terça-feira, 5 de julho de 2016

A FORÇA DA SOCIEDADE



Não precisamos ir muito longe para encontrarmos grandes bolsões de pobreza, bairros infestados pela droga em que o crack, tão nefasto e letal, é comum. Isso aqui mesmo no centro de São Luís. Muitas crianças que têm pais viciados vivem ali semi-abandonadas, sem apoio em suas casas, lhes falta quase tudo. Grandes são as probabilidades de se tornarem futuros criminosos.

Vejam que as crianças são conhecedoras da realidade de suas vidas. Um amigo, jornalista e político, contou-me que foi dar uma aula em uma escola comunitária no Bairro de Fátima, sustentada por pessoas pobres, que a mantém funcionando em meio a enormes dificuldades, pois o poder público não consegue chegar a todos esses locais.  Quando o palestrante começou a falar na devastação que as drogas fazem com as pessoas, muitas crianças começaram a chorar, reconhecendo-se a si próprias como personagens, impotentes, dessas mesmas histórias.

Com o pai e a mãe viciados, essas crianças ficam sem assistência nenhuma, pois não são levadas para os colégios públicos, não tomam vacinas, não vão aos dentistas e nem a médicos, nem têm noções do que é certo ou errado fazer. Ficam à margem da sociedade, sem educação e sem perspectivas. Depois de uma certa idade já começam a lutar pela sobrevivência do jeito que podem. E nessa hora já fica um pouco tarde demais para elas...

Quando fui governador, procurei ajudar muitas dessas entidades. E fui visitar uma delas, a Associação Carente São Benedito do Bairro de Fátima, liderada pela Andrelina, minha amiga de muitos anos, batalhadora e dedicada. No meu governo, alertado por ela, fiz obras de drenagem muito importantes para aquelas pessoas, porque ali no passado havia um grande manguezal, até onde hoje é a avenida Kennedy. Fiz 40 casas de alvenaria e outras melhorias. Ajudei a escola, construindo salas de aula e banheiros. A Cemar, recentemente, fez grandes melhorias lá e de maneira geral o poder público sempre esteve presente, com maior ou menor intensidade, de acordo com a vontade dos governantes. No momento, a escola está passando por grandes dificuldades. Precisa de ajuda do governo, pois tem pedidos submetidos à mercê da morosidade da burocracia, parados à espera de decisão. Vou tentar ajudar.  

Contudo, essa escola precisa de um apoio contínuo, sem interrupções. Como não é classificada como escola pública, necessitam de apoio renovado das autoridades e esse apoio nem sempre chega na hora necessária. E as interrupções são muito prejudiciais à comunidade.

Vou colocar emendas minhas na Câmara, pedir apoio a empresários. Penso que a solução, ou parte dela, pode vir da própria sociedade civil e por isso também decidi procurar o seu apoio. Tenho uma amiga que trabalha na Florence, uma universidade muito bem montada, localizada na rua Rio Branco, e falei sobre as dificuldades enfrentadas pela entidade do Bairro de Fátima. Queria saber se aquela universidade, forte no ensino da área médica, podia oferecer ajuda a essa comunidade. Minha amiga marcou então um encontro com a direção da universidade e fui lá expor o meu propósito. Encontrei a alta direção da escola e conversamos bastante sobre o objeto da minha visita. A receptividade foi a melhor possível. Combinamos um encontro a ocorrer na São Benedito, para que pudessem se assenhorar dos problemas ali existentes e, com o conhecimento daquela realidade, melhor pudessem propor ações para apoiar a comunidade. Em seguida, fui visitar as instalações da Florence e fiquei impressionado com o profissionalismo reinante ali, as instalações e o zelo da escola. Instalações modernas, equipamentos de ponta. Ali fiquei sabendo que eles já recebem pessoas necessitadas, atendidas pelos alunos com supervisão dos professores. Se fosse dar uma nota pelo que estão fazendo, daria nota dez.

Na semana passada fomos todos conversar com o pessoal da São benedito, lá no Bairro de Fátima. Levamos ali mais de duas horas reunidos e creio muito que essa união vai trazer grandes benefícios à comunidade tão pobre nas áreas de odontologia, enfermagem e direito.

Em agosto os estudos da Florence serão apresentados e discutidos na São Benedito. Essa associação cuida também de idosos, o que é louvável, pois a ajuda a crianças e idosos já é um grande feito de apoio a uma comunidade.

Creio que estamos abrindo um caminho promissor e que no futuro outras universidades poderão ajudar a apoiar e dar alento a tanta pobreza que, infelizmente, ainda está presente em grandes áreas de nossa capital.

Tenho boa experiência nesse tipo de serviço. O programa de meu governo mais bem avaliado foi o Saúde na Escola. Montamos esse projeto em mais de cem escolas, na capital e no interior. Os profissionais da área médica atendiam na própria escola, onde os alunos tinham apoio odontológico, oftalmológico, otorrinolaringológico, além de educação sexual e exames clínicos. Não se via mais crianças com cáries, como era comum naquela época e óculos eram fornecidos a quem precisasse. Lamentavelmente, depois que saí, o programa não continuou e todo o equipamento foi recolhido.

Uma pena!