A permanência demasiado prolongada do senador José Sarney
como um dos homens mais influentes do país - em contraste com a situação de
pobreza e abandono do Maranhão governado por sua filha - além de sua mais do que
criticada passagem várias vezes pela presidência do Senado Federal em gestões
caracterizadas pelo mandonismo, afilhadismo e gastos sem limites e, por fim, a obsessão
desenfreada por cargos, tudo isso culminou em um repúdio quase unânime pela sua
figura pública. Uma coisa deplorável que nunca pensou que pudesse acontecer consigo
e que não tem como modificar.
Para esse julgamento rigoroso, pesa muito a falta de
contribuição à melhoria da situação do país. Naturalmente, já que Sarney sempre
preferiu o caminho fácil da politização de qualquer assunto, o que o levou a
não tentar resolver nada, lhe bastando atacar e agredir aqueles que ousavam
mostrar a verdadeira situação do Maranhão como a resultante dos anos de
mandonismo absoluto no estado.
Hoje o senador coleciona dissabores e humilhações. Só para
ficar nas mais recentes, o PT nacional e local não quer mais saber dele, muito
menos de ter quer apoiar um candidato inexplicável como Luís Fernando ao
governo estadual. O máximo que admitem seria uma compensação, apoiando Roseana
Sarney ao Senado. Porém, se os
maranhenses se perguntarem se o PT apoiará Flávio Dino, direi que não sei, porque
resta ao senador um grande trunfo, que é a atenção que Lula tem por ele. Só
Lula segura o PT e, como ele é quem diz a última palavra, a promessa promete a
Sarney é manter o partido com ele, mesmo que - segundo foi divulgado - tenha
participado da reunião que decidiu pelo desembarque e concordado com essa
decisão.
O senador José Sarney sabe disso e, desesperado com essa
perspectiva, ataca com virulência Gilberto Carvalho, Secretário da Presidência
e amigo de Lula de longas datas, identificando o primeiro como uma das fontes
de informação do que se passou na reunião. Quer que ele pare de contar o que se
passou no referido encontro e joga nisso todos os seus cartuchos, porque sabe
que a essa altura o apoio a Flávio Dino
significa para toda a classe política o fim de tanto poder da família Sarney e
a vitória antecipada da oposição.
E para seu pesar a
nota do palácio do Planalto exigida por ele não fala em momento nenhum que quem representa
a presidente da República politicamente aqui no Maranhão é José Sarney. É dúbia,
diz apenas que esse assunto não foi tratado, mas ele no momento não consegue
nada melhor do que isso. Uma humilhação ao ex-presidente.
Outro dissabor, dessa vez internacional, que atinge
profundamente o seu orgulho de escritor, foi a recusa de um editor alemão em
publicar um dos seus livros. A embaixada brasileira, segundo relatou o editor,
teria se comprometido a comprar quinhentos desses livros em troca da publicação.
Quando a parte da embaixada não foi cumprida, o livreiro abriu a boca e falou
impropérios do senador, chegando a depreciá-lo e anunciou que estava rasgando
toda a edição já pronta.
Esse assunto deprimente traz à tona uma ação inexplicável da
embaixada brasileira e suscita uma dúvida para as edições anteriores dos livros
dele lançados em outros países. Para que se expor assim? Era de fato necessário?
Um membro ilustre da Academia Brasileira de Letras?
A terceira humilhação decorre da sua mania de tentar
politizar qualquer ação (ou inação) que envolva o governo de sua filha Roseana
Sarney. Na ânsia de defender o governo da filha e premido pela repercussão
extremamente negativa - até internacionalmente - do caos instalado no sistema
prisional maranhense, o senador (como, aliás, faz com todos os que ousam
mostrar a verdade sobre a real situação do estado) resolveu colocar a culpa do
que aconteceu nos juízes, contando uma inverdade. Em resumo, o senador divulgou
que o governo de Roseana faz tudo corretamente, mas os juízes maranhenses, por
meio de sua atuação, desmanchavam tudo o que ela fazia e obrigavam o estado a
manter todos os presos juntos (condenados ou não) e que dessa forma seriam os
verdadeiros responsáveis pela carnificina ocorrida. Roseana, essa
diligentíssima governadora, não teria nenhuma culpa. O seu governo seria uma vítima
de tais juízes.
A resposta indignada dos juízes, dura como teria que ser,
surpreendeu o senador, tão acostumado a calar a boca de todo mundo. Teve que se
desculpar com a severa, verdadeira e humilhante resposta dada pelo presidente
da Associação dos Magistrados, juiz Gervásio Júnior, que estabeleceu a verdade
dos fatos. Muito ao contrário do que disse o senador, os juízes tinham como
praxe, ordenam a separação dos presos, mas Roseana não deu a mínima atenção à determinação
e contribuiu com a sua irresponsabilidade para a chacina que aconteceu.
O poderoso senador não quer reconhecer que os tempos são
outros e que o fim de tanto poder se aproxima... Melhor seria se reconhecesse
que o tempo passa para todo mundo e está passando para ele e o seu imenso
domínio no Maranhão. Chegou ao fim.
Não dá mais.