na política maranhense. Hoje, é o vice de Roseana.

*Outra denúncia que fizeram é que meu neto tinha sido privilegiado com agenciamento de créditos consignados de forma fraudulenta. Meu neto nunca teve nenhuma relação com o Senado. (Pausa.)

O próprio neto de Sarney, José Adriano, admitiu ao ‘Estado’ que operava no Senado, que era, nas palavras dele, o ‘carro-chefe’ de sua empresa. A Sarcris representava o banco HSBC.

*Tratou-se também da Fundação Sarney, acusando-me de nela ter funções administrativas e ter negado isto desta tribuna.

Como presidente vitalício, posto que lhe é conferido pelo estatuto da fundação, Sarney tem responsabilidades sobre a entidade. A Fundação José Sarney desviou dinheiro recebido da Petrobrás para empresas fantasmas e para empresas da família Sarney.

Não há nelas qualquer palavra minha, mesmo nessa gravação, em relação à nomeação por ato secreto. É claro que não existe o pedido de uma neta; se pudermos ajudar legalmente, qualquer um de nós não deixa de ajudar.

Sarney se referia, especificamente, a gravação feita durante a Operação Navalha, que investigou o empreiteiro Zuleiro Veras, dono da construtora Gautama. No discurso, tentou generalizar a suspeita. Não há nenhum questionamento sobre as gravações em que ele se refere à contratação do namorado da neta, feitas em outra operação


*
Agora, quero mostrar aos senhores os métodos que foram adotados. Não encontrando nada contra mim, então faltando - acho - notícia, querendo generalizar - os senhores vão ficar pasmados - fraudaram a fita que distribuíram aos jornais e incluíram o meu nome com a voz de uma outra pessoa,


O senador não usa o termo ato secreto. Mas foi por ato secreto que, depois de seu empenho pessoal, o namorado da neta foi nomeado

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Fora do tempo: O dinossauro disse que é inocente

As palmas protocolares no encerramento do discurso de defesa do presidente do Senado José Sarney explicitaram a falta de entusiasmo com que ele foi recebido pelo plenário. Foi uma peça medíocre, que revelou um político retrógrado cuja noção de ética pública não lhe permite entender a gravidade das atitudes que vem tomando na sua longa vida política.

Se é verdade que em determinado momento do país essa prática de conseguir empregos públicos para parentes e amigos era comum, passou a ser inaceitável pela sociedade civil mais antenada com os valores e padrões de comportamento modernos, e Sarney não compreendeu isso.

Manteve no plano nacional os mesmos métodos arcaicos de fazer política que mantém o Maranhão e o Amapá como seus feudos eleitorais. Em sua defesa, disse que as acusações “são coisas que não representam nenhuma queda de qualquer padrão ético”, o que é mais do que discutível e vai de encontro ao que pensa a grande maioria dos cidadãos.

Pesquisas de opinião divulgadas ontem pela oposição indicariam que 80% dos cidadãos querem que o senador José Sarney deixe a presidência do Senado.

Relatos de senadores revelam que o próprio Sarney, para tentar convencer alguns de seus pares de que não teriam prejuízos eleitorais caso o apoiassem, dizia que o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, lhe havia garantido que as denúncias não chegaram às classes populares C, D e E, ficando as críticas restritas às elites, às classes A e B.

A defesa de Sarney foi mais que uma peça medíocre, foi baseada em meias verdades e falsidades que, por si só, justificariam processos no Conselho de Ética se no Brasil valesse a prática política dos Estados Unidos, onde mentir é mais grave do que um ato impróprio que se pratique.

Mas aqui no Brasil, ao contrário, a mentira, as insinuações maldosas, já estão incorporadas à prática política e são facilmente esquecidas, até mesmo pelos adversários atingidos por elas, como é o caso presente em que o senador Fernando Collor tornou-se o mais fiel aliado do presidente Lula, a quem fez as piores acusações de cunho privado.

Além de afirmar que desconhecia vários nomes de uma lista de supostos beneficiados por indicações suas, pessoas que todos sabem que são ligados a ele por laços familiares ou de amizade – alguns Murad, da família de seu genro, casado com sua filha, a governadora Roseana Sarney; e Rodrigo Cruz, de quem foi padrinho de casamento, genro de Agaciel Maia, o ex-secretário geral do Senado nomeado por ele –, Sarney parece achar que seus pares, e a opinião pública, ignoram expedientes tão conhecidos quanto nocivos ao serviço público como as nomeações cruzadas.

Para evitar acusações de nepotismo, um político consegue nomeações em gabinetes de outros. Ao falar do fato mais constrangedor, o diálogo telefônico entre sua neta e seu filho e depois entre ele e seu filho, para tratar da nomeação de um namorado para um cargo no Senado que havia sido ocupado por um outro neto, Sarney garantiu que “não há nelas (gravações) qualquer palavra minha em relação a nomeação por ato secreto”. Mas ninguém disse que havia.

O fato é que o namorado da neta foi nomeado por um ato secreto, depois de um pedido de Sarney a Agaciel Maia. A dedução é óbvia, e acreditar que aí não existe pelo menos um indício fortíssimo de que o ato secreto foi a maneira de esconder da opinião pública a nomeação é apostar que o eleitorado que o interessa não consegue juntar causa e consequência.

Além do mais, candidamente, declarou da tribuna que “é claro que não existe um pedido de uma neta, se pudermos ajudar legalmente, que deixemos de atender”, o que dá bem a dimensão de seu entendimento do trato da coisa pública.

Outra passagem emblemática da maneira como Sarney se defende das acusações foi quando se referiu ao recebimento indevido do auxílio-moradia, por sete meses, sem ter notado, segundo declarou na ocasião.

“O auxílio-moradia é legal, direito dos senadores e muitos o recebem. Depositaram em minha conta e eu, não por ser ilegal, mas por uma decisão pessoal, oficiei pedindo que fosse estornado do meu contracheque”.

Pura tergiversação, pois se a instituição do auxílio-moradia é legal, sua utilização por quem tem residência própria em Brasília – e ainda mais ele, que tinha também a residência oficial de presidente do Senado – é uma ilegalidade que deveria ser punida.

A base da defesa de Sarney foi uma reiterada crítica aos meios de comunicação, que estariam lhe fazendo uma perseguição com fins políticos.

Sarney se apresentou como defensor da liberdade de imprensa, e tem recusado a acusação de ter censurado o jornal “O Estado de S. Paulo”, que foi proibido por um juiz amigo da família Sarney de publicar novas denúncias contra Fernando Sarney.

Mas o site Comunique-se mostrou que essa fama de defensor da liberdade de expressão não cai como uma luva no Sarney político, que já processou diversas vezes o “Jornal Pequeno”, do Maranhão.

Em suas campanhas políticas, as coligações que o apoiam têm um histórico de processar os que o criticam.

Ficou famoso em 2006 o caso da blogueira do Amapá Alcinéa Cavalcante, que iniciou o movimento “Xô Sarney”, que se espalhou pela internet. Seu blog foi tirado do ar e ela chegou a ser indiciada pela Polícia Federal.

A farsa do Conselho de Ética, que começou ontem a arquivar todas as representações contra o senador José Sarney, ficou clara na argumentação do senador Paulo Duque, exatamente igual à usada por Sarney em sua defesa na tribuna.

Ele alegou que todas as acusações eram respaldados “apenas por recortes de jornal”, e afirmou que há “inúmeras decisões da Justiça que não autorizam a abertura de processo por recortes de jornal”.

Não há, porém, a garantia de que Sarney se livrará das acusações sem ser investigado.
Mesmo depois de seu discurso, cinco partidos, inclusive o PT, continuavam defendendo sua licença para que as denúncias sejam apuradas.
(Merval Pereira, O Globo)

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Paulo, o duque de Renan, arquiva mais 7 denúncias

Como previsto, o suplente de suplente Paulo Duque mandou arquivar as derradeiras sete acusações que pesavam contra José Sarney no conselho de (a)Ética.

Na quarta (5), Duque já havia engavetado outras quatro denúncias. Assim, livrou Sarney de todas as 11 denúncias e representações protocoladas contra ele.

No Império Romano, como se sabe, duque era o título dado aos comandantes militares das províncias.

No ducado do Conselho de (a)Ética do Senado, Duque comanda as tropas do imperador Renan Calheiros, o bárbaro.

Embora aja com destemor inaudito, Duque eximiu-se de descer ao front nesta sexta (7). Confiou ao chefe de gabinete a missão de entregar os pareceres pró-Sarney.

O funcionário se chama Zacheu Teles. Indagado acerca do sumiço do Duque, ele disse que o chefe amanheceu “um pouco rouco”.

Uma pena. Em plena “Idade Mídia”, o duque de Renan priva a platéia de suas sempre elucidativas considerações.

Eis as sete denúncias que o suplente do suplente arquivou:

1. Denúncia de Arthur Virgilio feita em 23 de julho. Acusa Sarney de usar ato secreto para a nomeação do namorado de sua neta;

2. Representação do PSDB feita em 28 de julho. Acusa Sarney de obter favorecimentos através de atos secretos;

3. Representação do PSDB feita em 28 de julho. Acusa Sarney de favorecer o neto em operações de empréstimo a funcionários do Senado;

4. Representação do PSDB feita em 28 de julho. Acusa Sarney de desvio de recursos públicos na Fundação Sarney e de mentir ao negar ter ligações com a administração da Fundação José Sarney;

5. Representação do PSOL feita em 29 de julho. Acusa Sarney de omitir casa de R$ 4 milhões da Justiça e de ter conta ilegal no exterior, gerenciada por Edemar Cid Ferreira;

6. Denúncia de Arthur Virgilio e Cristovam Buarque (PDT-DF) feita em 29 de julho. Acusa Sarney de vender terras nunca registradas em seu nome, evitando o pagamento de impostos;

7. Denúncia de Arthur Virgilio e Cristovam feita em 29 de julho. Acusa Sarney de ter se beneficiado na operação Boi Barrica. A operação da PF investiga seu filho, Fernando Sarney.

Agora, as quatro acusações que Duque arquivara há dois dias:

1. Denúncia de Arthur Virgilio (PSDB-AM) feita em 29 de junho. Contém 19 acusações. Entre elas, está a que acusa Sarney de favorecer a empresa de seu neto em operações de empréstimo a funcionários do Senado, e a que o acusa de ser condescendente com a publicação de atos secretos;

2. Representação do PSOL feita em 30 de junho. Acusa Sarney de usar os atos secretos para conceder benefícios e aumentar salários;

3. Denúncia de Arthur Virgilio feita em 10 de julho. Acusa Sarney de usar o advogado do Senado no Supremo Tribunal Federal em ação envolvendo causas próprias;

4. Denúncia de Arthur Virgilio feita em 14 de julho. Acusa Sarney de ter mentido, ao negar ter ligações com a administração da Fundação José Sarney.


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Conselho de Ética se enterrou ao dar fim a ações contra Sarney, dizem especialistas

O que você acha do nível dos senadores do Brasil?

A decisão do presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ), de arquivar todas as 11 representações contra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), decretou o fim do próprio órgão, disseram analistas políticos ouvidos pelo UOL Notícias.

"Foi um ato de arquivamento do próprio Conselho de Ética", afirmou Roberto Romano, professor da Unicamp (Universidade de Campinas). "Vai ser a mesma coisa no plenário, não temos as forças democráticas favoráveis à transparência. Eles já estão transformando o Congresso em um caixão e estão levando para o enterro. Esse arquivamento sumário era a estaca que faltava."

Nesta sexta-feira o presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ), decidiu pelo arquivamento das sete ações restantes contra Sarney. Na última quarta-feira, ele já tinha arquivado outros quatro pedidos de investigação contra o presidente do Senado e um contra o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL).


Membro do PSDB, partido que subscreveu a maioria das ações contra Sarney, o cientista político Bolívar Lamounier também avalia que o órgão se mostrou incapaz de responder à crise atual com sua decisão "lamentável, mas esperada".

"É um espetáculo deprimente, uma pizza amarga que querem nos servir. Só posso concordar com a avaliação de que esse conselho se enterrou", disse ele. "Essa decisão agora coloca pressão sobre o PT, que é o fiel da balança na história toda, para saber se o Senado continuará em crise ou não."

Próximos passos

Os adversários de Sarney terão dois dias úteis, a contar da data da publicação do despacho de Duque no Diário Oficial do Senado, na próxima segunda-feira (10), para recorrer da decisão.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgilio (AM), já havia informado que recorrerá ao plenário do Conselho de Ética, composto por 15 colegas seus, e se o arquivamento for mantido, a discussão pode ser levada ao plenário da Casa.

Em seus despachos, Duque nega prosseguimento às acusações por entender que elas não apresentam "indícios consistentes", que possam levar à abertura de processo de quebra de decoro parlamentar do presidente da Casa. "São ilações que se fundamentam em fragmentárias notícias de jornais", justificou.

Para o cientista político Claudio Couto, professor de sociologia da PUC (Pontifícia Universidade Católica), a postura de Duque e do Conselho de Ética que preside - onde apenas cinco membros são a favor do afastamento de Sarney - pode estimular tentativas de tirar do Poder Legislativo o foro de debate sobre a crise do Senado, que poderia ganhar atenção do Ministério Público e do Judiciário.

"Esse problema não vai acabar com a decisão do conselho. O Parlamento está de costas para a sociedade, esse é o fator mais importante da decisão. Os problemas que atingem Sarney continuam", afirmou.

"A decisão, que não seria muito diferente se o caso fosse na Câmara dos Deputados, mostra que os parlamentares acreditam que podem se reeleger mesmo sendo atacados pela mídia e pela opinião pública. Esse é um movimento crescente entre eles", avalia.

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Suspeito de xingar Sarney é detido

O clima de baixaria no Senado terminou ontem com uma ocorrência policial. Na mesma noite em que Renan Calheiros (PMDB-AL) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) trocaram insultos em plenário, um servidor do Banco Central foi detido pela polícia do Senado após ser acusado de chamar de ladrão o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP).

Breno Santa Cruz Freitas, de 37 anos, negou a ofensa, mas pode ser indiciado por injúria e desacato à autoridade.

Segundo a versão de seguranças do Senado, Breno xingou Sarney por volta das 18h20m, quando o senador percorria o trajeto entre o gabinete da Presidência e a entrada do plenário.

Ao ouvir a ofensa, Sarney teria determinado a imediata detenção do servidor público.

Em depoimento à Polícia Legislativa, Breno negou ter xingado o presidente da Casa.

A polícia do Senado informou que a ocorrência será comunicada à direção do Banco Central para eventual abertura de processo administrativo contra o servidor, que se identificou como visitante no Congresso.

Se Sarney decidir prestar queixa, o caso pode ser levado a um juizado especial. A assessoria de Sarney disse que o senador não teria ouvido o xingamento e não informou se ele prestará queixa.

Muito assustado, Breno não deu entrevista. Deixou o Senado sozinho, em passo acelerado, e embarcou no primeiro ônibus que passava. Saltou um ponto adiante e saiu correndo, na direção da Esplanada dos Ministérios.

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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Só o Medo Explica

No último sábado, uma notícia dominou o noticiário e indignou os brasileiros: a tentativa desesperada de Sarney em calar a imprensa sobre os indícios de crimes apurados na Operação Boi Barrica que envolvem o seu filho Fernando Sarney. A ação visou o jornal O Estado de São Paulo, mas o alcance pretendido é atingir qualquer um que fale sobre esse assunto.

O Estado de São Paulo, que só havia sido censurado nos primeiros momentos do duro período do regime autoritário iniciado em 1964, denunciou imediatamente a essa iniciativa de calá-lo. A reação foi imediata. Senadores foram os primeiros a condenar a agressão à Constituição Brasileira, numa clara alusão à ofensa de claúsulas pétreas da Lei magna, tão caras aos brasileiros, e que tratam da liberdade de opinião, essência mesmo dos regimes democráticos. Logo vieram a OAB, a ANJ, a ABI e tantas outras entidades, que se uniram na total condenação ao ato de desespero perpetrado pelos Sarney.

Quem sintetizou tudo foi o articulista da revista Veja, Reinaldo Azevedo, em seu blog que certamente é o mais acessado do país. Ele viu o ato tresloucado da seguinte maneira:

“Acabou! É o fim da linha para o senador José Sarney (PMDB-AP). E esse fim não poderia ser mais melancólico. Apelar à censura prévia à imprensa, a exemplo dos melhores tempos da ditadura, foi a única forma que encontrou para tentar “esfriar” o noticiário. Mas não esfria. Aquece-o com a desonra. Defendi, como sabem, desde o primeiro momento, que ele renunciasse à presidência do Senado. Agora, creio que deveria renunciar ao mandato, retirando-se para a sua ilha particular no Maranhão, onde poderá se dedicar à meditação e às suas memórias”.

E continua:

“Eu sou contrário a qualquer limite à publicação de material apurado pela imprensa que conste de processos em andamento. As razões são simples, e os argumentos dos que querem criar empecilhos à publicação são simplórios.
Se um jornalista fica sabendo de informações de um processo que estão sob sigilo de Justiça, isso quer dizer que elas já vazaram. Se ele sabe, outros também saberão. E não lhe compete se tornar uma espécie de guardião de um segredo. O PAPEL DE UM JORNALISTA É PUBLICAR O QUE SABE, NÃO ESCONDER. É claro que me refiro a processos que digam respeito a questões de “interesse público”.
Não é ao jornalista que cabe guardar o sigilo. Se, antes dele, houve uma cadeia de autoridades e/ou advogados que não souberam fazê-lo, todos eles passíveis de punição segundo a lei ou um código de ética, que o Estado se encarregue de fazer valer o que está escrito.
- A lei garante ao jornalista o sigilo da fonte.
- A ética de um jornalista compreende, entre outras coisas, publicar informações que sejam de interesse público.


A Constituição protege um valor bem maior, que é a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão, mormente quando se trata de matéria de interesse público. Uma neta que pede ao avô emprego para o namorado no Senado não se dedica a um ”diálogo íntimo”, a menos que o Parlamento brasileiro tenha sido privatizado pela família Sarney. Um filho que trata com o pai da mobilização de autoridades para tratar do canal de TV da família, do mesmo modo, não cuida de assunto particular. “Ah, mas tudo está sob segredo de Justiça”. Perfeito! Que aqueles que deveriam zelar pela sua guarda sejam responsabilizados caso se chegue a eles. Jornalista não tem nada com isso.

Sarney não é ingenuo, nem simplório. Ele sabia que essa seria a reação ao seu desejo de cassar notícias sobre a investigação do seu filho pela Polícia Federal. Ele sabia que a reação seria indignada e firme. Por que então foi buscar de um antigo funcionário da gráfica do Senado, amigo de Agaciel e ligado a Sarney que esteve em sua posse como desembargador do Tribunal de Justiça do DF, retratado com Sarney e Renan Calheiros no célebre casamento do filho de Agaciel, notório pela música do filme sobre a mafia, O Poderoso Chefão?

A única razão que fica é o receio de que tem muito mais coisas nos arquivos da investigação, muito piores e destrutivas do que o que já foi publicado. Anima e dá força a suposição da existencia, inclusive, de diálogos entre familiares de Sarney e autoridades do judiciário sobre o triste e igualmente célebre processo de cassação de Jackson Lago para aboletar a filha querida que estava inconsolável com a derrota nas urnas em 2006. Por que Sarney tem tanto medo?

Ele sabe que isso poderia anular o estranho julgamento que atropelou a Constituição do Estado, para fazer voltar a prevalecer a vontade do povo expressa nas urnas. Sem o Senado e sem o governo do Maranhão, seria o caos para a família.

O fato é que Sarney perdeu todas as condições de dirigir o Senado e até de manter o mandato. Lula só está pedindo ao PT que não seja o partido a atirar a primeira pedra. Já lavou as mãos. Acabou, como diz Azevedo.

E aqui o que imaginávamos já está acontecendo. O CREA, entidade que representa a classe da engenharia denuncia ao TCE que não há como contratar hospitais baseando-se no edital de licitação da Secretaria de Saúde. Como orçar as obras, se não se dá o endereço delas e tampouco as sondagens do terreno? Ricardo Murad, quando titular da extinta Gerência Metropolitana, marcou sua administração recusando-se a fazer licitações. Gosta mesmo é de eleger os vencedores, entregando obras sem licitação a empreiteiros amigos e colaboradores. Gosta de se mostrar acima das leis. É um megalomaniaco. Continua o mesmo.

E Roseana nada vai fazer a respeito? Aí é querer demais…

E, finalmente, vejam que maravilha deste honesto governo de Roseana. A referência e da última edição da Veja, na seção Holofote:

“Uma das primeiras providências da Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão na gestão de Roseana Sarney foi contratar o advogado Arão Lobão por 1,5 milhão de reais por um ano. Piauiense, Lobão é desconhecido no Maranhão, não está registrado na OAB local e, por isso, só pode peticionar em cinco causas por ano no estado. É um generalista, que trabalha em todo tipo de processo. Ainda assim, foi contratado sem licitação por "notória especialização". Ele é parceiro de Marcus Vinicius Coelho, que advogou para Roseana na cassação do ex-governador Jackson Lago. Lobão diz que não houve tráfico de influência e que ganhou o contrato por puro senso de oportunidade.

Que coragem!

Coisas assim mostram que nada mudou.

Continuam os mesmos de sempre!

Collor defende Sarney

O senador Fernando Collor (PTB-AL) faz veemente defesa de José Sarney (PMDB-AP). Logo ele que se elegeu presidente em 1989 dizendo as piores coisas a respeito de Sarney.

Ninguém disse sobre um presidente no exercício do cargo o que Collor disse sobre Sarney. Recordar é viver: quando Collor cobrava de Lula o apoio que Sarney lhe dera (debate na tv; eleição presidencial de 1989). E a defesa que Lula fez há pouco de Sarney.

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Politiquice e literatice

José Sarney vai discursar amanhã sobre a crise no Senado? Antes ou depois de o senador sem voto Paulo Duque (PMDB-RJ) arquivar sumariamente as cinco representações que existem contra o “presidente” no Conselho de Ética?

O discurso certamente estará para a retórica política como estão os seus livros para a literatura. Definitivamente, ele perdeu também o senso de ridículo.

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Manifestantes invadem plenário do Senado contra Sarney e são retirados à força

Por Gabriela Guerreiro, na Folha Online:
Um grupo de manifestantes da Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas) invadiu nesta terça-feira o plenário do Senado com uma faixa com os dizeres “Fora Sarney” na defesa pela saída do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), do comando do Senado.

Os protestantes também usavam máscaras cirúrgicas com os mesmos dizeres. Como o regimento do Senado não permite manifestações dentro do plenário, os trabalhadores foram retirados à força pela Polícia Legislativa.

A faixa foi arrancada das mãos dos manifestantes, que foram conduzidos pela polícia para fora do local. Alguns ainda tentaram entrar em confronto com os policiais, mas foram contidos.

Sarney não estava na presidência da Casa no momento do tumulto. O senador Adelmir Santana (DEM-DF), que presidia a sessão, pediu para que a polícia tomasse as providências para coibir a manifestação. Alguns senadores intercederam em favor dos manifestantes, como Arthur Virgílio (PSDB-AM).

“O regimento não prevê manifestações, mas também não prevê violência”, disse. Os manifestantes deixaram o plenário aos gritos: “Ão, ão, ão, abaixo à repressão. Fora Sarney”.
Um dos sindicalistas, Geraldo Jesus Santos, criticou o que chamou de truculência da Polícia Legislativa. “Protestamos em silêncio e fomos reprimidos pela polícia.”

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Os "jornalistas" de Sarney não gostam de mim

Ah, sim.

Leitores me mandam algumas delicadezas que, bem…, “jornalistas” do complexo Sarney de comunicação andam escrevendo a meu respeito. Alguns blogs, de que me mandaram links, só podem ser lidos depois de uma vacina anti-rábica.

Perfeito! Que todos saibam disso!

Confie em mim, leitor! Afinal, a turma de Sarney não gosta de mim!

Por Reinaldo Azevedo

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Dupla dos diabos

Renan Calheiros e Fernando Collor. Um foi obrigado a renunciar à presidência do Senado. O outro foi forçado a descer a rampa do Planalto depois de um impeachment. Será que José Sarney acha que vai longe com essa dupla na linha de frente de sua tropa de choque?

Por Lauro Jardim

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Dácio Vieira

Dácio Vieira, o juiz que concedeu a liminar que impôs a censura a O Estado de S. Paulo, proibindo-o de publicar reportagens sobre a investigação da PF contra Fernando Sarney, pode ter dois problemas no futuro por causa da decisão. Vieira, conforme revelou o Estadão, faz parte do convívio social de Sarney e de Agaciel Maia, além de já ter trabalhado no Senado.

Quais são os dois problemas?

O primeiro é com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) onde seu caso certamente será analisado.

O segundo: Vieira integrou várias listas para ser promovido ao STJ. Já esteve quase lá. A decisão de sexta-feira passada praticamente sepulta suas chances de subir esse degrau na carreira.

Por Lauro Jardim


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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Rendição do Último Coronel

O presidente do Senado anuncia a Lula sua disposição de entregar o cargo para preservar o mandato, abrindo o processo de sucessão.

O que o Brasil espera é que ele sirva para mudar as práticas e os vícios que alimentam a corrupção e o fisiologismo na política

O senador José Sarney lutou muito, mas não conseguiu vencer os fatos. Ao decidir disputar a presidência do Senado, em fevereiro passado, acreditava que o cargo era uma garantia de imunidade para ele e a família – àquela altura já investigada pela Polícia Federal por suspeita de uma multiplicidade de crimes.

A visibilidade, porém, teve efeito contrário e acabou colocando o mais longevo dos políticos brasileiros no centro de uma devastadora crise no Congresso. José Sarney, o último dos coronéis, rendeu-se diante de tantos escândalos.

Na semana passada, o senador disse ao presidente Lula que está cansado e que resolveu deixar o cargo. "Não aguento mais. Vou negociar uma saída", afirmou, de acordo com um interlocutor privilegiado do presidente.

A conversa aconteceu na segunda-feira, pelo telefone, quando Lula ligou para saber notícias sobre o estado de saúde de Marly Sarney, esposa do presidente do Senado, que se recupera de uma cirurgia em São Paulo.

Sarney, de acordo com o relato feito por Lula, estava abatido, disse que não conseguia dormir havia dias e se culpava pelo estado de saúde da mulher, que sofrera um acidente doméstico, fraturando o braço e o ombro.


Nos às vezes tortuosos códigos da política, desabafos como o do senador Sarney podem ser interpretados como um simples blefe, uma ameaça velada ou até chantagem de alguém em busca de proteção. Não é o caso. Desde o início da crise, Lula se empenhou pessoalmente na defesa de Sarney, sem nenhum pudor, a ponto de causar constrangimentos ao seu partido, quando desautorizou publicamente o líder do PT, senador Aloizio Mercadante, que havia pedido o afastamento do presidente do Congresso.

Depois da conversa telefônica com José Sarney, porém, Lula mudou completamente o tom. Antes disposto a sacrificar um pouco da própria popularidade em troca de um punhado de votos no Congresso e de uma provável aliança com o PMDB na campanha eleitoral de 2010, o presidente vislumbrou a hora de mudar o discurso. Sarney? "Não é um problema meu. Não votei para eleger Sarney presidente do Senado, nem para senador. Votei nos senadores de São Paulo. Quem tem de decidir se ele fica presidente é o Senado", disse Lula em entrevista, recolhendo a boia.

Jamais, portanto, poderá ser acusado de ter associado sua credibilidade à tentativa de manter no cargo um presidente do Congresso envolvido em nepotismo, desvio de dinheiro, contas no exterior... E, daqui a alguns dias, Lula pode, quem sabe, invocar até uma conveniente crise de amnésia: Sarney? Que Sarney?...


O presidente, o PMDB e seus aliados já começaram a discutir o futuro do Senado pós-Sarney, mas muito distante daquele que deveria ser o ponto de partida. Lula, por exemplo, está preocupado com questões mais práticas, como a sucessão. Trabalha para que Sarney renuncie, o que obrigaria o Senado a convocar novas eleições em cinco dias, evitando que a Casa ficasse sob o comando do vice-presidente, Marconi Perillo, do PSDB.

O PMDB, republicano como sempre, quer continuar com a presidência, mas tem dificuldades em encontrar um candidato que seja da absoluta confiança do partido e que tenha a ficha limpa – missão aparentemente impossível. Sarney é o quarto político que presidiu o Senado nos últimos dez anos a cair em desgraça.

Antes dele, Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho e Renan Calheiros passaram por processos idênticos, o que mostra que o problema principal nunca foi enfrentado. "O Senado vive uma crise institucional provocada pela falta de ética, pela complacência com o uso indevido dos recursos públicos e pela falta de transparência", analisa o cientista político Lúcio Rennó, da Universidade de Brasília. "Não adianta apenas mudar os nomes. É necessária uma mudança radical nas práticas." A questão é que isso não interessa a quem deveria promover as mudanças – e os escândalos envolvendo o senador José Sarney explicam por quê.


A família Sarney sempre teve um apreço especial pelo setor energético, feudo do clã há pelo menos duas décadas. Além de dividendos políticos, o controle do setor proporciona outras vantagens. A Fundação José Sarney, criada pelo senador no Maranhão, é acusada de desviar dinheiro de um convênio com a Petrobras.

O Instituto Mirante, ONG presidida pelo filho-problema Fernando Sarney, recebeu recursos da Eletrobrás para financiar projetos culturais no estado – parte desviada para contas de empresas da família. Fernando Sarney é o mesmo empresário que fez bons negócios na década de 80 vendendo postes de luz à estatal de energia do Maranhão ao mesmo tempo em que presidia a empresa por indicação do pai.

A incursão mais recente e enrolada dos Sarney no campo energético ocorreu em Santo Amaro, no interior do estado. Lá, a Petrobras descobriu um manancial de gás natural. Há três anos, com a valorização do gás no mercado internacional, a Agência Nacional do Petróleo decidiu licitar a área para exploração.

Antes que isso acontecesse, porém, o senador José Sarney tomou posse do local. Tomou posse, explique-se, porque há indícios de que houve grilagem de terras e estelionato – tudo coincidentemente conjugado com decisões de órgãos federais do setor energético comandados por pessoas ligadas a Sarney.


Oficialmente, as áreas onde ficam os reservatórios de gás pertencem à empresa Adpart, que tem o presidente do Senado como cotista. O problema é que existem enormes discrepâncias entre o que dizem os papéis da empresa de Sarney e o que indicam as certidões dos imóveis. O que se media em poucos metros nas certidões dos cartórios do Maranhão passou a se contar em centenas de hectares nos documentos de Brasília.

O milagre da multiplicação é que permitiu ao senador se tornar proprietário da área minada de gás. Numa certidão, Sarney diz ter comprado 200 hectares do lavrador Clodoaldo Garcia Lira. Entrevistado por VEJA, porém, o lavrador disse que vendera somente um "pedacinho" pequeno de terra, onde cultivava caju e mandioca. Ele diz ter vendido o terreno por 25.000 reais, pagos em dinheiro vivo por Ronald Sarney, irmão do presidente do Senado e procurador dele nos negócios de Santo Amaro.

Diz o lavrador: "Meu terreninho ficava a uns 10 metros do poço". Depois da venda, o poço apareceu misteriosamente dentro do terreno. "Foi o pessoal do Sarney que cercou", diz o lavrador.


O principal poço de gás localizado nas terras também está cercado por arames e madeira. Entrevistado, o capataz de Sarney, José Ribamar Rodrigues de Oliveira, diz ter feito o serviço: "O doutor Ronald (irmão de Sarney) que me pediu. O presidente Sarney já veio aqui três vezes visitar o poço. Isso aqui tudo é do Sarney". Será?

Em fevereiro de 2006, o então ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, indicado por Sarney para o cargo, autorizou a Agência Nacional do Petróleo a licitar a área. A Panergy, empresa que ganhou a licitação, pagou 1,1 milhão de reais ao governo pelo direito de investir na região. A empresa só aguarda a anuência ambiental do Instituto Chico Mendes para começar a exploração.

Diz Normando Paes, dono da Panergy: "Trata-se de um campo de gás e não esperamos problemas para explorar. Fui informado pelo governo de que a área é pública e pertence ao estado do Maranhão". Telma Thomé, presidente da estatal de gás do Maranhão durante o processo de licitação da ANP, confirma que a área é pública. "As terras são do estado do Maranhão. Nós sempre trabalhamos os projetos de exploração de gás com essa perspectiva", diz ela. O cartório da cidade não ajuda a esclarecer o mistério. Diz a tabeliã Elke Viviane: "O pessoal do Sarney trouxe a certidão de compra das terras. Não posso falar mais nada". Nem precisa.


O desfecho da crise envolvendo Sarney representa um golpe contra as tradicionais oligarquias políticas brasileiras, mas não o definitivo – aliás, longe disso. Antonio Carlos Magalhães, Renan Calheiros, Jader Barbalho e Sarney produziram herdeiros, biológicos ou não, que mantêm vivas as seculares práticas coronelistas.

O tamanho e a importância que tem o PMDB no cenário nacional é o maior exemplo disso. Como um câncer em processo de metástase, o partido é o abrigo seguro desse jeito peculiar de fazer política, desses grupos que continuam espalhados pela máquina do estado empenhados exclusivamente em girar a roda do fisiologismo e da corrupção.

Se a renúncia de Sarney se confirmar, alguém é capaz de imaginar que os indicados pelo senador no setor elétrico serão demitidos? Não, não serão. Eles continuarão lá, fazendo tudo o que sempre fizeram, igualzinho ao que manda a cartilha atrasada pela qual reza a maioria dos políticos brasileiros, independentemente da agremiação a que pertencem. Afinal, essa é, e ainda vai continuar sendo por muito tempo, a mais eficiente e segura forma de fazer política: trocando votos por cargos, permutando verbas por apoio, empregando parentes e amigos – tudo com o nosso dinheiro.


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Acabou!

É o fim da linha para o senador José Sarney (PMDB-AP). E esse fim não poderia ser mais melancólico. Apelar à censura prévia à imprensa (ver post abaixo), a exemplo dos melhores tempos da ditadura, foi a única forma que encontrou para tentar “esfriar” o noticiário. Mas não esfria. Aquece-o com a desonra. Defendi, como sabem, desde o primeiro momento, que ele renunciasse à presidência do Senado. Agora, creio que deveria renunciar ao mandato, retirando-se para a sua ilha particular no Maranhão, onde poderá se dedicar à meditação e às suas memórias.

Quis o destino que um dos homens do antigo regime, que rompeu com a ditadura militar para fazer a transição democrática, voltasse ao começo. Sarney não pode mudar o seu passado; o Estadão não pode deixar de noticiar o que sabe. Restou ao senador, por meio de um dos filhos, acordar aquele coração de velho prócer da ditadura e apelar à censura à imprensa.

O desembargador, como vocês podem ler abaixo, alegou que o processo está sob sigilo de Justiça, e, pois, a imprensa nada pode noticiar a respeito. Não? Escrevi anteontem aqui, vocês devem se lembrar, um post chamado A IMPRENSA E O SIGILO - NOTAS DE DEONTOLOGIA. Entre outras coisas, escrevi ali:

Eu sou contrário a qualquer limite à publicação de material apurado pela imprensa que conste de processos em andamento. As razões são simples, e os argumentos dos que querem criar empecilhos à publicação são simplórios.

Se um jornalista fica sabendo de informações de um processo que estão sob sigilo de Justiça, isso quer dizer que elas já vazaram. Se ele sabe, outros também saberão. E não lhe compete se tornar uma espécie de guardião de um segredo. O PAPEL DE UM JORNALISTA É PUBLICAR O QUE SABE, NÃO ESCONDER. É claro que me refiro a processos que digam respeito a questões de “interesse público”.

Não é ao jornalista que cabe guardar o sigilo. Se, antes dele, houve uma cadeia de autoridades e/ou advogados que não souberam fazê-lo, todos eles passíveis de punição segundo a lei ou um código de ética, que o Estado se encarregue de fazer valer o que está escrito.

- A lei garante ao jornalista o sigilo da fonte.

- A ética de um jornalista compreende, entre outras coisas, publicar informações que sejam de interesse público.

Volto

A Constituição protege um valor bem maior, que é a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão, mormente quando se trata de matéria de interesse público. Uma neta que pede ao avô emprego para o namorado no Senado não se dedica a um ”diálogo íntimo”, a menos que o Parlamento brasileiro tenha sido privatizado pela família Sarney. Um filho que trata com o pai da mobilização de autoridades para tratar do canal de TV da família, do mesmo modo, não cuida de assunto particular. “Ah, mas tudo está sob segredo de Justiça”. Perfeito! Que aqueles que deveriam zelar pela sua guarda sejam responsabilizados caso se chegue a eles. Jornalista não tem nada com isso.

Que condição tem de presidir o Senado e o Poder Legislativo um político que concorre para violar um dos mais sagrados direitos assegurados pelas democracias? A imprensa que Sarney censura agora é a mesma que colaborou ativamente para a transição democrática, que o conduziu ao poder. A história até que tinha lhe reservado um bom lugar. Mas ele optou pela autodestruição. É o que dá se aconselhar com gente como Renan Calheiros (PMDB-AL), que continua a estimular a resistência.

Numa democracia, decisão da Justiça, como já escrevi aqui, se discute e se cumpre. E estou certo de que os advogados do Estadão serão bem-sucedidos em seu recurso. A menos que a Constituição brasileira tenha perdido validade.

Quanto ao desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, dizer o quê? Lamento o entendimento que ele tem de intimidade e de liberdade de imprensa. Lamento mais ainda saber que ele pretende que a imprensa, então, seja a guardiã do sigilo de Justiça, já que ninguém mais é. E olhem que critiquei com azedume o ministro Tarso Genro (Justiça) por ter dito, em tom conformado, que não há mais sigilo. É uma aberração! Das duas uma: ou bem, como autoridade, encaminha o debate para que a lei mude, ou bem estuda maneiras de fazer com que ele realmente valha.

Para tanto, não pode contar com os jornalistas. Jornalista não é juiz, não é promotor, não é policial etc. Não somos — os decentes ao menos — linha auxiliar do Estado.

E atenção! É claro que quando um jornal ou jornalistas são censurados, a ameaça recai sobre todos os profissionais. Já é um clichê, mas vá lá: os sinos — de alerta! — não dobram só por um veículo, mas por todos. Nesse caso, não se trata apenas de uma ameaça potencial: o problema é real. Os demais veículos também estão proibidos de reproduzir reportagens do Estadão ou dados colhidos nas suas apurações relativas ao caso. Optou-se pela censura ampla, geral e irrestrita.

Adeus, Sarney! Ainda que continuasse presidente do Senado, não presidiria mais nada! O terceiro mandato o devolveu, literalmente, à sua natureza primitiva.

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Sarney vendeu terra comprada em 2001 de morto em 1996

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), vendeu em 2002 terras compradas um ano antes de um comerciante morto em 1996.

Afirmando ser “legítimo possuidor e proprietário”, Sarney negociou o terreno registrado no nome de seu ajudante de ordem Wanderley Ferreira de Azevedo. A área, de 33,88 hectares (equivalente a 33 campos de futebol), é parte do sítio São José do Pericumã, na divisa de Goiás com o Distrito Federal.

Segundo registros em cartório de Luziânia (GO) e São Paulo, localizados pela Folha, Wanderley comprou a fazenda em junho de 2001 de Antônio Joaquim de Araújo Mello.

Tonho Mello, como era conhecido na região, foi enterrado em em Luziânia, no dia 12 de dezembro de 1996. Sua morte está registrada em certidão de óbito na cidade goiana.

O negócio pode configurar a prática de crimes como falsidade ideológica e estelionato. Se uma investigação confirmar que o objetivo era fugir de impostos ou ocultar a origem dos recursos, os envolvidos podem responder também por sonegação e lavagem de dinheiro.

Tonho Mello já havia vendido para o senador, no início da década de 1980, outros três terrenos que compõem o Pericumã, cenário de tomada de decisões no período em que Sarney era presidente da República.

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Nas empresas de comunicação de Sarney, Sarney é um santo!

"Maranhenses desconfiam da ida do homem à Lua”, anunciava, no dia 20 passado, uma manchete no site da TV Mirante. A afiliada da Rede Globo pertence ao grupo de comunicações da família do senador José Sarney (PMDB). O conglomerado inclui as principais retransmissoras de TV do estado, quase duas dezenas de estações de rádio e o jornal diário de maior circulação, O Estado do Maranhão. Nas últimas semanas, todo esse aparato de comunicação - com uma forcinha de afiliadas locais do SBT ligadas ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão - dedica-se a esconder dos maranhenses os rolos de José Sarney com nepotismo, conta no exterior, desvio de dinheiro público e tráfico de influência. É mais fácil acreditar que o homem nunca pisou na Lua.

O Estado do Maranhão vai às bancas com uma versão peculiar da realidade. Nela, Sarney é uma espécie de santo martirizado pela “mídia paulista”, pela oposição no Congresso, pelo Ministério Público e pelas pessoas que vazaram as gravações telefônicas, feitas pela Polícia Federal, entre o senador e seus parentes. O jornal diz que tudo não passa de manipulação política e pede rigor na investigação de quem passou os grampos à imprensa. Quando não dá para ser ainda mais servil, O Estado simplesmente muda de assunto. Sempre que possível, as manchetes exaltam as manifestações de apoio a Sarney, para passar a impressão de que toda a população maranhense é unânime na crença de que o político é vítima de uma campanha para tirá-lo da presidência do Senado e, assim, atingir o governo Lula. VEJA tentou entrevistar o diretor do jornal, Ribamar Corrêa. Mas ele se negou a falar.

Foto: Diogo Schelp

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