terça-feira, 4 de novembro de 2008

Linguagem Gestual e Política

A observação das campanhas eleitorais, principalmente no segundo turno, nos dá uma idéia da importância do planejamento na evolução da campanha para chegar ao resultado pretendido.
Tomas Holbrook, estudioso de campanhas pelo mundo, diz, entre outras coisas:


1. Como o valor da informação diminui com o aumento do volume de informações, os eventos que acontecem no início do período de campanha têm um potencial maior de influenciar os eleitores do que os eventos que ocorrem na parte final. "Lei" do rendimento decrescente das informações.
No final da campanha, o eleitor assimila menos informação que no começo. E as revelações, a menos que sejam inéditas e muito sérias, fazem menos efeito.


2. Os partidos na campanha não são fonte de informação. A campanha é centrada no candidato.
Podemos citar aqui o caso do Rio de Janeiro. Gabeira é do PV, mas não foi o partido que fez com que milhões de eleitores votassem nele e sim o jeito novo de fazer a campanha, eticamente, mas sem deixar de criticar, de analisar e de mostrar as incoerências do opositor. Análise da história do adversário e de suas promessas não é baixaria. Desde que falando a verdade e não descambando para a desqualificação e insultos.

O fato de Gabeira não ter locutor e ele próprio apresentar o seu programa conferiu mais credibilidade as suas promessas.

A derrota por meros 55 mil votos em um eleitorado de mais de 4 milhões de votantes deu a ele um novo e importante status. Saiu como vencedor. Entre as causas apontadas que concorreram para sua derrota nas urnas está no feriado de segunda-feira que transformou o final de semana em um feriadão e muita gente aproveitou para viajar com a família, principalmente os moradores da zona sul, que formavam a base maior dos votos em Gabeira. A abstenção gigantesca foi de mais de 1,3 milhão de eleitores. Em São Luís, a abstenção foi a maior entre as capitais, proporcionalmente, e chegou a mais de 130 mil eleitores.

3. Expectativa de quem vai ganhar pode influenciar indecisos na reta final.


As pesquisas eleitorais no Maranhão, com raras exceções, foram um desastre. Teve de tudo. Pelo exagero em alguns casos, pode ter influenciado uma camada de eleitores mais desatentos.
Na campanha, os debates são um caso a parte. E é um elemento muito complexo e repleto de riscos. Às vezes um candidato se sai muito bem, encurrala o oponente, demonstra que tem conhecimento muito maior dos problemas, mas alguma coisa em sua postura, no seu jeito de falar, no seu semblante, pode lhe tirar ou não lhe dar novos votos. O brasileiro tende a querer proteger os mais fracos e pode terminar se solidarizando com aquele que lhe pareceu mais desprotegido. O voto é emocional, não é racional e o eleitor frequentemente escolhe pela emoção.
No caso de São Luís, Duda Mendonça foi muito feliz ao escolher o mote da campanha de Castelo o “Agora Vai” bem combinado com a música fácil de reter. Esse mote relembrava as derrotas do passado, mas induzia o eleitor de que agora era diferente. Castelo, por sua vez, vestiu muito bem o personagem e sempre muito simpático, parecendo feliz, teve êxito.

Trechos da matéria "Um abraço é uma mensagem política" no El País(Espanha) de 28/10/2008 que é muito esclarecedora:


"Nas campanhas eleitorais, as expressões corporais e os gestos constituem aspectos fundamentais. Não se pode esquecer que o ato do voto é, definitivamente, um ato de confiança, e a confiança é um sentimento, é algo que pertence à esfera emocional. Num debate, por exemplo, encontramos posturas, expressões, caras que ultrapassam muitos conhecimentos racionais e institucionais, explica Izurieta.

Mas como conseguir que um candidato projete essa confiança? Além do olhar, são necessários abraços, sorrisos, um choro e uma clara efusão? Depende.


"Os bons treinadores de políticos em campanhas eleitorais conhecem uma das regras básicas da comunicação institucional", prossegue Izurieta. "Antes de mais nada, não se deve mudar a forma de ser dos candidatos. É importante levar em conta que os debates se realizam em cenários antinaturais e incômodos por definição. Pois bem, deve-se procurar que o candidato se sinta cômodo. E para sentir-se cômodo, devem-se desenvolver certas habilidades de cada um. Além disso, existem técnicas para desenvolver esse tipo de carisma diante de um público moderno, que percebe cada vez mais a comunicação da imagem como algo decisivo. Aqui se encontra a importância da comunicação corporal".

“ Por esta razão, nas palavras de García Huete, um personagem da esfera pública deveria estar consciente da necessidade de coerência entre as linguagens verbal e não-verbal. Porque tem de haver coerência? Coloquemos um exemplo. "Se alguém, diante de um auditório, diz que 'vai para a esquerda' e, ao mesmo tempo, levanta a mão direita, a maioria dos que escutam e observam assumirá esta mensagem: esse senhor caminha para a direita". Por isso, é importante que as palavras sejam acompanhadas de gestos coerentes. Começando pelo olhar.

De todas as formas, embora sejam evidentes as diferenças culturais e de gênero, também existem algumas exceções à regras. São as expressões do rosto. Em particular, a manifestação pública de alegria pode constituir a chave do êxito de uma mensagem política. Por quê? "Diz-se que em torno de 60% das emoções e do que sentimos podem ser lidos nos gestos e nas expressões dos rostos", comenta García Huete. "E a gente, por vezes de forma inconsciente, prestará muita atenção nesses aspectos, assim como nos movimentos das mãos".
A conclusão é de que suas chances como candidato aumentam muito se ao seu lado estiverem profissionais competentes que sabem o que estão fazendo e conhecem as reações dos eleitores. Isso se consegue com pesquisas constantes, diárias, medindo tudo o que você faz. Nunca confie apenas em seu instinto!

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